Interdiscurso

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Para explicar o Interdiscurso, é necessário debruçar-se sobre um campo da linguística e da comunicação que se fundamenta a analisar a estrutura de um texto para compreender as construções ideológicas, Análise do discurso doravante AD, de linha francesa tendo como precursor Michel Pêcheux na década de 60, Eni Orlandi foi a principal introdutora da analise do discurso de linha francesa no Brasil na década de 70.

O Interdiscurso tem íntima ligação com a memória. Para Orlandi (2005), a memória também faz parte do discurso, logo, a maneira como ela surge induz às condições de produção do discurso, e assim a memória é considerada “Interdiscurso”.

Pêcheux (2009) define, então, o interdiscurso como aquilo que fala sempre antes, em outro lugar e independentemente, ou seja, um já dito o que chamamos de memória discursiva que volta através do Interdiscurso, tendo relação com o outro discurso proferido, que vai se (res) significando, sem o sentido unívoco, nem tão pouco uma ação fixa ou engessada pelo contrário são discursos móveis, mutável podendo sofrer alterações, para a compreensão do funcionamento do discurso, a relação com os sujeitos e com a ideologia. O Interdiscurso funciona como uma reconfiguração que permite redefinições, apagamentos, esquecimentos entre os elementos de saber de uma formação discursiva. Estando entrecruzado há vários e diferentes discursos em momentos históricos sociais e políticos, Eni Orlandi o define como um conjunto de dizível histórica e linguisticamente.

Pode-se explicar Interdiscurso como sendo a constituição de um discurso em relação a outro já existente[1], isto é, trata-se de um conjunto de ideias, organizadas por meio do texto, que se apropria, implícita ou explicitamente, de outras configuradas anteriormente.

Para o teórico da literatura Gérard Genette, este conceito dialoga diretamente com a sua ideia de “arquitextualidade”[2], já que ambos explicitam a noção de que um discurso é tudo aquilo que põe um texto em relação com outros. Outro termo apontado por Gérard Genette que dá sentido ao conceito de Interdiscurso é o de hipertextualidade[3], o qual explica que todo discurso é construído por cima de outro anterior. Já, segundo Mikhail Bakhtin, o discurso reencontra o outro em todos os caminhos que levam a seu objeto, e um não deixa de entrar em relação viva e intensa com o outro [nota 1], ou seja, esse princípio dialógico afirma que “o homem não possui um território interior soberano, ele está inteiramente e sempre em uma fronteira; olhando para o interior de si, olha nos olhos do outro ou através dos olhos do outro”[nota 2].

Divisões Conceituais[editar | editar código-fonte]

Para o analista do discurso Dominique Maingueneau[6], a noção de Interdiscurso deve ser compreendida sob o olhar de três divisões conceituais que dizem respeito à sua configuração discursiva.

Universo discursivo[editar | editar código-fonte]

Embora não possa ser apreendido em sua globalidade, trata-se de um conjunto finito, que abriga todos os discursos de um determinado recorte, mesmo que suas fronteiras sejam borradas. Afinal, todo enunciado[7] possui um “direito” e um “avesso” indissociáveis explícitos no dialogismo desta relação.

Espaço discursivo[editar | editar código-fonte]

Já os espaços discursivos podem ser entendidos como subconjuntos de formações discursivas que são postos em relação a fim de uma comparação. Neste aspecto, contudo, cabe apontar que não se tratam de resultados absolutos, mas contextuais, isto é, o enquadramento destes discursos não é – e jamais será – a única configuração de sentidos.

Notas

  1. Esta alteridade discursiva não é categoricamente definida, tendo em vista que um discurso passa a ser identificável a partir daquele que deu origem a ele.[4]
  2. Dessa forma, a relação estabelecida só pode existir como forma de uma construção discursiva entre dois ou mais olhares.[5]

Referências

  1. MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
  2. GENETTE, G. Introduction à l’architexte. Paris: Seuil, 1979.
  3. GENETTE, G. Palimpsestes. Paris: Seuil, 1982.
  4. BAKHTIN, M. Le principe dialogique. Paris: Seuil, 1981, p. 98.
  5. BAKHTIN, M. Le principe dialogique. Paris: Seuil, 1981, p. 148.
  6. MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2005.
  7. Enunciado

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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
  • CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008.
  • CHARAUDEAU, P. MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
  • MAINGUENEAU, D. Termos-chave da análise do discurso. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
  • ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes, 2009.
  • PÊCHEUX, MICHEL PÊCHEUX. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. [Trad. Eni P. Orlandi et al.]. Campinas: Editora da Unicamp, 2009.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]