Inocêncio Calabote

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Inocêncio João Teixeira Calabote (29 de março de 1917-2 de janeiro de 1999 (81 anos)) foi um árbitro internacional de futebol português e o primeiro árbitro de futebol a ser irradiado por acusações de corrupção. Este mesmo árbitro foi envolvido em acusações de corrupção relacionadas com o Sport Lisboa e Benfica.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Árbitro internacional da Associação de Futebol de Évora, ficou para a história do futebol português por ter sido o primeiro árbitro de futebol a ser irradiado por acusações de corrupção. O caso ocorreu num jogo no Estádio da Luz entre Sport Lisboa e Benfica e Grupo Desportivo da CUF a 22 de Março de 1959.[1]

O livro sobre o "Caso Calabote", da autoria do jornalista João Queiroz, foi editado pela Quidnovi.[2]

Sobre o caso "Caso Calabote":

Inocêncio Calabote foi um árbitro que ficou famoso por arbitrar o jogo Benfica-CUF da última jornada do campeonato da época 58/59. O jogo disputou-se a 22 de Março de 1959 e decidia o título nacional desse ano que foi disputado ao golo entre o SLB e o FCP. O SLB recebia a CUF, arbitrado por Calabote e o FCP visitava Torres Vedras com uma vantagem de 4 golos sobre o SLB. 

O caso [3] teve origem na hora a que começou o jogo da Luz, em vez de começar às 15h (à mesma hora do Torreense-FCP), os jogadores do SLB atrasaram o início do jogo em 6 minutos para saberem como estava o jogo do FCP e ainda terem tempo de tentar marcar mais golos. O tempo de compensação na Luz foi de 4 minutos, o que levou a que o jogo acabasse 10 minutos mais tarde que o de Torres Vedras dando origem a comentários do tipo "o árbitro deu 10 minutos de desconto à espera de um golo do SLB". Esse golo daria o título ao SLB. 

No fim de contas, o SLB CUF por 7-1 e teve 3 penaltis a favor, o que deu origem a contestações. Quanto aos penaltis, com base nos jornais da época, dizem que dois deles foram bem marcados e um não. Perto do fim, com o resultado já em 7-1 e o jogo de Torres Vedras já finalizado com 3-0 para o FCP, há um penalti claríssimo a favor do SLB que não foi marcado pelo Calabote, segundo as declarações do técnico da CUF "o árbitro exagerou nos penaltis, principalmente no 2º (o tal que não era) e agora no fim não marcou um autêntico penalti (falta sobre Cavém), marcar este seria mais razoável.".

O campeão na época foi o FCP por diferença de um golo.

Inocêncio Calabote foi irradiado da arbitragem na época seguinte não por ter assinalado os 3 penaltys a favor do SLB, mas por ter mentido no relatório ao dizer que o jogo tinha começado a horas e tinha tido 2 minutos de compensação. 

Numa entrevista vídeo com Francisco Palmeiro[4], jogador do Benfica que esteve em campo no jogo SLB-CUF, o jogador confirma que o árbitro Calabote beneficiou o SLB durante a partida e que o guarda redes adversário, Gama, permitiu o avolumar do resultado.

"Gravado na memória de toda a nação portista e frequentemente evocado sempre que a arbitragem é tema de discussão, ignorado - e "desmistificado" - pelo povo benfiquista, Inocêncio João Teixeira Calabote, o primeiro árbitro irradiado em Portugal, é, definitivamente, uma figura incontornável da história do futebol português. Os que se revêem no episódio, porque o presenciaram ou porque tiveram a oportunidade de o conhecer pelos registos históricos, chamam-lhe o "caso", o caso em que Calabote terá tentado ajudar o Benfica a tirar o título que acabou por ser do FC Porto, por apenas um golo na longínqua temporada de 1958/59. Os que contestam a veracidade da estória - porque, dizem, trata-se de um caso que até acabou por dar um título ao clube das Antas - dão-lhe contornos de um filme de ficção e fantasia. É uma lenda, insistem. Uma mentira que de tantas vezes repetida acaba por se tornar verdade… Mas não é, de facto. Calabote é mesmo uma realidade e os factos falam por si, não deixam mentir. Não é um mito como muitos tentam, a todo o custo, fazer crer. É um caso que se segue na linha de outros escândalos da arbitragem que se sucederam na década de oitenta e noventa, como o caso de Inácio de Almeida, que acabaria irradiado por não ter validado um golo legal ao Sporting num dérbi com o Benfica (que não podia perder, sob pena de ser apanhado na classificação pelo FC Porto); o do envelope de Francisco Silva, acusado de ter sido subornado num jogo entre o Penafiel e o Belenenses; os "quinhentinhos" de José Guímaro, o único árbitro português condenado em tribunal por actos de corrupção; ou o de Carlos Calheiros e da sua suspeita viagem em família para o Brasil. E no ano em que se comemoram as bodas de ouro desta história, que curiosamente coincide com uma altura em que a corrupção no futebol português se tornou tema preferido dos arautos da verdade desportiva, proponho que façam uma viagem na história, recuem 50 anos e recordem um dos mais célebres casos da história do nosso futebol."

João Queiroz(jornalista) in "O Caso Calabote"[5]

Algumas notas da época 58/59: 

  1. Chino, influente extremo direito do SLB foi castigado com cinco jogos de castigo na fase decisiva da competição, tendo sido a pena reduzida para 1 jogo de castigo.
  2. O jogo Belenenses-Benfica da 19ª jornada (eram 26 no total) foi protestado pelos azuis do Restelo pela anulação de um golo de canto directo ao Belenenses e por a barreira do Benfica se ter mexido antes de Matateu apontar um livre. O jogo acabou por ser repetido antes do decisivo Benfica-CUF e depois de um Sporting-Benfica.
  3. A 3 jornadas do fim, quando o Porto partia muito atrás do Benfica no que à diferença de golos diz respeito, os portistas receberam o Belenenses e venceram por 7-0. O Belenenses era um clube muito forte nessa altura e acabaria esse Campeonato em 3º lugar a 3 pontos de Porto e Benfica.
  4. Na penúltima jornada, no Sporting-Benfica (2-1), o Benfica acabou o jogo com nove jogadores, um por expulsão e outro por lesão (não existiam substituições). Lesão essa que teve origem (ao que consta) numa batalha campal em que o jogador do SLB foi deixado inconsciente.
  5. No último e decisivo jogo do Porto em Torres Vedras, o Porto venceu por 3-0 com dois dos golos a serem apontados muito perto do fim da partida.

Referências

  1. «Calabote: 50 anos depois». Jornal de Notícias. 22 de Março de 2009. Consultado em 13 de Fevereiro de 2015 
  2. «Calabote: 50 anos depois». Jornal de Notícias. 22 de Março de 2009. Consultado em 13 de Fevereiro de 2015 
  3. Manuel Pereira (29 de janeiro de 2013), História do Inocencio Calabote, consultado em 15 de abril de 2017 
  4. «Francisco Palmeiro: "O culpado para mim não foi o Calabote"». SAPO Desporto 
  5. Queiroz, João (2010). Sinopse "O Caso Calabote". [S.l.]: Quidnovi. pp. Sinopse. Consultado em 16 de abril de 2017 
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