Gilles Cistac

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Gilles Cistac
Gilles Cistac
Nascimento 11 de novembro de 1961
Toulouse
Morte 3 de março de 2015
Maputo
Cidadania França, Moçambique
Ocupação constitutional lawyer, professor universitário
Prêmios
  • Cavalheiro da Ordem das Palmas Académicas (2009)
Empregador(a) Universidade Eduardo Mondlane

Gilles Cistac (Toulouse, França, 1961Maputo, Moçambique, 3 de março de 2015) foi um constitucionalista franco-moçambicano.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Gilles Cistac nasceu em 1961 na cidade francesa de Toulouse, onde estudou direito público e se doutorou.[1]

Mudança para Moçambique[editar | editar código-fonte]

Em 1993 exerceu as funções de conselheiro civil na embaixada francesa em Maputo e, entre outras entidades, trabalhou com a Universidade Eduardo Mondlane. Após um breve regresso a França, mudou-se em 1995 para Maputo. Desde então, trabalhou como docente universitário de Direito na universidade pública Eduardo Mondlane. Até à sua morte, exerceu o cargo de director-adjunto para Investigação e Extensão na Faculdade de Direito.[2] Em 2008 promoveu uma unidade universitária de investigação sobre a harmonização do Direito na SADC, o Centro de Estudos sobre a Integração Regional (CEDIR).

Em 2009 recebeu a ordem de mérito “Ordre des Palmes Académiques” pelo seu trabalho de descentralização de Moçambique. A “Ordre des Palmes Académiques” é a ordem francesa mais importante na área das ciências.[3] Em 2010 adoptou, como segunda nacionalidade, a nacionalidade moçambicana.[4]

Marcha em honra de Gilles Cistac em Maputo. Na fila em frente está Ivone Soares, líder do grupo parlamentar da RENAMO na Assembleia da República

Morte[editar | editar código-fonte]

Na manhã do dia 3 de março de 2015, Cistac ia tomar um táxi em frente de um café no bairro da Polana, quando foi atingido por três tiros de um carro que passava.[5] Poucas horas depois faleceu no Hospital Central de Maputo. O maior partido da oposição, a RENAMO, e alguns mídia culparam forças radicais do partido do governo, a FRELIMO, por ter assassinado o constitucionalista. O governo negou qualquer relações com o assassinato.[6] Dias depois da morte, várias marchas e manifestações em cidades moçambicanas honraram Gilles Cistac.[7] Diversas embaixadas, entre outras a da França, a da União Europeia e a dos Estados Unidos, condenaram o assassinato e exigiram uma investigação completa dos acontecimentos.[8][9][10]

A morte de Cistac é vista como mais um agravamento da crise política que lavra desde 2013 em Moçambique.[11][12]

Actividade pública[editar | editar código-fonte]

Cistac era conhecido como um crítico do partido do poder, a FRELIMO, apesar de ser independente e sem relação a um partido. Ele criticou várias vezes publicamente o governo por, entre outras fragilidades, a constante violação dos direitos humanos em Moçambique, a partidarização do estado moçambicano pela FRELIMO e um fraco Ministério Público.[13][14]

Depois das eleições parlamentares e presidenciais de 2014 o maior partido da oposição, a RENAMO, protestou contra os resultados das eleições. Em especial, a RENAMO exigiu poder governar as províncias em que ganhou a maioria dos votos, já que até agora é o governo central que nomeia os governadores provinciais. Além disso, o líder da oposição, Afonso Dhlakama, exigiu a criação de ele chamou de “Províncias autónomas”. Filipe Nyusi, o presidente do estado, negou a possibilidade de criação de tais províncias e chamou à ideia da RENAMO “anti-constitucional”.[15] Gilles Cistac contradisse Nyusi e explicou que sim era possível criar “Províncias autónomas”:

Para tal, pode-se evocar o número 04, do artigo 273 da Constituição da República, sobre as “categorias das autarquias locais”, que determina que “a lei pode estabelecer outras categorias autárquica superiores ou inferiores à circunscrição territorial do município ou da povoação”. E em vez de “regiões autónomas”, passariam a se denominadas “províncias autónomas”, que é a designação mais abrange no âmbito da lei em alusão.
 
Gilles Cistac , Gilles Cistac prevê gestão autónoma das províncias onde a Renamo reclama vitória, A Verdade, 30 de Janeiro de 2015.

Depois da sua entrevista ao jornal A Verdade, vários mídia pró-governamentais criticaram Cistac.[16][17] O porta-voz da FRELIMO, Damião José, chamou os pronunciamentos de Cista “mentiras”, “não honestas”, chamou-o “hipócrita (..), ingrato e mal-agradecido à hospitalidade e ao acolhimento do povo moçambicano”.[18]

Obras (selecção)[editar | editar código-fonte]

Gilles Cistac publicou mais que 50 obras sobre o direito moçambicano, entre as quais:

  • O direito eleitoral moçambicano – Le droit électoral mozambicain (1994)
  • O tribunal administrativo de Moçambique (1997)
  • Aspectos jurídicos, económicos e sociais do uso e aproveitamento da terra (2003)
  • Turismo e desenvolvimento local (2007)
  • 10 anos de descentralização em Moçambique : os caminhos sinuosos de um processo emergente (2008)
  • Direito processual administrativo contencioso teoria e prática (2010)
  • Manual Prático de Jurisprudência Eleitoral (2011), ISBN 978-9896700263
  • Aspectos jurídicos da integração regional (2012), ISBN 978-9896700317

Referências

  1. Daniel Hourquebie (5 de março de 2015). «Gilles Cistac, «un homme de dialogue qui aimait la vie»». La Depêche (em francês). Consultado em 14 de março de 2015 
  2. «UEM exalta feitos do Professor Gilles Cistac em velório». Universidade Eduardo Mondlane. 11 de março de 2015. Consultado em 14 de março de 2015 
  3. «Professeur Gilles Cistac Chevalier de l'Ordre des Palmes Académiques» (em francês). Ambassade de France au Maputo. 27 de janeiro de 2010. Consultado em 14 de março de 2015 
  4. Elodie Lanfroy (5 de março de 2015). «Mozambique : l'avocat toulousain Gilles Cistac tué par balles en pleine rue». La Depêche (em francês). Consultado em 14 de março de 2015 
  5. Adrien Barbier (3 de março de 2015). «www.lemonde.fr/afrique/article/2015/03/04/un-avocat-critique-du-pouvoir-assassine-a-maputo_4587220_3212.html». Le Monde Afrique (em francês). Consultado em 14 de março de 2015 
  6. Nelson Carvalho (4 de março de 2015). «Afonso Dhlakama promete vingar assassinato de Gilles Cistac». Deutsche Welle. Consultado em 14 de março de 2015 
  7. Guilherme Correia da Silva (6 de março de 2015). «Moçambicanos de luto pela morte de Gilles Cistac». Deutsche Welle. Consultado em 14 de março de 2015 
  8. «Local statement following the assassination of Professor Gilles Cistac in Maputo on 3 March 2015 (03/03/2015)» (em inglês). Delegation of the European Union to the Republic of Mozambique. 3 de março de 2015. Consultado em 14 de março de 2015 
  9. «Déclarations du porte-parole : Assassinat de M. Gilles Cistac (3 mars 2015)» (em francês). Ambassade de France au Maputo. 3 de março de 2015. Consultado em 14 de março de 2015 
  10. «Declaração à Imprensa: Assassinato Gilles Cistac». U.S. Embassy in Maputo, Mozambique. 3 de março de 2015. Consultado em 14 de março de 2015 
  11. «Murder of prominent lawyer presents double threat to Mozambique's new president». Menas.co.uk (em inglês). 11 de março de 2015. Consultado em 14 de março de 2015. Arquivado do original em 2 de abril de 2015 
  12. Norman Taku (3 de março de 2015). «Press release: Centre calls for immediate and independent investigation into the tragic assassination and untimely death of Prof Gilles Cistac, esteemed human rights educator and activist» (em inglês). Centre for Human Rights / University of Pretoria. Consultado em 14 de março de 2015. Arquivado do original em 2 de abril de 2015 
  13. Raul Senda (20 de setembro de 2011). «Sobre os poderes na ditosa Pátria amada». The Delagoa Bay Review. Consultado em 14 de março de 2015 
  14. «Gilles Cistac: "Projecto da Frelimo é pouco substancial"». O País. 14 de outubro de 2011. Consultado em 14 de março de 2015 
  15. Emildo Sambo (30 de janeiro de 2015). «Gilles Cistac prevê gestão autónoma das províncias onde a Renamo reclama vitória». A Verdade. Consultado em 14 de março de 2015 
  16. Télio Chamuço (5 de fevereiro de 2015). «Os equívocos do Prof. Gilles Cistac». Jornal de Notícias. Consultado em 14 de março de 2015 
  17. Paul Fauvet (18 de fevereiro de 2015). «Dhlakama tenta explicar "províncias autónomas"». Rádio Moçambique. Consultado em 14 de março de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  18. «AINDA OS PRONUNCIAMENTOS DE CISTAC: Porta-voz da Frelimo deplora». Jornal de Notícias. 19 de fevereiro de 2015. Consultado em 14 de março de 2015