Soro da verdade
Soro da verdade (original, em inglês: Truth serum) é o termo utilizado para referir-se a uma droga ou conjunto de drogas que, ministrada a um suspeito ou paciente que tem algo de relevante a esconder, o levaria a revelar a informação que esconde, mediante a supressão e mesmo eliminação da sua força de vontade em não fazê-lo. Várias drogas são utilizadas com esse intuito, figurando entre as mais comuns e conhecidas a escopolamina e o tiopental (um barbitúrico).[1]
A expressão "soro da verdade" não mostra-se em verdade adequada à realidade, pois de fato não há, pelo menos até hoje, uma droga ou coquetel que relaxe e suprima o livre arbítrio da pessoa a ponto dessa revelar a verdade - e nada mais que a verdade - quando seus efeitos. Os candidatos a soros da verdade foram amplamente estudados por diversas entidades e organizações dado o seu interesse estratégico em certas situações; e uma análise fria de caso revela que, ao fim, uma expressão mais adequada para o soro seria, talvez, "soro da tagarelice". A CIA, a agência de inteligência norte-americana, manteve entre seus projetos um de codinome MKULTRA,[2] que durante 25 anos investigou o comportamento humano quando sujeito às mais variadas situações, inclusive no tocante ao soro da verdade. A conclusão a que chegou foi a de que "Tudo que esses soros fazem é soltar a língua da pessoa, mas não há a menor garantia do que aquilo [que dizem] seja verdade.".[1]
Quando começou a ser estudado, rapidamente percebeu-se que os "soros da verdade" tinham melhor efeito quando administrados a pacientes previamente dopados com anestésicos, em uma situação onde os padrões normais de pensamento mostravam-se suprimidos ou interrompidos.[1] Os melhores resultados foram obtidos com o paciente em estágio de sedação e relaxamento, em estado de pouca coordenação motora e fala arrastada.[1] Apenas mais tarde, contudo, percebeu-se que os relatos dos pacientes sob ação do soro, quer dopados quer não, não necessariamente e de fato poucas vezes correspondiam à realidade; apresentando-se quase sempre carregados de alucinações traduzidas de medos e fantasias do "entrevistado" que, ao fim das contas, não podiam ser separados entre verídicos e não verídicos de forma segura. Sob o soro da verdade, várias pessoas confessaram crimes, incluso assassinatos, que não cometeram; simplesmente porque, quando investigados, constatou-se que tais crimes de fato nunca ocorreram.[1][3]
O uso de soros da verdade é classificado como uma forma de tortura, de acordo com o direito internacional.[4] Mesmo diante de proibições de ordem internacional, estes soros ainda têm uso difundido; relatando-se ocorrências inclusive junto aos serviços secretos tanto russo como norte-americano.[5][6][3] O uso ainda se justifique talvez porque um dos efeitos confirmados do soro seja induzir a pessoa a pensar que revelou muito mais informações do que ela realmente revelou; levando-a a deslizes ou mesmo confissões subsequentes que por fim trazem à tona a verdade que ela antes não revelou.[1]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f Kruszelnicki, Karl - Grandes Mitos da Ciência - "O soro da verdade" (pág. 106) - Editora Fundamentos Educacional Ltda - São Paulo, SP - 2013 - ISBN 978-85-395-0164-9
- ↑ Project MKULTRA, The CIA's Program of Research in Behavioral Modification, Senate Hearing on MKULTRA: Truth Dugs in Interrogation, 1977.
- ↑ a b Use drug on al-Qaeda prisoners: Ex-CIA chief, The Sydney Morning Herald, p.13, 27-28, abril de 2002
- ↑ Winfried Brugger (2000). «May government ever use torture? Two responses from German law». The American Journal of Comparative Law. 48 (4): 661–678. doi:10.2307/840910.
These provisions state clearly that the application of considerable physical coercion with the intent of obtaining a statement, or the use of other methods to weaken the resolve of a detainee, such as "truth" drugs, falls under the definition of torture
- ↑ Alexander Kouzminov Biological Espionage: Special Operations of the Soviet and Russian Foreign Intelligence Services in the West, Greenhill Books, 2006, ISBN 1-853-67646-2 [1] Arquivado em 25 de abril de 2005, no Wayback Machine..
- ↑ Alex Goldfarb and Marina Litvinenko. Death of a Dissident: The Poisoning of Alexander Litvinenko and the Return of the KGB. New York: Free Press, 2007. ISBN 978-1416551652.