EncroChat

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EncroChat
EncroChat
Website oficial encrochat.network

O EncroChat foi um provedor de serviços e redes de comunicações, supostamente usado por membros de gangues para planear inúmeras atividades criminosas. O EncroChat foi infiltrado pela polícia entre Junho e Julho de 2020 durante uma investigação simultânea na Europa.[1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O serviço EncroChat estava disponível para aparelhos Android As funções de GPS, câmara e microfone foram desativadas nos aparelhos.[2] Em julho de 2020, os dispositivos custavam 1 000 euros cada, e 1 500 euros por um contrato de seis meses de subscrição ao serviço.[3][4] Nesse mês, e só no Reino Unido, o serviço tinha 10 mil utilizadores.[1] Os aparelhos usavam o chipset BQ Aquaris X2 e executavam duas instâncias lado a lado do sistema operacional: uma inocente para fachada pública e outra com recursos de privacidade ativados. O EncroChat apresentava um aplicativo de mensagens personalizado que roteava mensagens através dum servidor central. Um recurso de "botão de pânico" estava disponível e quando um determinado PIN era inserido no dispositivo no ecrã de desbloqueio, o computador apagava os dados no telefone.[5] O sistema de mensagens criptografadas foi descoberto pela Gendarmerie francesa em 2017, juntamente com telefones confiscados durante operações contra gangues de crime organizado.[6] Em Dezembro 2018, foi relatado que o assassino que matou Paul Massey e John Kinsella tinha uma conta no EncroChat.[7][8][9]

Infiltração[editar | editar código-fonte]

A Agência Nacional de Crimes (National Crime Agency) da Grã-Bretanha começou a tentar infiltrar-se na rede em 2016;[10] tendo-se, a francesa Gendarmeria Nacional juntado nestes esforços em 2017. A investigação acelerou no início de 2019 após o recebimento de fundos da UE, e uma equipe conjunta de investigação (JIT) ter sido formada entre as autoridades francesas e a polícia holandesa em Abril de 2020.[3] A inteligência e o conhecimento técnico da Agência Nacional de Crimes permitiram à Gendarmeria Nacional e à Policia holandesa (Politie Nederland)[11] intercetar mensagens, colocando "um dispositivo técnico" nos servidores do EncroChat na França.[1][12][13] Esses dados foram distribuídos pela Europol e pela Agência Nacional de Crimes, tecnologia de análise de dados para automaticamente “identificar e localizar criminosos, analisando milhões de mensagens e centenas de milhares de imagens".[5][14]

Mais tarde, a EncroChat informou o Vice News que tinha fechado "após vários ataques realizados por uma organização estrangeira que parecia originar no Reino Unido".[15] A Europol e a Agência Nacional do Crime recusaram-se a comentar.[16] Segundo as autoridades francesas, 90% dos utilizadores do EncroChat eram criminosos, e a Agência Nacional Britânica de Crimes disse que a evidência indicava utilização exclusivamente criminosa.[3]

Impacto[editar | editar código-fonte]

Equipa Europeia de Investigação Conjunta[editar | editar código-fonte]

O JIT, com nome de código Emma 95 na França, Lemont na Holanda e apoiado pela Europol, permitiu a captação em tempo real de milhões de mensagens entre suspeitos, e as informações também foram partilhadas com as autoridades de vários países que não estavam a participar ativamente no JIT, incluindo o Reino Unido, Suécia e Noruega.[17] A polícia holandesa prendeu mais de 100 suspeitos e apreendeu mais de oito toneladas de cocaína, cerca de oito toneladas de metanfetamina, dezenas de armas e carros de luxo e quase 20 milhões de euros em dinheiro. As autoridades francesas recusaram divulgar publicamente informação sobre as prisões na época.[18]

Operação Venetic[editar | editar código-fonte]

Operação Venetic é o nome da operação concertada da Agência Nacional do Crime do Reino Unido. Como resultado da infiltração da rede, a polícia britânica prendeu 746 indivíduos, incluindo os principais chefes do crime organizado, intercetou duas toneladas de drogas (com um valor de rua na época superior a 100 milhões de libras esterlinas), apreendeu 54 milhões de libras em dinheiro, além de armas, incluindo metralhadoras, revólveres, granadas, uma espingarda de assalto AK47 e mais de 1 800 cartuchos de munição.[1][19][20] Mais de 28 milhões de comprimidos do sedativo Etizolam foram apreendidos.[21] Vários polícias e agentes de lei corruptos foram também identificados.[21]

Referências

  1. a b c d Shaw, Danny (2 de julho de 2020). «Hundreds arrested as crime chat network cracked». BBC News (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2020 
  2. Cook, James (2 de julho de 2020). «How EncroChat became the go-to messaging service for gangsters». The Telegraph. Consultado em 6 de julho de 2020 
  3. a b c Wright, Robert (2 de julho de 2020). «Hundreds arrested across Europe as French police crack encrypted network». The Financial Times. Consultado em 6 de julho de 2020 
  4. Corder, Mike (2 de julho de 2020). «European police crack encrypted phones, arrest hundreds». Washington Post (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2020 
  5. a b «Euro police forces infiltrated encrypted phone biz – and now 'criminal' EncroChat users are being rounded up». The Register. Consultado em 6 de julho de 2020 
  6. «EncroChat: What it is, who was running it, and how did criminals get their encrypted phones?». Sky News. 2 de julho de 2020 
  7. Cox, Joseph. «Texts Claim Hack of Encrypted Phone Company Used by Hitmen». Motherboard 
  8. «John Kinsella and Paul Massey murder suspects had "extremely expensive" encrypted phones». Phoneweek. 4 de dezembro de 2018. Consultado em 6 de julho de 2020 
  9. https://www.dailymail.co.uk/news/article-8486521/The-gangland-figures-murdered-hits-ordered-EncroChat-secret-phone-network.html
  10. Evans, Martin (2 de julho de 2020). «Hundreds of gangsters arrested as police crack criminals' private messaging network». The Telegraph. Consultado em 6 de julho de 2020 
  11. https://www.politie.nl/nieuws/2020/juli/2/11-live-meekijken-met-criminelen.html
  12. Jowitt, Tom (2 de julho de 2020). «Police 'Crack' EncroChat Encryption». Silicon UK 
  13. «EncroChat: What it is, who was running it, and how did criminals get their encrypted phones?». Sky News. Consultado em 6 de julho de 2020 
  14. «What is Encrochat, the encrypted network infiltrated by law enforcement?». Verdict. 2 de julho de 2020. Consultado em 6 de julho de 2020 
  15. Cox, Joseph. «VICE - Senator Wyden Wants Congress to Investigate Which Local Cops Have Hacking Tools». Vice News. Consultado em 6 de julho de 2020 
  16. Cox, Joseph (2 de julho de 2020). «How Police Secretly Took Over a Global Phone Network for Organised Crime». Vice Motherboard. Consultado em 6 de julho de 2020 
  17. «Dismantling of an Encrypted Network Sends Shockwaves Through Organised Crime Groups Across Europe». Europol. 2 de julho de 2020. Consultado em 6 de julho de 2020 
  18. Cox, Kate (2 de julho de 2020). «Police infiltrate encrypted phones, arrest hundreds in organized crime bust». Ars Technica (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2020 
  19. Reynolds, Emma. «Hundreds arrested after police infiltrate secret criminal phone network». CNN. Consultado em 2 de julho de 2020 
  20. «Operation Venetic: More than 50 arrests in 'unprecedented' crime raids». BBC News. 2 de julho de 2020. Consultado em 6 de julho de 2020 
  21. a b Dodd, Vikram (2 de julho de 2020). «Hundreds arrested as UK organised crime network is cracked». The Guardian (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2020