Hotel do Muxito
Hotel do Muxito | |
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Antigo edifício do Hotel do Muxito, em 2007. | |
Informações | |
Localização | Cruz de Pau, Seixal Distrito de Setúbal, Portugal |
Inauguração | 1957 |
Fechamento | 1973 |
Quartos | 60 |
Coordenadas |
O Hotel do Muxito, igualmente conhecido como Estância do Muxito, foi um empreendimento turístico situado junto à localidade de Cruz de Pau, parte da freguesia de Amora, no concelho do Seixal, em Portugal. Inaugurado em 1957[1], teve uma grande procura durante as Décadas de 1950 e 1960,[2] mas entrou em profundo declínio nos anos 70, acabando por encerrar em 1973.[3]
Descrição
[editar | editar código-fonte]O empreendimento situa-se junto à povoação de Cruz de Pau,[3] tendo acesso pela Estrada Nacional 10.[1] Está localizado na zona de Vale de Gatos,[4] motivo pelo qual o seu logotipo era um gato.[carece de fontes]
Era constituído por um hotel, um apart-hotel, uma discoteca, campos de ténis, lagos artificiais, uma pequena praça de touros,[4] um centro hípico,[3] uma estação de serviço rodoviário e um posto de abastecimento,[1] e um motel com treze vivendas.[1] Também possuía dois restaurantes, um à entrada e outro no último no piso do hotel.[1] Tinha igualmente uma piscina, que foi a primeira de dimensões olímpicas a ser construída em território nacional, com uma prancha de dez metros.[1] O complexo contava também com uma zona arborizada com vários hectares, onde os hóspedes podiam circular em veículos motorizados, que eram disponibilizados pelo próprio hotel.[4] Os edifícios destacaram-se pelo seu avançado estilo arquitectónico,[3] com motivos inspirados nas construções das antigas colónias portuguesas.[1]
O Hotel do Muxito foi de grande importância económica e social para a região,[3] tendo-se afirmado como um dos simbolos da Amora e do Seixal.[1]
História
[editar | editar código-fonte]O hotel foi inaugurado em 1957, sendo nessa altura propriedade da empresa Lino & Zimbarra.[1] Foi muito conhecido durante as décadas de 1950 e 1960,[4] especialmente junto das classes mais abastadas, tanto a nível nacional como internacional.[1] A sua popularidade também se deveu à sua situação privilegada, junto à Estrada Nacional 10, que ligava Lisboa ao Alentejo e Algarve.[1] Era o local de eleição para alojar as equipas de futebol nacionais e internacionais que tinham jogos na margem Sul do Tejo,[3] que também estagiavam no interior do complexo.[4] Seguiu-se um período de expansão, incluindo a construção de um hotel com sessenta quartos e de outras estruturas.[3] Os gestores do hotel também fizeram obras nas estradas até à Fonte da Telha, de forma a facilitar o acesso por parte dos hóspedes áquele destino balnear.[4] No entanto, devido a problemas financeiros e ao falecimento de Zimbarra em 1973, a empresa proprietária entrou em falência, tendo o Muxito sido vendido em leilão a uma cadeia hoteleira dirigida por Gordana Bayloni, de origem jugoslava, mas que representava altos interesses a nível nacional.[1] Os novos proprietários fizeram obras e chegaram a criar grandiosos planos para ampliar o complexo,[1] com plano do arquitecto francês Jacques Couëlle (en), que incluía a construção de outro hotel, de mais vivendas e um centro comercial, que poderia ter sido o primeiro grande espaço deste género em Portugal.[4] Porém, estes esforços não resultaram, tendo o hotel continuado em declínio.[1] Um dos motivos para o decréscimo na procura poderá ter sido a inauguração da auto-estrada da Ponte sobre o Tejo, em 1966.[1]
Em 7 de Março de 1975, o antigo complexo do Muxito foi ocupado pelos grupos de extrema esquerda Frente Socialista Popular e Liga de Unidade e Acção Revolucionária, e por comissões de trabalhadores,[1] tendo esta ocupação sido parcialmente motivada pela associação do hotel com as classes mais elevadas.[4] No local foi formada a Comuna Che Guevara, que deveria servir de apoio social às populações, funcionando como um mercado de venda directa entre os agricultores e os consumidores, cantina popular e infantário, enquanto que a piscina foi aberta ao público.[1] Chegaram a ser planeadas outras obras sociais dentro da comuna, que contava com o apoio de diversas empresas locais, do Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres e o Instituto da Família e Assistência Social.[1] Porém, pouco tempo depois o complexo passou a ter uma função mais militar, tendo sido montado um campo de treino para os militantes, e chegando a ser palco de combates, situação que perdurou até ao golpe falhado de 25 de Novembro de 1975.[3] Durante todo este período, o complexo continuou a ser utilizado como infantário até 1977.[4] A Câmara Municipal do Seixal começou a construir um novo infantário para as crianças que tinham sido expulsas do Muxito, mas as obras foram destruídas por forças de direita.[5] O restaurante à entrada do hotel do Muxito foi alugado diversas vezes desde então.[4]
Devido à explosão populacional no concelho do Seixal desde a década de 1970, várias partes da antiga propriedade foram aproveitadas para outras funções, incluindo a construção de urbanizações e do Complexo Municipal de Atletismo Carla Sacramento, que foi inaugurado em 2001, no local dos antigos campos desportivos do hotel.[1] Em 1999 faleceu Gordana Bayloni, e os seus herdeiros tornaram-se responsáveis pela empresa Lare-i-rá, proprietária do complexo hoteleiro.[4] No entanto, a falta de verbas impossilitou a recuperação do Muxito, embora tenha sido planeada a rentabilização das moradias como meio de gerar receitas, que seriam depois aplicadas nas obras no resto do complexo.[3] Assim, algumas das vivendas foram arrendadas nos princípios da Década de 2000.[1] Por outro lado, a autarquia do Seixal também se mostrou interessada na unidade hoteleira, embora estes planos foram dificultados devido a conflitos políticos e problemas com os fundos comunitários.[3] Posteriormente, a antiga propriedade do Hotel do Muxito foi corta parcialmente pela Autoestrada A2, que ocupou o antigo local dos campos de ténis.[4] Os edifícios caíram em ruína, sendo ocasionalmente palco de jogos de paintball,[4] e utilizadas por forças policiais como local de treino.[1] Também foram utilizados como cenário para o filme de ficção científica português RPG, apresentado em 2013.[4]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u LOURENÇO, Raquel (14 de Julho de 2018). «Muxito – De empreendimento de luxo a ruína abandonada». Diário da Região. Consultado em 14 de Fevereiro de 2020
- ↑ «Muxito história de ascensão e queda». Diário de Notícias. 5 de Janeiro 2002
- ↑ a b c d e f g h i j SILVA, Gastão Brito e (23 de Setembro de 2012). «A ocupação revolucionária do Hotel do Muxito». Público. Consultado em 14 de Fevereiro de 2020
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n SERUCA, Bruno (17 de Maio de 2018). «Muxito. De hotel luxuoso, com a primeira piscina olímpica portuguesa, ao abandono». Para Eles. Impala. Consultado em 14 de Fevereiro de 2020
- ↑ «Direita destrói infantário do Seixal». Diário de Lisboa. Ano 58 (19753). Lisboa: Renascença Gráfica. 9 de Setembro de 1978. p. 1. Consultado em 30 de Janeiro de 2022 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares