Linguado
linguados e espécies similares Pleuronectoidei | |||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||
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Linguado é o nome comum dado a várias espécies de peixes pleuronectiformes demersais da subordem Pleuronectoidei que têm como traço comum uma morfologia corporal específica caracterizada por corpo achatado e cabeça assimétrica com ambos os olhos de um lado.[1] O grupo tem distribuição natural alargada, ocorrendo tipicamente em habitats de fundos arenosos e lodosos de todos os oceanos e mares. Algumas espécies penetram em estuários, podendo viver em águas de baixa salinidade.[2]
O nome comum linguado é na língua portuguesa taxonomicamente impreciso e sujeito a grandes variações regionais, incluindo frequentemente, entre outras, as espécies que são também conhecidas por solha e areeiro.[3]
Taxonomia
[editar | editar código-fonte]O nome comum linguado é usado para referir espécies apenas distantemente aparentadas, apesar de todas elas pertencerem à subordem Pleuronectoidei, pois o grupo inclui espécies com relação filogenética distante (famílias Achiropsettidae, Bothidae, Pleuronectidae, Paralichthyidae e Samaridae). As mais conhecidas pertencem às famílias Bothidae e Paralichthyidae e maioritariamente aos géneros Paralichthys, Solea e Pseudopleuronectes.
Algumas espécies de linguado constituem em vastas áreas costeiras importantes pescarias comerciais, entre as quais:
- Atlântico Ocidental
- Pseudopleuronectes americanus — costa atlântica da América do Norte;
- Paralichthys lethostigma — costa atlântica da América do Norte;
- Paralichthys dentatus — costa atlântica da América do Norte;
- Paralichthys albigutta — Golfo do México;
- Paralichthys tropicus — Mar do Caribe
- Paralichthys brasiliensis — costa atlântica da América do Sul;
- Paralichthys orbignyanus — costa atlântica da América do Sul;
- Paralichthys patagonicus — costa atlântica da América do Sul;
- Costa atlântica europeia
- Platichthys flesus — linguado-comum;
- Pacífico noroeste
Descrição
[editar | editar código-fonte]As características morfológicas mais distintivas dos linguados são o corpo oval e achatado e a presença de cabeça assimétrica, com ambos os olhos de um dos lados da parte frontal. A maioria das espécies de linguado tipicamente cresce até comprimentos que vão dos 12,5-37,5 cm aos 60 cm. De forma oval, a largura máxima é em geral cerca de metade do comprimento e pesam de 2 a 3 kg quando adultos. A coloração corporal é em geral castanho-escuro na parte superior e esbranquiçada na inferior. Para se protegerem dos predadores e emboscarem as suas presas, apresentam manchas mais escuras na face superior que imitam o fundo dos locais onde vivem (mimetismo).
Apesar da assimetria que apresentam na fase adulta, estas espécies iniciam o seu ciclo de vida apresentando, ao eclodir, a morfologia típica dos peixes, com cabeça simétrica e um olho de cada lado do cérebro. À medida que se desenvolvem, um dos olhos migra para o lado oposto da cabeça, num processo de metamorfose que ocorre entre as fases larvar e juvenil. No processo aderem à condição dextrógira ou levógira, similar às pessoas canhotas e dextras. Levógiros são aqueles cuja migração do olho ocorre para o lado esquerdo da cabeça durante o desenvolvimento e dextrógiros que apresentam migração do olho para o lado direito da cabeça. No final do processo, ambos os olhos ficam na face superior do corpo, dependendo o lado para o qual o olho migra do tipo de espécie e de factores genéticos.
Na fase adulta, os linguados mudam de hábitos, passando a demersais estritos, vivendo camuflados encostados ao substrato dos fundos marinhos como forma de protecção contra os predadores e como estratégia de caça.[4]
Habitat
[editar | editar código-fonte]Os linguados são peixes típicos dos fundos costeiros lodosos e arenosos, habitando as zonas de maior acumulação de depósitos de areias e lodos, sobre cuja superfície vivem. A maioria das espécies de linguado procura locais mais fundos quando a temperatura das águas desce.
Apesar da maioria das formas ser típica de água salgada, existe o linguado-de-água-doce (Achirus lineatus) e diversas espécies vivem nas águas salobras dos estuários.
Os linguados alimentam-se de larvas de peixes, crustáceos, poliquetas, moluscos e outros pequenos animais, incluindo anfípodes e isópodes, capturados no fundo das águas, caçando as suas presas emboscando-se por mimetismo sobre o fundo e aguardando em perfeita imobilidade até que estas se aproximem. As áreas de caça preferidas são aquelas em que o substrato é solto, permitindo o semi-enterramento do linguado, tornando-o assim virtualmente invisível. Por essa razão são mais frequentes em áreas lodosas próximas de obstáculos que promovam a acumulação de depósitos de partículas, como rochedos, recifes, molhes, pilares de pontes e outras estruturas.
Os machos do género Platichthys são conhecidos por se deslocarem a grandes distâncias, tendo sido capturados a mais de 80 milhas náuticas de distância da costa da Sardenha, por vezes com o corpo fortemente incrustado por várias espécies de cracas (Cirripedia).
As espécies capturadas comercialmente encontram-se ameaçadas, tendo as populações mundiais de solha e linguado sido estimadas em 2003 como tendo cerca de 10% dos efectivos pré-industriais, num decréscimo atribuído à sobrepesca.[5][6][7]
A organização Seafood Watch colocou o linguado do Atlântico (Platichthys flesus) entre as espécies incluídas na sua lista das espécies que os consumidores preocupados com a sustentabilidade dos recursos marinhos devem evitar consumir.[8]
Em resultado da sua importância como alimento e da forma da sua cabeça, o linguado é referência frequente no folclore, lendas e ditos das regiões costeiras onde ocorre. Uma das lendas populares onde o linguado tem um papel proeminente é a lenda alemão "O pescador e a sua mulher" recolhida pelos Irmãos Grimm e na novela homónima de Günter Grass (Der Butt, 1977).
Notas
- ↑ Linguado.
- ↑ Peixes do Brasil Arquivado em 24 de maio de 2011, no Wayback Machine..
- ↑ Guia de Espécies.
- ↑ Fairchild, E.A. and Howell, W.H, E. A.; Howell, W. H. (2004). «Factors affecting the post-release survival of cultured juvenile Pseudopleuronectes americanus» (PDF). Journal of Fish Biology. 65 (Supplementary A): 69–87. doi:10.1111/j.0022-1112.2004.00529.x. Consultado em 8 de agosto de 2015. Arquivado do original (PDF) em 18 de agosto de 2007 July 17, 2004. Accessed 2009-06-08.
- ↑ Charles Clover (2008). The End of the Line: How Overfishing is Changing the World and what We Eat. [S.l.]: University of California Press. ISBN 978-0-520-25505-0. OCLC 67383509
- ↑ Myers, Ransom A.; Boris. «Rapid worldwide depletion of predatory fish communities». Nature. 423 (6937): 280-283. doi:10.1038/nature01610
- ↑ «Dalton, Rex. 2006. "Save the big fish: Targeting of larger fish makes populations prone to collapse."». BioEd Online. Consultado em 7 de outubro de 2014
- ↑ «Monterey Bay Aquarium: Seafood Watch Program - All Seafood List». Monterey Bay Aquarium. Consultado em 17 de abril de 2008. Arquivado do original em 6 de julho de 2010