Revolta bubi de 1998

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Localização de Luba, também chamado San Carlos de Luba, na Guiné Equatorial.

A revolta bubi de 1998 refere-se aos acontecimentos violentos ocorridos no final de janeiro de 1998, em Bioko, Guiné Equatorial.

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Ataques a Luba e Moka[editar | editar código-fonte]

Em 21 de janeiro de 1998 teve início nas cidades de Luba, Moka, Rebola e Baney (Bioko) uma rebelião contra o regime de Teodoro Obiang,[1], na qual cinco soldados e um civil foram mortos.[2] Segundo algumas fontes, a ação começou na madrugada, com a morte de um empregado da empresa elétrica Segesa em Luba. Posteriormente o grupo de ativistas assassinou o marido da delegada do governo, o primeiro-cabo Félix Ndong Ondó. Nos incidentes também morreram um carpinteiro natural de São Tomé e Príncipe e um equato-guineense de etnia bubi.[3] O governo acusou o Movimento para a Autodeterminação da Ilha de Bioko (MAIB) de atacar três quartéis militares na cidade de Luba,[4] prolongando os confronto por duas semanas, depois que cerca de 500 pessoas da etnia bubi serem presas e interrogadas.[5] As fontes da oposição equato-guineense afirmaram que a polícia invadiu o Colegio Español (dependente da Embaixada da Espanha) em Rebola, onde detiveram o professor bubi Víctor Buyaban.[3]

Detenções[editar | editar código-fonte]

Em 24 de fevereiro de 1998, a Comissão Europeia convocou o embaixador da Guiné Equatorial para expressar preocupação com as violações dos direitos humanos cometidas após o ataque de 21 de janeiro.[4] Em março e abril do mesmo ano foram registrados questionamentos no Parlamento Europeu pelo Partido Popular Europeu no Conselho, interpelando por quatro cidadãos de nacionalidade espanhola detidos entre os acusados de promover a revolta independentista na ilha de Bioko,[6] e sobre a repressão exercida contra o povo bubi após a revolta,[7] questões parlamentares que foram respondidas pelo Conselho em abril[8] e junho.[4]

Julgamento de Malabo[editar | editar código-fonte]

Em fins de maio de 1998, um tribunal de Malabo julgou em conselho de guerra sumaríssimo 117 réus, incluindo um dos líderes do MAIB, Martín Puye. No julgamento contra 117 pessoas de etnia bubi (quatro deles de nacionalidade espanhola), o promotor militar Major Roman Bibang, acusou os detidos de terrorismo, secessão e traição, e forneceu como provas um arsenal apreendido dos presos: três pistolas, duas escopetas de cano curto e três de cano longo e uma granada de mão.[9] Por outro lado, o advogado de defesa, José Oló Obono, seria preso.[10] O julgamento concluiu ditando quinze sentenças de morte e 56 prisões, acusando o MAIB de ser responsável pela rebelião de 21 de janeiro.[11] O restante dos detidos, incluindo quatro espanhóis,[12] seriam libertados. O MAIB denunciou as quinze sentenças de morte do julgamento em Malabo através de Weja Chicampo, coordenador do grupo independentista, também apresentando o seu projeto de Estado democrático para a Guiné Equatorial.[13]

Acontecimentos posteriores[editar | editar código-fonte]

Os quatro principais líderes do levante armado, Atanasio Bitá, Remigio Mete, Epifanio Mohaba e um quarto, considerado o responsável militar pela rebelião foram condenados à morte in absentia e procurados intensamente por mais de seis meses. Em julho de 1998 conseguiriam abandonar Guiné Equatorial com direção desconhecida..[14] Em 14 de julho, Martin Puye morreu na prisão Playa Negra[15] em circunstâncias obscuras.[16] Em setembro de 1998, efetuou-se no Parlamento Europeu uma questão parlamentar do Partido Socialista Europeu, sobre a repressão na ilha, o julgamento e a morte de Puye,[17] respondida pelo Conselho em outubro.[18] Em finais de novembro o Governo da Guiné Equatorial iniciou uma nova onda de prisões entre os membros da comunidade bubi da ilha de Bioko, acusando os detidos (cerca de 30 pessoas) de colaborar com os líderes fugitivos do levante.[14]

Referências

  1. La oposición guineana habla de cientos de presos tras el ataque en la isla de Bioko, diario El País, 25 de janeiro de 1998.
  2. Cuatro ex legionarios españoles, detenidos en Guinea por los recientes ataques, diario El País, 3 de fevereiro de 1998.
  3. a b Al menos cuatro muertos en un confuso incidente armado en Guinea Ecuatorial, diario El País, 22 de janeiro de 1998.
  4. a b c Parlamento Europeo - Respuesta a una pregunta escrita - Detenidos en Guinea Ecuatorial - P-1155/1998, 8 de junho de 1998.
  5. INFORME SOBRE EL GRADO DE CUMPLIMIENTO DE LOS DERECHOS HUMANOS EN DIFERENTES PAÍSES - Guinea Ecuatorial, Oficina para la Democracia, los Derechos Humanos y el Trabajo, Departamento de Estado de los EE.UU., 25 de fevereiro de 2000.
  6. Parlamento Europeo - Pregunta escrita - Detenidos en Guinea Ecuatorial - P-1155/1998, 3 de abril de 1998.
  7. Parlamento Europeo - Pregunta escrita - Incident in Equatorial Guinea - E-0588/1998, 4 de março de 1998.
  8. Parlamento Europeo - Respuesta a una pregunta escrita - Incident in Equatorial Guinea - E-0588/1998, 2 de abril de 1998.
  9. Los 117 procesados en Guinea por el motín de Bioko denuncian torturas, diario El País, 26 de maio de 1998.
  10. Informe del Grupo de Trabajo sobre la Detención Arbitraria, Oficina del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos, 28 de dezembro de 1999.
  11. Guinea dicta 15 penas de muerte contra los bubis acusados en el macroproceso de Malabo, diario El País, 2 de junho de 1998.
  12. Hemeroteca - Página 060, diario El Periódico, 8 de junho de 1998.
  13. Los independentistas de Bioko acusan a Obiang de querer extinguir a la etnia bubi, diario ABC, 5 de junho de 1998.
  14. a b Obiang detiene a 30 bubis tras la fuga de los jefes de la revuelta de enero, diario El País, 4 de dezembro de 1998.
  15. Muere Martín Puye, un dirigente encarcelado de la oposición guineana, diario El País, 15 de julho de 1998.
  16. El relator de la ONU afirma que Martín Puye fue torturado en Malabo, diario El País, 16 de julho de 1998.
  17. Parlamento Europeo - Pregunta escrita - Human rights in Equatorial Guinea - E-2611/1998, 1 de setembro de 1998.
  18. Parlamento Europeo - Respuesta a una pregunta escrita - Human rights in Equatorial Guinea - E-2611/1998, 1 de octubre de 1998.