Rebelião de Cooper Do-nuts

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A Rebelião de Cooper Do-nuts foi uma suposta rebelião contra o assédio policial com a população LGBT que aconteceu em um café de donuts 24-horas em Los Angeles durante os anos 50. Vários acontecimentos sobre a rebelião estão sob disputa, como se ela realmente aconteceu, a data, local e se o café era mesmo uma das filiais do Cooper Donuts. Há falta de evidências documentais sobre o caso,[1] e o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD, em inglês) afirma que quaisquer registros do acontecimento foram destruídos muito tempo atrás.[2]

De acordo com John Rechy, que afirma ter estado no evento, a rebelião ocorreu em 1958 ou 1959,[1] cerca de 10 anos antes da Rebelião de Stonewall em Nova Iorque, e é considerado por alguns historiadores como a primeira insurreição LGBT moderna nos Estados Unidos.[3]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: História LGBT nos Estados Unidos

Poucas pessoas se declaravam como LGBT anos anos 50, pois havia consequências sociais e legais. Os bares gays eram um dos poucos lugares em que a comunidade era bem-vinda, mas os estabelecimentos também sofriam consequências legais por abrigar a comunidade, como a perda de sua licença para atuar. A lei de Los Angeles dizia que era ilegal para uma pessoa se apresentar com outro gênero que não fosse o que constasse em seu documento de identificação, algo que era frequentemente usado para prender clientes transgênero e cross-dressing.[4] Por isso, muitos bares gays eram hostis com pessoas transgênero, e as proibiam de frequentar suas premissas.[5]

O escritor John Rechy, que afirma ter presenciado o evento, descreveu a rotina de prisões em seu livro de 1963, City of Night. "Eles te interrogam, coletam suas digitais sem te registrar no sistema: É uma tática ilegal da polícia de LA para te deixar com medo de andar por aí".[6] Os nomes dos indivíduos presos durante uma batida policial eram rotineiramente publicados pelos jornais locais, as "tirando do ármário". Normalmente, as vítimas dessas ações perdiam seus empregos e eram socialmente condenadas ao ostracismo. Sob a liderança de William H. Parker, a LAPD teve um aumento de 85% nas prisões de homossexuais se comparado com a década anterior.[7] De acordo com o ativista LGBT Harry Hay, as batidas policiais contra a população LGBT eram comuns nessa época, e por vezes havia resistência.[8]

Rebelião[editar | editar código-fonte]

Por vezes, Rechy afirmou que o café ficava no 500º quarteirão da South Main Street, e não pertencia a franquia Cooper. O nome era usado genericamente para qualquer café de donuts.[1] Uma versão comum da história é que Cooper Do-nuts era um café localizado na 215 South Main Street em Skid Row, no centro de Los Angeles. O café estava perto de dois bares gays, o Harold na 555 South Main Street, e The Waldorf na 521 South Main Street. Ele ficava aberto por toda a noite, e se tornou popular com a comunidade gay.[7][9] De acordo com os relatos, na tarde de maio de 1959 (de acordo com Rechy escreveu em 1958),[1] dois policiais entraram no café e pediram a identidade de diversos clientes, um tipo de assédio. Eles teriam tentado prender duas drag queens, dois homens trabalhadores do sexo, e um homem que estava procurando alguém para pegar.[10] Rechy disse que tentaram prendê-lo, e descreveu o abuso da LAPD naquela noite como parte da rotina da polícia contra a comunidade LGBT.[11]

Um dos presos protestou por não ter espaço o suficiente dentro da viatura, e as pessoas que estavam assistindo começaram a jogar café, donuts, xícaras e lixo nos policiais, que fugiram sem prender ninguém.[5] A situação evoluiu para tumultos e celebrações nas ruas, com uma grande multidão de clientes ficando em volta dos bares gays, e outras pessoas da área ficaram sabendo sobre o ocorrido.[7] Os reforços policiais teriam voltado e bloqueado a rua por toda a noite, e várias pessoas foram espancadas e presas.[12] De acordo com Renchy, ele foi preso mas escapou.[7]

Legado[editar | editar código-fonte]

A Rebelião de Cooper Do-nuts é muitas vezes citada como a primeira rebelião gay dos Estados Unidos.[3] Hay a identificou como a primeira rebelião especificamente contra o tratamento da polícia com pessoas LGBT.[8] Alguns historiadores contestam sua significância, já que na época, ser abertamente gay já era uma rebelião por si, já que essas pessoas corriam o risco de serem presas e encarceiradas.[carece de fontes?] Mark Thompson, um historiador que viveu na mesma área que Renchy, escreveu: "Eu não descreveria o ocorrido como uma rebelião, mas como uma parte isolada da inquietação social que teve repercussões duradouras. Eu penso cada vez menos no dia em si e mais como uma lição para nós hoje".[5]

Em 2020, a Downtown Los Angeles Neighborhood Council considerou tornar o Cooper Do-nuts um patrimônio histórico, e pediu que a LAPD cedesse documentos que corroborassem com a versão dos fatos narrada por Rechy. A LAPD revelou que não há documentos sobre o acontecimento, pois eles foram purgados ou destruídos.[2] Apesar de não ser uma fonte primária, Nancy Valverde afirma que ela ouviu sobre o acontecimento pouco tempo depois por uma amiga lésbica.[13]

Em 22 de junho de 2023, a Cidade de Los Angeles ergueu uma placa cerimonial para a Cooper Do-nuts entre a 2nd e a Main Street, e a LAPD desculpou-se formalmente pelo assédio feito aos cidadãos gays.[14]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d Erik Piepenburg (5 de junho de 2023). «A Gay Riot at a Doughnut Shop? The Legend Has Some Holes.». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2024 
  2. a b «LGBTQ History in Los Angeles: Cooper Do-Nuts and Black Cat Tavern». Los Angeles Almanac (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2024 
  3. a b Lillian, Faderman; Stuart, Timmons (2006). Gay L.A.: A History of Sexual Outlaws, Power Politics, and Lipstick Lesbians (em inglês). Nova Iorque: Basic Books. p. 2. ISBN 978-0-465-02288-5 
  4. Dan Avery (1 de junho de 2014). «5 Pre-Stonewall Moments That Changed the Course of LGBTQ History». Logo TV (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2024 
  5. a b c Christiana Lilly (30 de setembro de 2016). «Los Angeles' Cooper Donuts gay riots sparked a revolution 10 years before Stonewall». The Pride LA (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2023 
  6. James Scott (20 de junho de 2019). «What Was Your Stonewall? Pivotal L.G.B.T.Q. Moments Across the U.S.». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2024 
  7. a b c d «Cooper Do-nuts». ONE National Gay & Lesbian Archives (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2024 
  8. a b Evan Moffitt (31 de maio de 2015). «Today in Gay History: 10 Years Before Stonewall, There Was the Cooper's Donuts Riot». Out (em inglês). Consultado em 6 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 6 de janeiro de 2024 
  9. Lillian, Faderman; Stuart, Timmons (2006). Gay L.A.: A History of Sexual Outlaws, Power Politics, and Lipstick Lesbians (em inglês). Nova Iorque: Basic Books. p. 1-8. ISBN 978-0-465-02288-5 
  10. «LGBTQ America: A Theme Study of Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, and Queer History» (PDF). National Park Foundation (em inglês). 2016. Consultado em 6 de janeiro de 2024 
  11. Phillip Zonkel (3 de maio de 2018). «Queer history was made at Cooper's Donuts in Los Angeles». Q Voice News (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2024 
  12. Faderman, Lillian (2016). The Gay Revolution: The Story of the Struggle 🔗 (em inglês). Nova Iorque: Simon and Schuster. pp. 115–116. ISBN 978-1451694123 
  13. Jason McGahan (29 de maio de 2019). «Before Stonewall, the Queer Revolution Started Right Here in Los Angeles». Los Angeles Magazine (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2024 
  14. Rob McMillan (23 de junho de 2023). «LAPD issues apology to LGBTQ+ community during ceremony honoring activists». ABC7 Los Angeles (em inglês). Consultado em 7 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 7 de janeiro de 2024