Gafaria de Lagos
Gafaria de Lagos | |
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Ruínas da gafaria, em Novembro de 2022 | |
Informações gerais | |
Tipo | pottery studio, leprosaria, aterro sanitário |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Lagos |
Coordenadas | 37° 05′ 52,78″ N, 8° 40′ 25,4″ O |
Localização do edifício em mapa dinâmico |
A Gafaria de Lagos foi um hospital que serviu para o isolamento dos doentes com lepra, situado na cidade de Lagos, na região do Algarve, em Portugal. Ganhou reconhecimento devido ao seu cemitério anexo, que também serviu como lixeira e local de enterramento de escravos, tendo sido encontrados os restos mortais de mais de uma centena e meia de indivíduos.[1]
História e descrição
[editar | editar código-fonte]O hospital, conhecido como gafaria ou leprosaria, estava situado num local situado fora da cidade, que posteriormente ganhou o nome de Vale da Gafaria,[1] enquanto que um baluarte nas proximidades ganhou o nome de Gafaria ou de Nossa Senhora da Conceição.[2] O estabelecimento terá funcionado nos finais do século XV.[1] De acordo com os vestígios encontrados, a antiga gafaria era composta por três edifícios, divididos em pequenos compartimentos rectangulares, que eram rebocados e pavimentados com cal.[3] Junto às ruínas da gafaria foram encontrados esqueletos de treze indivíduos de ambos os sexos, correspondentes a doze adultos e uma criança, que tinham sido inumados em posições e orientações que não correspondiam às regras para os enterramentos cristãos da altura.[3] Os esqueletos apresentavam danos nos ossos correspondentes à doença de Hansen, mais conhecida como lepra, pelo que aquela área teria sido utilizada como necrópole da gafaria.[3]
Este local também foi utilizado como lixeira, entre os séculos XV e XVII.[4] Nos finais da década de 2000, foi alvo de escavações arqueológicas para a construção de um parque de estacionamento, tendo sido encontrados os restos mortais de 158 escravos,[4] incluindo homens, mulheres e crianças.[5]
A construção do parque de estacionamento foi criticada pela arqueóloga Maria João Neves, que considerou o local como muito importante, devido ao seu espólio «ímpar no mundo», e a possibilidade de se terem cometido ali «crimes contra a humanidade».[6] Uma opinião semelhante foi expressada pela historiadora Isabel de Castro Henriques, representante nacional da UNESCO no programa Rota dos Escravos, que tinha assinado um protocolo com a autarquia para a instalação de um Museu da Escravatura na cidade, e de um memorial no local onde foram encontrados os esqueletos.[6] Em 2014, criticou a decisão do município para construir um campo de mini-golfe no local onde estava planeado o museu e o memorial, além de um centro de estudos sobre a escravatura.[6] A instalação de um museu onde fosse expostas as ossadas também foi defendida pelo historiador Diogo Ramada Curto, responsável pela colecção História e Sociedade, que pretendia «fazer de Lagos e do Museu da Escravatura um centro de reflexão, onde se cruzam histórias de África, Europa e das Américas», como forma de «projetar internacionalmente a cidade».[6] A vereadora para a cultura de Lagos, Maria Fernanda Afonso, confirmou que não tinha sido cumprido o acordo com Isabel de Castro Henriques, mas que ainda poderia ser instalado um memorial num terreno ao lado do campo de mini-golfe, e que estava em preparação o museu dedicado à escravatura, nas antigas instalações da alfândega.[6] De qualquer forma, a autarquia não estava a ponderar a exibição das ossadas, por ser «um tema muito sensível», devendo em vez disso ser «entregues à Universidade de Coimbra».[6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Hospital de Lagos
- Messe Militar de Lagos, que também funcionou como hospital militar
Referências
- ↑ a b c ROLÃO, Paulo. «O tráfico negreiro na história dos Descobrimentos». National Geographic. Consultado em 29 de Outubro de 2020
- ↑ «Muralhas». Câmara Municipal de Lagos. Consultado em 29 de Outubro de 2020
- ↑ a b c «Estudo dos gafos de Lagos». Dryas Arqueologia. Consultado em 29 de Outubro de 2020
- ↑ a b «Corpos de escravos lançados para lixeira em Lagos». Sábado. 3 de Abril de 2019. Consultado em 29 de Outubro de 2020
- ↑ «Arqueólogos detetam réstia de humanidade na violência da escravatura portuguesa». Jornal de Notícias. 3 de Abril de 2019. Consultado em 29 de Outubro de 2020
- ↑ a b c d e f MIRANDA, Tiago; MARTINS, Christiana (21 de Julho de 2015). «Da lixeira para o sótão: 155 esqueletos ímpares no mundo encaixotados em Coimbra». Expresso. Consultado em 29 de Outubro de 2020