Captura de Quinxassa
Captura de Quinxassa | |||
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Primeira Guerra do Congo | |||
Data | 15 de maio de 1997 - 17 de maio de 1997 | ||
Local | Quinxassa, Zaire | ||
Desfecho | Vitória decisiva dos rebeldes | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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a Fugitivo em 16 de maio b Fugitivo em 17 maio c Morto pela DSP em 16 de maio |
Captura de Quinxassa ou Queda de Quinxassa ocorreu em 17 de maio de 1997 durante a Primeira Guerra do Congo. Este evento marca a queda do regime de Mobutu Sese Seko e a chegada ao poder de Laurent-Désiré Kabila. Os rebeldes da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo assumem o controle da cidade sem lutar contra os mobutistas.
Contexto[editar | editar código-fonte]
Após a Batalha de Kenge, o avanço rebelde parece inevitável. Em meados de maio, até 40.000 soldados das Forças Armadas Zairenses (FAZ) se refugiaram em Quinxassa, mas muitos não tinham mais armas e apenas alguns milhares de combatentes ainda eram comandados. Os últimos soldados motivados a defender o regime pertenciam principalmente à Divisão Especial Presidencial (division spéciale présidentielle, DSP), guarda pretoriana de Mobutu; que são reforçados por 1.000 rebeldes angolanos da UNITA.[1]
As tropas da AFDL, associadas com os soldados ruandeses do Exército Patriótico de Ruanda (EPR), são estimados em 10 mil homens, incluindo um grande número de crianças-soldados, os kadogos. [1]
15-16 de maio[editar | editar código-fonte]
Nos dias 15 e 16 de maio, a última resistência organizada da Divisão Especial Presidencial e da UNITA é rompida ao redor da ponte do Rio Nsele perante os 2.000 combatentes ruandeses-congoleses. O acampamento da Divisão Especial Presidencial é cercado pelos rebeldes[1], enquanto sete tanques Type 62 da 1.ª Divisão Blindada são abandonados sem lutar.[1][2]
O general Donatien Mahele Lieko Bokungu, chefe do exército zairiano, sabe que a guerra está perdida e procura evitar combates sangrentos na cidade. Graças a um telefone via satélite fornecido pelo embaixador estadunidense, está em contato com os rebeldes desde 13 de maio.[3] Na noite do dia 15, os generais Mahele, Celestin Ilunga Shamanga e Norbert Likulia Bolongo (então primeiro-ministro) tentam convencer Mobutu a deixar a cidade para evitar um banho de sangue. Pouco depois, os generais Bolozi, Nzimbi, Vungbo, Wezabo e Baramato, mobutistas da etnia Ngbandi e que se opunham à rendição do regime, reuniram-se em torno de Mobutu, que anunciou sua intenção de fugir para Gbadolite. De acordo com o jornalista François Sudan, os oficiais ngbandi da cidade se encontraram sem Mobotu e elaboraram uma lista de quinhentos nomes de traidores pelos zairianos.[4]
No dia 16, às 9h45, Mobutu levantou voo em seu Boeing 727 para Gbadolite, levando consigo vários milhões de dólares.[3] A maioria dos dignitários fogem durante o dia. Assim, o general Likulia foi recebido na embaixada da França.[5] Para evitar massacres, os estadunidenses pedem a Kabila que lhes dê tempo para fugir.[6][7] Apenas alguns generais mobutistas permanecem na cidade, como Kongulu Mobutu, filho do presidente, que continua tentando defende-la.[5]
Na noite do dia 16, Mahele tentou acalmar os soldados da Divisão Especial Presidencial cujo chefe, general Nzimbi, fugiu para Brazzaville. Capturado pelos soldados, Mahele seria metralhado, apesar da intervenção do general Wezago, assistente de Nzimbi, e da chegada tardia de Kongulu Mobutu.[3]
Após o assassinato de Mahele, a cidade foi saqueada antes da chegada dos rebeldes. Os antigos soldados de Mobutu, sem líderes, são os principais responsáveis pela pilhagem.[8]
Captura da cidade[editar | editar código-fonte]
Na manhã de 17 de maio de 1997, as colunas da AFDL, incluindo o 101.º Batalhão do exército ruandês, entraram na cidade;[9] guiados sobretudo por militantes da Frente Patriótica, um partido político da oposição de esquerda zairiana.[10] “Precedido por uma reputação de disciplina”, as colunas de combatentes rebeldes foram aclamadas pela população.[11]
O capitão Kongulu Mobutu é o último aliado de Mobutu a abandonar Quinxassa para Brazzaville, depois de ter tentado em vão organizar uma resistência.[5]
Consequências[editar | editar código-fonte]
Os soldados zairenses, sem líderes, rendem-se na sua maioria pacificamente. Os rendidos empilham suas armas e aguardam seu registro pela AFDL.[9] A Divisão Especial Presidencial abandona o acampamento de Tshatsi durante a noite, sem combates.[12] Os soldados que se recusam a entregar suas armas, membros da Divisão Especial Presidencial e partidários do regime, são mortos pelos rebeldes ou linchados pela população.[9] Os jornalistas estrangeiros testemunham essas execuções.[8][12][13] As estimativas do número de mortos durante os acertos de contas variam de 200 a 654 mortos.[3] A Cruz Vermelha Zairiana identificará de 228 a 318 cadáveres ao redor da capital nos dias seguintes.[9] Várias dezenas de soldados são confinados no quartel, enquanto os mobutistas suspeitos de são levados aos milhares para a prisão.[8]
As instalações dos mobutistas são saqueadas pelos cidadãos de Quinxassa.[12]
Laurent-Désiré Kabila chega em 20 de maio de 1997 a Quinxassa[11] e instaura um regime presidencialista. Seu governo é composto por treze membros: a maioria veteranos da AFDL, dois da Frente Patriótica e dois desertores da União para a Democracia e o Progresso Social (UPDS), o partido de Étienne Tshisekedi, que permanece na oposição.[14]
Referências
- ↑ a b c d Thom 1999.
- ↑ Cooper 2013, p. 66.
- ↑ a b c d Langellier 2017, pp. 387-396.
- ↑ François Soudan (13 de agosto de 1997). «RDC : l'histoire secrète de la chute de Mobutu». Jeune Afrique. pp. 20–27
- ↑ a b c French, Howard W. (18 de maio de 1997). «Mobutu's Son Lingers, Reportedly Settling Scores» (em inglês) – via NYTimes.com
- ↑ Bagondo, Prosper (17 de maio de 2017). «RD Congo : le jour où le destin du Zaïre a basculé». Le Point
- ↑ Tshitenge Lubabu M.K. (20 de setembro de 2012). «RDC : le 16 mai 1997, jour de la chute de Mobutu». Jeune Afrique
- ↑ a b c Jean Hatzfeld (19 de maio de 1997). «Kinshasa livrée aux mains des soldats de Kabila.». Libération
- ↑ a b c d Cooper 2013, p. 54.
- ↑ Reyntjens 2009, p. 140.
- ↑ a b Agence France Presse (15 de maio de 2017). «Il y a vingt ans, Kinshasa s'offrait au rebelle Laurent Kabila». Le Vif
- ↑ a b c Lynne Duke (19 de maio de 1997). «Victorious rebels pour into Kinshasa» (em inglês). Washington Post
- ↑ Tom Cohen (19 de maio de 1997). «Executions by rebels witnessed in Kinshasa» (em inglês). Washington Post
- ↑ Marie-Laure Colson (24 de maio de 1997). «Tshisekedi appelle à résister à la dictature de Kabila. L'opposant historique a été écarté du nouveau gouvernement.». Libération
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Tom Cooper (setembro de 2013). Great Lakes Holocaust: First Congo War, 1996-1997. Col: Africa@War, 13 (em inglês). [S.l.]: Helion & Company. ISBN 9781909384651
- Erik Kennes (março de 1998). La guerre du Congo (PDF). [S.l.: s.n.] 28 páginas
- Gérard Prunier (2009). Africa’s world war. Congo, the Rwandan genocide, and the making of a continental catastrophe (em inglês). Oxford/New York: Oxford University Press. ISBN 978-0-19537420-9
- Filip Reyntjens (novembro de 2009). The Great African War Congo and Regional Geopolitics, 1996–2006 (PDF) (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. 340 páginas. ISBN 9780521111287
- Jason Stearns (2012). «The Collapse of the Congo and the Great War of Africa». Dancing in the Glory of Monsters (em inglês). [S.l.]: PublicAffairs. 416 páginas. ISBN 9781610391078
- Thom, William G. (setembro de 1999). «Congo-Zaire's 1996-97 Civil War in the Context of Evolving Patterns of Military Conflict in Africa in the Era of Independence». Journal of Conflict Studies (em inglês). 19 (2). ISSN 1715-5673
- Langellier, Jean-Pierre (2017). «Les derniers jours». Mobutu (em francês). [S.l.]: Éditions Perrin. pp. 387–396
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Descrição diária da situação em Quinxassa pelo correspondente da BBC: Allan Little (24 de maio de 1997). «Hope and retribution in Zaire». news.bbc.co.uk (em inglês)
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Prise de Kinshasa».\\\con