Monte da Santinha - Amares

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O Monte da Santinha, também designado como "o Povoado da Santinha" ou ainda o "Monte dos Castros", é uma elevação próxima da bacia do Cávado, situada na freguesia e sede do Concelho de Amares. Como castro, teve a sua primeira ocupação efectiva nos finais da idade do bronze, Séc. X a. C. mas os achados arqueológicos sugerem ainda que teria existido um pequeno povoado do Calcolítico (3º milénio a. C.), além de que o local continuava a ser habitado já na Época romana (Bettencourt:2001). O castro (ou monte) ergue-se a 195 metros acima do nível médio das águas do mar e caracterizava-se até à década de 70 (Séc. XX) por ser uma mega-formação granítica. A extração de granito que começou a ser operada sobretudo a parir de 1950 - e que viria a ser a primeira indústria do Concelho de Amares, uma região, a de Entre Homem e Cávado, eminentemente rural - viria a desfazer a referida formação granítica, dando ao local a feição que tem hoje, a de um enorme caroço de maçã na posição vertical.

Contributo Arqueológico[editar | editar código-fonte]

escavações no castro da santinha

O conjunto de resultados obtidos nas escavações efectuadas, apesar de pouco exuberantes, tornam este povoado de grande importância para o estudo do povoamento dos finais da Idade do Bronze, na medida em que testemunham uma modalidade de ocupação do território até à data desconhecida, a ocupação de cabeços de baixa altitude conectados com grandes bacias fluviais.

Os achados arqueológicos já estudados (Bettencourt:1995) - cerâmicas, bronzes e vários objectos - testemunham a habitabilidade de outrora, justificada pela visibilidade que o castro permitia para o Vale do Cávado (sub-região). Nas imediações deste local existiam bosques, compostos por árvores da floresta climática e ribeirinha (Amieiro, Amieiro-negro, Buxo, Freixo, Pinheiro-bravo, Sabugueiro e Salgueiro) e campos agrícolas (de trigo, milho miúdo, favas e Brassica).

Diz ainda a investigadora referida (Ana M. S. Bettcourt) que nas diversas fossas abertas no topo e no início das vertentes aquando das escavações de 1993 e 1994, surgiram em grande número sementes de cereais (trigo, cevada e milho miúdo) e de Leguminosas (ervilhas e favas) e que por outro lado, a profusão de vasos cerâmicos de fabrico grosseiro de grande e média dimensão e os fragmentos de grandes moinhos manuais, permitiram admitir que esta zona teria funcionado como área de armazenagem e transformação de produtos agrícolas. Foram ainda encontrados outro tipo de estruturas e de artefactos. Quanto aos primeiros, destaca um pavimento de uma eventual cabana, um muro de contenção de terras, mostrando que na época já se faziam socalcos e uma sepultura. Quanto aos artefactos, refere inúmeros recipientes cerâmicos, desde potes, potinhos, púcaros, malgas; moldes em pedra para o fabrico de artefactos em bronze ou ouro; pesos em pedra, provavelmente de redes para pesca. Foi ainda encontrado um resto de caldeiro em bronze.

A Exploração do Granito[editar | editar código-fonte]

Embora já fosse efectuada extracção de pedra para fins de construção e pavimentação local (nas formas de patela, cêpo

Pedreiras e Capela

e outras formas de Alvenaria, para a construção, e de calçada, rachão e paralelo/paralelepípedo para o calcetamento de estradas) a reconstrução da Alemanha (após a segunda grande guerra) foi o destino de megatoneladas de pedra azul na forma de "Guias" (lancil de pedra).

As encomendas da Alemanha viriam a intensificar a extracção a partir de 1950, tendo-se esta mais que decuplicado ao longo das décadas seguintes. As "guias" (lancil) eram extraídas e trabalhadas nesta e noutras pedreiras de granito azul (Pedreiras de Montariol, Adaúfe, etc.), eram transportadas de camião até Porto de Leixões e seguiam depois por navio até à Alemanha. Pelos anos 60 / 70 (século XX) as pedreiras do Monte da Santinha concentrariam cerca de 200 postos de trabalho, ainda assim uma oferta escassa para a região, rural e pobre, e que não evitou as grandes massas migratórias da década e 60 que tiveram a França como principal destino de emigração (não obstante alguns amarenses se terem fixado na Suíça, Bélgica, Luxemburgo, Canadá e Estados Unidos).

No princípio do Sec. XXI a actividade extractiva de granito estava praticamente extinta, por um lado porque quase se esgotaram os recursos - dos enormes afloramentos graníticos que formavam o monte pouco mais resta, a exploração das 5 décadas anteriores praticamente esgotou os recursos, restando o bloco dá suporte à capela construída em 1967 - e por outro, porque a aplicação de granito azul, quer na construção, quer na pavimentação, se reduziu drasticamente nas últimas décadas,, o Monte da Santinha, ou Povoado da Santinha que data da Idade do Bronze, é hoje uma escultura agreste e uma ferida-aberta paisagística cuja resolução exigiria soluções arquitectónicos e ainda recursos cuja orçamentação inviabiliza à partida a possibilidade de sarar as severas escoriações que as imagens documentam.

A Capela da Senhora da Paz[editar | editar código-fonte]

Apesar de ser chamado historicamente como o "Monte da Santinha", não se encontraram vestígios de qualquer edificação religiosa da era cristã, sendo

Capela Nª Sra da Paz

aventada a hipótese de a origem desta designação ter origem em oráculos ou altares pagãos anteriores até à época romana.

Entre 1966 e 1967 as "forças vivas" de Amares criaram uma comissão que reuniu fundos para que se construísse no cimo do monte uma capela dedicada à Senhora da Paz. A Construção concluiu-se - e foi inaugurada - em 1967 e a partir dessa data o monte (ou o castro) passou a ser designado também como o "Monte da Senhora da Paz", ao ponto de, para as gerações mais novas, a origem dos nomes - ou designações - atribuídos ao castro ter origem na referida capela, o que, como se viu, não corresponde à verdade: Oliveira (1982) refere um artigo do Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha (Padre e autor de estudos de História, Corografia, Arqueologia, etc.) no Diário do Minho de 23 de Agosto de 1948 dedicado ao "Monte da Santinha".

recorte

A importância religiosa e simbólica da Capela[editar | editar código-fonte]

nos últimos anos da Guerra Colonial (e da Ditadura salazarista):

A iniciativa para a construção da Capela dedicada a "Nossa Senhora da Paz" partiu das forças concelhias dominantes - que integravam o(s) clérigo(s), naturalmente - integradas no regime de então e partilhando a ideologia do Corporativismo. A iniciativa tinha por fim a edificação de um apelo divino à paz e ao fim da Guerra Colonial que, à época, ia já a caminho de quatro ou cinco anos [despoletara em 1961] e eram ainda para apelar à intervenção divina pela Paz no ultramar as Procissões que periodicamente se efectuavam desde o Eirado (no sopé) até à capela e que começaram a acontecer mal esta entrou em construção.E por isso, além de um monumento religioso e local de culto, a capela é também e sobretudo um marco do corporativismo Salazarista.

Mas também por essa razão - a Guerra Colonial - a capela viria a desempenhar a partir de 1967-1968 um papel simbólico e talvez tão social ou antropológico como religioso: tornou-se tradição que sempre que um soldado do concelho de Amares ou dos concelhos confinantes regressasse são e salvo da guerra do Ultramar, este ia cumprir a promessa de agradecimento à Senhora da Paz, deixar - ou entregar-lhe - círios e outros artefactos de cera e ainda "botar" uma dúzia de foguetes, ao ponto de tais manifestações informarem a população de que mais um jovem militar tinha regressado vivo do ultramar.

Apontamento biográfico[editar | editar código-fonte]

Breve apontamento biográfico sobre a investigadora citada e condutora das escavações realizadas no Povoado da Santinha em 1993 e 1994:

Ana Maria Santos Bettencourt, Arqueóloga, Investigadora e Professora com agregação do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho desde 2007;

Jan. 2000 - Doutorada (PhD) em Pré-História e Antiguidade pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho;

Jun. 1986 - Mestre em Antropologia, opção Paleoantropologia pelo Instituto Quaternary, Universidade de Bordéus I;

Jul.1984 - Licenciada em História - Arqueologia pela Faculdade de Artes da Universidade de Coimbra;

Fontes[editar | editar código-fonte]

Bettencourt, Ana Maria:2001. O Povoado da Santinha, Amares, Norte de Portugal, nos finais da Idade do Bronze

Bettencourt, Ana Maria:1995a. Dos inícios aos finais da idade do bronze no Norte de Portugal. In A Idade do Bronze em Portugal. Discursos de Poder. Lisboa: SEC, IPM, p. 110-117.

Bettencourt, Ana Maria:1995b. O povoado da Santinha (Amares-Braga). In A Idade do Bronze em Portugal. Discursos de Poder. Lisboa: SEC, IPM, p. 60-61

Cunha, A.:1948. O Monte da Santinha e o de São Miguel, Diário do Minho, 3 de Novembro. Braga. pp 3-4

Oliveira, Eduardo Pires: 1982.Estudos Bracarenses: 4-para uma biografia do Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha .Coimbra "Monte da Santinha".

Oliveira, V.M. 1999. ao levante a pedra sangra. Ed. "Diário da Pedra"

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Galeria fotográfica[editar | editar código-fonte]

Imagens do monte, 1900 - 1970[editar | editar código-fonte]

As escavações Arqueológicas de 1994[editar | editar código-fonte]

Imagens da construção da Capela da Sra da Paz[editar | editar código-fonte]

Imagens Actuais (2016)[editar | editar código-fonte]