Poço de Moisés

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Davi e Jeremias do Poço de Moisés

O Poço de Moisés (em francês: Puits de Moïse ) é uma escultura monumental reconhecida como a obra-prima do artista holandês Claus Sluter (1340 – 1405–1406), auxiliado por seu sobrinho Claus de Werve. Foi executado por Sluter e sua oficina em 1395–1403 para o mosteiro cartuxo de Chartreuse de Champmol, construído como um cemitério pelo duque da Borgonha Filipe, o Ousado, nos arredores da capital da Borgonha, Dijon, agora na França.

Criação[editar | editar código-fonte]

A obra foi executada para Filipe, o Ousado[1] num estilo que combina a elegância do gótico internacional com um realismo nórdico, mas com uma qualidade monumental invulgar em ambos. Foi esculpido em pedra extraída de Asnières, perto de Dijon, e consistia em uma grande cena de crucificação ou "Calvário", com uma cruz alta e esbelta encimada por uma base hexagonal cercada pelas figuras dos seis profetas que previram a morte de Cristo na Cruz (Moisés, Davi, Jeremias, Zacarias, Daniel e Isaías). De pé em colunas delgadas nos cantos entre esses profetas estão seis anjos chorando. Todas as figuras, incluindo o grupo perdido do Calvário, foram pintadas e douradas por Jean Malouel, e algumas dessas pinturas permanecem. Graças à sobrevivência das contas ducais, a comissão e o trabalho em andamento estão excepcionalmente bem documentados.[2] Tradicionalmente, supunha-se que a cena do Calvário incluiria a Virgem Maria, Maria Madalena e São João, embora pesquisas recentes (baseadas em uma leitura atenta dos arquivos e um exame dos pontos de fixação no topo da base) sugiram que havia apenas uma figura, a Madalena, abraçada ao pé da Cruz.[3]

A obra também contém um cripto-retrato de Filipe, o Ousado, como Jeremias, o profeta favorito da ordem cartuxa. Quando comparadas com a escultura de Filipe, o Temerário, no portal da igreja, as duas esculturas apresentam uma notável semelhança entre si: queixo proeminente e arredondado, nariz grande, olhos profundos com sobrancelhas arqueadas distintas. Além disso, Jeremias é a única figura não representada em azul ou dourado, ele veste roxo e verde, as cores da Borgonha.

A estrutura originalmente consistia em quatro elementos: o próprio poço com cerca de quatro metros de profundidade e alimentado por água canalizada do rio Ouche, nas proximidades, o cais hexagonal, afundado no centro do poço (enfeitado com os profetas e anjos), um terraço medindo 2,8 metros de diâmetro assentado no topo do pilar, e a cruz que se erguia do centro.[4]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Situado no pátio central do então claustro principal, o edifício que encerra o poço foi acrescentado no século XVII, quando as partes superiores da obra já sofriam com as intempéries. A obra foi ainda mais danificada em 1791, durante a Revolução Francesa. O nome de "Poço de Moisés" ( Puits de Moïse em francês) aparece durante o século XIX.[5]

Apenas fragmentos da crucificação sobreviveram, incluindo a cabeça e o torso de Cristo; eles agora estão alojados no Musée Archéologique em Dijon. A base hexagonal com suas esculturas permanece no que hoje é o Hospital de la Chartreuse, e pode ser vista pelos turistas.[6]

Referências

  1. Nash (2005), p. 801
  2. Frish (1987), pp. 126-27
  3. Nash(2005), pp. 798–809
  4. Nash (2005), pp. 798–799
  5. Prochno (2002), p. 217
  6. Art from the Court of Burgundy, The Patronage of Philip the Bold and John the Fearless, 1364–1419, ed. Stephen Fliegel and Sophie Jugie, exhibition catalogue (Cleveland and Dijon, Paris: RMN, 2004); Kathleen Morand, Claus Sluter, Artist at the Court of Burgundy (Austin: University of Texas Press, 1991); Renate Prochno, Die Kartause Von Champmol. Grablege Der Burgundischen Herzöge (1364–1477) (Munich: Akademie Verlag, 2002).

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Frish, Teresa Grace. Gothic Art 1140-c. 1450: Sources and Documents. University of Toronto Press, 1987. ISBN 0-8020-6679-8
  • Nash, Susie. "The Lord’s Crucifix of Costly Workmanship: Colour, Collaboration and the Making of Meaning on the Well of Moses" in Circumlitio. The Polychromy of Antique and Late Medieval Sculpture, ed. V. Brinkmann, O. Primavesi and M. Hollein (Frankfurt am Main, 2010), pp. 356–381, full PDF
  • Nash, Susie. "Claus Sluter's 'Well of Moses' for the Chartreuse de Champmol Reconsidered: Part I". The Burlington Magazine, Dec 2005. Volume=147, issue=1233
  • Renate, Prochno. Die Kartause von Champmol. Grablege der burgundischen Herzöge 1364-1477. Berlin, Akademie Verlag, 2002. ISBN 978-3-0500-3595-6

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

47° 19′ 17″ N, 5° 01′ 00″ L