O Último Judeu em Vinítsia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O último judeu em Vinítsia

O Último Judeu em Vinítsia é uma fotografia registrada durante o Holocausto na Ucrânia, que mostra um judeu desconhecido perto da cidade de Vinítsia (Vinnytsia) prestes a ser morto a tiros por um membro do Einsatzgruppe D, um esquadrão da morte móvel da Schutzstaffel (SS) nazista.

A vítima está ajoelhada ao lado de uma vala comum, que já contém diversos corpos; atrás, homens da SS e do Serviço de Trabalho do Reich observam a cena.[1]

História[editar | editar código-fonte]

A fotografia data de algum momento entre meados de 1941, quando os alemães ocuparam o oblast (região) de Vinítsia, e 1943.[1] Durante este período, houve numerosos massacres de judeus no oblast,[2] inclusive dentro da cidade de Vinítsia, em 16 e 22 de setembro de 1941 e abril de 1942, após os quais os poupados foram enviados para campos de trabalho forçado em Yerusalimka, o bairro judeu de Vinítsa.[1][3][4] Os uniformes de verão dos alemães significam que é improvável que a fotografia tenha sido registrada no inverno.[5]

A fotografia foi divulgada em 1961, pela United Press (UPI), durante o julgamento de Adolf Eichmann.[6] A UPI a recebeu de Al Moss, um judeu polonês que a adquiriu em maio de 1945, logo após ser libertado do campo de concentração de Allach pelo 3º Exército americano.[6][7] Moss, que morava em Chicago em 1961, queria que as pessoas "saibessem o que aconteceu na época de Eichmann".[6] A cópia da UPI foi publicada em uma página inteira do The Forward.[8]

Fontes posteriores fornecem detalhes às vezes contraditórios da imagem. Alguns dizem que a fotografia original estava no álbum de fotos de um membro do Einsatzgruppe,[6] ou retirada do bolso de um soldado morto;[9] e que estava escrito no verso "Último judeu em Vinítsa",[6][10] nome dado para a imagem.[6][10][9][11] Várias pessoas entraram em contato com o jornal Die Welt, pretendendo identificar o atirador como um parente.[5]

Significado[editar | editar código-fonte]

A fotografia tornou-se icônica. Algumas características a destacam dentre as fotos conhecidas do Holocausto: (1) foi tirada durante o Holocausto, e não depois de seu fim, e (2) presumivelmente por alguém cúmplice do assassinato; (3) retrata o esquadrão da morte Einsatzgruppen, em vez de campos de concentração ou extermínio; (4) o foco está em uma vítima solitária e não em uma multidão.[10][12][13][14][15][16]

A fotografia foi reproduzida, com diferentes cortes,[17] em muitos livros e exposições de museus sobre o Holocausto.[13][14][15][18] Os livros incluem os de Guido Knopp[9] e Michael Berenbaum.[19] As exposições incluem algumas em Berlim, como "Questões sobre a História Alemã" no Palácio do Reichstag de 1971 a 1994,[10] e depois na Topografia do Terror[12] e no Memorial aos Judeus Assassinados da Europa;[20] o Instituto de Memória Nacional na Polônia;[20] o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos;[1] e Yad Vashem também expuseram a foto.[21]

A imagem foi usada na capa do álbum de 1984 da banda Agnostic Front, Victim in Pain, podendo ser interpretado como parte do chique nazista então corrente na cena hardcore de Nova York.[11]

Roger Miret disse, posteriormente, que seu pensamento era de que "isso precisa ser divulgado para evitar que a história se repita".[22]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d «Photograph Number 64407: German soldiers of the Waffen-SS and the Reich Labor Service look on as a member of an Einsatzgruppe prepares to shoot a Ukrainian Jew kneeling on the edge of a mass grave filled with corpses.». Collections Search. United States Holocaust Memorial Museum. Consultado em 4 de maio de 2018. Arquivado do original em 22 de novembro de 2019 
  2. «Vinnitsa». Online Guide of Murder Sites of Jews in the Former USSR. Yad Vashem. Consultado em 4 de maio de 2018 
  3. «Vinnitsa, Vinnitsa County, Vinnitsa District, Ukraine». The Untold Stories. Yad Vashem. Consultado em 4 de maio de 2018 
  4. Vinokurova, Faina A. (2002). The Holocaust in Vinnitsa Oblast (PDF). [S.l.]: Routes to Roots Foundation. pp. 332–335. Consultado em 4 de maio de 2018 
  5. a b Kellerhoff, Sven Felix (18 de julho de 2021). «Fotos des Holocaust: So starben Chiwa Wasseljuk und ihr Sohn Boris». Die Welt (em alemão). Consultado em 6 de outubro de 2021 
  6. a b c d e f «2012.1.397 : "The Last Jew in Vinnitsa"». Kenyon College. Bulmash Family Holocaust Collection. 2016. Consultado em 4 de maio de 2018 
  7. «USC Shoah Foundation Institute testimony of Al Moss». United States Holocaust Memorial Museum. Consultado em 4 de maio de 2018 
  8. Ouzan, Francoise S.; Mikhman, Dan (2008). «La mémoire de la Shoah dans le vécu des Juifs aux Etats-Unis jusqu'au procès Eichmann». De la mémoire de la Shoah dans le monde juif (em francês). [S.l.]: CNRS éditions. ISBN 9782271067630 
  9. a b c Knopp, Guido (10 de setembro de 2014). «»Der letzte Jude von Winniza«». Der zweite Weltkrieg: Bilder, die wir nie vergessen (em alemão). [S.l.]: Edel. pp. 146–151. ISBN 9783841903358 
  10. a b c d Patterson, Glenn (25 de outubro de 2014). «A photograph seen once, long ago, haunted me – and taught me to distrust memory». TheGuardian.com. Consultado em 5 de maio de 2018 
  11. a b Sanneh, Kalefa. «United Blood: How hardcore conquered New York.». The New Yorker. pp. 82–89: 86 
  12. a b Gee, Denise (16 de março de 2017). «'Photography describes everything and explains nothing'». SMU Adventures. Southern Methodist University. Consultado em 5 de maio de 2018 
  13. a b Rakitova, Maya (1 de novembro de 2016). Behind the Red Curtain. [S.l.]: Azrieli Foundation. pp. 11–12. ISBN 9781988065229. Consultado em 5 de maio de 2018 
  14. a b Staines, Deborah R. (2010). «Auschwitz and the camera». Mortality. 7 (1): 13–32. ISSN 1357-6275. doi:10.1080/13576270120102544 
  15. a b Wollaston, Isabel (2010). «The absent, the partial and the iconic in archival photographs of the Holocaust». Jewish Culture and History. 12 (3): 439–462. ISSN 1462-169X. doi:10.1080/1462169X.2012.721494 
  16. Boehlke, Erik (10 de outubro de 2016). «Geheime Botschaften in Bildern; 5 Entdeckungen bei genauem Hinsehen». In: Sollberger, Erik; Böning, Gerhard; Boehlke; Schindler, Jobst. Das Geheimnis: Psychologische, psychopathologische und künstlerische Ausdrucksformen im Spektrum zwischen Verheimlichen und Geheimnisvollem (em alemão). [S.l.]: Frank & Timme. pp. 238–239. ISBN 9783732903016 
  17. «Nazis executing a Jew at the edge of a mass grave, Vinnitsa, Ukraine.». Images of the Holocaust: Photos from the YIVO Archives. YIVO Institute for Jewish Research. Consultado em 5 de maio de 2018. Cópia arquivada em 16 de março de 2013 
  18. Taylor, Alan (16 de outubro de 2011). «World War II Part 18: The Holocaust». The Atlantic. Consultado em 5 de maio de 2018 
  19. Berenbaum, Michael (1993). The World Must Know: The History of the Holocaust as Told in the United States Holocaust Memorial Museum. [S.l.]: Little, Brown. ISBN 9780316091343 
  20. a b «Memorials to the Murdered Jews of Vinnytsya». Information Portal to European Sites of Remembrance (em inglês e alemão). Berlin: Memorial to the Murdered Jews of Europe. Tab "Victims". Consultado em 5 de maio de 2018 
  21. «July 1941, a Member of the Waffen-SS Shoots a Jew at a Mass Grave in Vinnitsa, Ukraine». Yad Vashem Photo Archives. Yad Vashem. 2626/4. Consultado em 5 de maio de 2018 
  22. Miret, Roger (4 de setembro de 2018). «Chapter 15». My Riot: Agnostic Front, Grit, Guts & Glory (em inglês). [S.l.]: Lesser Gods. ISBN 978-1-944713-64-5 – via Kerrang!