Fuga para o Egito (Elsheimer)

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Adam Elsheimer - Fuga para o Egito (Alte Pinakothek)

A Fuga para o Egito é uma pintura de gabinete a óleo sobre cobre do artista alemão Adam Elsheimer datada de cerca de 1609, enquanto ele estava em Roma. Acredita-se que seja a primeira representação naturalista do céu noturno na arte renascentista[1]. Por ocasião da morte de Elsheimer em Roma, em 1610, este quadro estava pendurado em seu quarto[2].

Como muitos outros artistas antes e depois dele, Elsheimer retratou a fuga bíblica para o Egito, na qual São José, a Virgem Maria e Jesus buscam refúgio de uma possível perseguição de Rei Herodes, o Grande. Por sua fusão inovadora de elementos religiosos e paisagísticos, e sua detalhada justaposição de luz e escuridão, A Fuga para o Egito é uma das obras mais conhecidas e elogiadas de Elsheimer. Também é provável que seja sua última pintura, pois ele morreu um ano depois.

Temática[editar | editar código-fonte]

Fuga para o Egito retrata a viagem bíblica do recém-nascido Jesus Cristo, juntamente com a Virgem Maria, sua mãe, e São José, conforme descrito no Evangelho de Mateus (Mateus 2:13–23). O Evangelho descreve a fuga da Sagrada Família como resultado de uma visão de um anjo, que disse a José para trazê-los para o Egito, já que o Rei Herodes, o Grande viria para matar o menino Jesus (Mateus 2:13}). Segundo os relatos bíblicos, o Rei Herodes mandou matar as crianças que teriam aproximadamente a idade do Menino Jesus em um episódio conhecido como Massacre dos Inocentes. O evangelista Mateus afirma que a Sagrada Família permaneceu no Egito até a morte do Rei Herodes quando então voltaram para a Galileia e se estabeleceram em Nazaré.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Por sua fusão inovadora de elementos religiosos e paisagísticos, e sua detalhada justaposição de luz e escuridão, A Fuga para o Egito é uma das obras mais conhecidas e elogiadas de Elsheimer. Também é provável que seja sua última pintura, pois ele morreu um ano depois.

O tratamento de Elsheimer é único em colocar a Sagrada Família em um ambiente noturno, fiel à descrição bíblica. A escuridão cria sentimentos opostos de intimidade e medo do desconhecido. A pintura canaliza os mistérios da noite, ponderados pelos humanos há séculos, neste momento da Sagrada Família que busca refúgio.

Há quatro fontes de luz na pintura: a Lua é retratada com precisão e reflete a água calma. Há um incêndio perto dos pastores à esquerda, para onde a família se dirige. No centro da composição, José segura uma tocha que ilumina Maria e a criança, que estão montando um asno. A paisagem pesada atrás deles é quase preta, seu contorno formando uma diagonal através do céu e contendo completamente as figuras de primeiro plano. A diagonal é ecoada no céu noturno pela intrincada faixa da Via Láctea, e configurações detalhadas de estrelas são vistas, incluindo a Ursa Maior na extrema esquerda. Acredita-se que Elsheimer tenha sido o primeiro pintor a retratar com precisão constelações[3]. Outra constelação facilmente identificável é Constelação de Leão, acima da Sagrada Família, com sua estrela mais brilhante, Regulus, no centro da imagem. Foi proposto que Elsheimer retrabalhou a pintura em 1610, após a publicação do Sidereus Nuncius de Galileu, que mostrava a Via Láctea como composta de estrelas individuais e mostrava a superfície da Lua em detalhes sem precedentes[4]. Esta hipótese tem sido contestada por Keith Andrews[5]

Além de revelar o interesse de Elsheimer por temas científicos, o aparecimento da Via Láctea tem uma conotação espiritual – simbolizava o caminho para o céu que começa na Idade Média[6]. O céu de Elsheimer, escreveu o historiador de arte R. H. Wilenski, "não é mais um pano preto, mas um símbolo de espaço ilimitado"[7].

Influência[editar | editar código-fonte]

Hendrick Goudt, The Flight into Egypt (1613), engraving, Courtauld Institute

O inventário de Elsheimer mostra que a pintura foi localizada em seu quarto. A importância da pintura de Elsheimer pode ser julgada a partir de uma carta datada de 14 de janeiro de 1611 de Rubens ao médico, botânico e colecionador de arte Johann Faber, na qual ele discute o preço extraordinário de 300 scudi exigido pela viúva. A pintura acabou passando para Hendrick Goudt, que a levou para Utrecht.[8].

As obras de Elsheimer, incluindo A Fuga para o Egito, influenciaram importantes contemporâneos próximos como Claude Lorrain e Peter Paul Rubens. [8] A versão de Rembrandt de Fuga para o Egito (1627), com sua iluminação única, pode ter sido inspirada na de Elsheimer. Rembrandt estaria familiarizado com o trabalho de Elsheimer através de gravuras de alta qualidade feitas por seu amigo Hendrick Goudt. A influência das gravuras de Goudt no trabalho de outros gravadores, especialmente a de Jan van de Velde, foi imediata[9].


Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Howard, Deborah (1992). "Elsheimer's Flight into Egypt and the Night Sky in the Renaissance". Zeitschrift für Kunstgeschichte. 55 (2): 212–224. doi:10.2307/1482611. JSTOR 1482611.
  2. Andrews, Keith (1977). Adam Elsheimer: Paintings, Drawings, Prints. University of Michigan. ISBN 9780847800896.
  3. Madlyn Millner Kahr (1993). Dutch painting in the seventeenth century. 2nd edition. Westview Press; pp. 94–95. ISBN 0-06-430219-9
  4. Cavina, Anna Ottani (March 1976). "On the Theme of Landscape - II: Elsheimer and Galileo". The Burlington Magazine. 118 (876): 139–145. JSTOR 878305.
  5. Andrews, Keith (1977). Adam Elsheimer: Paintings, Drawings, Prints. University of Michigan. ISBN 9780847800896.
  6. Parks, J. (2007). "Adam Elsheimer: Rich and Magical Storytelling." American Artist, 71, 36–45.
  7. Quoted in Linda Ben-Zvi, Angela B. Moorjani (2008). Beckett at 100: revolving it all. Oxford University Press US; p. 131. ISBN 0-19-532547-8
  8. Andrews, Keith (September 1972). «The Elsheimer Inventory and Other Documents». The Burlington Magazine. 114 (834): 594–600+603+607. JSTOR 877123  Verifique data em: |data= (ajuda)
  9. Spicer, Joaneath A. (1999). "The Role of Printmaking in Utrecht during the First Half of the Seventeenth Century". The Journal of the Walters Art Gallery. 57 (1999): 105–132. JSTOR 20169145.