Eleição municipal de São Bernardo do Campo em 1951

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1947 Brasil 1955
Eleição municipal de São Bernardo do Campo em 1951
14 de outubro de 1951
Candidato Lauro Gomes Edmundo Delta
Partido PTB PSP
Natural de Minas Gerais São Paulo
Votos 2.592 2.476
Porcentagem 35,40% 33,82%

Titular
José Fornari
PSP

Eleito
Lauro Gomes
PTB

Brasil 1955
Eleição do vice-prefeito de São Bernardo do Campo em 1951
14 de outubro de 1951
Líder Bertolo Basso Jacinto Bruni
Partido PTB PSP
Votos 2.457 2.337
Porcentagem 33,56% 31,92%

A eleição municipal de São Bernardo do Campo em 1951 ocorreu no dia 14 de outubro de 1951, no mesmo dia que Santo André, quando 7.321 eleitores são-bernardenses elegeram um prefeito, um vice-prefeito (votação separada) e 15 vereadores.[1] Esta foi a segunda eleição direta desde a emancipação da cidade,[2] que visou eleger o 19º prefeito desde a criação do município em 1889; o 4º desde a emancipação em 1944; e o segundo por sufrágio universal.

Candidatos a Prefeito[editar | editar código-fonte]

Nome Partido Coligação
Lauro Gomes PTB
Edmundo Delta PSP

Candidatos a Vice-prefeito[editar | editar código-fonte]

Nome Partido
Bertolo Basso PTB
Jacinto Bruni PSP

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O município de São Bernardo foi criado no dia 12 de março de 1899.[3] No dia 30 de novembro de 1938, a sede do município é transferida para Santo André, pois o município crescera mais que São Bernardo, devido ao serviço de ferrovias, algo só revertido em 30 de novembro de 1944,[4][5][6] com participação popular,[7] tendo Wallace C. Simonsen, presidente da Sociedade Amigos de São Bernardo,[8] nomeado como o primeiro prefeito do município emancipado pelo então interventor de São Paulo, Fernando Costa.[9] Na primeira eleição do município, em 1947, foi eleito José Fornari, candidato indicado e apoiado pela prefeita Tereza Delta.[10]

Naquele ano de 1951, ocorria uma disputa entre duas facções de vereadores: uma liderada por Tereza Delta (PSP) e outra pelo prefeito José Fornari (PSP), com ambos alegando legitimidade para legislar - como resultado, a obstrução da administração.[11] Tereza Delta, que havia sido nomeada prefeita com a cidade já emancipada, já possuia grande influência política desde a Segunda Guerra Mundial e passou a bancar seu irmão, Edmundo Delta, como candidato a prefeito.[12]

PSP-SBC[editar | editar código-fonte]

Entrada de Edmundo Delta[editar | editar código-fonte]

O Jornal de Notícias de 10 de junho de 1951 anunciou, sem indicar o nome, que Tereza Delta iria indicar um nome ao PSP que não tinha simpatia do partido ou da população local.[13] Como cabo eleitoral, a deputada Tereza Delta levou o deputado petebista Eumene Machado para apoiar o candidato do PSP.[14] No dia 11 de outubro, Tereza Delta realizou um comício em apoio ao seu candidato, com presença do governador Ademar de Barros.[15]

PTB-SBC[editar | editar código-fonte]

O Partido Trabalhista Brasileiro era a única oposição ao PSP. Porém, de acordo com Bethke 2008, era completamente inexpressivo e sem tradição na política local.[16] A princípio o partido visava lançar Bortolo Basso como prefeito, mas a disputa era considerada complicada pela falta de recursos do partido local, além da falta de seu secretário que havia apoiado o candidato governista.[17]

Entrada de Lauro Gomes[editar | editar código-fonte]

Lauro Gomes em seu primeiro comício.

Lauro Gomes já tinha conexão com pessoas influentes na cidade através de seu casamento com a filha de Arthur Rudge Ramos. Lauro Gomes herdou uma casa no então bairro dos Meninos que, após pedido da população, teve seu nome alterado para Rudge Ramos. Impressionado com o gesto, Lauro Gomes passou a ajudar no desenvolvimento do bairro.[18]

Em julho de 1951 Lauro Gomes foi convidado a participar das eleições por um amigo, membro do PSP. Seu nome foi aceito pelo grupo partidário, com a ressalva de “um deputado” que, de acordo com sua entrevista no Correio Paulistano, queria “perpetuar sua família na cidade”.[18] Lauro Gomes, que era desconhecido pela maioria a população,[19] teve o Partido Republicano[20] e o PSD, UDN, PRP, PDC, POT em sua coligação.[18]

As convenções foram interrompidas e, com isso, embarcou para a Europa, onde recebeu um telegrama do presidente do PTB de SBC, reagindo aos movimentos políticos locais e pedindo para que participasse do pleito. Em suas palavras, Lauro Gomes descreveu sua visão naquele momento como: “...tendo já obtido para mim tudo o que desejava obter, estava na obrigação de dar o que estivesse em mim para aquele povo que eu sabia generoso, desamparado, e por que não dizer, acorrentado a política de compressão e mandonismo e descaso por suas necessidades mais elementares”.[18]

Bethke 2008, ex-membro do PSP, filiado ao PTB e alçado ao cargo de secretário,[17] relatou que o nome de Lauro Gomes foi indicado por Antônio Emídio de Barros Filho, irmão do governador Ademar de Barros, e que se Bethke o apoiasse, Barros Filho traria o apoio do governador,[21] algo que se confirmou.[22] Após isso, Bethke foi se encontrar com o advogado Artur de Paula Maudonnet, responsável pela representação de Lauro Gomes no meio político enquanto ele estava fora do país e o encontro resultou em Maudonnet enviado à França um telegrama com a proposta de Bethke.[23] Gomes aceitou a proposta, disposto a financiar a campanha[24] e Bethke teve que convencer os partidários do PTB,[25] como o pré-candidato não oficial Bortolo Basso, que foi convencido a aceitar o recém-criado posto de vice-prefeito, a apoiar o nome de Lauro Gomes.[26]

Antes da chegada do candidato, ocorreu uma reunião de pré-lançamento da candidatura no Cine Anchieta, que demonstrou interesse popular na candidatura.[27] Lauro Gomes interrompeu sua viagem no dia 23 de setembro, chegando na cidade no dia seguinte e se apresentando ao público no dia 26, sendo cobrido de aplausos e flores no Cine Anchieta. Lauro Gomes realizou comícios diários entre os dias 26 de setembro e 11 de outubro.[18][19] Com sua chegada, iniciou-se o “Laurismo”, corrente de opositores aos “Terezistas”.[28] O último comício, realizado na Praça da Matriz, contou com a presença, como cabos eleitorais, da deputada Conceição da Costa Neves e a deputada Ivete Vargas,[14] presidente do PTB nacional.[29] O risco de violência política estava presente, como Bethke 2008 descobriu mais tarde, com a presença de dois atiradores no comício.[30]

Eleições[editar | editar código-fonte]

Foi a primeira eleição com a figura de vice-prefeito.[1] O principal candidato, Lauro Gomes (PTB), teve sua inscrição como candidato feita quando ele estava em Paris e ele retornou duas semanas antes do pleito, conseguindo 2592 votos, contra 2476 votos do segundo colocado, Edmundo Delta (PSP),[1] irmão da ex-prefeita Tereza Delta e candidato governista.[31] Somente dois candidatos concorreram ao cargo.[32] Bortolo Basso (PTB) foi eleito como vice de Lauro Gomes. O resultado só foi proclamado no dia 17 de outubro.[32] A eleição em si viu poucos incidentes e as urnas foram enviadas ao Estádio do Pacaembu para apuração.[33]

Com a derrota de seu candidato, Tereza Delta (PSP), que comandava a política local,[32] acusou a oposição de ter ilegalmente transferido 900 eleitores para a cidade. Lauro Gomes (PTB), em resposta ao Correio Paulistano, notou que passou sua campanha eleitoral lembrando a população quanto ao risco de seus adversários realizarem transferências ilegais.[34] O Jornal de Noticias do dia 19 de outubro relatou que a derrota do candidato da Tereza Delta foi considerada uma surpresa,[35] mas apesar disso, a deputada Tereza Delta telefonou ao prefeito eleito para parabenizá-lo e declarar que o apoiaria na Assembleia Legislativa, desde que ele trabalhasse pelo bem da cidade.[36]

A diplomação dos candidatos eleitos ocorreu no dia 30 de outubro de 1951.[37] A posse ocorreu no dia 1 de janeiro de 1952.[32][38]

Resultados[editar | editar código-fonte]

Prefeito[editar | editar código-fonte]

Resultado da eleição para prefeito, por colocação.[37]

Turno único

14 de outubro de 1951

Candidato(a) Votação
Porcentagem Total
Lauro Gomes (PTB) 35,40% 2.592
Edmundo Delta (PSP) 33,82% 2.476
Total de votos válidos 69,22% 5.068
Total de eleitores 100,00% 7.321
  Eleito(a)
Eleição para prefeito de São Bernardo do Campo em 1951
Partido Candidato Votos Votos (%)
  PTB Lauro Gomes 2 592
 
51,14%
  PSP Edmundo Delta 2 476
 
48,86%
Totais 5 068  

Vice-prefeito[editar | editar código-fonte]

Resultado da eleição para vice-prefeito, por colocação.[37]

Turno único

14 de outubro de 1951

Candidato(a) Votação
Porcentagem Total
Bortolo Basso (PTB) 33,56% 2.457
Jacinto Bruni (PSP) 31,92% 2.337
Total de votos válidos 65.48% 4.794
Total de eleitores 100,00% 7.321
  Eleito(a)
Eleição para vice-prefeito de São Bernardo do Campo em 1951
Partido Candidato Votos Votos (%)
  PTB Bortolo Basso 2 457
 
51,25%
  PSP Jacinto Bruni 2 337
 
48,75%
Totais 4 794  

Vereadores[editar | editar código-fonte]

Candidato(a) Partido Votação[37]
Total
Luiz Cione Castro PSP 384
Evandro Caiafa Esquivel PSP 238
Claudio Takeshita PTB 222
Aldino Pinoti PTB 221
Alfredo Sabatini PTB 219
Irineu Bento PTB 195
João Eboli PSP 187
Silvio de Oliveira Lima PTB 185
Ernesto Augusto Cleto PSP 184
Laerte Francisco Pinchiari[39] PTB 183
Angelo Rafael José Lentini PSP 173
Raimundo Nonato da Cruz PTB 168
Sigsmundo Sérgio Ballotin PTB 143
Helio de Sousa Melo PSP 128
Roque Menuccili PSP 125

O PTB teve como suplentes Mario Nakano e Otto João Gustavo Bethke. Foram apurados um total de 4953 votos, incluindo votos em branco, com 2465 para o PTB, que ocupou 8 dos 15 assentos.[39] Claudio Takeshita foi eleito presidente da Câmara Municipal.[2] Nesta legislatura ocorreu a instalação da Câmara Municipal e a criação do Brasão e da Bandeira municipal, sancionada como Lei Municipal nº180 de 23 de outubro de 1952,[40] que manteve a lei nº 351, de 20 de dezembro de 1926.[41]

Referências

  1. a b c Medici, Ademir (16 de dezembro de 2020). «Santo André e São Bernardo votam em 1951». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024 
  2. a b Bethke 2008, p. 63.
  3. Medici, Ademir (12 de março de 2024). «Grande ABC. Autônomo há 135 anos. 12 de março de 1889. Uma data quase esquecida...». www.dgabc.com.br. Consultado em 18 de abril de 2024 
  4. Medici, Ademir (30 de novembro de 2023). «30 de novembro de 1944. A emancipação de São Bernardo. O Grande ABC é dividido em dois. Santo André ainda engloba São Caetano... ...e a linha Mauá a Paranapiacaba. São Bernardo fica com Diadema.». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 18 de abril de 2024 
  5. Medici, Ademir (30 de novembro de 2021). «'A nossa bela vila volta outra vez a ser cidade.' São Bernardo e o 30 de novembro de 1944.». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 18 de abril de 2024 
  6. Pessotti 2007, p. 176.
  7. Medici, Ademir (29 de novembro de 2023). «São Bernardo, 1944. O regime político é de exceção. E a cidade é mero distrito. Responde a Santo André desde 1939. Era preciso reagir...». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 18 de abril de 2024 
  8. Pessotti 2007, p. 177.
  9. Pessotti 2007, p. 194.
  10. Bethke 2008, p. 26.
  11. Bethke 2008, p. 24.
  12. Bethke 2008, pp. 21-22.
  13. «Um caso politico a candidatura do prefeito de São Bernardo do Campo». Jornal de Noticias (1572). 10 de junho de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024 
  14. a b «Intensifica-se o espírito de luta entre os interessados no pleito do pŕoximo dia 14». Jornal de Noticias (1672). 7 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024 
  15. «Comício em São Bernardo». Jornal de Noticias (1674). 10 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024 
  16. Bethke 2008, pp. 26, 29-30.
  17. a b Bethke 2008, p. 27.
  18. a b c d e «O homem que venceu espetacularmente em São Bernardo não é político e detesta a militancia partidaria». Correio Paulistano. XCVIII (29304). 20 de outubro de 1951. p. 12. Consultado em 16 de abril de 2024 
  19. a b Pessotti 2007, p. 205.
  20. «S. Bernardo do Campo». Correio Paulistano. XCVIII (29296). 11 de outubro de 1951. p. 5. Consultado em 16 de abril de 2024 
  21. Bethke 2008, pp. 36-37.
  22. Bethke 2008, p. 54.
  23. Bethke 2008, pp. 37-39.
  24. Bethke 2008, p. 40.
  25. Bethke 2008, p. 41.
  26. Bethke 2008, pp. 43-44.
  27. Bethke 2008, p. 47.
  28. Sarti, Marcelo (29 de julho de 2016). «São Bernardo: terezistas e lauristas dominavam a política nos anos 40». CliqueABC. Consultado em 18 de abril de 2024 
  29. Bethke 2008, p. 51.
  30. Bethke 2008, p. 52.
  31. Medici, Ademir (14 de outubro de 2011). «Tereza x Lauro: uma história de 60 anos». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024 
  32. a b c d Medici, Ademir (13 de outubro de 2011). «Lauro Gomes, Linha Maginot, A Marselhesa...». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024 
  33. Bethke 2008, p. 56.
  34. «Transferencia de eleitores». Correio Paulistano. XCVIII (29304). 20 de outubro de 1951. p. 5. Consultado em 16 de abril de 2024 
  35. «As surprêsas do pleito municipal ameaçam a disciplina dos partidos». Jornal de Noticias (1682). 19 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024 
  36. «TEREZA DELTA». Jornal de Noticias (1683). 20 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024 
  37. a b c d «Proclamação e diplomação dos candidatos eleitos para São Bernardo do Campo e Santo André». Correio Paulistano. XCVIII (29313). 31 de outubro de 1951. p. 12. Consultado em 16 de abril de 2024 
  38. Bethke 2008, p. 62.
  39. a b Bethke 2008, p. 58.
  40. Bethke 2008, pp. 72-74.
  41. MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO, Lei nº 180 de 23 de outubro de 1952 nº 180, de 1952-10-23, 1952-10-23.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bethke, Otto João Gustavo (2008). Entre o chicote e o charuto. Uma contribuição para a história de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: Assahi Gráfica e Editora Ltda. 128 páginas 
  • Pessotti, Atíllio (2007). Vila de São Bernardo. São Bernardo do Campo: Secretaria de Educação e Cultura. 224 páginas