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Civilidade: diferenças entre revisões

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Ética, Educação e Sociedade
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'''TRABALHO ACADÊMICO'''
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''"Ética, Educação e Sociedade"'' ('''Prof. André Nogueira Mendes''')


''INTRODUÇÃO''

Atualmente percebemos cada vez mais a necessidade de uma educação básica que priorize a reflexão e a autonomia moral. Isto, de certa forma, significa dizer que carecemos de uma educação que nos ofereça a possibilidade de discernir e deliberar com independência e responsabilidade acerca das reflexões referentes à manutenção da vida, ao domínio público e ao âmbito pessoal.
A pergunta que nos cabe enquanto educadores é: a escola tem condições de vislumbrar em seu horizonte pedagógico a preocupação com a emancipação efetiva do aprendiz, e mais especificamente, com a dimensão moral imanente a um projeto emancipatório comprometido com a reflexão crítica do agir humano em sociedade ? Se tem, o que podemos fazer para potencializá-las ? Se não tem, como podemos criá-las e quem serão os responsáveis ?

Ao longo do presente trabalho irei abordar o conceito de ética e sua importância, a necessidade da formação de professores com qualidade e a sociedade enquanto mercado de consumo, que tem como principal objetivo tornar os homens cada vez mais alienados, ignorando-os enquanto sujeitos sócio-históricos e distanciando-os de sua emancipação.


''DESENVOLVIMENTO''

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “Ética é o estudo dos juízos de apreciação que referem a conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal relativamente a determinada sociedade...”.

Já que a ÉTICA diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas, se faz necessário perguntar: como devemos agir perante as pessoas ? Como criar condições para estas reflexões ?

Podemos verificar que as respostas para tais perguntas são amplas e complexas, uma vez que todas elas implicam em um prévio julgamento de valor.

Em minha prática educativa, percebo nas escolas que o tema ÉTICA, encontra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição. Em segundo lugar, o tema ÉTICA encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, sabe-se que o conhecimento não é neutro nem impermeável a valores de todo o tipo. Em suma, para que a reflexão (acima mencionada) sobre as diversas faces das condutas humanas aconteçam, é preciso que façam parte dos principais objetivos das escolas, sendo que estas devem estar comprometidas com a formação para a cidadania e para a emancipação dos sujeitos. A questão da formação de professores é um desafio para as políticas educacionais. O que se vê, na realidade, é a ausência de uma política educacional e especificamente no nível da formação de professores coerente com as necessidades de um país que se quer socialmente avançado; a ausência desta política tem um de seus resultados um quadro de exclusão, que reforça a dicotomia entre opressores e oprimidos. Esse problema só será resolvido com o desenvolvimento e a implementação de uma política pública educacional e com a democratização e a socialização do conhecimento a parcelas mais amplas da população.
A formação de professores no Brasil tem se mostrado problemática em todos os seus níveis de atuação. Existe um total desprestígio no que diz respeito às carreiras ligadas à Educação, tanto por parte das pessoas que as procuram, quanto por parte dos profissionais que nelas atuam, ainda que a escola seja um espaço onde se depositam expectativas sociais; além disso, não só os governantes, mas o próprio pensamento dominante (tradicional pedagógico) impedem que a escola se transforme em veículo de democracia e mobilidade social, pois na visão de mundo tradicional a escola é vista apenas como um espaço de instrução. Ignora-se que as escolas sejam também espaços políticos e culturais (Giroux, 1997).

Devido a uma ausência de uma consciência e participação, até hoje não encontramos políticas necessárias e eficazes que venham a “sanar” os problemas da Educação em nosso país e conseqüentemente, que venham a incentivar ou apoiar a formação de profissionais de qualidade. Essa qualidade diz respeito respeito aos conteúdos e às relações nas escolas. A qualidade de formação à qual me refiro está bastante ligada à emancipação dos sujeitos. Ela seria capaz de formar sujeitos críticos atuantes e transformadores. No entanto, algumas pessoas confundem tudo isso com a QUALIDADE TOTAL, que é muito propalada ultimamente, principalmente em empresas, visando ao aumento da produção, os lucros, as superficialidades e ilusões geradas pelo capitalismo em contraposição ao lado humano das pessoas, a importância das relações, a pluralidade de culturas e as diferenças e singularidades do indivíduo.

Para isso é preciso vontade política para implementar medidas que venham transformar a atual situação da formação de professores. No entanto, esta é também uma competência que deve partir de todos os profissionais que atuam neste meio. Porém, qualquer tentativa de reformular o papel dos educadores deve partir da questão da questão mais ampla de como encarar o propósito da escolarização (Giroux, 1997).

Antes de mais nada, antes que haja qualquer tipo de mudança, é preciso que se fale e se repense a questão da formação pedagógica. Ela deve estar pautada em algumas dimensões entre elas, a filosófica, a sociológica e a epistemológica. Atualmente, as escolas estão sendo o locus do desprestígio: destruição física, política e pedagógica e com isso, as práticas de tais dimensões na formação de professores estão sendo esquecidas

Atualmente, devido aos processos de Globalização e homogeneização e com o avanço das tecnologias, podemos perceber novas relações sociais e de trabalho, cada vez mais tensionadas e conflituosas. No quadro internacional, as mudanças no padrões de trabalho estão diretamente ligadas aos padrões das relações sociais. Devido as novas tecnologias, surge no mercado um novo perfil de exigências, que deve ter (supõe-se) uma formação profissional mais ampla e com mais qualidade.

Neste movimento de transformação, a informação e a comunicação ocupam papel central. É condição “sine qua non” para o suposto perfeito e completo desenvolvimento deste processo, o desenvolvimento de habilidades básicas de decodificar e interpretar o mundo. Há portanto, a vigência de uma síntese entre o dito tradicionalismo e a suposta modernidade, gerando novas relações sociais e de trabalho. Porém, o que se vê na escola não é a preocupação de ajudar os estudantes a lerem o mundo criticamente; em vez disso vemos a escola ajudar esses alunos a “dominarem” ferramentas de leitura (Orlandi, 1988). Com isso, nos deparamos com a seguinte questão: - como podemos tornar a escolarização significativa de forma a torná-la crítica ?

Segundo Gatti (1997), “este processo demanda novas habilidades cognitivas e sociais para se atingir novo patamar de desenvolvimento” . Para tal, urge uma reorientação dos sentidos e objetivos da Educação. Na perspectiva de Giroux, para que a Pedagogia radical (que quer desenvolver uma hegemonia contrária à hegemonia dominante) (Giroux, 1997) se torne um projeto político viável ela precisa desenvolver um discurso que combine a linguagem da análise crítica com a linguagem da possibilidade. Deste discurso, o que Giroux considera importante são a definição das escolas como esferas públicas democráticas e a definição dos professores como intelectuais transformadores.

Em relação à formação e sua atuação, a profissão de professor tem se mostrado cada vez menos atraente. Conforme dito anteriormente, devido à ausência de uma política educacional comprometida, há a desvalorização do magistério. Se o profissional sente-se desvalorizado e desprestigiado, como ele pode incentivar os outros a acompanharem o ritmo das mudanças ? Há esperanças nas mudanças ?

A melhoria na formação de docentes é um processo longo porque histórico, para décadas... Como aponta Gatti (1997), “não se fazem milagres com a formação humana, mesmo com toda a tecnologia disponível”.

Como se sabe, é quase impossível que com uma formação deficitária, um profissional consiga obter êxito. Muitas vezes, profissionais que conseguiram chegar a um determinado ponto de vista acadêmica demonstram as falhas que houve no início de sua formação. É desta formação deficitária que resulta, na maioria das vezes, o fracasso em projetos do próprio governo, que por ausência de pessoal qualificado (escolarizado com qualidade) são mal conduzidos. Não é questionado em nenhum momento QUEM serão as pessoas que implementarão os projetos e QUEM respondeu pela formação destas mesmas pessoas.

Como ficaria o ensino neste cenário ?! Uma contradição entre discurso e realidade. A Educação é a área de maior apelo político nos discursos , porém é a menos favorecida na ação política. Com todo esse descaso a respeito da Educação, prioriza-se construir prédios e instalar computadores “para inglês ver”, e contribui-se com a formação de analfabetos funcionais em todos os níveis de formação. Despende-se mal e de forma equivocada: com a ausência na formação básica do profissional, muitas empresas são “obrigadas” a investir - em troca de benefícios fiscais, lucro, valorização de sua imagem perante ao mercado - na educação de seus empregados - o que não é mal - porém é de obrigação do poder público.

Ao mesmo tempo, temos que “correr atrás” do prejuízo e consertar novas falhas da formação docente, e dar novas e melhores condições para a educação fundamental e média. Para que haja uma formação de professores com qualidade são necessárias condições de igualdade e oportunidades no país de um modo geral. É preciso que haja um horizonte comum para os que se propõem agir na mudança. Segundo Giroux (1997), “para que se possa vencer o desafio de desenvolver uma pedagogia que incorpore formas de experiências nos quais professores e estudantes mostrem um sentido crítico, os educadores precisam desenvolver um discurso que, por um lado possa ser usado para questionar as escolas enquanto corporificações ideológicas e materiais de uma complexa teia de cultura e poder, e, por outro lado, enquanto locais socialmente construídos de contestação ativamente envolvidos na produção de experiências vividas”

Vale ressaltar que a escola tem crise também porque não encontra uma justificação cultural; há uma crise de valores da civilização atual. Não sabe o que quer ensinar (Forquin, 1991). Daí a relação estreita entre formação de professores/cultura/currículo. A cultura enquanto patrimônio coletivo é a memória de que todos participam. Assim como a cultura, o currículo também é historicamente construído e a discussão da cultura levará, certamente, a uma discussão de currículo. A partir do momento em que se considera a escola um espaço político possibilita-se essa discussão. Desta forma, voltamos à questão da qualidade. Que qualidade de formação/currículo as pessoas teriam ? Aquela que representa e reproduz os valores culturais da classe dominante ou aquela que levaria a emancipação dos sujeitos ?

A escola trabalha com a linguagem, porém o mundo de hoje trabalha muito mais com a imagem. A escola é incapaz de produzir uma linguagem tão veloz e sedutora quanto à imagem. Surge então, a linguagem da possibilidade (Giroux, 1997), que busca a identificação dos sujeitos. É esta que deve ser usada para que se possa valorizar as relações, diminuir a hegemonia da classe dominante e melhorar a qualidade da formação.

Os professores formados com qualidade, embora não possam “operar milagres”, devem fazer a sua parte,
trabalhando a cultura de nossos jovens com o intuito de transformá-los, criando condições favoráveis para que possam ser mais críticos a atuantes.

O que tem atrapalhado e vem dificultando o papel dos educadores é o bombardeio da mídia sobre o nosso comportamento e o nosso modo de vida em família / sociedade.

A partir da década de 60, influenciado diretamente pelo poder da mídia, vivemos uma cultura consumista onde todos “precisam” consumir para não acabarem sendo excluídos.

Essa cultura do consumismo acaba por gerar uma mentalidade nas pessoas cujos valores contrapõem-se integralmente ao princípios éticos de solidariedade. Com isso, nossa sociedade vai se formando a cada dia com base no egoísmo, na competitividade e no individualismo.
Sendo regida pelo mercado, a sociedade se organiza de modo a sustentar sua ideologia: a promoção do “paraíso de poucos em vida” a partir do sacrifício de muitos. Essa desvalorização do homem faz parte de uma sucessão da queda de valores, que iniciou-se com a dessacralização da natureza e a “morte de Deus” (um dos temas abordados por VALÉRIA WILKE na palestra: Educação Humanista – umas poucas palavras – realizada na UNIRIO em abril de 1999).

Temos como perspectivas futuras uma tensão entre os indivíduos na sociedade, o que acarreta o agravamento da violência, da violência, da corrupção, da alienação e da indiferença frente às desigualdades e injustiças sociais.

Segundo Sung (1995), para que a convivência social se torne possível é preciso haver um mínimo espírito de solidariedade entre as pessoas que vivem na sociedade. Ele aponta ainda que os indivíduos ao depositarem sua fé no mercado, acham-se “capazes de atingir o paraíso”. Paraíso onde tudo é possível, todos os desejos “podem” ser realizados, mesmo que baseados em sacrifícios. Essa pessoas que adotam tal postura, deixam para segundo plano (ou melhor, ignoram !!) a luta por uma sociedade mais justa e verdadeiramente fraterna.

Nos parágrafos acima, vemos claramente a crise no campo da ÉTICA, onde os valores morais começam a se perder e se distanciar dos atuais paradigmas neoliberais de nossa sociedade, onde os indivíduos fazem de tudo para “participar do paraíso do mercado do consumo”. Pura ilusão!



''CONCLUSÃO''

O que me chama muita atenção a todo instante no mundo atual é a forma como os próprios seres humanos vêem os seres humanos. Nos tratamos como objetos descartáveis, que só interessam enquanto produtores, consumidores e úteis de uma forma geral.

Esses textos trabalhados me fizeram refeltir sobre o quanto precisamos nos “policiar” a todo instante. Seja como professores, alunos, pais, filhos, etc. Precisamos nos policiar para que não sejamos individualistas e despreocupados com o mundo que nos cerca e para que não sejamos agarrados por esse perigoso mercado – como vem acontecendo !!

É lógico que agora nenhuma ação poderá transformar do dia para a noite, o que foi sedimentado ao longo de centenas de anos de cultura importada. Devemos começar a partir de agora a valorizar o nosso país, criando os nossos próprios caminhos através da educação e da ética, ajudando e valorizando os nossos jovens, que amanhã deverão estar fazendo o mesmo.

Uma Educação Humanista, que valorize o ser humano como um ser que pensa, sente e age e que precisa de uma sociedade saudável para viver bem, deve permear nossos currículos escolares e fazer parte de nossa vida.



''BIBLIOGRAFIA''


 CHAUÍ, Marilena. Ética e violência. Td.39, 1998.

 FORQUIN, J. C. Escola e Cultura. Porto Alegre : Artes Médicas, 1991.

 GATTI, Bernadete Angelina. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de renovação. Campinas, SP : Autores Associados, 1997.

 GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais. Porto Alegre : Artes Médicas, 1997.

 NASCIMENTO, Elimar Pinheiro (ORG.) Ética. Garamond, 1997.

 ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. São Paulo : Cortez, 1988.

 SUNG, Jung Mo. Desejo, mercado e religião. São Paulo : Editora Vozes, 1995.

 ____________. Conversando sobre Ética e Sociedade. Petrópolis – RJ : Editora Vozes, 1995.

Revisão das 01h31min de 21 de março de 2009

Pirâmide da Lua (Teotihuacan, Mexico), um exemplo de projeto que exige uma civilização para ser concretizado.

Civilidade é o respeito pelas normas de convívio entre os membros duma sociedade. Não confundir com civismo que tem que ver com o respeito pela sociedade organizada, pelas instituições e pelas leis.

Histórico

Civil vem do latim civile, que designava o habitante da cidade civitate. Quando a humanidade se defrontou com o raciocínio, logo com a inteligência, e realmente teve a consciência do "Eu", houve a necessidade do respeito mútuo, do respeito ao outro. Começou então a codificação de civilidade, isto é, regras de convívio social que no início eram somente de respeito do inferior para com seu superior, hierárquico ou sexual, como nos animais irracionais.

O início dos códigos de ética

Iniciou-se então a codificação de normas e regras de convívio social e de conduta, sendo impostas de modo empírico, pela tentativa e erro; os preceitos de civilidade, que eram passados de forma verbal, passaram a ser codificados e seguidos, pois o convívio em sociedade assim o exigiu. Sendo o ser humano um animal social, começou a haver de fato uma organização disciplinadora do grupo onde iniciou-se a separação do ser e do ter.

As relações humanas

Com o aumento da complexidade das relações humanas, começou a haver quebras de conduta. Alguns queriam algo que pertencia a outrem, comportamentos começaram a ser repudiados pelo grupo, etc. Iniciou-se então uma codificação dual, entre certo e errado, pois os conflitos começaram a se iniciar dentro dos grupos sociais, que para assegurar sua sobrevivência e coesão formaram as normas civis, normas estas que norteiam a base das civilizações, do convívio em sociedade, seja na selva ou nas cidades.

A codificação de condutas

Com o avançar do tempo e o desenvolvimento social, a vida em grupo passa a exigir uma organização formal que discipline a atividade dos indivíduos, proporcione condições de equilíbrio a suas relações e assegure a distribuição e a posse de seus bens. Foi no direito romano que pela primeira vez as normas do convívio social se dissociaram das noções religiosas e formaram um complexo de leis codificado, de caráter prático e aplicação sistemática, esta baseada no respeito mútuo, pois o homem, por natureza, é moral, racional e social, e a lei facilita o desenvolvimento dessas qualidades inatas, e esta deve seguir à ética, e principalmente ao respeito a outrem. E assim sucessivamente

Os códigos morais

Sérgio Buarque de Holanda consagrou a expressão homem cordial discorrendo sobre cordialidade e civilidade, atraso e modernidade, tradição e renovação, privado e público. Segundo Buarque de Holanda, a definição de civilidade é proporcional à ética, à modernidade, à renovação, à educação, pois o indivíduo que tem como prerrogativas a civilidade é, e deve ser, cordial, ético e principalmente educado, tanto nas ações quanto no comportamento. Os códigos morais regem a conduta dos membros de uma comunidade, de acordo com princípios de conveniência geral, para garantir a integridade do grupo, a convivência pacífica e o bem-estar dos indivíduos que o constituem. Assim, o conceito de pessoa moral se aplica apenas ao sujeito enquanto parte de uma coletividade. Portanto, moral coaduna com ética e respeito, e estes são a base de qualquer grupo civilizado.

Ver também

Referências

Bibliografia

  • Buarque de Hollanda, Sérgio; Raízes do Brasil; Companhia das Letras; 1995; ed. 26; ISBN 8571644489.



TRABALHO ACADÊMICO


"Ética, Educação e Sociedade" (Prof. André Nogueira Mendes)


INTRODUÇÃO

Atualmente percebemos cada vez mais a necessidade de uma educação básica que priorize a reflexão e a autonomia moral. Isto, de certa forma, significa dizer que carecemos de uma educação que nos ofereça a possibilidade de discernir e deliberar com independência e responsabilidade acerca das reflexões referentes à manutenção da vida, ao domínio público e ao âmbito pessoal.

A pergunta que nos cabe enquanto educadores é: a escola tem condições de vislumbrar em seu horizonte pedagógico a preocupação com a emancipação efetiva do aprendiz, e mais especificamente, com a dimensão moral imanente a um projeto emancipatório comprometido com a reflexão crítica do agir humano em sociedade ? Se tem, o que podemos fazer para potencializá-las ? Se não tem, como podemos criá-las e quem serão os responsáveis ?

Ao longo do presente trabalho irei abordar o conceito de ética e sua importância, a necessidade da formação de professores com qualidade e a sociedade enquanto mercado de consumo, que tem como principal objetivo tornar os homens cada vez mais alienados, ignorando-os enquanto sujeitos sócio-históricos e distanciando-os de sua emancipação.


DESENVOLVIMENTO

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “Ética é o estudo dos juízos de apreciação que referem a conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal relativamente a determinada sociedade...”.

Já que a ÉTICA diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas, se faz necessário perguntar: como devemos agir perante as pessoas ? Como criar condições para estas reflexões ?

Podemos verificar que as respostas para tais perguntas são amplas e complexas, uma vez que todas elas implicam em um prévio julgamento de valor.

Em minha prática educativa, percebo nas escolas que o tema ÉTICA, encontra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição. Em segundo lugar, o tema ÉTICA encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, sabe-se que o conhecimento não é neutro nem impermeável a valores de todo o tipo. Em suma, para que a reflexão (acima mencionada) sobre as diversas faces das condutas humanas aconteçam, é preciso que façam parte dos principais objetivos das escolas, sendo que estas devem estar comprometidas com a formação para a cidadania e para a emancipação dos sujeitos. A questão da formação de professores é um desafio para as políticas educacionais. O que se vê, na realidade, é a ausência de uma política educacional e especificamente no nível da formação de professores coerente com as necessidades de um país que se quer socialmente avançado; a ausência desta política tem um de seus resultados um quadro de exclusão, que reforça a dicotomia entre opressores e oprimidos. Esse problema só será resolvido com o desenvolvimento e a implementação de uma política pública educacional e com a democratização e a socialização do conhecimento a parcelas mais amplas da população.

A formação de professores no Brasil tem se mostrado problemática em todos os seus níveis de atuação. Existe um total desprestígio no que diz respeito às carreiras ligadas à Educação, tanto por parte das pessoas que as procuram, quanto por parte dos profissionais que nelas atuam, ainda que a escola seja um espaço onde se depositam expectativas sociais; além disso, não só os governantes, mas o próprio pensamento dominante (tradicional pedagógico) impedem que a escola se transforme em veículo de democracia e mobilidade social, pois na visão de mundo tradicional a escola é vista apenas como um espaço de instrução. Ignora-se que as escolas sejam também espaços políticos e culturais (Giroux, 1997).

Devido a uma ausência de uma consciência e participação, até hoje não encontramos políticas necessárias e eficazes que venham a “sanar” os problemas da Educação em nosso país e conseqüentemente, que venham a incentivar ou apoiar a formação de profissionais de qualidade. Essa qualidade diz respeito respeito aos conteúdos e às relações nas escolas. A qualidade de formação à qual me refiro está bastante ligada à emancipação dos sujeitos. Ela seria capaz de formar sujeitos críticos atuantes e transformadores. No entanto, algumas pessoas confundem tudo isso com a QUALIDADE TOTAL, que é muito propalada ultimamente, principalmente em empresas, visando ao aumento da produção, os lucros, as superficialidades e ilusões geradas pelo capitalismo em contraposição ao lado humano das pessoas, a importância das relações, a pluralidade de culturas e as diferenças e singularidades do indivíduo.

Para isso é preciso vontade política para implementar medidas que venham transformar a atual situação da formação de professores. No entanto, esta é também uma competência que deve partir de todos os profissionais que atuam neste meio. Porém, qualquer tentativa de reformular o papel dos educadores deve partir da questão da questão mais ampla de como encarar o propósito da escolarização (Giroux, 1997).

Antes de mais nada, antes que haja qualquer tipo de mudança, é preciso que se fale e se repense a questão da formação pedagógica. Ela deve estar pautada em algumas dimensões entre elas, a filosófica, a sociológica e a epistemológica. Atualmente, as escolas estão sendo o locus do desprestígio: destruição física, política e pedagógica e com isso, as práticas de tais dimensões na formação de professores estão sendo esquecidas

Atualmente, devido aos processos de Globalização e homogeneização e com o avanço das tecnologias, podemos perceber novas relações sociais e de trabalho, cada vez mais tensionadas e conflituosas. No quadro internacional, as mudanças no padrões de trabalho estão diretamente ligadas aos padrões das relações sociais. Devido as novas tecnologias, surge no mercado um novo perfil de exigências, que deve ter (supõe-se) uma formação profissional mais ampla e com mais qualidade.

Neste movimento de transformação, a informação e a comunicação ocupam papel central. É condição “sine qua non” para o suposto perfeito e completo desenvolvimento deste processo, o desenvolvimento de habilidades básicas de decodificar e interpretar o mundo. Há portanto, a vigência de uma síntese entre o dito tradicionalismo e a suposta modernidade, gerando novas relações sociais e de trabalho. Porém, o que se vê na escola não é a preocupação de ajudar os estudantes a lerem o mundo criticamente; em vez disso vemos a escola ajudar esses alunos a “dominarem” ferramentas de leitura (Orlandi, 1988). Com isso, nos deparamos com a seguinte questão: - como podemos tornar a escolarização significativa de forma a torná-la crítica ?

Segundo Gatti (1997), “este processo demanda novas habilidades cognitivas e sociais para se atingir novo patamar de desenvolvimento” . Para tal, urge uma reorientação dos sentidos e objetivos da Educação. Na perspectiva de Giroux, para que a Pedagogia radical (que quer desenvolver uma hegemonia contrária à hegemonia dominante) (Giroux, 1997) se torne um projeto político viável ela precisa desenvolver um discurso que combine a linguagem da análise crítica com a linguagem da possibilidade. Deste discurso, o que Giroux considera importante são a definição das escolas como esferas públicas democráticas e a definição dos professores como intelectuais transformadores.

Em relação à formação e sua atuação, a profissão de professor tem se mostrado cada vez menos atraente. Conforme dito anteriormente, devido à ausência de uma política educacional comprometida, há a desvalorização do magistério. Se o profissional sente-se desvalorizado e desprestigiado, como ele pode incentivar os outros a acompanharem o ritmo das mudanças ? Há esperanças nas mudanças ?

A melhoria na formação de docentes é um processo longo porque histórico, para décadas... Como aponta Gatti (1997), “não se fazem milagres com a formação humana, mesmo com toda a tecnologia disponível”.

Como se sabe, é quase impossível que com uma formação deficitária, um profissional consiga obter êxito. Muitas vezes, profissionais que conseguiram chegar a um determinado ponto de vista acadêmica demonstram as falhas que houve no início de sua formação. É desta formação deficitária que resulta, na maioria das vezes, o fracasso em projetos do próprio governo, que por ausência de pessoal qualificado (escolarizado com qualidade) são mal conduzidos. Não é questionado em nenhum momento QUEM serão as pessoas que implementarão os projetos e QUEM respondeu pela formação destas mesmas pessoas.

Como ficaria o ensino neste cenário ?! Uma contradição entre discurso e realidade. A Educação é a área de maior apelo político nos discursos , porém é a menos favorecida na ação política. Com todo esse descaso a respeito da Educação, prioriza-se construir prédios e instalar computadores “para inglês ver”, e contribui-se com a formação de analfabetos funcionais em todos os níveis de formação. Despende-se mal e de forma equivocada: com a ausência na formação básica do profissional, muitas empresas são “obrigadas” a investir - em troca de benefícios fiscais, lucro, valorização de sua imagem perante ao mercado - na educação de seus empregados - o que não é mal - porém é de obrigação do poder público.

Ao mesmo tempo, temos que “correr atrás” do prejuízo e consertar novas falhas da formação docente, e dar novas e melhores condições para a educação fundamental e média. Para que haja uma formação de professores com qualidade são necessárias condições de igualdade e oportunidades no país de um modo geral. É preciso que haja um horizonte comum para os que se propõem agir na mudança. Segundo Giroux (1997), “para que se possa vencer o desafio de desenvolver uma pedagogia que incorpore formas de experiências nos quais professores e estudantes mostrem um sentido crítico, os educadores precisam desenvolver um discurso que, por um lado possa ser usado para questionar as escolas enquanto corporificações ideológicas e materiais de uma complexa teia de cultura e poder, e, por outro lado, enquanto locais socialmente construídos de contestação ativamente envolvidos na produção de experiências vividas”

Vale ressaltar que a escola tem crise também porque não encontra uma justificação cultural; há uma crise de valores da civilização atual. Não sabe o que quer ensinar (Forquin, 1991). Daí a relação estreita entre formação de professores/cultura/currículo. A cultura enquanto patrimônio coletivo é a memória de que todos participam. Assim como a cultura, o currículo também é historicamente construído e a discussão da cultura levará, certamente, a uma discussão de currículo. A partir do momento em que se considera a escola um espaço político possibilita-se essa discussão. Desta forma, voltamos à questão da qualidade. Que qualidade de formação/currículo as pessoas teriam ? Aquela que representa e reproduz os valores culturais da classe dominante ou aquela que levaria a emancipação dos sujeitos ?

A escola trabalha com a linguagem, porém o mundo de hoje trabalha muito mais com a imagem. A escola é incapaz de produzir uma linguagem tão veloz e sedutora quanto à imagem. Surge então, a linguagem da possibilidade (Giroux, 1997), que busca a identificação dos sujeitos. É esta que deve ser usada para que se possa valorizar as relações, diminuir a hegemonia da classe dominante e melhorar a qualidade da formação.

Os professores formados com qualidade, embora não possam “operar milagres”, devem fazer a sua parte, trabalhando a cultura de nossos jovens com o intuito de transformá-los, criando condições favoráveis para que possam ser mais críticos a atuantes.

O que tem atrapalhado e vem dificultando o papel dos educadores é o bombardeio da mídia sobre o nosso comportamento e o nosso modo de vida em família / sociedade.

A partir da década de 60, influenciado diretamente pelo poder da mídia, vivemos uma cultura consumista onde todos “precisam” consumir para não acabarem sendo excluídos.

Essa cultura do consumismo acaba por gerar uma mentalidade nas pessoas cujos valores contrapõem-se integralmente ao princípios éticos de solidariedade. Com isso, nossa sociedade vai se formando a cada dia com base no egoísmo, na competitividade e no individualismo. Sendo regida pelo mercado, a sociedade se organiza de modo a sustentar sua ideologia: a promoção do “paraíso de poucos em vida” a partir do sacrifício de muitos. Essa desvalorização do homem faz parte de uma sucessão da queda de valores, que iniciou-se com a dessacralização da natureza e a “morte de Deus” (um dos temas abordados por VALÉRIA WILKE na palestra: Educação Humanista – umas poucas palavras – realizada na UNIRIO em abril de 1999).

Temos como perspectivas futuras uma tensão entre os indivíduos na sociedade, o que acarreta o agravamento da violência, da violência, da corrupção, da alienação e da indiferença frente às desigualdades e injustiças sociais.

Segundo Sung (1995), para que a convivência social se torne possível é preciso haver um mínimo espírito de solidariedade entre as pessoas que vivem na sociedade. Ele aponta ainda que os indivíduos ao depositarem sua fé no mercado, acham-se “capazes de atingir o paraíso”. Paraíso onde tudo é possível, todos os desejos “podem” ser realizados, mesmo que baseados em sacrifícios. Essa pessoas que adotam tal postura, deixam para segundo plano (ou melhor, ignoram !!) a luta por uma sociedade mais justa e verdadeiramente fraterna.

Nos parágrafos acima, vemos claramente a crise no campo da ÉTICA, onde os valores morais começam a se perder e se distanciar dos atuais paradigmas neoliberais de nossa sociedade, onde os indivíduos fazem de tudo para “participar do paraíso do mercado do consumo”. Pura ilusão!


CONCLUSÃO

O que me chama muita atenção a todo instante no mundo atual é a forma como os próprios seres humanos vêem os seres humanos. Nos tratamos como objetos descartáveis, que só interessam enquanto produtores, consumidores e úteis de uma forma geral.

Esses textos trabalhados me fizeram refeltir sobre o quanto precisamos nos “policiar” a todo instante. Seja como professores, alunos, pais, filhos, etc. Precisamos nos policiar para que não sejamos individualistas e despreocupados com o mundo que nos cerca e para que não sejamos agarrados por esse perigoso mercado – como vem acontecendo !!

É lógico que agora nenhuma ação poderá transformar do dia para a noite, o que foi sedimentado ao longo de centenas de anos de cultura importada. Devemos começar a partir de agora a valorizar o nosso país, criando os nossos próprios caminhos através da educação e da ética, ajudando e valorizando os nossos jovens, que amanhã deverão estar fazendo o mesmo.

Uma Educação Humanista, que valorize o ser humano como um ser que pensa, sente e age e que precisa de uma sociedade saudável para viver bem, deve permear nossos currículos escolares e fazer parte de nossa vida.


BIBLIOGRAFIA


 CHAUÍ, Marilena. Ética e violência. Td.39, 1998.

 FORQUIN, J. C. Escola e Cultura. Porto Alegre : Artes Médicas, 1991.

 GATTI, Bernadete Angelina. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de renovação. Campinas, SP : Autores Associados, 1997.

 GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais. Porto Alegre : Artes Médicas, 1997.

 NASCIMENTO, Elimar Pinheiro (ORG.) Ética. Garamond, 1997.

 ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. São Paulo : Cortez, 1988.

 SUNG, Jung Mo. Desejo, mercado e religião. São Paulo : Editora Vozes, 1995.

 ____________. Conversando sobre Ética e Sociedade. Petrópolis – RJ : Editora Vozes, 1995.