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Nicolau Maquiavel: diferenças entre revisões

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NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)
'''Nicolau Maquiavel''' ({{Langx|it|''Niccolò di Bernardo dei Machiavelli''}}; [[Florença]], [[3 de maio]] de [[1469]] — [[Florença]], [[21 de junho]] de [[1527]]) foi um [[história|historiador]], [[poesia|poeta]], [[diplomacia|diplomata]] e [[música|músico]] [[Italianos|italiano]] do [[Renascimento]].<ref name=EGS>{{citar web
|url = http://www.egs.edu/library/niccolo-machiavelli/biography/
|título = NICCOLÒ MACHIAVELLI - BIOGRAPHY
|data =
|autor =
|acessodata = 28 de setembro de 2012
|publicado = The European Graduate School
|língua = inglês
}}</ref>É reconhecido como fundador do pensamento e da [[ciência política]] moderna<ref name=EGS/>, pelo fato de ter escrito sobre o [[Estado]] e o [[governo]] como realmente são e não como deveriam ser. Os recentes estudos do autor e da sua obra admitem que seu pensamento foi mal interpretado historicamente.


1. Contexto Histórico
Desde as primeiras críticas, feitas postumamente pelo cardeal inglês [[Reginald Pole]],<ref name="nove">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 62.</ref> as opiniões, muitas vezes contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjetivo ''maquiavélico'', criado a partir do seu nome, significa esperteza, astúcia, aleivosia, maldade.


Maquiavel viveu no período do Fim da Idade Média e
Maquiavel viveu a juventude sob o esplendor político da [[República Florentina]] durante o governo de [[Lourenço de Médici]] e entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava.


início da era moderna (século XVI). Neste período a
Como renascentista, Maquiavel se utilizou de autores e [[ideia|conceitos]] da [[Antiguidade clássica]] de maneira nova. Um dos principais autores foi [[Tito Lívio]], além de outros lidos através de traduções [[latim|latinas]], e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de ''virtù'' e o de ''fortuna''.


Europa como palco de grandes transformações cultura
== Contexto histórico ==
[[Imagem:Map of Italy (1494)-ca.svg|300px|thumb|esquerda|A [[península Itálica]] no período do [[Renascimento]] (1494).]] Durante o [[Renascimento]], as cinco principais [[projeção do poder|potências]] na [[península Itálica]] eram: o [[Ducado de Milão]], a [[República de Veneza]], a [[República de Florença]], o [[Reino de Nápoles]] e os [[Estados Pontifícios]].<ref>ESCOREL, Lauro. Introdução ao pensamento político de Maquiavel. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 19.</ref> A maior parte dos [[Estado]]s da península era ilegítima, tomados por [[mercenário]]s chamados "[[condottieri]]".


is, políticas, econômicas e religiosas. No que conc
Foram incapazes de se [[aliança (acordo)|aliar]] durante muito tempo estando entregues à intriga diplomática e às disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potências europeias do período, principalmente [[Espanha]] e [[França]]. A política italiana era, portanto, muito complexa e os interesses políticos estavam sempre divididos. Batalhando entre si, ficavam à mercê das ambições estrangeiras, mas a influência de alguém como [[Lourenço de Médici]] havia impedido uma invasão. Com a morte deste em 1492, e a inaptidão política de seu filho, a Itália foi invadida por [[Carlos VIII de França|Carlos VIII]], causando a expulsão dos [[Família Médici|Médici]] de Florença.


erne
Esta era palco do conflito entre duas tendências: a da exaltação [[paganismo|pagã]] do indivíduo, da vida e da glória histórica, representada por Lourenço de Médici e seu irmão [[Juliano de Médici]]; e a da contemplação cristã do mundo, voltada para o além, que se formava como resposta ao ressurgimento da primeira nos mais variados aspectos da vida como a [[arte]] e até na Igreja, representada por religiosos como [[Girolamo Savonarola]].


à política, este foi o período da centralização do
Anunciando a chegada de Carlos VIII como a de um salvador, contrário aos Médici e com grande apoio popular, o pregador Girolamo Savonarola tornou-se a figura mais importante da cidade dando ao governo um viés [[teocracia|teocrático]]-[[democrático]]. Com sua crescente autoridade e influência, Savonarola passou a criticar os padres de Roma como corruptos e o [[Papa Alexandre VI]] por seu [[nepotismo]] e imoralidade. Em 12 de maio de 1497, o papa [[excomunhão|excomungou]] o frade,<ref name=MAQUIAVEL>{{Citar livro
|nome = Nicolau
|sobrenome = MAQUIAVEL
|autor =
|url =
|seção =
|título = O Príncipe
|subtítulo =
|idioma = Português
|edição = 1
|local = São Paulo
|editora = L&PM
|editor =
|ano = 1998
|volumes = 1
|páginas = 206
|página =
|capítulo =
|volume =
|id = ISBN 85.254.0895-6
|notas = Contém comentários e cronologia da vida de Maquiavel
|acessodata = }}</ref> mas a excomunhão foi declarada inválida por ele. No entanto, Savonarola acabou preso e executado pelo governo provisório em 23 de maio de 1498.<ref name=MAQUIAVEL/> Com a demissão de seus simpatizantes, cinco dias depois da morte do frade, Maquiavel, com 29 anos, foi nomeado para o cargo de secretário da Segunda Chancelaria de Florença.<ref name=MAQUIAVEL/>


poder político (criação das monarquias nacionais
== Juventude ==
[[Imagem:Caterina Sforza.jpg|thumb|direita|200px|''[[Sforza|Catarina Sforza Riario]]'', por [[Lorenzo di Credi]], na Pinacoteca Cívica de [[Forlì]]]]
Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública. Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de' Nelli. Sua família era [[toscana]], antiga e empobrecida. Iniciou seus estudos de [[latim]] com sete anos<ref>RIDOLFI, Roberto. Biografia de Nicolau Maquiavel. São Paulo: Musa Editora, 2003. p.19. ISBN 85-85653-67-1</ref> e, posteriormente, estudou também o [[ábaco]], bem como os fundamentos da [[língua grega antiga]]. Comparada com a de outros [[humanismo|humanistas]] sua educação foi fraca, principalmente por causa dos poucos recursos da família.


absolutistas) e da formação dos primeiros Estados M
Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado aí como auxiliar em 1494 ou 1495, hipótese contestada atualmente. Outros preferem atribuir a sua entrada à escolha de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria.<ref>RIDOLFI, Roberto., ''op. cit.'', pp. 31-37</ref>


odernos (Portugal, Espanha, Inglaterra e França). E
== Segunda Chancelaria ==
A principal instituição de Florença nesse período era a [[Signoria de Florença|Senhoria]]<ref>ESCOREL, Lauro., op. cit., p. 25.</ref> com diversos órgãos auxiliares como as duas chancelarias. A primeira chancelaria era responsável pela [[política externa]] e pela correspondência com o exterior. A segunda ocupava-se com as guerras e a política interna. No entanto, essas funções muitas vezes se sobrepunham e a autoridade da primeira chancelaria prevalecia sobre a da segunda. Entre as funções exercidas por Maquiavel, estavam tarefas burocráticas e de assessoria política, de [[diplomacia]] e de comando no Conselho dos Dez, um outro órgão auxiliar da Senhoria.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 26.</ref>


m
=== Primeiras missões diplomáticas ===
A primeira de suas missões<ref name="missões">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 27.</ref> foi a de convencer um ''[[condottiero]]'' a continuar recebendo o mesmo soldo. Nesse momento, o governo da [[República de Florença]] desejava reaver o controle de [[República de Pisa|Pisa]] que havia aproveitado a passagem de [[Carlos VIII de França|Carlos VIII]] para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa primeira missão de forma satisfatória, foi enviado em julho de 1499 para negociar com [[Catarina Sforza]], duquesa de [[Ímola]] e [[Forlì]] a renovação da "condotta" de seu filho Otaviano e para tentar conseguir o auxílio dela com soldados e [[artilharia]] para a tomada de Pisa.


relação à economia, este é o período da crise do fe
[[Imagem:Macchiavelli01.jpg|thumb|200px|direita|Estátua de Maquiavel na [[Galleria degli Uffizi]], [[Florença]].]]
O governo de Florença contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o mau [[estratégia militar|estrategista militar]] e Maquiavel tinha como instruções, diminuir o soldo e conseguir tropas e munição para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatória reduzir o soldo a 12 mil ducados e não comprometeu a cidade na defesa de Ímola e Forlì como queria Catarina.<ref name="missões" /> A partir dessa primeira missão, escreveu o ''Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa'', de 1499, seu primeiro escrito político.<ref name="missões" />


udalismo e da crescente afirmação da burguesia e do
=== Missão à corte francesa ===
Pouco depois [[Luís XII de França|Luís XII]], sucessor de [[Carlos VIII de França|Carlos VIII]], conquistou o [[Ducado de Milão]] a [[Ludovico Sforza]] e, em troca de seu apoio, a [[República de Florença]] solicitou o auxílio deste na guerra contra a [[República de Pisa]]. Luís XII enviou um exército mercenário que se mostrou indisciplinado e desinteressado pela luta, tendo até mesmo prendido um comissário de Florença. Logo foi necessário enviar representantes à [[Corte (realeza)|corte]] francesa em [[Nevers]] para relatar a situação e encontrar uma solução sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou só com o irmão Totto, que em breve se dedicaria à vida eclesiástica, pois as duas irmãs já haviam se casado.<ref>RIDOLFI, Roberto., ''op. cit.'', p.51</ref>


modo de produção do capitalismo. É ainda, o momento
Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florença e inclusive insistiu para que o ataque a Pisa continuasse às custas da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a [[Signoria de Florença|Senhoria]] durante o período em que acompanhou a corte através de França e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos com mais autoridade. Aí pôde conhecer um pouco mais sobre uma nação que se havia unificado em torno de um rei, diferentemente da [[península Itálica|Itália]]. Depois de mais duas viagens à França anos depois, reuniria suas observações sobre a política francesa em dois textos: "''Ritrati delle cose di Francia''" (1510)<ref name=EGS/> e "''De natura gallorum''".


da expansão marítimo-comercial européia
De volta à cidade, em 1501, casou-se com Marietta Corsini, com quem teria quatro filhos e duas filhas (Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infância),<ref name=MAQUIAVEL/> mas teve logo que viajar de novo, pois os partidos políticos de [[Pistoia]], outra cidade submetida a Florença, haviam se unido e ameaçavam rebelar-se. Maquiavel foi de opinião que se deveria dar fim e proibir tais partidos.


(“descoberta” da América). No âmbito cultural, a Eu
=== César Bórgia ===
[[Imagem:Cesareborgia.jpg|thumb|180px|esquerda|[[César Bórgia]], por [[Altobello Melone]], na [[Galleria dell'Accademia Carrara]], [[Bérgamo]]]]
Entre 1502 e 1503, Maquiavel teve contato com [[César Bórgia]], filho do [[papa Alexandre VI]], um cruel e ambicioso ''[[condottiero]]''.<ref name=EGS/>.


ropa está passando pelo período do Renascimento
César Bórgia (conhecido também como Duque Valentino), por volta de 1501 como ''condottiero'' da Igreja e filho do papa, vinha conquistando territórios na [[Toscana]], como [[Faenza]], em 25 de abril<ref name=MAQUIAVEL/>. Acercou-se de Florença com seus exércitos e exigiu que a cidade se aliasse a ele, pagasse-lhe um [[tributo]] e mudasse seu governo para um mais favorável a si. Quando os florentinos, sem opção, estavam prestes a ceder, [[Luís XII de França]] pressionou César Bórgia que foi obrigado a levantar acampamento. Dirigiu-se para [[Piombino]], conquistando-a facilmente e também [[Pesaro]] e [[Rimini]], após o quê voltou para Roma.


(Movimento de mudanças culturais caracterizado pela
César Bórgia percebeu que, com a aliança francesa, Florença seria um empecilho a seu plano de expansão e por isso solicitou o envio de representantes com os quais tratar de seus interesses. Para essa missão, em 24 de junho de 1502, foi enviado Francisco Soderini, tendo Maquiavel como secretário e auxílio.<ref name=MAQUIAVEL/> Durante a ida, surpreendeu-os a notícia da conquista do ducado de [[Urbino]] pelo duque Valentino: ele pediu um reforço de artilharia para a cidade e quando este lhe foi enviado, voltou-se contra o ducado.


retomada da cultura clássica e de reação à “Idade
Chegadas as tropas francesas, os enviados puderam retornar. Após a retirada das tropas de Bórgia da Toscana, Maquiavel escreveu o "Sobre o modo de tratar os povos rebelados da Valdichiana" (1502)<ref group=nota>''Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati''</ref> sua primeira obra sem relação com as atividades da Chancelaria,<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 34.</ref><ref name=EGS/> e foi neste período (22 de setembro de 1502) que ocorreu uma reforma na constituição florentina tornando o cargo de [[gonfaloneiro]] vitalício. Ele era ocupado por [[Piero Soderini]],<ref name=MAQUIAVEL/> de quem Maquiavel tornou-se próximo.


das
Nesse meio tempo, César Bórgia conquistou a seus próprios ''condottieri'' [[Città di Castello]] e [[Bolonha]]. Temendo o duque, estes se reuniram em [[Magione]] para conspirar contra ele. César Bórgia solicitou a Florença um embaixador para negociar uma aliança e enviaram-lhe Maquiavel, sem poderes de embaixador, em 5 de outubro de 1502, apenas com a incumbência de entregar os conjurados, afirmando que eles haviam convidado Florença para participar da conspiração, mas que esta havia se negado.


Trevas”, Idade Média). Para os renascentistas, o ho
A 9 de dezembro, César Bórgia marchou para [[Cesena]] com a intenção de dar fim ao conluio. Lá, mandou prender seu lugar-tenente, Ramiro de Lorque, que apareceu morto no dia seguinte. Dirigiu-se para [[Pesaro]] e depois, para [[Fano (Itália)|Fano]], ordenando que Orsini e [[Vitellozzo Vitelli]], dois de seus subordinados, conquistassem [[Senigallia]] (26 de dezembro)<ref name=MAQUIAVEL/> aonde, juntamente com Oliverotto de Fermo deveriam aguardá-lo. Foi aí que, ao chegar com suas tropas, mandou prender e, mais tarde, executar os três. Desse acontecimento deu Maquiavel sua análise no escrito: "Descrição da forma como procedeu o Duque Valentino para matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Paolo e o Duque de Gravina Orsini" (1503).<ref name=MAQUIAVEL/><ref group=nota>''Descrizione Del modo tenuto dal duca Valentino nell' ammazzare Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, il Signor Paolo e il Duca di Gravina Orsini''</ref>


mem é o centro do universo (antropocentrismo). Flor
Pedindo ajuda florentina, mas sem esperá-la, partiu para conquistar [[Città di Castello]], [[Perugia]], [[Corinaldo]], [[Sassoferrato]] e [[Gualdo]], de onde Maquiavel foi chamado de volta por ter sido nomeado um embaixador. Chegou a Florença em 23 de janeiro de 1508. Com a morte de Alexandre VI e tendo [[Papa Júlio II|Júlio II]] se tornado Papa, César Bórgia perdeu seu apoio e veio a se enfraquecer. Feito prisioneiro duas vezes, morreu lutando pelo exército de [[Navarra]], mas a figura de César Bórgia ficaria marcada para Maquiavel como a do perfeito representante de seu príncipe.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 33.</ref><ref>BIGNOTTO, Newton. ''Maquiavel''. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. p. 20. ISBN 85-7110-743-2</ref>


ença
=== Guarda florentina ===
Com a morte de [[César Bórgia]], surgiu um novo problema: a expansão da [[República de Veneza]] pela [[Romanha]] que surpreendeu o Papa, os [[República Florentina|florentinos]] e o [[Sacro Império Romano-Germânico|imperador]] [[Maximiliano I da Germânia|Maximiliano]]. Sentindo os perigos externos se avolumarem e, por outro lado, conhecendo a ineficiência das tropas mercenárias, Maquiavel solicitou a Soderini a permissão para criar um exército formado por cidadãos de Florença. Recebida a autorização após alguma resistência, iniciou imediatamente seus trabalhos e apenas cinco meses depois, em 15 de fevereiro de 1506 as novas tropas desfilaram<ref name=MAQUIAVEL/> na [[Piazza della Signoria]]. Pouco antes havia terminado o ''Decennale primo''<ref name=MAQUIAVEL/>, poema de 550 [[verso]]s em "terça rima" que narravam os últimos dez anos e ao qual se seguiria o ''Decennale secondo'' (em 1509).


é o grande palco do movimento renascentista. A Refo
Por essa época, o [[Papa Júlio II]] decidiu retomar os domínios da Igreja conquistados por [[República de Veneza|Veneza]] e pelos homens de Bórgia: Baglioni e Bentivoglio. Marchando contra eles, pediu ajuda de Florença mediante envio de tropas. Sem querer desguarnecer Pisa ou desgostar o Papa, decidiu-se enviar Maquiavel para ganhar tempo. Ele acompanhou o papa até [[Perugia]], onde assistiu espantado à rendição de Baglioni, pois não compreendia como ele havia deixado passar a oportunidade de prender o Papa, na sua visão, um príncipe invadindo seus domínios como outro qualquer.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 41.</ref> Não estava presente na tomada da Bolonha por que Florença finalmente enviou as tropas solicitadas, bem como um embaixador para substituí-lo.


rma protestante (Movimento que quebra a unidade
== Queda de Soderini ==
Nesse período, [[Maximiliano I, Sacro Imperador Romano-Germânico|Maximiliano I]] declarou ter a intenção de conquistar a [[península Itálica|Itália]]<ref name=MAQUIAVEL/> para restaurar o antigo [[Sacro Império Romano-Germânico]] fazendo-se coroar em [[Roma]]. Com isso, os [[República Florentina|florentinos]] decidiram enviar representantes para saber a que custo poderiam preservar a cidade. Maquiavel e [[Francesco Vettori]] — que se tornariam amigos daí em diante — foram encarregados dessa negociação, passam por [[Trento]], [[Bolzano]] e [[Innsbruck]] em dezembro de 1507<ref name=MAQUIAVEL/> e chegaram à corte, em [[Viena]], em janeiro de 1508.


cristã) ganha força com as idéias introduzidas por
Em 16 de junho de 1508, Maquiavel e Vettori retornam a Florença<ref name=MAQUIAVEL/>, pois Maximiliano seria derrotado pela [[República de Veneza]]. Ao retornar, Maquiavel passou a organizar as operações contra a [[República de Pisa]], vencida em 4 de junho de 1509, após 15 anos de guerra. Da experiência com a viagem ao império, Maquiavel escreveria o "''Ritratti delle cose dell'Alemagna''" (1508-1512).<ref name=EGS/>


Lutero e Calvino. Este movimento gera novas
Entrementes as hostilidades entre o papa e Veneza chegaram ao máximo. Em 25 de março de 1509, o papa [[Papa Júlio II|Júlio II]] alia-se à [[Liga de Cambrai]]<ref name=MAQUIAVEL/>. Esta vence a [[República de Veneza]] em [[Agnadello]] (14 de maio), tomando a maior parte das possessões venezianas em terra firme.<ref name=MAQUIAVEL/> Por outro lado, decidindo que não poderia deixar a Itália cair em mãos estrangeiras, o papa formou uma aliança com a [[Espanha]] e Veneza contra a [[França]].


interpretações da bíblia, critica o clero católico
Os florentinos que sempre contaram com a ajuda do rei francês e que não queriam desagradar o papa viram-se divididos. Maquiavel foi enviado pela terceira vez à corte francesa<ref name=MAQUIAVEL/> para explicar a prudência dos florentinos apesar da exigência do rei de que esta se declarasse a seu favor. Sem sucesso, retornou em outubro de 1510 com a certeza de que haveria uma guerra entre a França e os [[Estados Pontifícios|Estados da Igreja]].


e propõe uma nova ética religiosa adequada à dinâmi
Após [[Luís XII de França|Luís XII]] ter convocado um [[concílio]] [[cisma|cismático]] contra o papa e este decidido reunir-se em [[Pisa]], domínio florentino, o papa ameaçou Florença com a excomunhão e Maquiavel teve que negociar o afastamento da reunião. Apesar do sucesso da missão<ref name=MAQUIAVEL/> — os padres dirigiram-se para [[Milão]] — o papa resolveu dar fim ao governo de Soderini. Uniu-se ao [[Reino de Aragão|rei de Aragão]] contra a França e como Florença se recusou a apoiá-lo, a [[Dieta de Mântua]] atacou a cidade e destituiu Soderini, trazendo os [[Casa de Médici|Médici]] de volta ao poder.


ca
== Escrita das principais obras ==
[[Imagem:L'Albergaccio.jpg|thumb|direita|200px|Casa de Maquiavel durante seu exílio em Sant'Andrea in Percussina]]
Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido<ref name=MAQUIAVEL>{{Citar livro
|nome = Nicolau
|sobrenome = MAQUIAVEL
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|seção =
|título = História de Florença
|subtítulo =
|idioma = Português
|edição = 1
|local = São Paulo
|editora = Martins Fontes
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|ano = 2007
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|páginas = 648
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|id = ISBN 8533623682 e ISBN 9788533623682
|notas =
|acessodata = }}</ref> sob a acusação de ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil [[Florim florentino|florins]] de ouro e proibido de se retirar da [[Toscana]] durante um ano.


capitalista.
Para piorar sua situação, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma lista de possíveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi preso e [[tortura]]do.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 46.</ref> Para sua sorte, com a morte do [[papa Júlio II]] em 21 de fevereiro de 1513 e a eleição de João de Médici, um florentino, como [[Papa Leão X|Leão X]], todos os suspeitos de conspiração foram [[anistia]]dos como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão.


2. A Vida do Autor
[[Imagem:Pope_Julius_II.jpg|thumb|esquerda|210px|Papa Júlio II, retrato de [[Rafael Sanzio]],1512, [[National Gallery (Londres)|National Gallery]], [[Londres]].]]
Libertado, seguiu para uma propriedade no distrito de Sant'Andrea in Percussina<ref name=MAQUIAVEL/> distante 3,3 quilômetros<ref>{{citar web|url=https://maps.google.com/|título=Google Maps|autor=google|data=2012|acessodata=29 de setembro de 2012|publicação=maps.google.com}}</ref> da [[Comuna italiana|comuna]] de [[San Casciano dei Bagni]], província de [[Florença (província)|Florença]]. Foi durante esse [[ostracismo]] e inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: "''[[O Príncipe]]''"<ref group=nota>Maquiavel havia dado o nome ''De Principatus'' (Dos Principados). Cerca de cinco anos após sua morte os editores Blado e Giunta rebatizaram a obra como ''Il Principe'' (O Príncipe)</ref>e os "''Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio''" (1512-1517). Foi também nesse período que conheceu vários escritores no Jardim Rucellai, círculo de literatos, e se aproximou de [[Francesco Guicciardini]] apesar de já conhecê-lo há tempos. Entre os escritos desse período estão o poema ''Asino d'oro'' (1517), a [[Peça de teatro|peça]] ''[[A Mandrágora]]'' (1518), considerada uma obra prima da comédia italiana,<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 51.</ref> e ''Novella di Belfagor'' (romance, 1515), além de vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular (organizada pelos descendentes) como ''Dialogo intorno alla nostra língua'' (1514), ''Andria'' (1517), ''Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze'' (1520), ''Sommario delle cose della citta di Lucca'' (1520), ''Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo'' (1520), ''Clizia'', comédia em prosa (1525), ''Frammenti storici'' (1525) e outros poemas como ''Sonetti'', ''Canzoni'', ''Ottave,'' e ''Canti carnascialeschi''.


Maquiavel nasceu em Florença (Itália) e recebeu edu
Com a morte de Lourenço II em 1520, Júlio de Médici, que depois tornou-se papa com o nome de [[Papa Clemente VII|Clemente VII]], assumiu o poder em Florença. Ele via Maquiavel com melhores olhos que seus antecessores e o contratou como historiador da república para escrever uma [[História de Florença]]<ref name=MAQUIAVEL/>, obra a qual dedicaria os sete últimos anos de sua vida. Nesse mesmo ano, ele estava ocupado escrevendo ''[[A Arte da Guerra (Maquiavel)|A Arte da Guerra]]'' (1519-1520).<ref name=EGS/> E é a partir de uma viagem a trabalho a [[Lucca]] que ele escreveu a "''Vita di Castruccio Castracani da Lucca''" (1520).


cação clássica de seu pai, um advogado ligado às id
Após a queda dos Médici, em 1527, com a [[Saque de Roma (1527)|invasão e saque de Roma]] pelas tropas espanholas de [[Carlos I de Espanha|Carlos I]], a república instalou-se novamente na cidade com o restabelecimento do Grande Conselho anteriormente instituído por Savonarola.<ref name=MAQUIAVEL/> Maquiavel viu mais uma vez suas esperanças de voltar a servir à cidade serem desfeitas, pois havia trabalhado para os Médici e foi tratado com desconfiança pela nova república.


éias
Poucos dias depois, ficou doente, sentindo dores intestinais. Morreu obscuramente em 21 de junho e no dia seguinte foi enterrado no túmulo da família na [[Basílica de Santa Cruz de Jerusalém|Igreja de Santa Croce]] em Florença.<ref name=MAQUIAVEL/>


renascentistas. Cresceu em um período político cont
=== O Príncipe ===
[[Imagem:Duke-Lorenzo.jpg|direita|thumb|180px|[[Lourenço II de Médici]], por Cristofano dell Altissimo, 1550.]]
{{artigo principal|[[O Príncipe]]}}
O "Príncipe" é provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito em 1513,<ref name=EGS/> apesar de publicado postumamente,<ref name=EGS/> em 1532. Teve origem com a união de [[Juliano de Médici]] e do [[Papa Leão X]],<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 66.</ref> com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe finalmente unificar a [[península Itálica|Itália]] e defendê-la contra os estrangeiros, apesar de dedicar a obra a [[Lourenço II de Médici]]<ref name=EGS/><ref group=nota>Não confundir com [[Lourenço de Médici]], o Magnífico. Aqui trata-se de Lourenço, duque de Urbino, neto do primeiro e sobrinho do papa [[Papa Leão X|Leão X]].</ref>, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta empreitada. Outra versão sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos Médici, contudo ambas as versões não são excludentes.


urbado, de instabilidade e crise permanentes, no qu
Está dividido em 26 capítulos.<ref name=MAQUIAVEL/> No início ele apresenta os tipos de [[principado]] existentes e expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos [[Estado]]s italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália.<ref name=MAQUIAVEL/> Em uma carta ao amigo Francesco Vettori, datada de 10 de dezembro de 1513<ref name=MAQUIAVEL/>, Maquiavel comenta sobre o escrito:
{{quotation|
''E como [[Dante Alighieri|Dante]] diz que não se faz ciência sem registrar o que se aprende, eu tenho anotado tudo nas conversas que me parece essencial, e compus um pequeno livro chamado "De Principatus", onde investigo profundamente o quanto posso cogitar desse assunto, debatendo o que é um [[principado]], que tipos de principado existem, como são conquistados, mantidos, e como se perdem''|Carta de Nicolau Maquiavel a Francesco Vettori, de 10 de dezembro de 1513.<ref>Niccolò Machiavelli. [http://www.classicitaliani.it/machiav/mac64_let_05.htm Lettere]. Acessado em 23 de setembro de 2006.</ref>}}


al os
=== Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio ===
Os "[[Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio]]" opõem-se a "[[O Príncipe]]" pelo tema, apesar de ambos compartilharem alguns conceitos. Foram pensados como análise e comentário a toda a obra de [[Tito Lívio]],<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 48.</ref> mas permaneceram incompletos, não passando da primeira década.


governantes não se mantinham no poder. Além disso,
Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da antiguidade, em especial as da [[Roma Antiga|Roma clássica]], com as de Florença no período.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 71-72.</ref> Assim, seguindo a obra de Tito Lívio, analisa como surgem, se mantém e se extinguem os [[Estado]]s. Ficou assim dividido em três partes, estudando na primeira a fundação e a organização, em seguida o enriquecimento e a expansão e por fim sua decadência.


as cidades-estado italianas estavam em constante
=== A Arte da Guerra ===
Entre 1519 e 1520, escreveu ''Dell'arte della guerra'' (A Arte da Guerra), o único de seus trabalhos sobre política publicado em seu tempo de vida.<ref name=EGS/> Em síntese, ele dá conselhos sobre como obter e manter força militar e defende que o preparo militar dos cidadãos é necessário para eles e seu Estado mantenham a liberdade.<ref name=EGS/>


disputa. Maquiavel ocupou diversos cargos públicos
== Interpretações comuns ==
[[Imagem:Machiavelli Principe Cover Page.jpg|thumb|esquerda|180px|[[Folha de rosto]] da edição de 1550 de ''[[O Príncipe]]'' e de ''A vida de Castruccio Castracani da Lucca'', de Nicolau Maquiavel]]
A obra de Maquiavel relaciona-se diretamente com o tempo no qual foi produzida. O método utilizado por ele rompe com a tradição [[Idade Média|medieval]] ao fundamentar-se no [[empirismo]] e na análise dos fatos recorrendo a experiência histórica da [[Roma Antiga]] ganha por ele em seus estudos. Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política diferente da ética religiosa, ou seja, a finalidade da política seria a manutenção do Estado.


sendo que a partir de 1498 desempenhou funções
O primeiro a se pronunciar sobre sua obra foi o cardeal inglês [[Reginald Pole]], se dizendo horrorizado com a influência que ela teria sobre [[Thomas Cromwell|Thomas Cromwell]].<ref name="nove">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 62.</ref> Os [[Companhia de Jesus|jesuítas]] o acusaram de ser contra a Igreja e convenceram o [[Papa Paulo IV]] a colocá-lo no [[Index Librorum Prohibitorum]] em 1559.<ref name="nove" /> Na França, um huguenote chamado Innocent Gentillet escreveu uma obra na qual o acusou de [[ateísmo]] e, seus métodos, de causadores do [[Massacre da noite de São Bartolomeu]]. Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visão apresentada no [[teatro]] do século XVI. Em geral seus críticos se basearam em ''O Príncipe'', analisando a obra isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto no qual foi produzida.


diplomáticas. Em 1512, quando os Médicis voltam ao
Houve também aqueles que quiseram conciliar seu pensamento com a Igreja ou torná-lo um nacionalista; sem muito sucesso, pois manipulavam seu pensamento da mesma forma.<ref name="nove" /> No presente, as análises feitas procuram levar em conta principalmente os ''Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio'' e sua ''A Arte da Guerra'', contextualizando seus escritos e declarando que Maquiavel não inventou uma teoria política, apenas descreveu as práticas que viu refletindo sobre elas.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 64.</ref>


poder, foi demitido e preso sob acusação de
=== Conselheiro de tiranos ===
[[Imagem:Firenze.PalVecchio.Machiavelli.JPG|180px|thumb|Busto de Maquiavel em Florença no [[Palazzo Vecchio]].]]
Essa análise começou a difundir-se com a [[Reforma Protestante|Reforma]] e a [[Contra-Reforma]]. Se até então suas obras eram ignoradas, a partir daí, o autor e suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a expressão "os fins justificam os meios", não encontrada em sua obra.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 97</ref><ref>BIGNOTTO, Newton., ''op. cit''., p. 25</ref>


conspiração. Escreve “O Príncipe” (1513) e o oferec
Essa interpretação está ligada também a visão de seus escritos como base teórica do [[absolutismo]], ao lado de [[Thomas Hobbes]] e [[Jacques-Bénigne Bossuet]], sem, no entanto, contemplar-se os ''Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio'' em que faz elogios à forma [[República|republicana]] de governo.


e aos Médicis.
Em sua obra ''[[O Príncipe]]'', defendeu a centralização do poder político e não propriamente o absolutismo. Suas considerações e recomendações aos governantes sobre a melhor maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno. Ele é, de fato, considerado o "pai da moderna teoria política".<ref name=EGS/>


3. A Obra do Autor
Uma leitura apressada ou enviesada de Maquiavel poderia levar-nos a entendê-lo como um defensor da falta de ética na política, em que "os fins justificam os meios". Para entender sua teoria é necessário colocá-lo no contexto da Itália [[Renascimento|renascentista]], em que se lutava contra os particularismos locais. Durante o século XVI, a [[península Itálica]] estava dividida em diversos pequenos [[Estado]]s, entre [[república]]s, [[monarquia]]s, [[ducado]]s, além dos [[Estados Pontifícios|Estados da Igreja]]. As disputas de poder entre esses territórios era constante, a ponto de os governantes contratarem os serviços do ''[[Condottiero|condottieri]]'' ([[mercenário]]s) com o intuito de obter conquistas territoriais.


“O Príncipe” é visto como um manual sobre a arte de
Foi muito difundida no século XVI e encontram-se aproximadamente 400 peças<ref>BARROS, Vinícios Soares de Campos. ''Introdução a Maquiavel – Uma teoria do Estado ou uma Teoria do Poder?''. São Paulo: Edicamp, 2004. p. 15. ISBN 85-88513-45-5</ref> que citam Maquiavel, todas vinculando seu nome à maldade, a ardilosidade e a falta de escrúpulos. [[William Shakespeare]], por exemplo, o coloca em uma fala de [[Ricardo III de Inglaterra|Ricardo, Duque de Gloucester]] na sua peça sobre [[Henrique VI de Inglaterra|Henrique VI]] (''[[Henry VI, Part 1]]'', ''[[Henry VI, Part 2]]'', ''[[Henry VI, Part 3]]'')<ref>BARROS, Vinícios Soares de Campos., ''op. cit.'', p. 94.</ref><br clear=all>


governar. Tem um vista prisma objetivo (pragmático
=== Conselheiro do povo ===
Uma segunda interpretação diz que ao escrever ''O Príncipe'', Maquiavel tentava alertar o povo sobre os perigos da [[tirania]], tendo entre seus adeptos, [[Bento de Espinosa|Baruch de Espinoza]] e [[Jean-Jacques Rousseau]]. Este último escreveu "(…) é o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, deu-as, e grandes, aos povos."<ref>BARROS, Vinícios Soares de Campos., ''op. cit.'', p. 18</ref> Foi defendida recentemente por estudiosos da obra dele como Garret Mattingly.


) e
Há os que afirmam ser ''O Príncipe'' uma sátira dos costumes dos governantes ou que o autor não acreditaria no que escreveu, baseando esta afirmação na preferência que teria Maquiavel pela República como forma de governo. Contudo o autor também faz críticas a República.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 48-49.</ref><ref name="Utopia"/>


realista. Nesta obra, o Estado é o centro das preoc
=== Nacionalista ===
Maquiavel era um verdadeiro republicano, mas ele acreditava que somente a força de um líder especial poderia criar o um Estado italiano forte como ele imaginava.<ref name=EGS/> Isso, muito tempo depois, na Europa do século XIX, durante as [[Guerras Napoleónicas|Guerras Napoleônicas]], com a [[Alemanha]] e a [[Itália]] fragmentadas e com os [[nacionalismo]]s internos surgindo, gerou uma visão de Maquiavel como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela união e defesa da Itália, como demonstrado no último capítulo de "O Príncipe":


upações. Segundo Maquiavel (1513), o Estado deve se
{{quotation|
''"Não se deve, portanto, deixar passar esta ocasião: a Itália, tanto tempo passado, há de ver enfim, a chegada de seu redentor. E faltam-me palavras para exprimir com que amor seria ele recebido em todas aquelas províncias que padeceram com o alúvio invasor dos estrangeiros; com que sede de vingança, com que inabalável fé, com que devoção, com que lágrimas. Que portas fechar-lhe-iam? Que povos negar-lhe-iam a obediência? Que inveja ser-lhe-ia oposta? Que italiano negar-lhe-ia o respeito?"''<ref name=MAQUIAVEL/>}}


r
A obra de Maquiavel revela a consciência diante do perigo da divisão política da península em vários estados, que estariam expostos à mercê das grandes potências europeias. [[Georg Wilhelm Friedrich Hegel|Hegel]], [[Johann Gottfried von Herder|Herder]], [[Thomas Macaulay|Macaulay]] e [[Burd]] foram alguns de seus defensores,<ref>BARROS, Vinícios Soares de Campos., ''op. cit.'', pp. 19-20.</ref> certamente fundamentando sua interpretação no capítulo final de ''O Príncipe'' em que Maquiavel faz uma apaixonada defesa de uma Itália unificada, afirmando que um povo só pode ser feliz e próspero se estiver unido.


estável, forte e capaz de impor a ordem. A pergunta
== Pensamento ==
Maquiavel não foi um pensador sistemático.<ref name="Pensamento">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', pp. 11-14.</ref><ref name="Pinzani">PINZANI, Alessandro. ''Maquiavel & O Príncipe''. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. pp. 16-19. ISBN 85-7110-801-3</ref> Ele utiliza o [[empirismo]] para escrever através de um [[método indutivo]] e pensa em seus escritos como conselhos práticos, sendo além disso antiutópico e realista.<ref name="Pensamento" /> A teoria não se separa da prática em Maquiavel.<ref name="Pinzani" /> Os conceitos desenvolvidos por ele rompem com a tradição medieval [[teologia|teológica]] e também com a prática, comum durante o Renascimento, de propor Estados [[Utopia (sociologia)|imaginários]] perfeitos, os quais os príncipes deveriam ter sempre em mente. A partir da observação da política de seu tempo e da comparação desta com a da Antiguidade vai formular o seu pensamento por acreditar na imutabilidade da natureza humana.


principal é: Como preservá-lo? Como os governantes
=== ''Virtù e fortuna'' ===
Os conceitos de ''virtù'' e ''fortuna'' são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a ''virtù'' seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. A ''virtù'' seria como uma [[barragem]] que deteria os desígnios do destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda.<ref>BIGNOTTO, Newton., ''op. cit.'', pp. 23-26</ref>


deveriam agir para mantê-lo? Seu ponto de partida é
A ideia de ''fortuna'' em Maquiavel vem da [[Fortuna (mitologia)|deusa romana]] da [[sorte]] e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá.<ref>BIGNOTTO, Newton., ''op. cit.'', pp. 26-28</ref>


a realidade concreta que ele observa, dando ênfase
=== História ===
[[Imagem:Machiavelli tomb.JPG|thumb|180px|O túmulo de Maquiavel na [[Basílica da Santa Cruz]].]]
Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador.<ref name="História">RIDOLFI, Roberto., ''op. cit.'', p. 226</ref> Assim ele não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, ainda que tenha ido aos [[arquivo]]s de Florença - prática incomum na época - e deixa transparecer nas suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos factos históricos.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 53.</ref> Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros.<ref>BIGNOTTO, Newton., ''op. cit.'', pp. 18-19</ref><ref name="opiniões">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 73.</ref>


na
Assim, enquanto alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da [[historiografia|escrita]] moderna da história,<ref name="História" /> outros admitem que ele não possuía uma visão crítica o suficiente para poder separar os fatos históricos dos [[mito]]s e aceitou como verdade, por exemplo, a [[fundação de Roma|fundação mitológica de Roma]],<ref name="opiniões" /> Outros, ainda, atribuem-lhe uma "concepção dogmática e ingénua da história".<ref name="opiniões" />


“verdade efetiva das coisas”. Sua lógica é examinar
=== Ética ===
A [[ética]] em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da [[Idade Média]]. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da [[alma]]. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', pp. 93-101.</ref>


a realidade como ela é e não como gostaria que se
Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de [[violência]], seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.<ref>ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 107.</ref>


fosse.
=== Natureza humana ===
Para ele, a [[natureza humana]] seria essencialmente má e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso.<ref name="Natureza">BIGNOTTO, Newton., op. cit., p. 19-20</ref> A natureza humana também não se alteraria ao longo da história<ref name="Natureza" /> fazendo com que seus contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a história dessa e de outras civilizações servissem de exemplo. Falta-lhe um senso das mudanças históricas.<ref name="Utopia">ESCOREL, Lauro., ''op. cit.'', p. 74.</ref>


A política deve ser baseada no “mundo real”, na exp
{{Quadrocitação|


eriência e no cotidiano.
''"Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes" (…)<ref name="OESP">jornal [[O Estado de São Paulo]], edição de 8 de março de 2009 (Caderno 1), pag 2, Gaudêncio Torquato</ref>|Nicolau Maquiavel}}


Maquiavel (1513) nega qualquer influência divina na
Como consequência acha inútil imaginar Estados [[Utopia|utópicos]], visto que nunca antes postos em prática e prefere pensar no real.<ref name="Utopia" /> Sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de forma má, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadãos. Ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles.<ref name="Natureza" />


política, pois o poder político tem origem mundana
{{Notas}}


. Por
{{referências|col=2}}


esta visão, Maquiavel é considerado o fundador do p
== Bibliografia ==
{{Correlatos
|commons = Niccolò Machiavelli
|wikisource = Autor: Nicolau Maquiavel
|wikiquote = Nicolau Maquiavel
|wikilivros =
|wikinoticias =
|wikcionario =
|wikispecies =
}}
* {{Citar livro|autor=ABRAHÃO, Miguel M.|título=O Strip do Diabo|subtítulo= |idioma=|edição= |local=São Paulo|editora=Agbook|ano=2009 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=BATH, Sérgio |título=Maquiavelismo|subtítulo=a prática política segundo Nicolau Maquiavel |idioma=|edição= |local=São Paulo |editora=Editora Ática |ano=1992 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=CORTINA, Arnaldo|título=O príncipe de Maquiavel e seus leitores|subtítulo=uma investigação sobre o processo de leitura|idioma=|edição= |local=São Paulo|editora=Unesp|ano=2000|páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=DE GRAZIA, Sebastian|título=Maquiavel no inferno|subtítulo=|idioma=|edição= |local=São Paulo|editora=Companhia das Letras|ano=1993|páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=LARIVAILLE, Paul|título=A Itália no tempo de Maquiavel: |subtítulo=Roma e Florença.|idioma=|edição= |local=São Paulo|editora= Companhia das Letras |ano=1979 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN 85-85095-99-7}}
* {{Citar livro|autor= LEDEEN, Michael A.
|título=Maquiavel e a liderança moderna|subtítulo= |idioma=|edição= |local= |editora=Cultrix|ano=|páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN 853160737X, 9788531607370}}
* {{Citar livro|autor=NEDEL, José.|título=Maquiavel |subtítulo=concepção antropológica e ética|idioma=|edição= |local=Porto Alegre |editora=EDIPUCRS|ano= |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=NIVALDO, José |título=Maquiavel, o Poder |subtítulo= |idioma=|edição= |local=São Paulo |editora=Martin Claret |ano=2004 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=RIDOLFI, Roberto|título= Biografia de Nicolau Maquiavel|subtítulo= |idioma=|edição= |local= |editora=Musa|ano=2003 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=TENENTI, Alberto|título=. Florença na época dos Médici|subtítulo=Da cidade ao Estado.|idioma=|edição= |local=São Paulo |editora=Perspectiva|ano=1973 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}
* {{Citar livro|autor=VIROLI, Maurizio |título=O sorriso de Nicolau |subtítulo= |idioma=|edição= |local=São Paulo |editora=Estação Liberdade |ano=2002 |páginas=|volumes=|volume=|id=ISBN}}


ensamento político moderno ao separar a política da
== Ligações externas ==

<!-- dead link Audiobook de uma de suas obras [http://www.livrofalado.org/litera/belfagor.mp3 Belfagor] -->
religião. A política é governada por leis objetivas
* {{Link||2=http://www.intratext.com/Catalogo/Autori/Aut242.HTM |3=Obras de Nicolau Maquiavel}} (em italiano, inglês ou francês)

* {{Link|en|2=http://www.machiavellitheprince.com|3=''O Príncipe'', na íntegra, com as notas e comentários}}
, racionais e os governantes precisam adotar padrõe
* {{Link|it|2=http://digilander.libero.it/opere_di_machiavelli/index.html|3= Niccolò Machiavelli - Opera Omnia}} Todas as obras de Maquiavel.

{{Portal3|Biografias|Literatura|Itália|Política}}
s morais

diferentes dos indivíduos para a preservação do Est

ado. Maquiavel considera lícito tudo o que favorece

o

governo e todos os meios de luta para defender, pro

teger e salvar o Estado. Sendo o objetivo do Estado

sua

segurança e engrandecimento, o governante pode e de

ve infringir preceitos morais. Desta forma, a polít

ica

tem uma moral própria. No terreno do poder os indiv

íduos fazem juízos sobre a aparência, ou seja, o

governante só é bom se ele parece bom para seus súd

itos.

Maquiavel (1513) faz distinção entre

Virtude

, que é a capacidade de agir no plano político de a

cordo com as

circunstâncias, com o fim último de manter o poder,

e a

Fortuna

, que é aquilo que não pode ser modificado,

uma força inabalável fechada a qualquer influência.

A virtude não se baseia na virtude cristã, enquant

o na

questão da fortuna, o destino depende da vontade di

vina. Maquiavel contesta a crença na predestinação.

Para ele, a atividade política era uma prática do h

omem, livre de freios extraterrenos. O homem é um s

ujeito

da história, por isso, a importância do livre arbít

rio e da capacidade da virtude fazer frente à fortu

na.

Maquiavel (1513) reinterpreta a política como o res

ultado das ações concretas dos homens em sociedade

e

não como algo dado, de uma ordem natural e eterna.

Um dos temas centrais do livro é: “é preferível que

um líder seja amado ou temido?” Maquiavel (1513)

responde que é importante ser amado e temido; porém

, é melhor ser temido que amado. Ele explica que o

amor é um sentimento volúvel e inconstante, já que

as pessoas são naturalmente egoístas e podem

freqüentemente mudar sua lealdade. Porém, o medo de

ser punido é um sentimento que não pode ser

modificado ou ignorado tão facilmente. Neste sentid

o, Maquiavel (1513) destaca a presença de traços

humanos imutáveis. O ser humano é dotado de uma sér

ie de atributos negativos. Para ele, os homens são

“ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os

perigos, ávidos de lucro”<!-- dead link Audiobook de uma de suas obras [http://www.livrofalado.org/litera/belfagor.mp3 Belfagor] -->


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Revisão das 19h05min de 7 de maio de 2014

Nicolau Maquiavel
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli
Nicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel
Nascimento 3 de maio de 1469
Florença, Itália
Morte 21 de junho de 1527 (58 anos)
Nacionalidade Italiana
Magnum opus O Príncipe
Escola/tradição Republicanismo clássico, filosofia do Renascimento e realismo político
Principais interesses Política, história, literatura, música
Assinatura

NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)

1. Contexto Histórico

Maquiavel viveu no período do Fim da Idade Média e

início da era moderna (século XVI). Neste período a

Europa como palco de grandes transformações cultura

is, políticas, econômicas e religiosas. No que conc

erne

à política, este foi o período da centralização do

poder político (criação das monarquias nacionais

absolutistas) e da formação dos primeiros Estados M

odernos (Portugal, Espanha, Inglaterra e França). E

m

relação à economia, este é o período da crise do fe

udalismo e da crescente afirmação da burguesia e do

modo de produção do capitalismo. É ainda, o momento

da expansão marítimo-comercial européia

(“descoberta” da América). No âmbito cultural, a Eu

ropa está passando pelo período do Renascimento

(Movimento de mudanças culturais caracterizado pela

retomada da cultura clássica e de reação à “Idade

das

Trevas”, Idade Média). Para os renascentistas, o ho

mem é o centro do universo (antropocentrismo). Flor

ença

é o grande palco do movimento renascentista. A Refo

rma protestante (Movimento que quebra a unidade

cristã) ganha força com as idéias introduzidas por

Lutero e Calvino. Este movimento gera novas

interpretações da bíblia, critica o clero católico

e propõe uma nova ética religiosa adequada à dinâmi

ca

capitalista.

2. A Vida do Autor

Maquiavel nasceu em Florença (Itália) e recebeu edu

cação clássica de seu pai, um advogado ligado às id

éias

renascentistas. Cresceu em um período político cont

urbado, de instabilidade e crise permanentes, no qu

al os

governantes não se mantinham no poder. Além disso,

as cidades-estado italianas estavam em constante

disputa. Maquiavel ocupou diversos cargos públicos

sendo que a partir de 1498 desempenhou funções

diplomáticas. Em 1512, quando os Médicis voltam ao

poder, foi demitido e preso sob acusação de

conspiração. Escreve “O Príncipe” (1513) e o oferec

e aos Médicis.

3. A Obra do Autor

“O Príncipe” é visto como um manual sobre a arte de

governar. Tem um vista prisma objetivo (pragmático

) e

realista. Nesta obra, o Estado é o centro das preoc

upações. Segundo Maquiavel (1513), o Estado deve se

r

estável, forte e capaz de impor a ordem. A pergunta

principal é: Como preservá-lo? Como os governantes

deveriam agir para mantê-lo? Seu ponto de partida é

a realidade concreta que ele observa, dando ênfase

na

“verdade efetiva das coisas”. Sua lógica é examinar

a realidade como ela é e não como gostaria que se

fosse.

A política deve ser baseada no “mundo real”, na exp

eriência e no cotidiano.

Maquiavel (1513) nega qualquer influência divina na

política, pois o poder político tem origem mundana

. Por

esta visão, Maquiavel é considerado o fundador do p

ensamento político moderno ao separar a política da

religião. A política é governada por leis objetivas

, racionais e os governantes precisam adotar padrõe

s morais

diferentes dos indivíduos para a preservação do Est

ado. Maquiavel considera lícito tudo o que favorece

o

governo e todos os meios de luta para defender, pro

teger e salvar o Estado. Sendo o objetivo do Estado

sua

segurança e engrandecimento, o governante pode e de

ve infringir preceitos morais. Desta forma, a polít

ica

tem uma moral própria. No terreno do poder os indiv

íduos fazem juízos sobre a aparência, ou seja, o

governante só é bom se ele parece bom para seus súd

itos.

Maquiavel (1513) faz distinção entre

Virtude

, que é a capacidade de agir no plano político de a

cordo com as

circunstâncias, com o fim último de manter o poder,

e a

Fortuna

, que é aquilo que não pode ser modificado,

uma força inabalável fechada a qualquer influência.

A virtude não se baseia na virtude cristã, enquant

o na

questão da fortuna, o destino depende da vontade di

vina. Maquiavel contesta a crença na predestinação.

Para ele, a atividade política era uma prática do h

omem, livre de freios extraterrenos. O homem é um s

ujeito

da história, por isso, a importância do livre arbít

rio e da capacidade da virtude fazer frente à fortu

na.

Maquiavel (1513) reinterpreta a política como o res

ultado das ações concretas dos homens em sociedade

e

não como algo dado, de uma ordem natural e eterna.

Um dos temas centrais do livro é: “é preferível que

um líder seja amado ou temido?” Maquiavel (1513)

responde que é importante ser amado e temido; porém

, é melhor ser temido que amado. Ele explica que o

amor é um sentimento volúvel e inconstante, já que

as pessoas são naturalmente egoístas e podem

freqüentemente mudar sua lealdade. Porém, o medo de

ser punido é um sentimento que não pode ser

modificado ou ignorado tão facilmente. Neste sentid

o, Maquiavel (1513) destaca a presença de traços

humanos imutáveis. O ser humano é dotado de uma sér

ie de atributos negativos. Para ele, os homens são

“ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os

perigos, ávidos de lucro”