Leis de Lanchester

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As Leis de Lanchester são princípios matemáticos utilizados na modelagem de conflitos militares. Estas foram propostas por Frederick Lanchester e se apresentam em duas formulações: a Lei de Lanchester Linear, aplicada a combates da antiguidade, em combates do tipo corpo a corpo, diz que a força de um exército é proporcional ao seu tamanho; e a Lei de Lanchester Quadrática, aplicada a combates modernos onde armas de longo alcance são utilizadas, caracterizando um combate do tipo todos contra todos, diz que a força de um exército é proporcional ao quadrado de seu tamanho.[1][2]

Lei de Lanchester Linear[editar | editar código-fonte]

Em combates antigos, entre falanges de soldados com lanças, por exemplo, cada soldado poderia lutar apenas com outro soldado em dado instante de tempo. Se cada soldado mata, ou é morto por, exatamente um outro soldado, então o número final de soldados que sobram ao final da batalha é simplesmente a diferença entre o tamanho do exército maior e do menor, considerando que os dois exércitos possuam idêntico armamento.

A lei linear também se aplica em situações de fogo desenfreado (unaimed fire) em uma área ocupada pelo inimigo. Nesse caso, a taxa de atrito depende da densidade dos alvos existentes na área alvo e do número de armas sendo utilizadas. Se dois batalhões, ocupando uma mesma área de terra e usando o mesmo armamento, atirar aleatoriamente na mesma área, ambos sofrerão a mesma taxa e número de baixas, até que o menor batalhão seja eliminado: a maior probabilidade de um tiro acertar um alvo do grupo maior é contrabalançada pelo maior número de tiros direcionados ao grupo menor.

Matematicamente, a Lei de Lanchester Linear pode ser descrita pelo seguinte sistema de equações diferenciais ordinárias não-lineares[3]:



onde e é o número de soldados do exército azul e vermelho, respectivamente; e e são coeficientes de atrito (no caso em que a capacidade de luta de cada soldado de ambos os exércitos é igual, então ) Essas equações também são conhecidas como Equações de Lanchester.

As soluções desse sistema, e , devem satisfazer a equação[4]:

sendo e o tamanho inicial dos exércitos azul e vermelho, repectivamente. Os termos lineares, e , dão o poder de fogo de cada exército, daí também seguindo o nome da lei.

Lei de Lanchester Quadrática[editar | editar código-fonte]

Em condições de combate modernas, com o uso de armas de longa distância com mira, cada soldado pode atacar múltiplos alvos e também receber tiros de várias direções. A taxa de atrito, nesse caso, depende apenas do número de armas atirando. Nas palavras de Lanchester:

Se novamente assumirmos poder de fogo individual semelhantes, e combatentes em termos de igualdade, cada homem irá, em dado momento, dar um certo número de tiros (em média) que serão efetivos; consequentemente, o número de inimigos mortos por unidade de tempo será proporcional ao número de oponentes armados.[1]

Matematicamente, a interação entre os dois grupos, azul e vermelho, é dado pelo seguinte sistema de equações diferenciais ordinárias lineares[3]:



Nesse caso, as soluções do sistema devem satisfazer[4]:

sendo e o tamanho inicial dos exércitos azul e vermelho, repectivamente. Os termos quadráticos, e , dão o poder de fogo de cada exército. Daí também segue o nome da lei.

Aplicações das Leis de Lanchester[editar | editar código-fonte]

As Leis de Lanchester têm sido utilizadas em trabalhos de pesquisa na modelagem de batalhas históricas. Exemplos incluem o Assalto de Pickett da infantaria confederada contra a infantaria da União durante a Batalha de Gettysburg em 1863;[5] a Batalha da Grã-Bretanha de 1940, entre as forças aéreas alemã e inglesa;[6] e a Batalha de Iwo Jima em 1945, entre Estados Unidos e Japão.[7]

Em guerras modernas, geralmente é utilizado um expoente de 1.5 para o poder de fogo de cada exército, valor intermediário entre o linear e o quadrático.[8][9][10]

Referências

  1. a b Lanchester F.W., Mathematics in Warfare in The World of Mathematics, Vol. 4 (1956) Ed. Newman, J.R., Simon and Schuster, 2138–2157
  2. Johnson, D. D. P. e MacKay, N. J. Fight the power: Lanchester's laws of combat in human evolution. Evolution and Human Behavior, Vol. 36, Issue 2, pp 152-163, March 2015.
  3. a b Keane, T. Combat modelling with partial differential equations. Applied Mathematical Modelling, 35, pp 2723-2735, 2011.
  4. a b Washburn, Alan R. Lanchester Systems. 2000.[1]
  5. Armstrong MJ, Sodergren SE, 2015, Refighting Pickett's Charge: mathematical modeling of the Civil War battlefield, Social Science Quarterly.
  6. MacKay N, Price C, 2011, Safety in Numbers: Ideas of concentration in Royal Air Force fighter defence from Lanchester to the Battle of Britain, History 96, 304–325.
  7. Engel, J. H. A Verificaton of Lancheste's Law. Journal of the Operations Research Society of America, Vol. 2, No. 2, pp. 163-171, 1954.
  8. Race to the Swift: Thoughts on Twenty-First Century Warfare by Richard E. Simpkin
  9. «Lanchester's Laws and Attrition Modeling, Part II» 
  10. «Asymmetric Warfare: A Primer»