Revolução de 19 de Abril de 1810

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 Nota: Para o movimento ocorrido na Coreia do Sul, veja Revolução de Abril.
Revolução de 19 de Abril de 1810
Revolução de 19 de Abril de 1810
O 19 de Abril de 1810, por Juan Lovera.
Participantes Habitantes da cidade em geral e cabildo
Localização Caracas, Capitania-Geral da Venezuela
Data 19 de abril de 1810
Resultado
  • Formação da Junta Suprema de Caracas, primeira forma de governo autônomo da Venezuela.
  • Início do movimento pela Independência da Venezuela

A Revolução de 19 de Abril de 1810 foi uma insurreição em Caracas no dia 19 de abril de 1810 que depôs Vicente Emparan, capitão-general da Venezuela, e fundou a Junta Suprema de Caracas, primeira forma de governo autônomo da Venezuela. É convencionalmente apontada como o início da luta pela independência do país.

Em 1808, o rei espanhol Fernando VII foi forçado a abdicar e preso por Napoleão Bonaparte. A população espanhola reagiu, acarretando na criação da Junta Suprema Central, que se declara substituta de Fernando VII até seu retorno. As colônias da América espanhola se submeteram a essa junta.

Contudo, a queda da junta levou o cabildo de Caracas a se reunir e estabelecer uma junta local. Vicente Emparan resistiu em aceitá-la, sendo assim destituído pela junta com outros funcionários régios em 19 de abril de 1810. A junta ganhou a aderência da maioria das outras províncias da Venezuela e convocou um Congresso em 3 de março de 1811, que decidiu por declarar a independência da Venezuela em 5 de julho, formando a Primeira República da Venezuela.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Movimentos anteriores[editar | editar código-fonte]

Ao longo do século XVIII, ocorreram vários movimentos de insatisfação da população da atual Venezuela com a administração espanhola. Ainda que mais motivados mais por causas econômicas e sociais do que políticas, contribuíram para desenvolver um sentimento nacional contrário ao domínio espanhol. Desses movimentos, destacam-se a rebelião de Andresote (1730–1733), a Rebelião de San Felipe (1741), a Rebelião de El Tocuyo (1744), a insurreição de Juan Francisco de León (1749–1751) e a Revolta dos Comuneros (1781).[1]

Além disso, houve movimentos entre o fim do século XVIII e início do século XIX em vista de mudanças políticas. São eles: o movimento de José Leonardo Chirino e José Caridad González (1795), a conspiração de Gual e España (1797), a tentativa de Francisco Javier Pirela (1799) e as invasões de Francisco de Miranda (1806).[1]

Formação da Junta Suprema Central[editar | editar código-fonte]

Em 1808, a Espanha passava por uma crise política. Napoleão aproveitou-se da crise e forçou o rei espanhol, Fernando VII, e o pai deste, Carlos IV, a abdicarem em Baiona. O rei deposto e seu pai foram presos e o irmão mais velho de Napoleão, José Bonaparte, assumiu o trono espanhol com o título de José I. Por conseguinte, o povo espanhol formou várias juntas governativas que se declaravam fiéis a Fernando VII e organizou-se para resistir militarmente ao monarca francês. Em 25 de setembro, as juntas se unificaram na Junta Suprema Central, a qual se manifestou como substituta de Fernando VII até seu retorno.[2] A Junta Suprema Central foi reconhecida como autoridade legítima tanto pelos opositores de José I na Espanha quanto pela América espanhola,[3] apesar de tentativas nas colônias de estabelecerem juntas de governo autônomas,[4] como a Conspiração dos Mantuanos (1808) em Caracas.[5]

A Revolução[editar | editar código-fonte]

Pintura de um homem usando um uniforme militar azul-escuro com dragonas. Ele usa uma peruca prateada e tem suas mãos no colete. Do lado direito da pintura, há uma janela, da qual se pode ver a paisagem de uma praia com céu nublado e dois navios na costa.
Vicente Emparan, capitão-general da Venezuela, foi deposto pela revolução.

Entre dezembro de 1809 e os primeiros meses de 1810, a agitação em Caracas, já intensa desde 1808, se intensificou com boatos de que a Espanha fora totalmente dominada pelos franceses. Em 17 de abril de 1810, chegou oficialmente na cidade a notícia de que Sevilha fora conquistada pelos franceses e que a Junta Suprema Central havia dissolvido a si mesma[6] e substituída por um Conselho de Regência. Na noite do dia seguinte, o cabildo (composto majoritariamente por mantuanos, isto é, membros da elite crioula local) convocou uma reunião extraordinária para discutir a situação da metrópole com o capitão-general da Venezuela, Vicente Emparan.[7][8]

A reunião ocorreu na sede do cabildo na manhã de 19 de abril, uma Quinta-feira Santa. A proposta resultante foi que era necessário constituir uma junta governativa local diante da situação na Península. Emparan recusou a proposta e saiu da reunião argumentando que precisa assistir às cerimônias religiosas do dia. Contudo, Emparan foi impedido de entrar no templo por uma multidão próxima e ameaçado a prosseguir com a reunião. De volta à sede do cabildo, Emparan continuou o debate, que se prolongou por mais algumas horas. À medida que o tempo passava, a posição dos membros do capitão-general e a dos revolucionários tornavam-se cada vez mais incompatíveis.[7][8]

Na esperança de solucionar o problema, Emparan se dirigiu à varanda e perguntou ao povo se este estava contente com Emparan e desejava que ele seguisse o mandato. Houve um momento de indecisão, que foi rompido quando o cônego José Cortés de Madariaga, que estava atrás de Emparan, fez um sinal negativo vigoroso para a multidão, no que foi seguido pelos regidores Nicolás Anzola e Dionisio Palacios, também detrás do capitão-general, provocando um "não" retumbante do povo. Desse modo, Emparan exclamou que também não queria o mandato.[7]

No mesmo dia, foi redigida uma ata que registrava a deposição de Emparan e outros funcionários reais e a formação do novo governo (a Junta Suprema Conservadora dos Direitos de Fernando VII, também conhecida como Junta Suprema de Caracas), a primeira forma de governo autônomo da Venezuela.[9] A ata foi assinada por todos os assistentes da reunião, incluindo os destituídos, que foram logo depois conduzidos a La Guaira e presos nas fortalezas ou confinados a bordo de navios ancorados até serem expulsos.[7][8]

Em 20 de abril, os dois alcaides-presidentes José de las Llamozas e Martín Tovar Ponte enviaram uma proclamação às outras províncias da Venezuela. Nessa proclamação, relatavam os acontecimentos do dia anterior em Caracas e estimulavam as províncias a se unirem à causa.[7] Todas as províncias aderiram, com exceção da cidade de Coro (na província de Caracas) e as províncias de Maracaibo e Guayana, que se declararam fiéis à Regência (que também se opusera).[8][10][11]

Impacto[editar | editar código-fonte]

Formação da Primeira República[editar | editar código-fonte]

Embora o objetivo oficial da Junta Suprema de Caracas fosse a defesa do território de uma possível invasão francesa,[9] os membros mais destacados possuíam o intuito de tornar a Venezuela completamente independente. Isso é constatado pelo envio de agentes diplomáticos aos Estados Unidos e ao Reino Unido, formação de secretarias de Estado e convocatória de eleições para o Congresso.[7] Além disso, a Junta toma outras medidas revolucionárias, como representação aos afrodescendentes, abolição do comércio de escravos (mas não da escravidão) e liberdade de imprensa e de comércio.[9]

Em 2 de março de 1811, se instala o Congresso Geral da Venezuela, substituindo a Junta Suprema de Caracas. Em 5 de julho do mesmo ano, o Congresso decide por maioria absoluta dos representantes (apenas um deputado se opôs) pela declaração de independência da Venezuela, dando início à Primeira República da Venezuela.[8]

Legado[editar | editar código-fonte]

A revolução é convencionalmente apontada como o início da luta pela independência da Venezuela.[12][13] No ano de 1909, a Academia Nacional da História da Venezuela produziu um acordo com catorze considerações a respeito da importância da data, concluindo que a revolução "constitui o movimento inicial, definitivo e transcendental da emancipação venezuelana".[14] Em contrapartida, historiadores como David Bushnell e Germán Carrera Damas a consideram apenas como o apogeu na Venezuela de uma crise maior que envolvia todo o Império Espanhol.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Verna, Paul. «Movimientos precursores de la Independencia» (em espanhol). Diccionario de Historia de Venezuela. Consultado em 18 de abril de 2020 
  2. Herr, Richard (1974). An historical essay on modern Spain (em inglês). Berkeley: University of California Press. pp. 69–70. ISBN 9780520025349. OCLC 1154580. Consultado em 18 de abril de 2020 
  3. Villalobos, Ángel Rafael Almarza (2007). «Representación en la Provincia de Venezuela. Elecciones para la Junta Suprema Central y Gubernativa del Reino en 1809» (PDF). Anuario de Estudios Bolivarianos (em espanhol). Consultado em 18 de abril de 2020. Su formación respondía a la urgencia de las circunstancias y por eso fue reconocida como autoridad suprema de la monarquía en ambos lados del imperio español... 
  4. «Revolución del 19 de abril de 1810» (em espanhol). Diccionario de Historia de Venezuela. Consultado em 18 de abril de 2020. Cuando se conoció en Hispanoamérica lo que había sucedido en España en 1808, en diversas ciudades se produjeron intentos para formar Juntas de Gobierno autónomas, en aquel mismo año o el siguiente, que en algunos casos (México, Caracas) fracasaron y en otros (Chuquisaca, Quito) tuvieron éxito pero fueron derrocadas algún tiempo después por fuerzas leales a España. 
  5. Vila, Manuel Pérez. «Conspiración de los Mantuanos» (em espanhol). Diccionario de Historia de Venezuela. Consultado em 18 de abril de 2020 
  6. Herr, Richard (1974). An historical essay on modern Spain (em inglês). Berkeley: University of California Press. p. 72. ISBN 9780520025349. OCLC 1154580. Consultado em 18 de abril de 2020. Their chance came when military defeats at the end of 1809 discredited the Central Junta. Fleeing from Seville to Cadiz in January 1810, the Junta issued a convocation of cortes representing the entire empire and then dissolved itself in favor of an interim five-man regency. 
  7. a b c d e f «Revolución del 19 de abril de 1810» (em espanhol). Diccionario de Historia de Venezuela. Consultado em 18 de abril de 2020 
  8. a b c d e Quintero, Inés (30 de dezembro de 2007). «Los nobles de Caracas y la Independencia de Venezuela». Anuario de Estudios Americanos. 64 (2): 226–229. ISSN 1988-4273. doi:10.3989/aeamer.2007.v64.i2.86. Consultado em 18 de abril de 2020 
  9. a b c Straka, Tomás; Cáceres, Alejandro E.; Rudolph, Donna Keyse (2018). Historical dictionary of Venezuela (em inglês) 3ª ed. Lanham: Rowman & Littlefield. p. 37. ISBN 9781538109502. OCLC 993810331. Consultado em 18 de abril de 2020 
  10. González, Tomas (2014). «Memoria de la Desdicha: Los Realistas Cuentan Su Versión del 19 de Abril de 1810». Tiempo y Espacio (em espanhol). 24 (61): 364. Consultado em 18 de abril de 2020 
  11. Almanza, Ángel Rafael (2010). «El Movimiento Juntista de 1810 en la Capitanía General ded Venezuela» (PDF). Historia Caribe (em espanhol). 16: p. 41. ISSN 0122-8803. Consultado em 18 de abril de 2020. ...la mayor parte de las provincias, con excepción de Guayana y Maracaibo y la ciudad de Coro, siguieron el ejemplo de Caracas. 
  12. «Revolución del 19 de abril de 1810» (em espanhol). Diccionario de Historia de Venezuela. Consultado em 18 de abril de 2020. Movimiento con que se inicia en Caracas el proceso histórico de la Independencia de Venezuela... 
  13. Straka, Tomás; Cáceres, Alejandro E.; Rudolph, Donna Keyse (2018). Historical dictionary of Venezuela (em inglês) 3ª ed. Lanham: Rowman & Littlefield. p. 37. ISBN 9781538109502. OCLC 993810331. Consultado em 18 de abril de 2020. It is considered the start of independence in Venezuela. 
  14. Curcho, Nydia M. Ruiz (1994). «El Acta del Ayuntamiento de Caracas del 19 de Abril de 1810». Boletín Americanista: 198. Consultado em 18 de abril de 2020 
  15. González, Tomas (2014). «Memoria de la Desdicha: Los Realistas Cuentan Su Versión del 19 de Abril de 1810». Tiempo y Espacio (em espanhol). 24 (61): 363. Consultado em 18 de abril de 2020. David Bushnell, Simón Bolívar, proyecto de América, p. 37. Bushnell dice que '(...) Es ésta la fecha observada convencionalmente como el comienzo del movimiento de independencia nacional, pero en realidad los eventos del 19 de abril no fueron sino la culminación de una crisis de más larga incubación, o mejor dicho aun el clímax venezolano de una crisis que abarcaba al Imperio español en su totalidad'. Ésta tesis también la plantea Germán Carrera Damas en sus libros: La disputa de la Independencia, p. 24 y Una Nación llamada Venezuela, p. 35. 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]