Transtorno de personalidade histriônica

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Transtorno de personalidade histriônica
Transtorno de personalidade histriônica
Pessoas com personalidade histriônica com frequência se expressam de formas dramáticas
Especialidade psiquiatria, psicologia clínica
Classificação e recursos externos
CID-10 F60.4
CID-9 301.5
MedlinePlus 001531
MeSH D006677
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Perturbação de personalidade histriónica (PPH) (português europeu) ou transtorno de personalidade histriônica (TPH) (português brasileiro) é definido pela Associação Americana de Psiquiatria como um transtorno de personalidade caracterizado por um padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para si mesmo, incluindo a procura de aprovação e comportamento inapropriadamente sedutor, normalmente a partir do início da idade adulta. Tais indivíduos são vívidos, dramáticos, animados, flertadores e alternam seus estados entre entusiásticos e pessimistas.

Podem ser também inapropriadamente provocativos sexualmente, expressarem emoções de uma forma impressionável e facilmente influenciados por outros. Entre as principais características relacionadas estão egocentrismo, desorganização egoica, autoindulgência, anseio contínuo por admiração, e comportamento persistente e manipulativo para suprir suas próprias necessidades.

Prevalência[editar | editar código-fonte]

Atos de exibicionismo podem ser indicativos de personalidade histriônica.

Existem poucos dados de estudos de prevalência desse transtorno, os que existem indicam uma prevalência na população de cerca de 2-3%. Já em contextos ambulatoriais e de internação em saúde mental, ao utilizar-se de avaliações mais estruturadas, as taxas foram identificadas como cerca de 10 a 15% dos casos[1].

Ainda que algumas pesquisas sugiram que a proporção seja próxima entre os sexos, este diagnóstico tem sido muito mais frequente em mulheres. Enquanto os homens tenderiam a exibir masculinidade e habilidades físicas, as mulheres tenderiam a exaltar sua feminilidade e sensualidade[1].

Esquemas de diagnósticos diferenciais compreendem que homens com sintomas similares tendam a ser diagnosticados com transtorno de personalidade narcisista[2]. Visto que a sintomatologia do quadro coincide com uma expressão exagerada do sexo feminino, tem sido considerado o negativo do transtorno de personalidade antissocial, frequentemente associado a uma expressão exagerada de masculinidade.

Características[editar | editar código-fonte]

Pessoas com este transtorno, em geral, têm dificuldades no convívio social e em obter sucesso profissional. Geralmente possuem bons dotes sociais em um círculo restrito de pessoas, e tendem a usá-los para manipular os outros para tornarem-se o centro das atenções[3]. Esse padrão comportamental acaba por afetar tais relacionamentos sociais, profissionais ou românticos, assim como sua habilidade em lidar com perdas ou fracassos.

Esses indivíduos começam bem relacionamentos, porém tendem a hesitar quando profundidade e durabilidade são necessários, alternando entre extremos de idealização e desvalorização. São pessoas caracterizadas pela infidelidade contumaz e inconsequente em relações amorosas. Com o fim de relações românticas, podem buscar tratamento para depressão, embora isto não seja de forma alguma uma característica exclusiva a este transtorno. Inicialmente, o TPH pode ser confundido com a mitomania.

Frequentemente, não conseguem visualizar sua própria situação pessoal de forma realista e tendem, ao invés disso, a dramatizar e exagerar suas dificuldades. Podem passar por frequentes mudanças de motivação no trabalho, pois entediam-se facilmente e têm problemas em lidar com frustração e críticas. Por costumarem ansiar por novidades e excitação, podem colocar-se em situações de risco. Todos esses fatores podem aumentar o perigo de desenvolvimento de depressão.

Entre os sintomas principais estão[3]:

  • Comportamento exibicionista;
  • Busca constante por apoio ou aprovação;
  • Dramatização excessiva com demostrações exageradas de emoção, tais como abraçar alguém que acabou de conhecer ou chorar incontrolavelmente durante um filme ou música triste[4];
  • Sensibilidade excessiva frente a críticas ou desaprovações;
  • Orgulho da própria personalidade, relutância em mudar e qualquer tentativa de mudança é vista como ameaça;
  • Aparência ou comportamento inapropriadamente sedutor[4];
  • Sintomas somatoformes, e utilização destes sintomas como meio de chamar atenção;
  • Necessidade de ser o centro das atenções;
  • Baixa tolerância a frustração ou a demora por gratificação;
  • Angústia provocada pela alternância de crença nas próprias mentiras insustentáveis (mitomania);
  • Rápida variação de estados emocionais, que podem parecer superficiais ou exagerados a outrem;
  • Tendência em crer que relacionamentos são mais íntimos do que na realidade o são;
  • Decisões precipitadas;
  • Difamação de pessoas que competem com sua atenção (cônjuges de pessoas próximas, p. ex.).

Causas[editar | editar código-fonte]

A causa deste transtorno é desconhecida, mas eventos da infância como mortes ou doenças de familiares próximos, que resultam em ansiedade constante, divórcio ou problemas de relacionamento dos pais e principalmente genética podem estar envolvidos. Poucas pesquisas foram realizadas para determinar as fontes biológicas, se é que existem, deste transtorno. Teorias psicanalíticas incriminam atitudes autoritárias ou distantes por um (principalmente a mãe) ou ambos os pais, ou os pais desses pais, ou amor baseado em expectativas que a criança jamais poderia alcançar[5].

Diagnóstico[editar | editar código-fonte]

Artistas podem exibir traços de personalidade histriônica, mas estes apenas constituem um transtorno quando são inflexíveis, socialmente inapropriados e persistentes mesmo quando inadequados e causam prejuízo e sofrimento significativo a si mesmo ou a outros.[1]

O comportamento, aparência e histórico da pessoa, juntamente com uma avaliação psicológica, são normalmente suficientes para estabelecer o diagnóstico. Não há um teste específico para confirmá-lo. Pelo critério ser subjetivo, algumas pessoas podem ser diagnosticadas erroneamente como sendo portadoras do transtorno, enquanto outras com o transtorno podem ser diagnosticadas como não portadoras. Para que seja eliminado o falso positivo, o diagnóstico é baseado no conjunto de características sintomáticas do indivíduo. O tratamento costuma ser consequência da depressão associada a dissolução de relacionamentos românticos. A medicação tem pouco efeito neste transtorno de personalidade, mas pode ajudar em sintomas como a depressão. A psicoterapia também pode auxiliar no tratamento[6].

DSM-IV-TR 301.50[editar | editar código-fonte]

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4ª ed., DSM IV-TR), geralmente utilizado para diagnosticar transtornos mentais, define o transtorno de personalidade histriônica como[7]:

Um padrão predominante de emocionalidade em excesso e procura por atenção, a partir do começo da idade adulta e presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
  1. Desconforto em situações em que não são o centro das atenções;
  2. Interação com os outros caracterizada por sedução sexual inapropriada ou comportamento provocador;
  3. Rápidas alterações e superficialidade na expressão emocional;
  4. Uso da aparência física para chamar a atenção;
  5. Discurso excessivamente impressionista e com pouco pormenor;
  6. Auto dramatização, teatralidade e exagero na expressão emocional;
  7. Sugestionabilidade, Influenciáveis facilmente pelos outros ou pelas circunstâncias;
  8. Considerar muito íntimas relações que não o são.

É exigido pelo DSM IV-TR que o diagnóstico de quaisquer transtornos de personalidade específicos também satisfaça uma relação de critérios de transtornos de personalidade em geral.

CID-10[editar | editar código-fonte]

A CID-10 da Organização Mundial da Saúde lista o transtorno de personalidade histriônica sob o código F60.4, sendo caracterizado por pelo menos três dos seguintes[8]:

  1. Dramatização, teatralidade, e expressão exagerada de emoções;
  2. Sugestionabilidade, facilmente influenciável por outrem ou ambientes;
  3. Afetividade superficial e instável;
  4. Busca contínua por excitação e atividades clínicas onde o paciente é o centro das atenções;
  5. Sedução inapropriada em aparência ou comportamento;
  6. Busca de vários parceiros simultâneos;
  7. Desprezo por diagnósticos, críticas e sugestões que não coincidam com seu comportamento;
  8. Preocupação excessiva com aparência física, vestimenta e acessórios.
  9. Em casos extremos, pode insinuar-se para depois ser receptiva ao assédio do sexo oposto, mesmo que de pessoas com pouca ou nenhuma intimidade;
  10. Inconformismo com o fim de relacionamentos, seguido de TOC -Transtorno Obsessivo Compulsivo com prevalência à obsessão pelo déjà-vu na busca de reeditar relacionamentos que já não existem mais.

É exigido pela CID-10 que o diagnóstico de quaisquer transtornos de personalidade específicos também satisfaça uma relação de critérios de transtornos de personalidade em geral.

Tratamento[editar | editar código-fonte]

Devido ao relativamente pouco material de pesquisa de apoio para trabalho em transtornos de personalidade e tratamentos a longo prazo com psicoterapia, as descobertas empíricas do tratamento de tais transtornos permanecem baseadas no método de avaliação de casos, conjunto de sintomas e em ensaios clínicos. Na base da apresentação do caso, o tratamento de escolha é psicoterapia e ou terapia cognitivo-comportamental, focada no autodesenvolvimento através da resolução de conflitos e no avanço de linhas de desenvolvimento inibidas. A terapia em grupo pode auxiliar os indivíduos a aprenderem a controlar a exibição de comportamentos excessivamente dramáticos, insinuantes ou permissivos, mas devem ser monitoradas com atenção, pois podem fornecer ao paciente uma plateia para que se apresente, perpetuando assim o comportamento histriônico[9].

Os terapeutas especializados sabem que o Transtorno de Personalidade Histriônica (TPH) é retropatológico, o que pode agravar o quadro clínico. A permissividade, a sedução compulsiva, e a busca inadequada por ser o centro das atenções causam na pessoa portadora desta síndrome o efeito reverso ao desejado nas pessoas que a cercam e instalam na mente do paciente outras patologias psicossociais alienantes, como o eremitismo (voluntário) ou o simples isolamento social (consequência), agravando o histrionismo. Em ambientes terapêuticos, constatou-se ser este um dos motivos do fracasso nas relações afetivas do portador de TPH. Como em uma relação afetiva não é aceito um comportamento sedutor compulsivo, permissividades e intimidades inadequados com terceiros, os relacionamentos afetivos tendem ao estado limítrofe entre a superficialidade e a cisão.

Segundo Gabbard (1988) e Freemann (2007), o achado comum de anorgasmia nas mulheres portadoras de TPH está relacionado a um desejo inconsciente de alcançar o poder de atenção sobre os homens por meio do ato sexual corriqueiro e inconsequente. De maneira inconsciente, a portadora do transtorno de personalidade histriônica possui antagonismologia patológica e pode ser diagnosticada como erotopata, praticante de permissividade sexual, ou vulgaridade patológica, instalando a contradição mental que atinge sua ferida narcísica e retroalimenta a patologia. Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4ª edição, DSM IV-TR), pela sua sugestionabilidade e pelas suas características fenomenológicas, o paciente portador de TPH é manipulador, mas deve ser convencido pelo terapeuta que, por explicitar estas características, pode também ser facilmente manipulado de forma ardilosa por outrem, provocando a satisfação de suas dependências patológicas (manipulação egoica) como assédios constantes, elogios a sua aparência e comentários que a façam sentir-se o centro das atenções. O manipulador cativa a portador de TPH para depois atingir seus objetivos escusos. Existe também uma abordagem de terapia cognitivo-comportamental voltada para o tratamento de transtornos de personalidade conhecida como Terapia do esquema, desenvolvida por Jeffrey Young em 1995. Nesta psicoterapia, o psicólogo ensina o paciente a[10]:

  1. Perceber os prejuízos e sofrimentos que seu esquema mal adaptativo resulta em sua vida e na dos outros, caracterizado por transtorno de personalidade dissocial (Código: F60.2);
  2. Identificar os desencadeadores de seus comportamentos não saudáveis de agir;
  3. Identificar os danos a sua própria imagem;
  4. Desenvolver testes para verificação de crenças irrealistas;
  5. Desenvolver comportamentos alternativos mais saudáveis e eficientes.

Ao contrário de outras pessoas que sofrem de transtornos de personalidade, histriônicos são mais rápidos a procurar tratamento, exageram seus sintomas, gostam de contar suas dificuldades e problemas, apreciam a atenção provocada e gostam de ser observados e examinados por médicos e psicólogos. Nesses casos, o terapeuta não deve se permitir ser a tela branca para as projeções do paciente. Comportamentos autodestrutivos e ameaças de suicídio devem ser levadas a sério, cabendo ao terapeuta fazer um acordo para que o paciente telefone antes de cometer atos seriamente irresponsáveis ou autodestrutivos. O terapeuta frequentemente deve ser cético, racional e paciente, estimulando o paciente a também desenvolver essas qualidades. Como estes pacientes também tendem a ter baixa autoestima e ser mais emocionalmente carentes, muitas vezes desenvolvem vínculos fictícios afetivos e íntimos com médicos, psicólogos e psiquiatras, agendando consultas desnecessárias e tornando-se relutantes em iniciar e depois em encerrar a terapia[1]. Outro elemento muito importante, sempre presente no tratamento de pacientes portadores de TPH e com ampla repercussão no funcionamento mental deles, é a luta (preconsciente) contra a própria (e frequentemente também do ambiente) estigmatização. Essa empreitada costuma gerar sintomas secundários, como a dissimulação e a mitomania, para atender uma certa necessidade de se mostrar normal.

Referências

  1. a b c d http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=159
  2. Seligman, Martin E.P (1984). "11". Abnormal Psychology. W. W. Norton & Company. ISBN 039394459X
  3. a b "Histrionic personality disorder" Arquivado em 3 de outubro de 2011, no Wayback Machine.. The Cleveland Clinic
  4. a b Cloninger, C. R., Svrakic, D.M., Przybeck, T.R. (2006) Can personality assessment predict future depression? A twelve-month follow-up of 631 subjects. "J Affective Disorder", 92 (1), 35-44.
  5. "Histrionic Personality Disorder". Personality Disorders. WebMD
  6. "Psych Central: Histrionic Personality Disorder Treatment"
  7. "Transtorno de personalidade histriônica". Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Associação Americana de Psiquiatria (2000) (em inglês)
  8. "Histrionic personality disorder". International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems. 10th Revision (ICD-10)
  9. "Histrionic Personality Disorder". Armenian Medical Network (2006)
  10. [1]