Culto à carga

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Cruz cerimonial do culto a John Frum em Vanuatu

Culto à carga ou culto de carga [1] é um conjunto de ritos descrito pela primeira vez na Melanésia e que engloba uma série de práticas que ocorrem após o contato de sociedades simples com civilizações tecnologicamente mais avançadas.

O nome deriva da crença surgida, entre os melanésios, a partir do final do século XIX até a primeira metade do século XX, segundo a qual certos atos ritualísticos, tais como a construção de uma pistas de pouso, resultariam no aparecimento de riqueza material, particularmente nas tão desejadas mercadorias ocidentais - ou seja, a "carga", que era trazida por navios ou lançada de aviões, por meio de paraquedas.[2][3][4]

Os cultos à carga costumam se desenvolver durante uma combinação de crises. Sob condições de stresse social, tal movimento pode se formar sob a liderança de uma figura carismática. Esse líder pode ter uma "visão" (ou "mito-sonho") do futuro, muitas vezes ligada a uma eficácia ancestral ("mana") de um retorno à moralidade tradicional.[3][5] Esse líder pode caracterizar o estado atual como um desmantelamento da antiga ordem social, o que significa que a hierarquia social e os limites do ego foram quebrados.[6]

O contato com grupos colonizadores trouxe uma considerável transformação na forma como os povos nativos da Melanésia veem outras sociedades. As primeiras teorias dos cultos à carga começaram a surgir a partir da suposição de que os praticantes simplesmente não conseguiam entender a tecnologia, a colonização ou o capitalismo; neste modelo, os cultos à carga são um mal-entendido dos sistemas de distribuição de recursos e uma tentativa de adquirir tais bens na esteira deste comércio interrompido. No entanto, muitos desses praticantes realmente se concentram na importância de sustentar e criar novas relações sociais, sendo as relações materiais secundárias.[7]

Desde o final do século XX, surgiram teorias alternativas. Por exemplo, alguns estudiosos, como Kaplan e Lindstrom, enfocam a caracterização europeia desses movimentos como um fascínio aos bens manufaturados e o que tal enfoque diz sobre o fetichismo da mercadoria no Ocidente.[4] Outros apontam para a necessidade de ver cada movimento como reflexo de um contexto histórico particular.[8]

História[editar | editar código-fonte]

Esse fenômeno já foi observado diversas vezes em casos completamente isolados. O primeiro caso que se tem registro foi o movimento "Tuka" nas ilhas Fiji em 1885, mas outros casos ocorreram periodicamente nas ilhas da Oceania.

Tem-se notícia de um evento semelhante no contato de indígenas norte-americanos e a população americana de origem européia. Um profeta paiute chamado Wovoka pregava que com certos rituais os ancestrais voltariam como ferrovias e uma nova terra cobriria os homens brancos. Indígenas amazonenses esculpiram fitas cassetes em madeira, com as quais fariam contato com espíritos.[carece de fontes?]

Durante a Segunda Guerra Mundial vários casos ocorreram quando nativos tiveram contato com os exércitos dos dois lados, especialmente quando equipamentos eram jogados de para-quedas para equipes no solo. O Culto a John Frum ainda existe até hoje na ilha Tanna, Vanuatu.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Hoebel, Edward Adamson; Frost, Everett Lloyd. Antropologia Cultural E Social. São Paulo: Cultrix, 2006, p.54s
  2. «How "Cargo-Cult" is Born». XVII(4) Pacific Islands Monthly. 18 de novembro de 1946 
  3. a b Burridge, Kenelm (1969). New Heaven, New Earth: A study of Millenarian Activities. London: Basil Blackwell. p. 48 
  4. a b Lindstrom, Lamont (1993). Cargo Cult: Strange Stories of desire from Melanesia and beyond. Honolulu: University of Hawaii Press 
  5. Burridge, Kenelm (1993). Lockwood, V. S.; Harding, T. G.; B. J., Wallace, eds. Contemporary Pacific Societies: Studies in Development and Change. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall. p. 283 
  6. Worley, Peter (1957). The Trumpet Shall Sound: A Study of 'Cargo Cults' in Melanesia. New York: Schocken books 
  7. Otto, Ton (2009). «What happened to Cargo Cults? Material Religions in Melanesia and the West». Social Analysis. 53 (1): 93–4 
  8. Otto, Ton (2009). «What happened to Cargo Cults? Material Religions in Melanesia and the West». Social Analysis. 53 (1) 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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