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Carrocentrismo

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Carrocentrismo[1] ou carrocracia[2] é um conceito urbanístico que descreve a prevalência e a prioridade atribuídas ao automóvel privado como o principal meio de transporte em uma sociedade.[3][4]

Feira do automóvel no antigo palácio de Cristal, no início da década de 1930 (Alvão)

A origem do carrocentrismo está relacionada ao crescimento da indústria automobilística no século XX, particularmente após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos países começaram a planejar suas cidades e infraestruturas em torno do automóvel.[5] Esse modelo foi especialmente proeminente nos Estados Unidos, onde políticas como a construção de rodovias interestaduais e a urbanização dispersa ("urban sprawl") reforçaram a dependência do carro.[6]

O High Five Interchange em Dallas, Texas

Esse fenômeno é caracterizado pela organização do espaço urbano, políticas públicas, infraestrutura viária e comportamento social que favorecem o uso do carro em detrimento de outros modos de transporte, como o transporte público, bicicletas e caminhadas. O termo é frequentemente usado de maneira crítica para descrever práticas que resultam em uma série de problemas urbanos, incluindo congestionamentos, poluição ambiental, acidentes de trânsito, exclusão social e a ocupação excessiva de espaços urbanos por estacionamentos e vias de circulação de veículos.[7]

Carrocentrismo no Brasil

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A indústria automobilística ganhou força a partir do século XX no Brasil, quando começou a se estabelecer no país e se consolidou ao longo do tempo, promovendo a naturalização dos carros como parte da paisagem urbana e territorial. Henry Ford, ao abrir sua empresa no Brasil em 1919, acreditava que o automóvel poderia transformar o país em uma grande nação, associando governar à construção de estradas.[2]

Críticos do carrocentrismo argumentam que ele contribui para uma série de impactos negativos, como a degradação ambiental, devido às emissões de gases de efeito estufa e à contaminação do solo e da água por resíduos de veículos.[8] Além disso, destacam que essa dependência do carro pode levar à exclusão social, uma vez que grupos que não têm acesso a veículos privados, como idosos, pessoas de baixa renda e pessoas com deficiências, encontram dificuldades em acessar oportunidades de emprego, serviços e atividades sociais.[9] Em resposta a esses problemas, movimentos e políticas urbanas vêm promovendo o conceito de "mobilidade sustentável",[10] que inclui o incentivo ao uso de transportes públicos, ciclismo, caminhadas e o planejamento urbano que favorece a proximidade de serviços e trabalho.[11][12]

Referências

  1. "Carrocentrismo" o ciudad caminable en Costa Rica : costos y consecuencias del urbanismo enfocado en el automóvil / Conrad Schiffmann (em alemão). [S.l.: s.n.] 2023 
  2. a b Troi, Marcelo de (2017). «Carrocracia: fluxo, desejo e diferenciação na cidade». Revista Periódicus (8): 270–298. ISSN 2358-0844. doi:10.9771/peri.v1i8.22764. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  3. Abramovay, Ricardo (14 de julho de 2013). «O automóvel depois do carrocentrismo». Página 22 (74): 39–39. ISSN 1982-1670. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  4. Jaskowiak, Rodrigo Dalenogare (2019). «Vagas para viver : repensando o carrocentrismo no Centro Histórico - Porto Alegre». UFRGS. Repositório Digital UFRGS: Página 4-5. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  5. «Era do carro vai acabar?: Desafios de mobilidade, poluição e mercado apontam para um futuro que repense automóveis no centro». www.uol.com.br. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  6. «Mobilidade versus carrocentrismo». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  7. «Reduzir viagens, investir em planejamento urbano, integrar a região metropolitana: as ideias de um especialista que é referência em mobilidade». GZH. 12 de março de 2020. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  8. Berth, Joice (14 de novembro de 2020). «Com os carros, a nossa cidadania é concretamente mutilada». El País Brasil (em espanhol). Consultado em 6 de agosto de 2024 
  9. «ANTP - Associação Nacional de Transportes Públicos». www.antp.org.br. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  10. «Mobilidade ativa é essencial para cidades sustentáveis e inclusivas, defendem especialistas em debate do Museu do Amanhã». Um só Planeta. 23 de julho de 2021. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  11. Oliveira, Rocha, Oliveira, Eduardo Simões Flório, Márcio Mendes, Natalia Fernanda Ramos (25 de junho de 2014). «AS POTENCIALIDADES DE MARINGÁ PARA O USO DE MOBILIDADE ALTERNATIVA COM BICICLETAS». Revista Percurso - NEMO. 6 (1): 5. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  12. «SPUrbanuss». www.spurbanuss.com.br. Consultado em 6 de agosto de 2024