Daniel, o Corebispo
| Daniel | |
|---|---|
| Etnia | Armênio |
| Religião | Catolicismo |
Daniel (em armênio: Դանիէլ, Daniēl) foi um corebispo do século IV, ativo durante o reinado do rei Tigranes VII (r. 339–350). Sua vida é sobremaneira narrada por Fausto, o Bizantino.
Etimologia
[editar | editar código]Daniel (Դանիէլ, Daniēl) é um nome originado no hebraico Daniel (דָּנִיֵּאל, Daniyél, "Deus julgou"). Foi registrado em grego como Daniel (Δανιήλ, Daniḗl), de onde foi incorporado no armênio.[1]
Vida
[editar | editar código]Daniel era de origem siríaca e nasceu em data incerta. Serviu como supervisor das igrejas no distrito de Taraunitis, na Turuberânia, sobretudo do templo de Astisata, e foi missionário na Pérsia. Fausto, o Bizantino afirmou que era pupilo de São Gregório, o conversor da Armênia ativo no reinado de Tiridates IV (r. 298–330),[2] e que foi nomeado por ele como corebispo.[3] Moisés de Corene se limita a dizer que Daniel era discípulo de Gregório,[4] mas Agatângelo não faz qualquer menção a esse indivíduo no círculo de bispos ordenados pelo Gregório. Nina Garsoïan propôs que a relação entre eles é tardia, decorrente de uma possível hagiografia consultada por Fausto, e não reflete a realidade histórica. Ela sugeriu que Daniel devia ser um hierarca autônomo que atuou nas porções ao sul da Armênia à época de Gregório, influenciado pela Igreja na Síria e centrado em Astisata.[5]
Fausto declarou que Daniel tornar-se-ia autoridade judicial suprema no distrito de Taraunitis, bem como legislador (dicasta / datavor), supervisor e guardião de todas as igrejas da Grande Armênia. Dentre os templos que supostamente permaneceram sob sua tutela estavam a igreja de Tordã, no distrito de Daranália, onde foram sepultados Gregório e Vertanes I (confundido no texto com Aristácio I), e a igreja de Gaiana e Ripsima, na província de Airarate.[6] O cronista lhe atribuiu vários feitos milagrosos como andar sobre águas, velocidade semelhante a de um relâmpago, ressuscitação de mortos, cura de enfermos etc. Residia nas montanhas, onde alimentava-se de raízes e trajava uma veste feita de peles e usava sandálias. Quando visitava as regiões povoadas, residia junto às igrejas mais importantes, mas também permanecia numa caverna situada no Bosque dos Freixos, próximo do qual havia uma fonte que Gregório utilizou para batizar multidões no passado.[3]
Em 347/8, o católico Hesíquio I (r. 341/2–347/8) foi morto espancado pelo rei Tigranes VII (r. 339–350) dentro da igreja.[7][8] O rei realizou uma grande assembleia, que reuniu a nobreza (nacarares) e uma multidão, para decidir o sucessor de Hesíquio. Deliberou-se que seus filhos Atenógenes e Papa eram ineptos à posição,[9] e sem um sucessor da linhagem de Gregório disponível, o trono patriarcal permaneceu algum tempo vazio. Em outra assembleia, a nobreza persuadiu Tigranes a convocar Daniel, já idoso à época, para assumir a função. Artabano de Vananda, Carano Amatúnio, Varazes Dimacísio e outros nobres foram incumbidos da responsabilidade de buscá-lo. Eles o encontraram na vila de Til, no distrito de Acilisena, convenceram-no a acompanhá-los e foram juntos à cidade de Barraeje, em Arzanena. Perante o rei, Daniel fez duras críticas à conduta de Tigranes.[10]
Tigranes se enfureceu e ordenou que Daniel fosse estrangulado na frente de todos. Seus servos atenderam às suas ordens, e estrangularam-no com uma corda amarrada ao pescoço, apesar dos nobres tentarem impedirem-nos.[11] Aqueles que o conheciam pretendiam sepultá-lo junto aos demais patriarcas armênios, mas supostamente Daniel apareceu em espírito e pediu que seu corpo fosse enterrado no solo, aos moldes do sepultamento de Cristo. Seus discípulos Xalita e Epifânio atenderam ao seu último desejo e conduziram seu corpo até o Bosque dos Freixos, em Taraunitis, onde foi enterrado em sua caverna, que tornar-se-ia conhecida como Cela de Daniel.[12] Mais a frente, o trono patriarcal foi ocupado por Farnarses.[13]
Ver também
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| Precedido por Hesíquio I, o Parta |
Arcebispo da Armênia (?) 347/8? |
Sucedido por Farnarses |
Referências
- ↑ Ačaṙyan 1942–1962, p. 10.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 86.
- ↑ a b Fausto, o Bizantino 1989, p. 87.
- ↑ Moisés de Corene 2006, p. 264.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 367.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 86-87.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 83.
- ↑ Moisés de Corene 2006, p. 263-264.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 85-86.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 87-90.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 90.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 90-91.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 91.
Bibliografia
[editar | editar código]- Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Դանիէլ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
- Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachussetes: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard
- Moisés de Corene (2006). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachusetts; Londres: Harvard University Press