Frente Popular de Moscovo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Frente Popular de Moscovo
Московский народный фронт
Líder direção coletiva
Fundação 12 de julho de 1988
Dissolução 1990
Ideologia socialismo democrático
Membros (1989) 660[1]
País  União Soviética

A Frente Popular de Moscovo (em russo: Московский народный фронт, transl. Moskovskii narodnyi front)[2] foi uma organização política, criada em Moscovo em 1988-89, agrupando vários clubes e organizações, com o objetivo de democratizar o sistema soviético, com eleições livres e liberdade de imprensa, associação e expressão;[3] a linha dominante na Frente Popular era combinar o liberalismo político com o "socialismo democrático".[4]

Origem[editar | editar código-fonte]

Em junho de 1988, durante a perestroika, e nas vésperas da 19ª Conferência do Partido Comunista da União Soviética, 40 organizações não oficiais reuniram-se em Moscovo, com o objetivo de, por um lado, pressionarem os dirigentes comunistas a democratizarem o regime, e por outro de criarem uma frente oposicionista moderada; a 12 de julho de 1988, dezoito desses grupos criaram o comité organizador da Frente Popular de Moscovo, que no ano seguinte, em 20 de maio de 1989, realizou a sua conferência fundadora[5].

Em 1988 e 89, surgiram outras "frentes populares" em várias localidades e regiões da URSS, fazendo oposição às autoridades comunistas principalmente com base em reivindicações concretas das populações locais (em contraste com outros grupos oposicionistas mais ideológicos). Em agosto de 1988 realizou-se, na então Leninegrado, uma conferência para tentar unificar esses grupos, mas essa tentativa fracassou, em função da elevada atenção que esses movimentos davam às questões sectoriais,[6] e por os participantes, representando mais de trinta cidades, recusarem o modelo organizativo que havia sido proposta pela Frente Popular de Moscovo.[7]

Ideologia e controvérsias internas[editar | editar código-fonte]

A Frente Popular de Moscovo considerava-se "socialista democrática", defendendo,por um lado, eleições livres e as liberdades de imprensa, expressão e associação,[3] e por outro de autogestão, autonomia local, participação democrática nos órgãos centrais de planeamento e uma proteção social reforçada.[4].

No entanto em breve surgiu uma divisão entre liberais (a "Facção Democrática") e socialistas (o "Comité dos Novos Socialistas"), com os primeiros a defenderem que Frente não adotasse o socialismo no seu programa, considerado que essa ideologia estaria desacreditada na URSS, e concentrando-se na luta pela democracia e pelas liberdades políticas (dos 18 grupos fundadores, 6 recusaram a orientação socalista: Memorial, Obschina, Al'ians, Clube de Iniciativas Sociais, Dignidade dos Cidadãos e Perestroika-88).[8]

Após a cisão das facções liberais (e não só - o grupo Obschina era de orientação socalista, mas defendia que a Frente Popular deveria abranger várias correntes ideológicas em vez de ser explicitamente socialista)[9], a Frente Popular consolidou a sua linha política como socialista democrática, autogestionária e ambientalista, tendo chegado a federar cerca de quarenta organizações e organizando reuniões públicas semanais na Praça Pushkin, além de outras atividades como petições a favor da reforma política ou manifestações contra as autoridades do regime. No entanto, as divisões internas (incluindo por rivalidades pessoais) continuaram.[10]

Em março de 1989 surgiu outra divisão (com uma posterior cisão), com a corrente "patriótica" (Evgenii Dergunov, Vladislav Rozanov) a defender que a frente moscovita se integrasse na Frente Popular Russa, de Valery Skurlatov[1] (uma organização cuja ideologia combinava liberalismo económico com nacionalismo conservador).[11]

Participação eleitoral e declínio[editar | editar código-fonte]

A Frente Popular de Moscovo tentou apresentar candidatos às eleições para o Congresso dos Deputados do Povo da URSS, em 1989, tendo conseguido eleger Sergei Stankevich pelo círculo de Cheryomushki.[1]

Em 1990, foram eleitos vários candidatos identificados com a Frente Popular de Moscovo, tanto para o Soviete de Moscovo como para o Congresso dos Deputados do Povo da Federação Russa,[1] e Sergei Stankevich, da Frente Popular, disputou a presidência do Soviete de Moscovo com Gavril Popov, da Rússia Democrática (o vencedor da votação, tendo Stankevich ficado como vice);[12] no entanto a direção da Frente deixou de reunir a partir de janeiro de 1990 e a organização deixou de existir de facto a partir de maio-junho desse ano.[1]

Referências

  1. a b c d e Pribylovsky 1991
  2. Grimstead, Patricia Kennedy, ed. (2016). Archives in Russia: A Directory and Bibliographic Guide to Holdings in Moscow and St.Petersburg (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 9781317476535. Consultado em 29 de julho de 2019 
  3. a b Weigle 2010, pp. 113-114
  4. a b Weigle 2010, pp. 114-115
  5. Weigle 2010, p. 113
  6. Reddaway & Glinski 2001, p. 141
  7. Urban, Igrunov & Mitrokhin 1997, pp. 114-115
  8. Weigle 2010, p. 115-116
  9. Urban, Igrunov & Mitrokhin 1997, pp. 114
  10. Weigle 2010, p. 116-117
  11. Kagarlitsky 1990, pp. 102-103)
  12. Reddaway & Glinski 2001, p. 320

Bibliografia[editar | editar código-fonte]