Palácio do Strozzino
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O Palácio do Strozzino (em italiano: Palazzo dello Strozzino) é um palácio de Florença que se encontra na Piazza Strozzi. Demolido parcialmente no século XIX, foi, contudo, realizada ali uma obra importante da arquitectura do início do século XX, o Cinema Odeon, ainda existente.
História e arquitectura
[editar | editar código-fonte]A maior parte das casas em volta da piazza e no Corso degli Strozzi (actual Via Monalda), nas vizinhanças da Chiesa di Santa Maria degli Ughi, pertenciam à família Strozzi. Depois do monumental Palazzo Strozzi, a residência mais bela da família era o palácio chamado de "Lo Strozzino", mais antigo que o outro, vindo a ser assim chamado para se destinguir daquele, mais famoso, situado em frente, e também por ter servido de residência aos ramos secundários em relação ao de Filippo Strozzi o Velho.
Também foi chamado de Palazzo delle Tre Porte (Palácio das Três Portas) devido aos três portais na fachada principal que ainda se vêem. O terreno pertencia a Palla di Noferi Strozzi e depois do seu exílio, em 1434, foi cedido aos primos Agnolo Strozzi e Carlo Strozzi, filhos de Palla di Novello Strozzi.
Estes mandaram dar início aos trabalhos para a construção do palácio, cerca de 1457, sobre casas mais antigas dos Strozzi e na praceta chamada Marmora. O desenho é atribuído a Filippo Brunelleschi, mas devem ter intervindo aqui maisarquitectos, entre os quais Michelozzo. A este último é atribuída a fachada, pelo menos na sua parte inferior, onde se encontra um rústico colmeado pietra forte irregular. Não deve induzir em erro a saliência inclinada em direcção ao alto, a qual recorda o Palazzo Medici Riccardi, embora fruto das intervenções graduais ao longo dos séculos, a última das quais datada do século XIX. Não é claro o período em que Michelozzo terá trabalhado no palácio, se antes ou depois do grande palácio dos Médici; seja como fôr, este palácio parece sugerir uma linguagem arquitectónica ainda em formação, com a ausência de elementos como a panca di via (banco de rua) e a distribuição irregular das janelas no piso térreo.
No primeiro andar, devido às janelas bíforas e aos padrões mais lisos e regulares, a fachada é, pelo contrário, atribuída a Giuliano da Maiano, o qual deve ter ali trabalhado por volta de 1456: a mudança de estilo sob a moldura de marcação dos andares faz, de facto, pensar numa repentina mudança de projecto. A parte superior recorda, também, a geometria usada por Bernardo Rossellino no Palazzo Rucellai, sob projecto de Leon Battista Alberti.
No interior existia um pátio, provavelmente atribuível a Michelozzo, realizado cerca de 1460: este era circundado por um elegante pórtico com colunas, mais tarde destruído para dar lugar a uma sala de cinematógrafo, o actual Cinema Odeon.
Depois de concluído, o palácio era muito grande e ocupava um quarteirão inteiro, com pelo menos 121 divisões, embora possuísse somente dois andares em vez dos canónicos três. Com a extinção do ramo dos Strozzi proprietário da residência, durante o século XVIII, o palácio passou para os Sanminiatelli e para os Landi, para ser depois expropriado e passar de novo a outros proprietários. Neste período foi executado, também, o segundo andar, com o colmeado apenas sugerido para sublinhar a inclinação da fachada em direcção ao alto, como noutros famosos palácios florentinos, sobretudo o vizinho Palazzo Strozzi.
Com os trabalhos empreendidos para a Florença Capital (de 1865), a área foi profundamente remexida. Na década de 1890, o palácio foi parcialmente demolido para permitir a criação da Via dei Sassetti e o alargamento da Via degli Anselmi.
O Cinema Odeon
[editar | editar código-fonte]O palácio, agora privado dos muros perimetrais em vários lados, esperava por um arranjo decoroso. Entre 1914 e 1915 foi demolida uma outra parte do complexo, compreendendo o belo pátio quatrocentista, que deu lugar, entre 1920 e 1922 (passada a Primeira Guerra Mundial) ao Cinema Teatro Savoia, depois Cinema Odeon, segundo projecto de Marcello Piacentini em colaboração com Gregori Warchavchik.
O projecto, que além de cine-teatro e local de baile, previa dois andares de apartamentos para gabinetes e usufruia dos muros que circundavam o palácio, renovados e paginados em estilo neo-renascentista. Na ocasião foram redesenhadas duas fachadas e, num espigão, foi colocada a lanterna em forma de templo circular com éfebos nus em bronze, obra do escultor Marescalchi.
O interior do cinematógrafo, que ocupa o piso térreo, o mezzanino e parte do primeiro andar, caracteriza-se por uma ornamentação densa, na qual trabalharam o escultor Giovanni Gronchi, nos caixotões e placas em estuque, o escultor Antonio Maraini, nas três Musas em madeira dourada e polícroma na boca de cena, e outros artistas e grupos especializados para o complexo decorativo.
Elogiado nos artigos da época como um modelo de "admirável harmonia" (mirabile armonia) entre a estrutura arquitectónica geral e funções, e célebre pela modernidade e pelas astúcias técnicas, actualmente o cine-teatro é considerado o único exemplo no panorâma artístico citadino dos anos 20, "capaz de atrair, resumir e esgotar em si as mais autênticas potencialidades déco dos agentes florentinos".[1]
Poucos foram os elementos antigos reutilizados (algumas abóbadas, mísulas e colunas) na entrada e no vestíbulo.
Nas traseiras do edifício, situadas na Piazza Davanzati, foi criada uma fonte decorativa e colocados dois brasões, igualmente decorativos. Na Via dei Sassetti, uma lápide regista: "Costruito nel MCMXXII per conto della S.A. Sindacato Immobiliare Toscano - Restaurato nel MCMXXXVIII".[2]
Interior do cinema
[editar | editar código-fonte]No interior, um átrio-corredor perimetral filtra o acesso à sala de espectáculos. A entrada no cinema é feita pela via degli Anselmi, enquanto o portão central, na Via dei Sassetti dá acesso à escadaria que desce ao subsolo. Da Piazza Strozzi acede-se ao corredor colunado coberto com abóbadas em cúpula, que constitui o sector original do Palazzo dello Strozzino. Da Via degli Anselmi acede-se, por fim, ao átrio rectangular ornado por duas fontes e pelo balcão da bilheteira, ao centro, com coroação em madeira, entalhado por Umberto Bartoli, original da época. Nas duas cabeceiras estão colocados os balcões para o bar e partem as duas escadarias de ligação com a galeria superior.
O grande vão para o espectáculo, com plateia de forma rectangular e galeria em forma de ferradura com camarins laterais na segunda ordem, tenta uma mediação entre os antigos organismos teatrais e os modernos lugares de espectáculo cinematográfico.
Coberto por uma grande cúpula circular de vidros coloridos, originalmente abertos através dum engenho eléctrico, a sala apresenta um riquíssimo aparato decorativo, que reune os estuques brancos e dourados das colunas estriadas com placas decorativas, as três Musas em madeira dourada coroando a boca de cena, os putti, os festões em espaldeira e as formas centrais da balaustrada das plataformas, as duas tapeçarias suspensas sob os arcos laterais e a grande decoração em estuque dourado na parede do fundo da galeria superior, a preciosa tela em seda encarnada e rosáceas em lâmina de ouro, dando vida a um conjunto precioso e refinado de inspiração déco.
O mobiliário original da sala, em veludo encarnado, foi renovado em 1987 e é, actualmente, em veludo amarelo-ouro; ainda se encontram no local os assentos em madeira originais das duas galerias de segunda ordem.
O vestíbulo do primeiro andar apresenta uma cobertura com caixotões ornados por estuques com signos do Zodíaco e articula-se num espaço central mais amplo e ornado por uma fonte, enquanto um outro rodapé em mármore com veios decora as paredes.
Os andares superiores, destinados a gabinetes, articulam-se em torno do grande espaço da sala cinematográfica, cuja cúpula é protegida por uma clarabóia em vidro.
Além dos locais de espectáculo e gabinetes da Gestione Germani, a construção hospeda a Direzione Compartimentale della Coltivazione dei Tabacchi e o Assessorato allo Sviluppo Economico del Comune di Firenze. No andar subterrâneo encontra-se, ainda, uma discoteca histórica, o Yab.