Prepúcio sagrado: diferenças entre revisões

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O prepúcio apareceu também, mas de forma alegórica, nos sonhos de [[Santa Catarina de Siena]]. Nas suas visões místicas, a santa casava com Jesus Cristo que lhe oferecia como aliança matrimonial o precioso objecto.
O prepúcio apareceu também, mas de forma alegórica, nos sonhos de [[Santa Catarina de Siena]]. Nas suas visões místicas, a santa casava com Jesus Cristo que lhe oferecia como aliança matrimonial o precioso objecto.


Durante os séculos XVII e XVIII, o prepúcio continuou a estimular imaginações e a originar tratados. O teólogo Leo Allatius dedicou-lhe a extensa obra ''De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba'' (''"Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo"''), onde, entre outras coisas, especulou sobre a possibilidade do prepúcio ter ascendido com Jesus ao céu. Na sua piedade, Allautius sugeriu que a relíquia já não se encontrava entre os fiéis porque se havia transformado nos recém descobertos anéis do planeta [[Saturno (planeta)|Saturno]]. Num espírito de todo diferente, [[Voltaire]], no seu ''Tratado sobre a Tolerância'' de [[1763]] refere com ironia que a veneração do prepúcio sagrado era uma prática ''muito mais razoável que a detestar e perseguir o próximo'' ([http://www.wsu.edu/~dee/ENLIGHT/TOTOL.HTM]).
Durante os séculos XVII e XVIII, o prepúcio continuou a estimular imaginações e a originar tratados. O teólogo Leo Allatius dedicou-lhe a extensa obra ''De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba'' (''"Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo"''), onde, entre outras coisas, especulou sobre a possibilidade do prepúcio ter ascendido com Jesus ao céu. Na sua piedade, Allautius sugeriu que a relíquia já não se encontrava entre os fiéis porque se havia transformado nos recém descobertos anéis do planeta [[Saturno]]. Num espírito de todo diferente, [[Voltaire]], no seu ''Tratado sobre a Tolerância'' de [[1763]] refere com ironia que a veneração do prepúcio sagrado era uma prática ''muito mais razoável que a detestar e perseguir o próximo'' ([http://www.wsu.edu/~dee/ENLIGHT/TOTOL.HTM]).


São conhecidos outros verdadeiros prepúcios sagrados reclamados em dada altura pelas catedrais de Puy-en-Velay, [[Santiago de Compostela]], [[Antuérpia]], [[Besançon]], [[Metz]], [[Hildesheim]], e [[Calcata]]. A versão do prepúcio pertencente a esta última foi exibida perante os fiéis numa procissão anual até [[1983]], quando o precioso relicário e seu sagrado conteúdo foram roubados desta igreja italiana.
São conhecidos outros verdadeiros prepúcios sagrados reclamados em dada altura pelas catedrais de Puy-en-Velay, [[Santiago de Compostela]], [[Antuérpia]], [[Besançon]], [[Metz]], [[Hildesheim]], e [[Calcata]]. A versão do prepúcio pertencente a esta última foi exibida perante os fiéis numa procissão anual até [[1983]], quando o precioso relicário e seu sagrado conteúdo foram roubados desta igreja italiana.

Revisão das 14h03min de 28 de maio de 2007

O Prepúcio sagrado (em Latim præputium) é uma das mais preciosas relíquias cristãs relacionadas com figura de Jesus Cristo. Trata-se, alegadamente e como o próprio nome indica, do prepúcio de Jesus Cristo, retirado do seu corpo durante a circuncisão ritual a que o povo judeu submete todos os seus rapazes. Por diversas vezes ao longo da história, houve várias igrejas ou catedrais a reclamar a sua posse, algumas ao mesmo tempo. Há vários milagres atribuídos a esta relíquia.

História e ocorrências

A primeira ocorrência conhecida do prepúcio sagrado aparece na Idade Média na Abadia de Charroux em França, apresentada aos monges por Carlos Magno, rei de França e Imperador do Sacro-Império. Segundo a lenda, a relíquia foi entregue ao piedoso rei por um anjo, embora outras versões reclamem a origem como um presente da Imperatriz Irene de Bizâncio. No princípio do século XII, esta versão do prepúcio sagrado foi levada para Roma e apresentada ao Papa Inocêncio III, a quem foi pedido um veredito sobre a sua autenticidade. Com prudência, Inocêncio recusou pronunciar-se. Já no século XVI, o seu sucessor Clemente VII declarou que o prepúcio sagrado era uma relíquia verdadeira e fruto do corpo de Jesus, concedendo indulgências aos peregrinos que viessem prestar homenagem. Pouco tempo depois, em 1527, durante o saque de Roma pelas tropas de Carlos V, Imperador do Sacro-Império, surgiu nova prova de legitimidade. Os soldados trouxeram uma rapariga virgem perante o relicário e, alegadamente, o prepúcio exibiu as suas propriedades milagrosas ao aumentar de volume de forma considerável. A dada altura a relíquia desapareceu até ser encontrada em 1856 por um operário que trabalhava no restauro da Abadia.

Papa Clemente VII, que declarou a autenticidade do santo prepúcio

Outra menção histórica e concorrente do prepúcio sagrado pertence à Abadia de Coulombs da diocese de Chartres em França. Esta relíquia teve um papel importante na vida da princesa de França Catarina de Valois, então casada com o rei Henrique V de Inglaterra. Estando grávida pela primeira vez em 1421, e certamente ansiosa, a princesa mandou buscar o relicário para encontrar conforto espiritual. Dizia-se então que as emanações sagradas da relíquia garantiam um parto indolor e prometiam saúde de mãe e filho. Henrique VI de Inglaterra veio ao mundo sob esta influência milagrosa.

O prepúcio apareceu também, mas de forma alegórica, nos sonhos de Santa Catarina de Siena. Nas suas visões místicas, a santa casava com Jesus Cristo que lhe oferecia como aliança matrimonial o precioso objecto.

Durante os séculos XVII e XVIII, o prepúcio continuou a estimular imaginações e a originar tratados. O teólogo Leo Allatius dedicou-lhe a extensa obra De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba ("Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo"), onde, entre outras coisas, especulou sobre a possibilidade do prepúcio ter ascendido com Jesus ao céu. Na sua piedade, Allautius sugeriu que a relíquia já não se encontrava entre os fiéis porque se havia transformado nos recém descobertos anéis do planeta Saturno. Num espírito de todo diferente, Voltaire, no seu Tratado sobre a Tolerância de 1763 refere com ironia que a veneração do prepúcio sagrado era uma prática muito mais razoável que a detestar e perseguir o próximo ([1]).

São conhecidos outros verdadeiros prepúcios sagrados reclamados em dada altura pelas catedrais de Puy-en-Velay, Santiago de Compostela, Antuérpia, Besançon, Metz, Hildesheim, e Calcata. A versão do prepúcio pertencente a esta última foi exibida perante os fiéis numa procissão anual até 1983, quando o precioso relicário e seu sagrado conteúdo foram roubados desta igreja italiana.

Considerações teológicas e científicas

Na crença ortodoxa cristã, no fim da sua vida na Terra e depois da crucificação Jesus Cristo ascendeu fisicamente (por oposição a uma alegoria) ao céu. Segundo esta visão o prepúcio sagrado, se real, representa portanto o seu único vestígio terrestre. Este facto levantou perplexidade nos teólogos cristãos da Idade Média, uma vez que se Jesus tinha deixado este vestígio nunca poderia ter ascendido ao céu por inteiro. Aparentemente esta questão foi objecto de muito estudo e resultou na publicação de alguns tratados, que acordaram que a natureza do prepúcio devia ser comparada à dos cabelos e unhas que Jesus foi cortando ao longo da sua vida. Na actualidade, levanta a interessante possibilidade de clonagem a partir de eventual DNA contido na relíquia.

Para não mencionar as questões evidentes que a conservação de uma porção de pele com cerca de 2000 anos representa, a objecção mais capaz à veracidade do prepúcio sagrado é de ordem histórica. A prática da circuncisão nas comunidades judaicas só se tornou universal na época da grande revolta liderada por Simon bar Kokhba entre 132 e 135, isto é um século depois da crucificação. É portanto possível e até provável que Jesus Cristo não tenha sido circuncidado de todo.

Ao longo do século XX, com advento da tecnologia científica e do respectivo espírito crítico que esta acarreta, a Igreja Católica distanciou-se do culto das relíquias em geral, incluíndo o prepúcio sagrado. Em comunicações oficiais o Vaticano exprimiu a opinião de que o prepúcio não se trata de mais que uma lenda de devotos, que no entanto deverá ser respeitada.

Ver também

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