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Estética japonesa

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Uma casa de chá em Kyoto, utilizando a estética wabi-sabi.

O estudo moderno da estética japonesa foi iniciado há não mais de duzentos anos no Ocidente. A estética japonesa é um conjunto de ideais clássicos que incluem o simples (わび wabi?), a pátina (さび sabi?), e o misterioso (幽玄 yūgen?).[1] Esses ideais, assim como os outros, sustentam muitas das normas culturais e estéticas japonesas que ditam o que é considerado ser belo e ter gosto (no sentido sociológico). Assim, ao passo que é visto como filosofia na civilização ocidental, o conceito de estética é visto no Japão como parte integrante do dia a dia.[2] A estética japonesa atual contém uma variedade de ideais, desde tradicionais ou modernos a importados de outras culturas.[1]

Xintoísmo e budismo

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O xintoísmo é considerado a fonte da cultura japonesa.[3] Com sua ênfase na totalidade da natureza e do caráter na ética, bem como sua celebração da paisagem, o xintoísmo dá o tom para a estética japonesa. Todavia, os ideais estéticos japoneses são mais influenciados pelo budismo.[4] Na tradição budista, todas as coisas são consideradas estarem ora em estado de evolução, ora em dissolução ao nada. No entanto, esse “nada” não é um espaço vazio, e sim um espaço de potencialidade.[5] Analogamente, se um mar representa o potencial, então cada coisa é uma onda, que dele surge e a ele retorna. Não há ondas que durem para sempre. Em ponto algum uma onda é dada como completa, nem mesmo em sua maior crista. A natureza é vista como um todo dinâmico que deve ser admirado e apreciado. Essa apreciação da natureza foi fundamental não apenas para muitos ideais estéticos japoneses mas também para vários outros elementos culturais. Assim sendo, a noção de “arte” (ou de seu equivalente conceitual) difere-se das tradições ocidentais.[6]

Ver artigo principal: Wabi-sabi
Festas de hanami (花見?) no Castelo de Himeji.

Os termos wabi e sabi referem-se a uma abordagem consciente da vida cotidiana. Ao passar do tempo, seus significados se sobrepuseram e convergiram até serem unificados em wabi-sabi, a estética definida como a beleza das coisas “imperfeitas, impermanentes e incompletas”.[5] As coisas em crescimento ou em decadência, por assim dizer, são mais inerentes ao wabi-sabi do que as coisas em seu ápice, pelo fato da primeira estar em maior transição. Essas coisas transitórias deixam sinais de suas vindas e sua idas, considerados belos. Nisto, a beleza é um estado alterado da consciência, e pode ver vista no mundano e simples. Os sinais da natureza podem ser sutis a ponto de ser necessário uma mente calma e um olhar refinado para distingui-los.[7] Na filosofia zen, há sete princípios estéticos para se chegar ao wabi-sabi:[8]

Fukinsei: assimetria, irregularidade;

Kanso: simplicidade;

Koko: minimalismo;

Shizen: sem pretensão, natural;

Yugen: beleza sutilmente profunda, não óbvio;

Datsuzoku: ilimitado por convenção alguma, livre;

Seijaku: tranquilo, ameno.

Cada um destes princípios pode ser encontrado na natureza, mas pode implicar em virtudes do caráter humano e comportamento apropriado. Isso, por sua vez, sugere que a virtude e a civilidade podem ser insinuados através da apreciação das artes, bem como em sua prática. Assim, os ideais estéticos têm uma conotação ética e permeiam grande parte da cultura japonesa.[9]

Ver artigo principal: Miyabi
O Templo do Pavilhão Dourado (鹿苑寺 Kinkaku-ji?)

O miyabi (?) é um dos ideais tradicionais mais antigos, embora nem sempre seja tão predominante como o iki ou o wabi-sabi. No japonês moderno, o termo é geralmente traduzido como “elegância”, “refinamento”, “cortesia” e, mais raramente, “mágoa”.[10]

O ideal aristocrático do miyabi culminou no extermínio de tudo que era considerado absurdo ou vulgar: “o polimento das maneiras, do dizer e dos sentimentos para não só eliminar toda imperfeição e crueldade, como para alcançar a mais pura beleza”. O miyabi expressou a tamanha sensitividade à beleza, marca registrada do período Heian. É muitas vezes ligado estreitamente à noção de mono-no-aware (物の哀れ?), a consciência da transitoriedade das coisas, e assim pensava-se que as coisas em declínio apresentavam um grande senso de miyabi.[10]

O iki (いき?) é um ideal estético tradicional. Acredita-se que sua formação deu-se pela classe mercantil de Edo no período Tokugawa.[11] O iki é uma expressão de simplicidade, sofisticação, espontaneidade e originalidade. É efêmero, direto, medido e inconsciente, embora não totalmente refinado, pretensioso e complicado. Esse termo é geralmente usado na cultura japonesa para descrever qualidades esteticamente atraentes; quando aplicado a uma pessoa, constitui um importante elogio. O iki não pode ser encontrado na natureza. Embora seja semelhante ao wabi-sabi na medida em que ignora a perfeição, iki é um termo amplo, que engloba várias características relacionadas ao refinamento com talento. A manifestação elegante da sensualidade pode ser considerada iki. Etimologicamente, uma de suas raízes significa “puro” e “inalterado”. No entanto, seu significado também carrega uma conotação de ter desejo pela vida.[12]

Referências

  1. a b Parkes, Graham (2011). «Japanese Aesthetics» [Estética japonesa]. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (em inglês). Consultado em 13 de novembro de 2016 }
  2. Miller, Mara (1996). «Teaching Japanese Aesthetics» [Ensinando a estética japonesa] (em inglês). Consultado em 13 de novembro de 2016 
  3. Herbert, Jean (1967). Shintô; at the fountain-head of Japan [Xintoísmo; na fonte do Japão] (em inglês). [S.l.]: Stein and Day. ASIN B0006BOJ8C 
  4. «Japanese Aesthetics, Wabi-Sabi, and the Tea Ceremony» [A estética japonesa, o wabi-sabi, e a cerimônia do chá] (PDF) (em inglês). Consultado em 13 de novembro de 2016 
  5. a b Koren, Leonard (1994). Wabi-sabi for artists, designers, poets & philosophers [Wabi-sabi para artistas, designers, poetas e filósofos] (em inglês). Berkeley: Stone Bridge Press. ISBN 1880656124 
  6. «The Buddha». A View on Buddhism (em inglês). 11 de maio de 2015. Consultado em 6 de dezembro de 2016 
  7. «What Is Wabi-Sabi?» [O que é o wabi-sabi?] (em inglês). Consultado em 13 de novembro de 2016 
  8. Reynolds, Garr (7 de setembro de 2009). «7 Japanese aesthetic principles to change your thinking» [7 princípios estéticos japoneses para mudar seu modo de pensar] (em inglês). Consultado em 14 de novembro de 2016 
  9. Carter, Robert Edgar (2008). The Japanese Arts and Self-Cultivation [As artes japonesas e o auto-cultivo] (em inglês). Nova Iorque: SUNY Press. ISBN 9780791472545 
  10. a b (Hume, p. 47)
  11. Louis-Frédéric (2002). Japan Encyclopedia [Enciclopédia do Japão] (em inglês). Traduzido por Roth, Käthe. [S.l.]: Harvard University Press. p. 379. ISBN 9780674017535 
  12. «Taste of Japan» [Sabor do Japão] (em inglês). Consultado em 14 de novembro de 2016. Cópia arquivada em 11 de agosto de 2011 

Hume, Nancy G. Japanese Aesthetics and Culture: A Reader. [S.l.]: SUNY series in Asian Studies Development. 378 páginas. ISBN 1438407254