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Luís da Cunha: diferenças entre revisões

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'''Luís da Cunha''' ([[Lisboa]], [[25 de Janeiro]] de [[1662]] — [[Paris]], [[9 de Outubro]] de [[1749]]) foi um [[diplomata]] [[portugal|português]] que serviu o rei [[João V de Portugal|D. João V]]. Foi comendador da [[Ordem de Cristo]], arcediago da Sé de [[Évora]], desembargador do Paço, enviado extraordinário de Portugal às Cortes de [[Londres]], [[Madrid]] e [[Paris]], e ministro plenipotenciário no [[Congresso de Utrecht]]. Pertenceu também à [[Real Academia de História]].
'''Luís da Cunha''' ([[Lisboa]], [[25 de Janeiro]] de [[1662]] — [[Paris]], [[9 de Outubro]] de [[1749]]) foi um [[diplomata]] [[portugal|português]] que serviu o rei [[João V de Portugal|D. João V]]. Foi comendador da [[Ordem de Cristo]], arcediago da Sé de [[Évora]], desembargador do Paço, enviado extraordinário de Portugal às Cortes de [[Londres]], [[Madrid]] e [[Paris]], e ministro plenipotenciário no [[Congresso de Utrecht]]. Pertenceu também à [[Real Academia de História]].


==D. Luis da Cunha e a ideia de de diplomacia em POrtugal==
== Biografia ==
Estudou na [[Universidade de Coimbra]], onde se formou em [[Cânones]] ([[1686]]), tendo logo após sido nomeado como [[desembargador]] da [[Relação do Porto]], e posteriormente, para a [[Relação de Lisboa]].


Em [[1696]] foi nomeado como embaixador de Portugal em [[Londres]], onde participou em importantes negociações relacionadas com a intervenção portuguesa na [[Guerra da Sucessão Espanhola]], o acontecimento mais complexo da política internacional daquela época. Em [[1712]], juntamente com o [[conde de Tarouca]], representou com mérito os interesses portugueses no Congresso de Utrecht, que tinha como finalidade pôr fim àquele conflito. Dessas negociações resultaram o chamado [[Tratado de Utrecht]], na verdade um conjunto de acordos que estabeleciam as condições de paz entre a [[França]], a [[Inglaterra]] e a [[Espanha]], e os demais países envolvidos.


D. Luís da Cunha nasceu na freguesia de Santa Catarina do Monte de Sinai em Lisboa no ano de 1662. Baptizado pelo Cónego Manoel de Saldanha teve por padrinho o conde de S. Lourenço, cunhado de um dos mais influentes nobres da corte portuguesa de então, o conde de Castelo Melhor (valido de D.Afonso VI).
Após a assinatura do Tratado de Utecht de [[1715]], voltou a Londres como embaixador extraordinário, para felicitar o rei [[Jorge I da Grã-Bretanha]], pela sua elevação ao trono. Em seguida foi enviado a [[Madrid]], então governada pelo [[cardeal Alberoni]], com tem teve várias disputas. Posteriormente, foi nomeado ministro plenipotenciário ao [[Congresso de Cambray]], que não se realizou, tendo permanecido em [[Paris]], de onde foi obrigado se retirar em função de um desentendimento suscitado pelo procedimento do [[abade de Livry]], ministro de França em Portugal. D. Luís dirigiu-se a [[Bruxelas]], onde chegou a um acordo com o [[marquês de Fénelon]], ministro francês em [[Haia]], e retornou a Paris, onde se manteve como ministro de Portugal na Corte francesa, até ao seu falecimento.
Seu pai foi um dos mentores da ''Academia dos Generosos'' juntamente com outros membros da nobreza de corte, dos quais se destacam o conde da Ericeira e o conde de Tarouca, bem como figuras de relevo da vida cultural lisboeta de então como D. Francisco Manoel de Mello e António de Sousa Macedo.
Como testemunhas no seu processo de Habilitação, ao cargo de magistrado no Tribunal da Relação do Porto, figuraram membros preponderantes da nobreza ou da Igreja, como D. Veríssimo de Alencastre, inquisidor de Évora, membro do Conselho de Estado e Cardeal em Roma.
D. António Manoel de Vilhena (1663-1736), primeiro português a ser elevado à categoria de Grão-Mestre da Ordem de Malta, era seu primo e o seu prestígio, dentro e fora de Portugal, influenciou a carreira de D. Luís da Cunha como Embaixador. Com efeito, pouco tempo depois da atribuição da Grande Cruz da Ordem de Malta a D. António Manoel de Vilhena, D. Luís foi nomeado como Enviado Extraordinário à corte de Londres (14 de Novembro de 1695).
O seu desempenho como diplomata durante o congresso da Paz de Utreque teve o apoio do Secretário de Estado, Diogo de Mendonça Corte Real e D. João de Almeida Portugal, 2º conde de Assumar.
Em 1715, depois das negociações da paz, D. Luís da Cunha foi novamente nomeado Embaixador Extraordinário em Londres, a fim de felicitar Jorge I pela subida ao trono e, segundo o conde de Tarouca, a sua nomeação ficou a dever-se à protecção concedida pelo Duque de Cadaval, figura cimeira da corte Portuguesa durante o reinado de D. Pedro II e início da governação joanina.
Familia-parentela
Antes de partir para Londres D. Luís da Cunha deixou em Portugal um filho natural legitimado, António da Cunha, que ingressou no convento de Belém. Anos mais tarde, em 1713, foi agraciado por D. João V, em atenção aos serviços do pai, com uma tença de 40$000 réis.
Ao contrário do que afirmam muitas biografias, D. Luís da Cunha foi casado com Catherina Brown (?) da Cunha, senhora inglesa de origem social elevada e de religião católica. Não se conhece a data do matrimónio mas supomos que se realizou durante a sua estadia como embaixador em Londres (1697-1712). Aparentemente o misterioso enlace, foi encoberto, dada a sua curta duração. A ligação acabaria por ser reconhecida pelo diplomata no testamento ao legar à esposa, que abandonara desde 1711, cerca de 2000 libras esterlinas. As subsequentes ligações amorosas do embaixador, nomeadamente com a judia holandesa, cujo nome ficaria para a história como Madame Salvador, não tiveram descendência.
No final da vida foram os sobrinhos que o Embaixador procurou engrandecer, solicitando um título para a Casa dos Cunha. A mercê que viria a ser concedida, por D. José I, em 1760, depois do seu falecimento do diplomata, a D. António Álvares da Cunha, 1º conde da Cunha.
Casa-linhagem
A Casa dos Senhores de Tábua, a que D. Luís da Cunha pertencia, foi um senhorio herdado por seu pai, D. António Álvares da Cunha, após a morte do tio, D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa. Pelo lado materno sua mãe, D. Maria Manoel de Vilhena descendia dos Condes de Vila Flor.
Seu pai, D. António Álvares da Cunha, foi Trinchante da Casa Real, Deputado da Junta dos Três Estados e Guarda-Mor da Torre do Tombo. Nascido na Índia, veio para Lisboa estudar quando o pai, D. Lourenço da Cunha, faleceu e a mãe, D. Isabel de Aragão, ingressou, juntamente com as filhas, num convento em Goa.
Sobre esta avó paterna de D. Luís da Cunha recaíram suspeitas de limpeza de sangue, talvez por ser descendente de uma gentia.
D. António Álvares da Cunha, pai de D. Luís, chegou a Lisboa com onze anos, tendo encontrado protecção na casa do tio, D. Rodrigo da Cunha. O arcebispo, na altura figura destacada da Igreja e da política da Restauração, era considerado um representante modelar do espírito de resistência portuguesa à absorção pela cultura castelhana, durante a época filipina.
O matrimónio de D. António Álvares da Cunha com D. Maria Manoel de Vilhena deu origem a uma descendência de nove filhos. D. Luís da Cunha seria o oitavo filho do casal, cabendo ao irmão mais velho de D. Luís, D. Pedro Álvares da Cunha, o papel de continuador da linhagem dos Cunha, bem como ao seu filho primogénito, primeiro conde da Cunha, em virtude dos serviços prestados pelo tio.
Vida quotidiana
Em criança D. Luis da Cunha viveu na casa paterna em Santa Catarina. O pai, homem de cultura, seria reconhecido além fronteiras, quando a Royal Society, em 1668, o elegeu membro daquela Academia, sendo o primeiro português a receber tal distinção. Também o rei D. Pedro II o escolheu, tendo em conta a “autoridade e prudência”, para acompanhar D. Catarina de Bragança, sua irmã, quando esta se deslocou a banhos às Caldas da Rainha. Em 1678 foi nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo com a missão de reformar o Real Arquivo, que então funcionava no Castelo de S. Jorge. D. Luís, em jovem, acompanhou frequentemente o pai naquelas tarefas, recordando anos mais tarde que era vontade deste que o viesse a substituir no cargo. Aos dezasseis anos, em 1678, deslocou-se para Coimbra a fim de estudar na Universidade e aí permaneceu até 1686. Nos anos seguintes residiu no Porto, exercendo funções no tribunal da Relação, tendo, em 1688, regressado a Lisboa, depois de ter sido nomeado desembargador na Casa da Suplicação. Em 1695 foi nomeado para suceder ao Visconde da Fonte Arcada em Londres, sendo recebido pelo monarca britânico em 1697.
Nessa altura, apercebendo-se que a sua preparação jurídica era insuficiente para o desempenho das funções diplomáticas, dedicou-se ao estudo de várias obras, nomeadamente de Nicolas Amelot de la Houssaye, Wicquefort, Adrien Moetjens, François Callières, Pecquet, entre outros. A partir de então e ao longo da vida, a leitura e a reflexão sobre papel da Diplomacia, como actividade autónoma do Direito e do poder politico, bem como sobre o recrutamento e formação dos futuros diplomatas em Portugal, fariam parte das suas preocupações, como provam as obras enviadas, para o Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real. Assim, enquanto as Memórias da Paz de Utreque, foram apresentadas como obra-síntese sobre as negociações diplomáticas de Portugal e Europa no Congresso e a Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers, expunha a reflexão do embaixador sobre as necessidades de uma bibliografia renovada, quer na área da diplomacia , quer das questões jurídicas subjacentes.
No exercício da função de embaixador D. Luís dedicou-se a enviar regularmente centenas de despachos e cartas para a corte, abordando diversos assuntos, tais como a renovação do ensino, a ideia de Europa, o cerimonial, os conceitos de fronteira e de soberania, a liberdade comercial, a política de alianças, a questão dos judeus, o fomento industrial, a política fiscal e a posição de Portugal face às outras potências europeias.
Durante toda a vida o quotidiano do embaixador foi preenchido com reuniões nas cortes onde desempenhava as missões diplomáticas, mas também com contactos, participação e realização de festas, actividade social inerente ao lugar que ocupava como diplomata. Segundo informou o método de trabalho que usava era repartição das horas, “de modo a representar o seu soberano em pé de igualdade com os das outras cortes da Europa”.


Função Publica
Destes contactos internacionais partiu o impulso para a escrita de obras como as ''Memórias da Paz de Utrecht'' onde registra a história política da Europa durante meio século, e o seu notável ''Testamento Político'', que tiveram apreciável difusão no [[século XVIII]] e se podem considerar elementos de renovação da cultura filosófico-política portuguesa da época.
Em 30 de Agosto 1686, depois de se ter licenciado em Cânones, na Universidade de Coimbra (7.05.1865), o primeiro cargo exercido por D. Luís da Cunha, em 30 de Agosto 1686, foi o de "desembargador da Relação do Porto” de onde transitou para a Casa da Suplicação em Lisboa no dia 14 de Outubro de 1688, considerada como um dos maiores tribunais de justiça do Reino.
Cargos políticos ou civis
Quando em 1695 D. Luís da Cunha foi nomeado Enviado Extraordinário a Londres, recebeu a primeira Instrução (2.10.1697). Na corte londrina permaneceu entre 1697-1713, desempenhando, simultaneamente, várias itinerâncias nas outras cortes europeias.
Entre 1710 e 1713 foi Segundo Plenipotenciário de Portugal no Congresso da Paz de Utreque, com funções similares às do Conde de Tarouca, então Primeiro Plenipotenciário.
Nomeado em 1715 Embaixador em Londres (9.3) representou nessa corte D. João V, no acto da coroação de Jorge I.
Em Abril de 1719 esteve como Embaixador em Madrid, tendo por missão fazer cumprir o acordo assinado em Utreque e, paralelamente, obter a cedência da Colónia do Sacramento no Brasil.
Um ano depois, em 1720, já como Embaixador em França, deslocou-se a Cambrai a fim de assistir, juntamente com o conde de Tarouca ao Congresso, todavia, como Portugal foi afastado das negociações, a sua missão terminou. D. Luís regressou então a Paris, corte onde se manteve com carta credencial até 1725, altura em que a ruptura das relações entre a corte portuguesa e francesa devido à questão do cerimonial com abade de Livry, daria origem à sua nomeação para a Holanda.
Durante os dois anos seguintes (1726-1728), D. Luís invocou razões de saúde para permanecer em Bruxelas, cidade onde se dedicou às encomendas régias.
Na Haia, capital da diplomacia do Norte da Europa, desenvolveu a partir de 1728 esforços para defender os interesses comerciais de Portugal, quer no Brasil, quer na Costa de África. Os anos passados na Holanda foram os que mais saudades deixaram em D. Luís. À casa de campo de Hatenbourg onde costumava descansar, deu o nome de Mon Plaisir, mas contemporâneos como Cavaleiro de Oliveira, acusaram-no de impedir qualquer estranho de lá entrar, sugerindo outro nome para a residência - Prazer Nocturno ou Incomunicável - alusão irónica à vida sentimental do embaixador. De facto em Haia D. Luís conheceu a judia portuguesa, Madame Salvador, com quem manteve uma ligação duradoura, sendo obrigado a justificar essa amizade junto da corte, em 1737.
Terminada a missão na Holanda foi nomeado Embaixador em Paris, a partir de 1735 (21.5) e em França se manteve até falecer em 1749 (9.10).


Outros cargos
Nomeado em 1725 supranumerário da Real Academia Portuguesa de História.
Movimentos políticos e sociais
Como Embaixador a missão de D. Luís era representar o rei D. João V nas cortes europeias, papel que desempenhou condignamente e melhor que qualquer diplomata português do seu tempo. Conhecido em vida como o "oráculo" da diplomacia portuguesa, em 1736 definiu-se "como um homem do Mundo", de hábitos estranhos à sua corte por estar afastado há muito tempo do Reino.
Em 1736, quando Marco António de Azevedo Coutinho o sondou para o cargo de Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros reconheceu, sem falsa modéstia, que a sua experiência e conhecimentos poderiam ter alguma valia para o monarca, advertiu no entanto não ter prática de despacho nas secretarias de estado, “nem idade competente, ou saúde robusta para o lugar”. Referiu-se ainda ao afastamento da corte e das redes clientelares, durante os vários anos em que esteve como diplomata (1686-1736), motivos que podiam impedir a sua nomeação, bem como o seu “génio oposto ao das intrigas e lisonjas das cortes de que ordinariamente depende a conservação, alem que os muitos anos eu tenho vivido com as outras nações me fizeram contrair hábitos, que me não deixam contentar com a nossa nobreza e é muito tarde para me repatriar”
Património
Os serviços do embaixador reverteram em benefício da Casa de seus pais, sendo o administrador o seu sobrinho, D. António Alvarez da Cunha, a quem foi concedido por D. José I em Março de 1760,o título de Conde do Lugar da Cunha, de juro e de herdade, a Comenda e Alcaidaria Mor da Idanha-Nova , em três vidas e a Comenda de Santa Maria de Almendra, na Ordem de Cristo.


Dividas
Em 1725 D. Luís da Cunha, quando da desavença entre Portugal e França, devido às regras do cerimonial, recebeu ordens de D. João V para abandonar Versalhes. Porém, as dificuldades económicas obrigá-lo-iam a prolongar a estadia. As dívidas contraídas obrigaram-no a vender a baixela, o fato, de embaixador, o trem e a pintura que adquirira. Como muitos homens de corte em Paris D. Luís foi vítima da falência do sistema de Law, que levou à bancarrota milhares de accionistas. Um dos credores, Lejay, seria informado em 4 de Julho de 1728, sobre as diligências do embaixador para conseguir saldar as dívidas contraídas, nomeadamente sobre a venda da baixela de prata e dos quadros a D. João V, que se prontificou a auxiliar o embaixador numa altura de aflição deste com um gesto que o diplomata agradeceu reconhecido: “Ponha- me V.S. aos reais pés de S.M. e em meu nome com profundíssimo respeito beije a mão pela grande mercê me fez em querer comprar a minha prata e painéis pelo preço que me custarão”.
Graças / Mercês régias
A 14 de Novembro de 1695 foi-lhe atribuída uma tença anual de 38$000 pelos serviços prestados na Relação do Porto e Casa da Suplicação e de mais 12$000 pelo Hábito da Ordem de Cristo.
A 30 de Março de 1696 recebeu a Carta de Hábito da Ordem de Cristo, e no mesmo dia, foi-lhe passado o alvará de Cavaleiro e de profissão.
Na qualidade de Enviado Extraordinário à corte de Londres, em 1710, o rei nomeou-o Desembargador do Paço, atribuindo-lhe todas as regalias inerentes ao lugar.
No ano 1713, em 24 de Outubro, foi concedido o padrão de 40.000 réis de tença, a Frei António da Cunha, pelos bons serviços de seu pai, D. Luís da Cunha, plenipotenciário em Utreque.
Formação
Aos trinta e cinco anos e com uma experiência profissional de quase doze anos nos tribunais do reino D. Luís constatou que a formação, como magistrado, de pouco serviria para o exercício da carreira diplomática afirmando que ao sair de Lisboa para ir para Londres “suceder ao visconde da Arcada, não sabia outra coisa que despachar um feito”.
As lacunas de formação seriam ultrapassadas através da experiência adquirida nos contactos que manteve com os políticos ingleses, que sempre admirou, ou com leituras de autores conceituados sobre diplomacia. Na sua opinião a formação dependia fundamentalmente de dois aspectos: do estudo das questões a negociar e da leitura das obras teóricas sobre diplomacia. As suas ideias aproximaram-se das expostas por M. de La Houssaye, no tocante ao conceito de diplomacia e da acção diplomática e defendeu o aprofundamento do estudo das causas dos Tratados, radicando-os no Direito Público e no Direito das Gentes.
Com uma formação inicial baseada no estudo do Direito e Teologia, D. Luís estudou fora de Portugal, livre dos constrangimentos da Inquisição, as obras dos juristas jusracionalista europeus. O embaixador atreveu-se a divulgar nos seus textos alguns dos autores de teoria política que considerava mais importantes, tais como Maquiavel, Grocio, Bodin, Puffendorf.
Estudos
Matriculou-se em Coimbra em Instituta ( 1 de Outubro de 1678). A partir de 1679 frequentou o curso de cânones, tornando-se bacharel em 20 de Janeiro de 1684. A 7 de Julho de 1685, aos vinte e três anos, licenciou-se. O ingresso na Universidade de Coimbra assegurou-lhe uma carreira na administração.
Publicações
Entre obras da sua autoria podemos destacar: A Ideia da Guerra de 1702, com verdadeira, e exacta noticia das potencias, e convenções dos principes da Europa e dos mais successos na mesma acontecidos desde o anno de 1659 até o de 1706, as Memorias da paz de Utrecht offerecidas a El-Rey N.S. por Luís da Cunha, seu embaixador extraordinário e plenipotenciário no Congresso da dita paz , a Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers e por fim o Testamento político; ou, Carta escrita pelo Grande D. Luiz da Cunha ao Senhor Rei D. José I antes do seu governo o qual foi do Conselho dos Senhores D. Pedro II, e D. João V, e seu Embaixador às Cortes de Vienna, Haya e de Paris.
Coleção de obras de arte
O embaixador português em Londres, Bruxelas, Haia, Madrid e Paris desenvolveu um esforço no sentido de enriquecer Portugal nos domínios científicos e artísticos.
À estadia de D. Luís da Cunha em Bruxelas ficaram a dever-se algumas das encomendas artísticas enviadas para o rei D. João V e alguns dos contactos com estrangeiros que viriam a contribuir de forma significativa para o desenvolvimento económico e cultural de Portugal.
Terá sido o embaixador a recomendar à corte portuguesa o pintor Quillard, apontado como autor de alguns retratos de D. Luís da Cunha, bem como do engenheiro-mor do reino Azevedo Forte e do duque do Cadaval.
A estadia em Bruxelas, entre 1726-28, revelou-se muito profícua para Portugal, pois da conjugação da capacidade de D. Luís em compreender o fenómeno artístico e das ordens expedidas a 12 de Julho de 1724 por D João V, resultou a aquisição de uma preciosa colecção de gravuras publicadas em França durante trinta anos. A encomenda, em 1725, foi confiada ao gravador francês Jean Pierre Mariette que se encarregou de compilar toda a história da gravura. A primeira remessa para Lisboa foi efectuada em 7 de Março de 1727. A colecção Marriette era composta de 150 volumes, tendo o embaixador acrescentado de sua autoria oito volumes, com as obras gravadas por Rubens, que adquiriu em Bruxelas, quando a doença aí o reteve.
A família Mariette pertencia a uma dinastia de negociantes de arte, iniciada em 1655 por Pierre Mariette. Os contactos de D. Luís da Cunha com Pierre Jean Mariette e o filho iniciaram-se durante o Congresso de Utreque, quando o Príncipe Eugénio de Sabóia, Embaixador do Império, lhe deu a conhecer a actividade dos gravadores franceses.
D. Luís da Cunha desenvolveu então uma nova concepção de gosto, diferente da habitual na Corte de Lisboa, reflectindo-se essa opção nas pinturas e gravuras que introduziu na colecção enviada para a corte. Em termos gerais pode-se afirmar que aderiu a novas temáticas, como naturezas-mortas e paisagens e introduziu novos pintores como os flamengos Rubens, Van Dyck, Paul Bril, Brueghel, ou os holandeses Rembrandt e Van der Werff.
Outro exemplo da actividade de encomendador foi o envio dos desenhos para as grades do Altar-mor da Basílica de Mafra, da autoria do francês Garnier, bem como a apresentação de artífices especializados em tecidos para trabalharem em Portugal.


Inquietudes. Influências
O gosto pela ciência levou D. Luís a recomendar à corte portuguesa o geógrafo Danville, em 1725, propondo a D. João V a sua contratação.
Na sua opinião, o geógrafo francês tinha um projecto muito interessante para Portugal: unir Angola a Moçambique, de modo a facilitar o comércio com essas regiões, tornando-o mais seguro e rápido. Danville partia do princípio que a África poderia ser percorrida desde a Etiópia e até ao Cabo da Boa Esperança, desde que os portugueses explorassem o interior do continente. A proposta assumiria a forma de um mapa delineando o trajecto em causa, sendo um dos aspectos mais focados precisamente, a navegabilidade do rio Cuanza.
Outras das suas preocupações foi a renovação do ensino, tendo encomendado na universidade de Leida um Catálogo dos melhores autores de Filosofia e Medicina Moderna, bem como um estudo sobre os novos métodos de ensino.
D. Luís da Cunha, para além das questões da ciência e do ensino, preocupou-se em reflectir sobre “o desfalecimento” do reino. Considerou a Inquisição, como a grande responsável pela decadência do reino e da nobreza. Ao acusá-la de contribuir para o despovoamento do país, em vez da perseguição aos judeus propôs, em alternativa, que se aplicasse a lei do Reino aos cristãos que judaizassem e que se pusesse termo aos autos de fé, contrários à piedade cristã e responsáveis por uma imagem errada do país no estrangeiro.
A sua análise da actuação do tribunal do Santo Ofício baseou-se na arbitrariedade do sistema penal montado pela Inquisição. Ao colocar a questão em torno dos direitos dos presos, reconheceu que estes não existiam, não só pelas atrocidades a que estes estavam sujeitos para confessarem os supostos crimes, como também pela arbitrariedade do julgamento e das penas. Por outro lado, recordando que o regimento do Santo Ofício permitia o segredo dos acusadores, defendeu uma posição semelhante à que anos mais tarde Beccaria viria propor na obra Dos Delitos e das Penas, ou seja, o direito do acusado ter acesso às testemunhas.
Céptico quanto à possibilidade do juízo secular poder julgar desvios de religião, considerou que o crime de judaísmo devia a sua existência aos tribunais criados para o efeito, propondo a abolição do Santo Oficio e afirmando que seria essa a melhor forma de acabar com a perseguição aos judeus, a fuga de capitais e a ruína do comércio.
Para além da “questão judaica” a sua obra reflectiu sobre outros aspectos que contribuíam para a decadência, procurando soluções para os problemas económicos que afligiam o reino. Nela encontramos uma constante reflexão sobre os meios de engrandecer os Estados, sobre o papel de Portugal no contexto da Europa civilizada, o conceito de civilização, bem como sobre os meios de alcançar esse estatuto.
Acusado pelas suas ideias, no seu tempo e pela historiografia posterior, de ser um “estrangeirado “, D. Luís da Cunha manteve ao longo da vida uma curiosidade, que lhe permitiu absorver e divulgar em Portugal, quer as máximas do mercantilismo, quer princípios do “iluminismo” europeu, sem perder os valores da identidade nacional,














Fontes
Manuscritas
BN
cod. 4544- 46, A Ideia da Guerra de 1702, com verdadeira, e exacta noticia das potencias, e convenções dos principes da Europa e dos mais successos na mesma acontecidos desde o anno de 1659 até o de 1706.
cod. 10867, Instrução que D. Luís da Cunha Embaixador em Paris mandou ao senhor D. José Príncipe do Brasil, 1747.
ANTT, MNE,, liv.967, Memorias da paz de Utrecht offerecidas a El-Rey N.S. por Luís da Cunha, seu embaixador extraordinário e plenipotenciário no Congresso da dita paz , 1715.
PNA, ms. 49-XI-6, Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers .
Impressas
CUNHA, D. Luís da
Instruções inéditas de Dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo Coutinho, rev. Pedro de Azevedo pref. António Baião, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1929.
Testamento Político ou Carta Escrita pelo Grande D. Luís da Cunha ao Senhor Rei D. José I, Imprensa Régia, Lisboa, 1820.
Memórias da paz de Utrecht Luiz da Cunha pref. Gastão de Melo de Matos, Tip. José Fernandes Júnior, Lisboa, 1931.
Bibliografia específica
ALMEIDA, Luís Ferrand de, Memórias e outros escritos de D. Luís da Cunha, Arq. de Bibl. Portuguesa, nº25 26, Liv. Atlântida, Coimbra,1961
CLUNY, Isabel , D.Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, Livros Horizonte , Lisboa ,1999.
VEIGA, Raul da Silva, Catálogo de documentos do cartório de D. Luis da Cunha (1709-1749), INIC, Coimbra, 1991.


== Ideias ==
== Ideias ==

Revisão das 16h10min de 8 de maio de 2013

D. Luís da Cunha.

Luís da Cunha (Lisboa, 25 de Janeiro de 1662Paris, 9 de Outubro de 1749) foi um diplomata português que serviu o rei D. João V. Foi comendador da Ordem de Cristo, arcediago da Sé de Évora, desembargador do Paço, enviado extraordinário de Portugal às Cortes de Londres, Madrid e Paris, e ministro plenipotenciário no Congresso de Utrecht. Pertenceu também à Real Academia de História.

D. Luis da Cunha e a ideia de de diplomacia em POrtugal

D. Luís da Cunha nasceu na freguesia de Santa Catarina do Monte de Sinai em Lisboa no ano de 1662. Baptizado pelo Cónego Manoel de Saldanha teve por padrinho o conde de S. Lourenço, cunhado de um dos mais influentes nobres da corte portuguesa de então, o conde de Castelo Melhor (valido de D.Afonso VI). Seu pai foi um dos mentores da Academia dos Generosos juntamente com outros membros da nobreza de corte, dos quais se destacam o conde da Ericeira e o conde de Tarouca, bem como figuras de relevo da vida cultural lisboeta de então como D. Francisco Manoel de Mello e António de Sousa Macedo.

Como testemunhas no seu processo de Habilitação, ao cargo de magistrado no Tribunal da Relação do Porto, figuraram membros preponderantes da nobreza ou da Igreja, como D. Veríssimo de Alencastre, inquisidor de Évora, membro do Conselho de Estado e Cardeal em Roma.

D. António Manoel de Vilhena (1663-1736), primeiro português a ser elevado à categoria de Grão-Mestre da Ordem de Malta, era seu primo e o seu prestígio, dentro e fora de Portugal, influenciou a carreira de D. Luís da Cunha como Embaixador. Com efeito, pouco tempo depois da atribuição da Grande Cruz da Ordem de Malta a D. António Manoel de Vilhena, D. Luís foi nomeado como Enviado Extraordinário à corte de Londres (14 de Novembro de 1695).

O seu desempenho como diplomata durante o congresso da Paz de Utreque teve o apoio do Secretário de Estado, Diogo de Mendonça Corte Real e D. João de Almeida Portugal, 2º conde de Assumar.

Em 1715, depois das negociações da paz, D. Luís da Cunha foi novamente nomeado Embaixador Extraordinário em Londres, a fim de felicitar Jorge I pela subida ao trono e, segundo o conde de Tarouca, a sua nomeação ficou a dever-se à protecção concedida pelo Duque de Cadaval, figura cimeira da corte Portuguesa durante o reinado de D. Pedro II e início da governação joanina. Familia-parentela Antes de partir para Londres D. Luís da Cunha deixou em Portugal um filho natural legitimado, António da Cunha, que ingressou no convento de Belém. Anos mais tarde, em 1713, foi agraciado por D. João V, em atenção aos serviços do pai, com uma tença de 40$000 réis.

Ao contrário do que afirmam muitas biografias, D. Luís da Cunha foi casado com Catherina Brown (?) da Cunha, senhora inglesa de origem social elevada e de religião católica. Não se conhece a data do matrimónio mas supomos que se realizou durante a sua estadia como embaixador em Londres (1697-1712). Aparentemente o misterioso enlace, foi encoberto, dada a sua curta duração. A ligação acabaria por ser reconhecida pelo diplomata no testamento ao legar à esposa, que abandonara desde 1711, cerca de 2000 libras esterlinas. As subsequentes ligações amorosas do embaixador, nomeadamente com a judia holandesa, cujo nome ficaria para a história como Madame Salvador, não tiveram descendência. 

No final da vida foram os sobrinhos que o Embaixador procurou engrandecer, solicitando um título para a Casa dos Cunha. A mercê que viria a ser concedida, por D. José I, em 1760, depois do seu falecimento do diplomata, a D. António Álvares da Cunha, 1º conde da Cunha. Casa-linhagem A Casa dos Senhores de Tábua, a que D. Luís da Cunha pertencia, foi um senhorio herdado por seu pai, D. António Álvares da Cunha, após a morte do tio, D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa. Pelo lado materno sua mãe, D. Maria Manoel de Vilhena descendia dos Condes de Vila Flor. Seu pai, D. António Álvares da Cunha, foi Trinchante da Casa Real, Deputado da Junta dos Três Estados e Guarda-Mor da Torre do Tombo. Nascido na Índia, veio para Lisboa estudar quando o pai, D. Lourenço da Cunha, faleceu e a mãe, D. Isabel de Aragão, ingressou, juntamente com as filhas, num convento em Goa. Sobre esta avó paterna de D. Luís da Cunha recaíram suspeitas de limpeza de sangue, talvez por ser descendente de uma gentia. D. António Álvares da Cunha, pai de D. Luís, chegou a Lisboa com onze anos, tendo encontrado protecção na casa do tio, D. Rodrigo da Cunha. O arcebispo, na altura figura destacada da Igreja e da política da Restauração, era considerado um representante modelar do espírito de resistência portuguesa à absorção pela cultura castelhana, durante a época filipina. O matrimónio de D. António Álvares da Cunha com D. Maria Manoel de Vilhena deu origem a uma descendência de nove filhos. D. Luís da Cunha seria o oitavo filho do casal, cabendo ao irmão mais velho de D. Luís, D. Pedro Álvares da Cunha, o papel de continuador da linhagem dos Cunha, bem como ao seu filho primogénito, primeiro conde da Cunha, em virtude dos serviços prestados pelo tio. Vida quotidiana Em criança D. Luis da Cunha viveu na casa paterna em Santa Catarina. O pai, homem de cultura, seria reconhecido além fronteiras, quando a Royal Society, em 1668, o elegeu membro daquela Academia, sendo o primeiro português a receber tal distinção. Também o rei D. Pedro II o escolheu, tendo em conta a “autoridade e prudência”, para acompanhar D. Catarina de Bragança, sua irmã, quando esta se deslocou a banhos às Caldas da Rainha. Em 1678 foi nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo com a missão de reformar o Real Arquivo, que então funcionava no Castelo de S. Jorge. D. Luís, em jovem, acompanhou frequentemente o pai naquelas tarefas, recordando anos mais tarde que era vontade deste que o viesse a substituir no cargo. Aos dezasseis anos, em 1678, deslocou-se para Coimbra a fim de estudar na Universidade e aí permaneceu até 1686. Nos anos seguintes residiu no Porto, exercendo funções no tribunal da Relação, tendo, em 1688, regressado a Lisboa, depois de ter sido nomeado desembargador na Casa da Suplicação. Em 1695 foi nomeado para suceder ao Visconde da Fonte Arcada em Londres, sendo recebido pelo monarca britânico em 1697. Nessa altura, apercebendo-se que a sua preparação jurídica era insuficiente para o desempenho das funções diplomáticas, dedicou-se ao estudo de várias obras, nomeadamente de Nicolas Amelot de la Houssaye, Wicquefort, Adrien Moetjens, François Callières, Pecquet, entre outros. A partir de então e ao longo da vida, a leitura e a reflexão sobre papel da Diplomacia, como actividade autónoma do Direito e do poder politico, bem como sobre o recrutamento e formação dos futuros diplomatas em Portugal, fariam parte das suas preocupações, como provam as obras enviadas, para o Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real. Assim, enquanto as Memórias da Paz de Utreque, foram apresentadas como obra-síntese sobre as negociações diplomáticas de Portugal e Europa no Congresso e a Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers, expunha a reflexão do embaixador sobre as necessidades de uma bibliografia renovada, quer na área da diplomacia , quer das questões jurídicas subjacentes. No exercício da função de embaixador D. Luís dedicou-se a enviar regularmente centenas de despachos e cartas para a corte, abordando diversos assuntos, tais como a renovação do ensino, a ideia de Europa, o cerimonial, os conceitos de fronteira e de soberania, a liberdade comercial, a política de alianças, a questão dos judeus, o fomento industrial, a política fiscal e a posição de Portugal face às outras potências europeias. Durante toda a vida o quotidiano do embaixador foi preenchido com reuniões nas cortes onde desempenhava as missões diplomáticas, mas também com contactos, participação e realização de festas, actividade social inerente ao lugar que ocupava como diplomata. Segundo informou o método de trabalho que usava era repartição das horas, “de modo a representar o seu soberano em pé de igualdade com os das outras cortes da Europa”.

Função Publica Em 30 de Agosto 1686, depois de se ter licenciado em Cânones, na Universidade de Coimbra (7.05.1865), o primeiro cargo exercido por D. Luís da Cunha, em 30 de Agosto 1686, foi o de "desembargador da Relação do Porto” de onde transitou para a Casa da Suplicação em Lisboa no dia 14 de Outubro de 1688, considerada como um dos maiores tribunais de justiça do Reino. Cargos políticos ou civis Quando em 1695 D. Luís da Cunha foi nomeado Enviado Extraordinário a Londres, recebeu a primeira Instrução (2.10.1697). Na corte londrina permaneceu entre 1697-1713, desempenhando, simultaneamente, várias itinerâncias nas outras cortes europeias. Entre 1710 e 1713 foi Segundo Plenipotenciário de Portugal no Congresso da Paz de Utreque, com funções similares às do Conde de Tarouca, então Primeiro Plenipotenciário. Nomeado em 1715 Embaixador em Londres (9.3) representou nessa corte D. João V, no acto da coroação de Jorge I. Em Abril de 1719 esteve como Embaixador em Madrid, tendo por missão fazer cumprir o acordo assinado em Utreque e, paralelamente, obter a cedência da Colónia do Sacramento no Brasil. Um ano depois, em 1720, já como Embaixador em França, deslocou-se a Cambrai a fim de assistir, juntamente com o conde de Tarouca ao Congresso, todavia, como Portugal foi afastado das negociações, a sua missão terminou. D. Luís regressou então a Paris, corte onde se manteve com carta credencial até 1725, altura em que a ruptura das relações entre a corte portuguesa e francesa devido à questão do cerimonial com abade de Livry, daria origem à sua nomeação para a Holanda. Durante os dois anos seguintes (1726-1728), D. Luís invocou razões de saúde para permanecer em Bruxelas, cidade onde se dedicou às encomendas régias. Na Haia, capital da diplomacia do Norte da Europa, desenvolveu a partir de 1728 esforços para defender os interesses comerciais de Portugal, quer no Brasil, quer na Costa de África. Os anos passados na Holanda foram os que mais saudades deixaram em D. Luís. À casa de campo de Hatenbourg onde costumava descansar, deu o nome de Mon Plaisir, mas contemporâneos como Cavaleiro de Oliveira, acusaram-no de impedir qualquer estranho de lá entrar, sugerindo outro nome para a residência - Prazer Nocturno ou Incomunicável - alusão irónica à vida sentimental do embaixador. De facto em Haia D. Luís conheceu a judia portuguesa, Madame Salvador, com quem manteve uma ligação duradoura, sendo obrigado a justificar essa amizade junto da corte, em 1737. Terminada a missão na Holanda foi nomeado Embaixador em Paris, a partir de 1735 (21.5) e em França se manteve até falecer em 1749 (9.10).


Outros cargos Nomeado em 1725 supranumerário da Real Academia Portuguesa de História. Movimentos políticos e sociais Como Embaixador a missão de D. Luís era representar o rei D. João V nas cortes europeias, papel que desempenhou condignamente e melhor que qualquer diplomata português do seu tempo. Conhecido em vida como o "oráculo" da diplomacia portuguesa, em 1736 definiu-se "como um homem do Mundo", de hábitos estranhos à sua corte por estar afastado há muito tempo do Reino.

Em 1736, quando Marco António de Azevedo Coutinho o sondou para o cargo de Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros reconheceu, sem falsa modéstia, que a sua experiência e conhecimentos poderiam ter alguma valia para o monarca, advertiu no entanto não ter prática de despacho nas secretarias de estado, “nem idade competente, ou saúde robusta para o lugar”. Referiu-se ainda ao afastamento da corte e das redes clientelares, durante os vários anos em que esteve como diplomata (1686-1736), motivos que podiam impedir a sua nomeação, bem como o seu “génio oposto ao das  intrigas e lisonjas das cortes de que ordinariamente depende a conservação,  alem que os muitos anos eu tenho vivido com as outras nações me fizeram contrair hábitos, que me não deixam contentar com a nossa nobreza e é muito tarde para me repatriar”

Património Os serviços do embaixador reverteram em benefício da Casa de seus pais, sendo o administrador o seu sobrinho, D. António Alvarez da Cunha, a quem foi concedido por D. José I em Março de 1760,o título de Conde do Lugar da Cunha, de juro e de herdade, a Comenda e Alcaidaria Mor da Idanha-Nova , em três vidas e a Comenda de Santa Maria de Almendra, na Ordem de Cristo.


Dividas Em 1725 D. Luís da Cunha, quando da desavença entre Portugal e França, devido às regras do cerimonial, recebeu ordens de D. João V para abandonar Versalhes. Porém, as dificuldades económicas obrigá-lo-iam a prolongar a estadia. As dívidas contraídas obrigaram-no a vender a baixela, o fato, de embaixador, o trem e a pintura que adquirira. Como muitos homens de corte em Paris D. Luís foi vítima da falência do sistema de Law, que levou à bancarrota milhares de accionistas. Um dos credores, Lejay, seria informado em 4 de Julho de 1728, sobre as diligências do embaixador para conseguir saldar as dívidas contraídas, nomeadamente sobre a venda da baixela de prata e dos quadros a D. João V, que se prontificou a auxiliar o embaixador numa altura de aflição deste com um gesto que o diplomata agradeceu reconhecido: “Ponha- me V.S. aos reais pés de S.M. e em meu nome com profundíssimo respeito beije a mão pela grande mercê me fez em querer comprar a minha prata e painéis pelo preço que me custarão”.

Graças / Mercês régias

A 14 de Novembro de 1695 foi-lhe atribuída uma tença anual de 38$000 pelos serviços prestados na Relação do Porto e Casa da Suplicação e de mais 12$000 pelo Hábito da Ordem de Cristo. A 30 de Março de 1696 recebeu a Carta de Hábito da Ordem de Cristo, e no mesmo dia, foi-lhe passado o alvará de Cavaleiro e de profissão. Na qualidade de Enviado Extraordinário à corte de Londres, em 1710, o rei nomeou-o Desembargador do Paço, atribuindo-lhe todas as regalias inerentes ao lugar. No ano 1713, em 24 de Outubro, foi concedido o padrão de 40.000 réis de tença, a Frei António da Cunha, pelos bons serviços de seu pai, D. Luís da Cunha, plenipotenciário em Utreque.

Formação

Aos trinta e cinco anos e com uma experiência profissional de quase doze anos nos tribunais do reino D. Luís constatou que a formação, como magistrado, de pouco serviria para o exercício da carreira diplomática afirmando que ao sair de Lisboa para ir para Londres “suceder ao visconde da Arcada, não sabia outra coisa que despachar um feito”. As lacunas de formação seriam ultrapassadas através da experiência adquirida nos contactos que manteve com os políticos ingleses, que sempre admirou, ou com leituras de autores conceituados sobre diplomacia. Na sua opinião a formação dependia fundamentalmente de dois aspectos: do estudo das questões a negociar e da leitura das obras teóricas sobre diplomacia. As suas ideias aproximaram-se das expostas por M. de La Houssaye, no tocante ao conceito de diplomacia e da acção diplomática e defendeu o aprofundamento do estudo das causas dos Tratados, radicando-os no Direito Público e no Direito das Gentes. Com uma formação inicial baseada no estudo do Direito e Teologia, D. Luís estudou fora de Portugal, livre dos constrangimentos da Inquisição, as obras dos juristas jusracionalista europeus. O embaixador atreveu-se a divulgar nos seus textos alguns dos autores de teoria política que considerava mais importantes, tais como Maquiavel, Grocio, Bodin, Puffendorf. Estudos Matriculou-se em Coimbra em Instituta ( 1 de Outubro de 1678). A partir de 1679 frequentou o curso de cânones, tornando-se bacharel em 20 de Janeiro de 1684. A 7 de Julho de 1685, aos vinte e três anos, licenciou-se. O ingresso na Universidade de Coimbra assegurou-lhe uma carreira na administração. Publicações Entre obras da sua autoria podemos destacar: A Ideia da Guerra de 1702, com verdadeira, e exacta noticia das potencias, e convenções dos principes da Europa e dos mais successos na mesma acontecidos desde o anno de 1659 até o de 1706, as Memorias da paz de Utrecht offerecidas a El-Rey N.S. por Luís da Cunha, seu embaixador extraordinário e plenipotenciário no Congresso da dita paz , a Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers e por fim o Testamento político; ou, Carta escrita pelo Grande D. Luiz da Cunha ao Senhor Rei D. José I antes do seu governo o qual foi do Conselho dos Senhores D. Pedro II, e D. João V, e seu Embaixador às Cortes de Vienna, Haya e de Paris. Coleção de obras de arte O embaixador português em Londres, Bruxelas, Haia, Madrid e Paris desenvolveu um esforço no sentido de enriquecer Portugal nos domínios científicos e artísticos.

  À estadia de D. Luís da Cunha em Bruxelas ficaram a dever-se algumas das encomendas artísticas enviadas para o rei D. João V e alguns dos contactos com estrangeiros que viriam a contribuir de forma significativa para o desenvolvimento económico e cultural de Portugal. 

Terá sido o embaixador a recomendar à corte portuguesa o pintor Quillard, apontado como autor de alguns retratos de D. Luís da Cunha, bem como do engenheiro-mor do reino Azevedo Forte e do duque do Cadaval. A estadia em Bruxelas, entre 1726-28, revelou-se muito profícua para Portugal, pois da conjugação da capacidade de D. Luís em compreender o fenómeno artístico e das ordens expedidas a 12 de Julho de 1724 por D João V, resultou a aquisição de uma preciosa colecção de gravuras publicadas em França durante trinta anos. A encomenda, em 1725, foi confiada ao gravador francês Jean Pierre Mariette que se encarregou de compilar toda a história da gravura. A primeira remessa para Lisboa foi efectuada em 7 de Março de 1727. A colecção Marriette era composta de 150 volumes, tendo o embaixador acrescentado de sua autoria oito volumes, com as obras gravadas por Rubens, que adquiriu em Bruxelas, quando a doença aí o reteve. A família Mariette pertencia a uma dinastia de negociantes de arte, iniciada em 1655 por Pierre Mariette. Os contactos de D. Luís da Cunha com Pierre Jean Mariette e o filho iniciaram-se durante o Congresso de Utreque, quando o Príncipe Eugénio de Sabóia, Embaixador do Império, lhe deu a conhecer a actividade dos gravadores franceses. D. Luís da Cunha desenvolveu então uma nova concepção de gosto, diferente da habitual na Corte de Lisboa, reflectindo-se essa opção nas pinturas e gravuras que introduziu na colecção enviada para a corte. Em termos gerais pode-se afirmar que aderiu a novas temáticas, como naturezas-mortas e paisagens e introduziu novos pintores como os flamengos Rubens, Van Dyck, Paul Bril, Brueghel, ou os holandeses Rembrandt e Van der Werff.

Outro exemplo da actividade de encomendador foi o envio dos desenhos para as grades do Altar-mor da Basílica de Mafra, da autoria do francês Garnier, bem como a apresentação de artífices especializados em tecidos para trabalharem em Portugal.


Inquietudes. Influências

O gosto pela ciência levou D. Luís a recomendar à corte portuguesa o geógrafo Danville, em 1725, propondo a D. João V a sua contratação.

Na sua opinião, o geógrafo francês tinha um projecto muito interessante para Portugal: unir Angola a Moçambique, de modo a facilitar o comércio com essas regiões, tornando-o mais seguro e rápido. Danville partia do princípio que a África poderia ser percorrida desde a Etiópia e até ao Cabo da Boa Esperança, desde que os portugueses explorassem o interior do continente. A proposta assumiria a forma de um mapa delineando o trajecto em causa, sendo um dos aspectos mais focados precisamente, a navegabilidade do rio Cuanza. Outras das suas preocupações foi a renovação do ensino, tendo encomendado na universidade de Leida um Catálogo dos melhores autores de Filosofia e Medicina Moderna, bem como um estudo sobre os novos métodos de ensino. D. Luís da Cunha, para além das questões da ciência e do ensino, preocupou-se em reflectir sobre “o desfalecimento” do reino. Considerou a Inquisição, como a grande responsável pela decadência do reino e da nobreza. Ao acusá-la de contribuir para o despovoamento do país, em vez da perseguição aos judeus propôs, em alternativa, que se aplicasse a lei do Reino aos cristãos que judaizassem e que se pusesse termo aos autos de fé, contrários à piedade cristã e responsáveis por uma imagem errada do país no estrangeiro. A sua análise da actuação do tribunal do Santo Ofício baseou-se na arbitrariedade do sistema penal montado pela Inquisição. Ao colocar a questão em torno dos direitos dos presos, reconheceu que estes não existiam, não só pelas atrocidades a que estes estavam sujeitos para confessarem os supostos crimes, como também pela arbitrariedade do julgamento e das penas. Por outro lado, recordando que o regimento do Santo Ofício permitia o segredo dos acusadores, defendeu uma posição semelhante à que anos mais tarde Beccaria viria propor na obra Dos Delitos e das Penas, ou seja, o direito do acusado ter acesso às testemunhas. Céptico quanto à possibilidade do juízo secular poder julgar desvios de religião, considerou que o crime de judaísmo devia a sua existência aos tribunais criados para o efeito, propondo a abolição do Santo Oficio e afirmando que seria essa a melhor forma de acabar com a perseguição aos judeus, a fuga de capitais e a ruína do comércio. Para além da “questão judaica” a sua obra reflectiu sobre outros aspectos que contribuíam para a decadência, procurando soluções para os problemas económicos que afligiam o reino. Nela encontramos uma constante reflexão sobre os meios de engrandecer os Estados, sobre o papel de Portugal no contexto da Europa civilizada, o conceito de civilização, bem como sobre os meios de alcançar esse estatuto. Acusado pelas suas ideias, no seu tempo e pela historiografia posterior, de ser um “estrangeirado “, D. Luís da Cunha manteve ao longo da vida uma curiosidade, que lhe permitiu absorver e divulgar em Portugal, quer as máximas do mercantilismo, quer princípios do “iluminismo” europeu, sem perder os valores da identidade nacional,








Fontes Manuscritas

BN
cod. 4544- 46, A Ideia da Guerra de 1702, com verdadeira, e exacta noticia das potencias, e convenções dos principes da Europa e dos mais successos na mesma acontecidos desde o anno de 1659 até o de 1706.

cod. 10867, Instrução que D. Luís da Cunha Embaixador em Paris mandou ao senhor D. José Príncipe do Brasil, 1747. ANTT, MNE,, liv.967, Memorias da paz de Utrecht offerecidas a El-Rey N.S. por Luís da Cunha, seu embaixador extraordinário e plenipotenciário no Congresso da dita paz , 1715.

PNA, ms. 49-XI-6, Tradução e Paráfrase dos Tratados de Paz e Comércio celebrados em Utreque, Baden e Anvers .

Impressas CUNHA, D. Luís da Instruções inéditas de Dom Luís da Cunha a Marco António de Azevedo Coutinho, rev. Pedro de Azevedo pref. António Baião, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1929. Testamento Político ou Carta Escrita pelo Grande D. Luís da Cunha ao Senhor Rei D. José I, Imprensa Régia, Lisboa, 1820. Memórias da paz de Utrecht Luiz da Cunha pref. Gastão de Melo de Matos, Tip. José Fernandes Júnior, Lisboa, 1931. Bibliografia específica ALMEIDA, Luís Ferrand de, Memórias e outros escritos de D. Luís da Cunha, Arq. de Bibl. Portuguesa, nº25 26, Liv. Atlântida, Coimbra,1961 CLUNY, Isabel , D.Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, Livros Horizonte , Lisboa ,1999. VEIGA, Raul da Silva, Catálogo de documentos do cartório de D. Luis da Cunha (1709-1749), INIC, Coimbra, 1991.

Ideias

D. Luís da Cunha foi considerado como um estrangeirado em seu país. Deplorava a ausência de uma comunidade reformada (calvinista) em Portugal. Comparando a situação portuguesa com a da França, notou que o desafio huguenote tinha impedido que o sacerdócio católico francês se afundasse até ao nível "sórdido" dos seus pares portugueses (David Landes).

Quando da ascensão ao trono do rei D. José I enviou-lhe uma carta na qual sugeria ao rei dois homens de boa visão para o coadjuvarem no Governo: Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda, que havia servido longos anos no Conselho Ultramarino, e Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro marquês de Pombal, que se podia destinar à pasta do Reino, descrevendo-o como homem com sentido de realidades, cauteloso a formular projectos mas determinado em sua firme execução - como indica Joaquim Veríssimo Serrão em sua História de Portugal, volume VI, página 25.

Portugal e Brasil

Dom Luís da Cunha defendeu a ideia da transferência da capital da monarquia portuguesa da metrópole para o Brasil. Ao estabelecer-se no "imenso continente do Brasil", o rei de Portugal deveria tomar o título de "imperador do Ocidente". Esta ideia fora já apresentada pelo padre António Vieira, na situação de emergência do período da Restauração da Independência de Portugal, mas foi reiterada por Dom Luís da Cunha quando não pendia ameaça iminente sobre a soberania portuguesa na metrópole. A ideia de dele visava buscar um meio de afirmação e engrandecimento do reino de Portugal ao mesmo tempo que garantia melhor a sua segurança na Europa[1].

Dados Genealógicos

Era filho de D. António Álvares da Cunha, Senhor de Tábua, um dos Quarenta Conjurados, guarda-mor da Torre do Tombo, e sobrinho de D. Sancho Manoel de Vilhena, conde de Vila Flor.

Referências

  1. D. Luís da Cunha, Instruções Políticas, 1736, Lisboa, Edição Abílio Diniz Silva, 2001.

Ligações externas

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