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Nossa Senhora da Graça (Vale da Pinta): diferenças entre revisões

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Uma petição datada de 28 de Agosto de [[1813]], dirigida pela população local a D. [[António de São José de Castro]], ''”Bispo do Porto, Patriarcha Eleito de Lisboa, Vigário Capitular do Patriarchado, e hum dos Governadores do Reino de Portugal, etc, etc, etc.”'', suplicando a permanência do referido pároco, em vias de ser transferido, atestando o seu carisma e estima adquirido na desenvoltura que tivera no impacto que fora a passagem dos franceses pela aldeia, dá-nos conta de reformas e compensações efetuadas na igreja local nos ''"ornamentos e alfaias, que nunca teve nos tempos da sua riqueza, e que agora lhes conhecemos"'' (DIAS).
Uma petição datada de 28 de Agosto de [[1813]], dirigida pela população local a D. [[António de São José de Castro]], ''”Bispo do Porto, Patriarcha Eleito de Lisboa, Vigário Capitular do Patriarchado, e hum dos Governadores do Reino de Portugal, etc, etc, etc.”'', suplicando a permanência do referido pároco, em vias de ser transferido, atestando o seu carisma e estima adquirido na desenvoltura que tivera no impacto que fora a passagem dos franceses pela aldeia, dá-nos conta de reformas e compensações efetuadas na igreja local nos ''"ornamentos e alfaias, que nunca teve nos tempos da sua riqueza, e que agora lhes conhecemos"'' (DIAS).


Desconhecendo-se a real verdade dos valores e bens existentes num tempo anterior à passagem dos franceses por este lugar - ao que parece, acontecimento feroz e devastador (''"no meio de lagrimas e clamores do povo, me auzentei para Lisboa, na companhia de 52 pessoas, que quizeram e poderam fugir commigo, da barbara invasão dos francezes, que entraram n'esta parochia, na 3ª feira, 9, do mesmo mez e d'esta sorte cessaram os officios todos da religião, n'esta egreja, que, sem altar nem sacerdote, esteve seis mezes"'' (LEAL); ''"/.../: o infatigável zelo no aceio, arranjo, e decencia da nossa igreja, dos ornamentos e utensilios della:/.../"'' (DIAS); ''"o amor, e alegria, com que appareceo neste lugar entre perigos de fome, e de vida, logo que os inimigos franceses o deixarão depois da sua cruel invasão"'' (Idem) ''"o fervor e promptidão com que cuidou o Culto público da nossa Santa Religião, apagado pela invasão dos inimigos /.../"'' (Ibidem)) de proporções maiores do que aquele que tinha sido o terremoto de 1755 (''"No terremoto de 1755 não padeceu cousa memorável"'' (DGP)) - a nível local o retrato dos factos, reformas, renovações e costumes relatados na petição podem entender-se como estando na origem de uma renovação do culto/devoção e no início das festas e tradições relacionadas com N. Sr. da Graça tal como a conhecemos atualmente (HEITOR).
Desconhecendo-se a real verdade dos valores e bens existentes num tempo anterior à passagem dos franceses por este lugar - ao que parece, acontecimento feroz e devastador (''"no meio de lagrimas e clamores do povo, me auzentei para Lisboa, na companhia de 52 pessoas, que quizeram e poderam fugir commigo, da barbara invasão dos francezes, que entraram n'esta parochia, na 3ª feira, 9, do mesmo mez e d'esta sorte cessaram os officios todos da religião, n'esta egreja, que, sem altar nem sacerdote, esteve seis mezes"'' (LEAL); ''"/.../: o infatigável zelo no aceio, arranjo, e decencia da nossa igreja, dos ornamentos e utensilios della:/.../"'' (DIAS); ''"o amor, e alegria, com que appareceo neste lugar entre perigos de fome, e de vida, logo que os inimigos franceses o deixarão depois da sua cruel invasão"'' (Idem) ''"o fervor e promptidão com que cuidou o Culto público da nossa Santa Religião, apagado pela invasão dos inimigos /.../"'' (Ibidem)) de proporções maiores do que aquele que tinha sido o terremoto de 1755 (''"No terremoto de 1755 não padeceu cousa memorável"'' (DGP)) - a nível local o retrato dos factos, reformas, renovações e costumes relatados na petição podem entender-se como estando na origem de uma renovação do culto/devoção e no início das festas e tradições relacionadas com N. Sr. da Graça tal como a conhecemos atualmente (HEITOR: M2).


==Festas==
==Festas==

Revisão das 00h02min de 24 de agosto de 2012

Invocação da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, no lugar de Vale da Pinta, no Cartaxo, a qual tem honra de padroeira local titular e afetiva.

Imagem

A imagem a ela relacionada, venerada e guardada na igreja local, é dos finais do séc. XVIII ou princípio do séc. XIX. Nela encontra-se representada Maria aleitando Jesus (Virgem do Leite).

O conjunto é composto de duas imagens distintas agrupadas. A imagem da virgem é de roca ou de vestes. Tem de grande interesse o realce das mãos, peça de perfeita representação, que amparam e protegem a imagem do menino. O seu rosto aparece ligeiramente inclinado e o seu olhar abaixado em atitude maternal e vigilante. Embora coberto, pelas vestes, destacam-se o seu seio e mamilo que aleitam. Por uma das zeladoras da imagem (ECMP), que ouvira contar pelas suas ascendentes, sabemos que a imagem tivera pés e que os mesmos se perderam. A sua iconografia, atualmente, por lapso ou descuido, encontra-se incompleta na ausência das flores que empunhando, completavam o conjunto (segundo as mais antigas representações fotográficas). Às flores, e também às rosas que pintadas decoram parte do seu altar, complementam a iconografia alguns pormenores de simbologia mística: uma coroa em latão encimada pela cruz da Ordem de Cristo (ordem à qual pertenceu por conversão os bens desta igreja desde 1319, conforme indica o "Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos Reinos de Portugal e dos Algarves pelos anos de 1320-1321, com a dotação de cada uma delas" (HEITOR), até à extinção da ordem, e, onde na arquitetura interior se ostentam a cruz e a rosa no fecho das abóbadas) e uma de prata encimada pelo Espírito Santo sob a forma de uma Pomba giratória.

A imagem do Menino Jesus, que se representa como um bebé recém-nascido ou em fase de aleitamento, é de tamanho natural e peça completa de perfeita representação.

Em resumo, o realismo do conjunto dão à Virgem e ao Menino uma característica sentimental pouco comum no contexto das imagens portuguesas da época, onde, a ausência de expressão emocional tão vincada remetem as imagens para um plano figurativo de expressões frias e distantes, embora solenes, que contemplam o infinito.

Altar e Alfaias

De acordo com o Dicionário Geographico de Portugal, em nota manuscrita pelo P. Nicolau da Silva ... (pároco do Cartaxo), dá-nos conta que o seu altar, e, consequentemente, a sua devoção já existiam em 1758 (DGP).

O altar atual, já sem mesa característica, em tons de azul, branco e dourado, com uma faixa de rosas encarnadas é de gosto classicizante e remete o gosto de uma época posterior. O nicho que acolhe a imagem é fechado por uma porta de vidro, ladeado por duas colunas com capitéis de gosto coríntio e encimado por um triângulo radiante espargindo raios, representação da Santíssima Trindade, sobreposto pela palavra Avé-Maria (hoje perdida). A mesma nota biográfica revela-nos ainda que nesta data existia também um altar dedicado ao Menino Deus (DGP) (atualmente o que alberga a imagem do Sagrado Coração de Jesus), do qual subsiste o arco triunfal decorado de flores e rosas (imitando a da abóbada central). Sem mais referências ou imagem conhecida de tal devoção, este altar apareceu relacionado com a tradição natalícia da retirada da imagem do Menino Jesus do conjunto e que nele era colocado num berço ricamente adornado aí disposto para adoração dos fiéis (esta tradição manteve-se até aos anos 90 do séc. XX interrompida pelo desmantelamento da mesa do referido altar).

Uma tradição oral afirma que a conhecida imagem fora vandalizada pelos franceses aquando da entrada das tropas invasoras a 9 de Outubro de 1810, então, em trânsito entre Coimbra e as Linhas de Torres, no contexto das Guerras Peninsulares. Do então pároco local, o P. Feliciano José Alves Ferreira, é conhecida uma descrição dos momentos relatada no “Livro dos Assentos dos Batismos da Paróquia” (LEAL).

Uma petição datada de 28 de Agosto de 1813, dirigida pela população local a D. António de São José de Castro, ”Bispo do Porto, Patriarcha Eleito de Lisboa, Vigário Capitular do Patriarchado, e hum dos Governadores do Reino de Portugal, etc, etc, etc.”, suplicando a permanência do referido pároco, em vias de ser transferido, atestando o seu carisma e estima adquirido na desenvoltura que tivera no impacto que fora a passagem dos franceses pela aldeia, dá-nos conta de reformas e compensações efetuadas na igreja local nos "ornamentos e alfaias, que nunca teve nos tempos da sua riqueza, e que agora lhes conhecemos" (DIAS).

Desconhecendo-se a real verdade dos valores e bens existentes num tempo anterior à passagem dos franceses por este lugar - ao que parece, acontecimento feroz e devastador ("no meio de lagrimas e clamores do povo, me auzentei para Lisboa, na companhia de 52 pessoas, que quizeram e poderam fugir commigo, da barbara invasão dos francezes, que entraram n'esta parochia, na 3ª feira, 9, do mesmo mez e d'esta sorte cessaram os officios todos da religião, n'esta egreja, que, sem altar nem sacerdote, esteve seis mezes" (LEAL); "/.../: o infatigável zelo no aceio, arranjo, e decencia da nossa igreja, dos ornamentos e utensilios della:/.../" (DIAS); "o amor, e alegria, com que appareceo neste lugar entre perigos de fome, e de vida, logo que os inimigos franceses o deixarão depois da sua cruel invasão" (Idem) "o fervor e promptidão com que cuidou o Culto público da nossa Santa Religião, apagado pela invasão dos inimigos /.../" (Ibidem)) de proporções maiores do que aquele que tinha sido o terremoto de 1755 ("No terremoto de 1755 não padeceu cousa memorável" (DGP)) - a nível local o retrato dos factos, reformas, renovações e costumes relatados na petição podem entender-se como estando na origem de uma renovação do culto/devoção e no início das festas e tradições relacionadas com N. Sr. da Graça tal como a conhecemos atualmente (HEITOR: M2).

Festas

Assinalada com missa solene e procissão, a sua festa decorre anualmente no último domingo de Agosto, em data fixa, por tradição, ao domingo que por analogia a estes factos e documentos se seguiria ao dia de São Bartolomeu (orago e padroeiro da paróquia de Vale da Pinta) assinalado em festa litúrgica celebrada a 24 de Agosto.

A procissão, sempre na tarde de domingo, principia tradicionalmente às 17h. Acompanhando a imagem de N. Sr. da Graça, trajando um dos seus 4 fatos processionais e ornada de ouro (testemunho da sua ancestral devoção) é precedida respetivamente pelas imagens de S. Bartolomeu, Salvador do Mundo, Santo António, São José, São Sebastião, Nossa Senhora de Fátima e o Sagrado Coração de Jesus. Junto ao seu andor, e atrás deste, seguem promessas e louvores; o Sacerdote ombreado por um Pálio; o Coro Paroquial; uma Banda de Música e o Povo de devotos locais e forasteiros. Procedido de cruz e lanternas (sem lanternim) em talha, que abrem este cortejo, complementam esta procissão um grande pendão azul ostentando as iniciais de N. Sr. G. gravadas com imitações de pedras preciosas, diversos estandartes de algumas das invocações precedendo os respetivos andores e quatro lanternas que acompanham o andor de N. Sr. da Graça.

Nesta descrição a procissão privilegia as principais ruas de Vale da Pinta. No percurso ouvem-se “Marchas Graves”, reza-se o terço e entoam-se cânticos marianos de devoção popular.

A secular festa religosa é complementada por 4 a 5 dias de festa mundana/ popular. Destaca-se o serviço de Esplanada (restauração) de gastronomia segundo mãos e gosto local. Conforme o gosto de cada época, ao longo dos tempos têm actuado bandas de música, grupos de folclore, conjuntos musicais e artistas/ bandas distintos do âmbito musical nacional (Cândida Branca Flor, Ágata, Vasco Rafael, Romana, José Cid, Toy, Trio Odmira, Tony Carreira, Dino Meira, Quim Barreiros, 6 Latinos,Ferro & Fogo, entre outros).

Música

Existe no arquivo musical da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta uma Missa e um Tantum Ergo para 2 vozes masculinas e instrumentos de sopro, pastiche musical de vários autores do séc. XVIII e XIX (dos quais se identificam Marcos Portugal e A. J. de Castro), assim como de um arranjo para banda da Ave Maria de Bach/Gounod com cópia datada de 1912. As suas execuções na missa da festa, assegurada por músicos filarmónicos locais, teve lugar até aos anos 50 do séc. XX (recuperada recentemente foi executada em concerto da S.C.R. de Vale da Pinta; na Igreja dos Mártires, em Lisboa; e na missa da festa de 2009).

No final dos anos 70 do séc. XX, foi composta uma Marcha Grave intitulada Nossa Senhora da Graça. Dedicada a esta invocação é da autoria do maestro Francisco Fragueiro e foi executada nos anos em que o mesmo foi regente musical da banda local.

Nos últimos decénios é comum cantar-se no final da procissão junto à igreja, com o aproveitamento do arranjo para banda do Miraculosa Rainha dos Céus, vulgo Hino da Paz, de Fausto Neves, entoado como despedida e pedido de proteção à Virgem.

Em 26 de Agosto de 2012 executou-se pela primeira vez um Hino dedicado a esta invocação, da autoria de um músico local, Samuel Vieira, intitulado Salve Maria, Senhora da Graça.

Bibliografia

BACH, Johann Sebastian & Charles GOUNOD, Ave Maria (Partitura), Arquivo Musical da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta (P2)

CASTRO, A. J. de & Marcos PORTUGAL & Outros, Missa e Tantum Ergo, Arquivo Musical da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta (P1)

DIAS, António, “O Cartaxo e as suas gentes”, O Povo do Cartaxo, Cartaxo, 5/1/1985

Dicionário Geográfico de Portugal, Manuscrito, Torre do Tombo, tomo IX, fl. 1023, nº 160

FRAGUEIRO, Francisco, N. Sr. da Graça (Partitura), Arquivo Musical da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta

HEITOR, Rogério de Melo, Vale da Pinta – Subsídios para a sua Monografia (Manuscrito)(M1)

As festas de Vale da Pinta em Honra da sua Excelsa Padroeira Nossa Senhora da Graça e as suas origens'' (Manuscrito)(M2)

LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno