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Cantiga de amigo: diferenças entre revisões

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Ondas do mar de Vigo,
:"Ai flores, ai flores do verde pino,
:se sabedes novas do meu amigo!
se vistes meu amigo!
:ai Deus, e u é?
e ai Deus, se verrá cedo!


Ondas do mar levado,
:Ai flores, ai flores do verde ramo,
:se sabedes novas do meu amado!
se viste meu amado!
:ai Deus, e u é?
e ai Deus, se verra cedo!


:Se sabedes novas do meu amigo,
Se vistes meu amigo,
:aquel que mentiu do que pôs comigo!
o por que eu sospiro!
:ai Deus, e u é?
e ai Deus, se verrá cedo!


:Se sabedes novas do meu amado,
Se vistes meu amado,
por que ei giram cuidado!
:aquel que mentiu do que mi há jurado!
:ai Deus, e u é?"
e ai Deus, se verra cedo!
:(...)


==Sub-géneros==
==Sub-géneros==

Revisão das 23h11min de 19 de março de 2009

Na lírica medieval galego-portuguesa uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na boca de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo no primeiro verso. Constituem o género mais representativo desta literatura.

As cantigas de amigo procedem de uma re-elaboração culta da lírica popular anterior. São, portanto, de origem autóctone, a partir do contacto da lírica pré-trovadoresca popular, já reelaborada nas cortes, com a lírica cortesã occitana (a cançó). A primeira contribuiu com o feminismo, o paralelismo e o refrão e a segunda com o formalismo, o esteticismo e a corte.

Ainda que todos os poetas medievais eram homens, utilizavam às vezes o ponto de vista feminino. As cantigas de amigo têm como tema o erotismo feminino, isenta de amor físico, ainda que os poetas sejam homens. Mostram variantes dos conflitos resultantes da ausência do amigo. Caracterizam-se formalmente pela repetição (paralelismo, leixa-pren e refrão).

Manuscrito das cantigas de amigo de Martín Codax

O tema fundamental é o sofrimento por amor (às vezes, a morte por amor), motivado normalmente pela ausência do amigo. Às vezes apresentam-se formas em que se engana à mãe vigilante, ou se mostra alegria no regresso do amigo e outras ciúmes ou ansiedade. A voz poética é a de uma rapariga jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monólogo, ora num diálogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe, que raramente tomam a palavra. Os estados de ânimo são diversos e incluem a alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a ansiedade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes, etc. Os ambientes nos qual decorrem são o campo, o mar ou a casa: a fonte, aonde foram procurar água ou lavar o cabelo, o rio ou a peregrinação.

As personagens que intervêm são:

  • A amiga, que é com frequência a voz poética. Por vezes é ingénua, outras narcisista, outras comporta-se de maneira esquiva ou é vingativa.
  • A mãe, que representa geralmente o código social proibitivo.
  • Confidentes: a mãe, uma amiga, a irmã, outras noivas, a natureza (as flores, as ondas do mar), etc.
  • O amigo, frequentemente ausente.

Exemplo

Vejamos um exemplo duma cantiga de amigo da autoria do rei D. Dinis:


Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado, se viste meu amado! e ai Deus, se verra cedo!

Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! e ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amado, por que ei giram cuidado! e ai Deus, se verra cedo!

Sub-géneros

Distinguem-se vários sub-géneros:

  • Barcarolas ou marinhas: Ocorrem na presença do mar, que adquire certa personalização ao se lhe dirigir a amiga como seu confidente.
  • Cantigas da peregrinação: A amiga está num santuário, ermita ou capela, lugar de reunião que serve de pretexto para o encontro dos apaixonados. Este contexto é exclusivo da literatura galego-portuguesa.
  • Dançadas: Composições alegres e festivas nas quais se realiza um convite à dança.
  • Alvas, albas ou alvoradas: Faz-se referência ao amanhecer; nas "alvas" provençais os amantes separavam-se após terem pernoitado juntos.

As cantigas de amigo têm uma estrutura muito formalizada e rígida que se baseia na repetição. Os elementos característicos são:

  • Paralelismos: repetição da mesma ideia em duas estrofes sucessivas nas que só mudam as palavras finais de cada verso ou a ordem delas, com o que varia a rima.
  • Leixa-prén: repetição dos segundos versos de um par de estrofes como primeiros versos do par seguinte, o que acentua o paralelismo entre as estrofes que o possuem.
  • Refrão: verso ou versos repetidos ao final de cada estrofe.

Os poetas mais destacados que compuseram cantigas de amigo foram Meendinho, Pero Meogo, Martín Codax, Xohán Zorro, Xoán de Cangas, Xoán Airas e D. Dinis.

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