Discurso do Pão da Vida

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Pão da vida.
Mosaico na Brotvermehrungskirche, em Tabgha.

O Discurso do Pão da Vida é um episódio da vida de Jesus que aparece no Evangelho de João (João 6:22–59)[1]. O título Pão da Vida para Jesus se baseia neste episódio, que acontece logo após a multiplicação dos cinco pães e dois peixes quando as multidões seguem Jesus até o outro lado do Lago de Genesaré (e após Jesus ter andado sobre as águas)[2].

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

No Evangelho de João:

«Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe, então: Senhor, dá-nos sempre esse pão. Declarou-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, de modo algum terá fome; e o que crê em mim, nunca jamais terá sede.» (João 6:32–35)

João não incluiu em seu evangelho um relato sobre a benção do pão durante a Última Ceia, como no Evangelho de Lucas (Lucas 22:19). Porém, este discurso comunica ideias que foram muito influentes na afirmação da doutrina da Eucaristia na tradição cristã[3].

No contexto cristológico, o uso do título "Pão da Vida" é similar ao "Luz do Mundo" quando Jesus afirma «Eu sou a luz do mundo; quem me segue, de modo nenhum andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.» (João 8:12)[4]. Estas afirmações expandem o tema cristológico iniciado em João 5:26, onde Jesus alega possuir a Vida, dada pelo Pai, e a capacidade de dá-la aos que o seguem[4][5].

Padres da Igreja[editar | editar código-fonte]

A Liturgia da Eucaristia, desde os primeiros dias, foi realizada a portas fechadas por medo de perseguição. Uma das primeiras explicações da Eucaristia em nome de um cristão para a comunidade contemporânea mais ampla é dada por São Justino Mártir:

"Chamamos isso de Eucaristia, e ninguém mais tem permissão para participar dela, exceto aquele que acredita que nosso ensino é verdadeiro e que foi lavado no Batismo que é para a remissão dos pecados e para a regeneração e, portanto, vive como Cristo ordenou. Nem bebida comum nós recebemos; mas como Jesus Cristo, nosso Salvador, se encarnou pela palavra de Deus e teve carne e sangue para nossa salvação, assim também, como fomos ensinados, o alimento que foi feito na Eucaristia pela oração eucarística por ele estabelecida, e pela mudança da qual nosso sangue e nossa carne são nutridos, é a carne e o sangue daquele Jesus encarnado." —(Primeira Apologia 66 (151])).

Santo Inácio de Antioquia, escritor cristão do primeiro século, Patriarca de Antioquia e discípulo de João, o Apóstolo (autor do evangelho de João) explica o entendimento comum da Eucaristia como verdadeiramente o corpo e sangue de Jesus Cristo em uma carta escrita em cerca do ano 110

Tome nota de todos aqueles que defendem opiniões heterodoxas sobre a graça de Jesus Cristo, que veio a nós e veja como suas opiniões são contrárias ao espírito de Deus... Eles se abstêm da Eucaristia e da oração porque não confessam que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que sofreu por nossos pecados e que o Padre, na sua bondade, levantou novamente. Eles negam o dom de Deus estão perecendo em suas disputas.
— Inácio de Antioquia, Carta aos Esmirnaus 6:2-7:1

Este entendimento ortodoxo é ainda afirmado por Santo Irineu de Lyon em sua famosa obra "Contra as Heresias", onde ele pergunta retoricamente "Se o Senhor fosse de outro que não o Pai, como ele poderia tomar o pão, que é da mesma criação como nosso, e confessar que é o seu corpo e afirmar que a mistura no cálice é o seu sangue?” (Contra Heresias 4:32-33).

São Cirilo de Jerusalém, um escritor cristão do século IV e bispo de Jerusalém durante a controvérsia ariana, explica que "o pão e o vinho da Eucaristia antes da santa invocação da adorável Trindade eram simples pão e vinho, mas tendo sido feita a invocação, o pão se torna o corpo de Cristo, e o vinho o sangue de Cristo" (Leituras Catequéticas 19:7).

São João Crisóstomo na Homilia 47 sobre o Evangelho de João ensina que as palavras de Jesus não são um enigma ou uma parábola, mas devem ser interpretadas literalmente.[6]

Referências

  1. The Gospel According to John: A Literary and Theological Commentary by Thomas L. Brodie 1997 ISBN 0195118111 page 266
  2. Who do you say that I am?: essays on Christology by Jack Dean Kingsbury, Mark Allan Powell, David R. Bauer 1999 ISBN 0664257526 page 83
  3. The Eucharist in the New Testament by Jerome Kodell 1988 ISBN 0814656633 page 118
  4. a b Christology in Context by Marinus de Jonge 1988 ISBN 9780664250102 page 147
  5. The person of Christ by Gerrit Cornelis Berkouwer 1954 ISBN 0802848168 page 163
  6. .htm Novo Advento: Crisóstomo Homilia 47 sobre o Evangelho de João

Ver também[editar | editar código-fonte]