Turbilhão (romance)

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Turbilhão
Autor(es) Coelho Neto
Idioma português brasileiro
País  Brasil
Gênero Romance
Lançamento 1906 (1a. edição)

Turbilhão é um romance, "admirável painel das classes pobres cariocas"[1] do escritor brasileiro Coelho Neto. Foi publicado em 1906 e segundo Rodrigo Gurgel "é um dos vários romances que poderiam ser escolhidos para apresentar os méritos de Coelho Neto. A fim de melhor aproveitá-los, o leitor deve estar aberto ao vocabulário cujas acepções nem sempre são corriqueiras, e exatamente por isso acrescentam rigor e força à narrativa."[2]

Sumário[editar | editar código-fonte]

Depois que a moça Violante ("sempre a pensar em enfeites, fazendo e desfazendo penteados ao espelho, polindo as unhas, passava os dias na cadeira de balanço, a ler romances e, à tarde, encharcada de essências, com muito pó-de-arroz, debruçava-se à janela, para ver os trens e receber bilhetinhos que os rapazes metiam por entre as rexas da persiana")[3] foge de casa, a vida da família se desestrutura: o irmão Paulo Jove perde o emprego no jornal Equador (porque faltou ao trabalho para ir em busca da irmã), abandona o curso de Medicina (temendo os comentários mordazes dos colegas), pede ao mulato Mamede, ex-policial, valente capoeira, que "conhece toda a cidade, é íntimo dessa gente da polícia"[4] que ajude a localizar a fugitiva, vicia-se no jogo de roleta, sob a ilusão de enriquecer facilmente e se envolve com a Ritinha, companheira de Mamede ("Muito nova, teria dezoito anos, pele fina, cetínea, olhos negros, faceiros e pestanudos, cabelo liso, abundante, roliça e lânguida. Os seios rijos espetavam o corpinho de cassa, e, pelas mangas frouxas, viam-se-lhe os braços morenos, torneados e nos punhos finas pulseiras de prata com berloques tinindo.").

A família muda-se para o Cais da Glória a fim de evitar as maledicências dos vizinhos. A criada Felícia convence a patroa, Dona Júlia, a irem ao centro espírita para pedirem ajuda das almas. "O romance é construído de maneira a nos surpreender sempre. Ultrapassada a primeira metade, quando imaginamos que todas as cartas foram distribuídas, Coelho Neto oferece novos elementos para compor a personalidade de Paulo: a compulsão em fazer cálculos, distribuindo o que sonha ganhar no jogo em listas de compras mirabolantes — e sua atração sexual pela irmã."[5]

Comentário[editar | editar código-fonte]

Coelho Neto é um escritor extremamente impressionista (no sentido de que explora as impressões sensoriais, notadamente visuais e auditivas), e com isso nos conduz por verdadeiras incursões por ambientes do Rio de Janeiro do início do século XX: o centro espírita, o antro de jogatina de roleta, o entorno da estação Central, o teatro Recreio frequentado por cocotes. Paradoxalmente, um autor tão "moderno" a ponto de mostrar sem retoques o submundo da prostituição de luxo, a loucura da vida boêmia, a exploração da crendice popular nos "centros espíritas", um pioneiro da crônica de futebol,[6] que teve um filho futebolista, foi escorraçado pelos modernistas (como Simonal viria a ser escorraçado pelos esquerdistas) por não ser suficientemente "moderno".[7]

Referências

  1. Alexei Bueno, "Coelho Neto e Inverno em Flor", em Machado, Euclides & Outros Monstros, p. 131.
  2. Rodrigo Gurgel, Perseguido, mas brilhante, em rascunho da Gazeta do Povo, edição online.
  3. Capítulo 1.
  4. Capítulo 3.
  5. Rodrigo Gurgel, Perseguido, mas brilhante.
  6. "Ele foi o primeiro cronista a admitir o futebol em suas crônicas como uma atividade nobre e educativa", em "O Cronista Que Não Queria Escrever Crônicas", prefácio de Melhores Crônicas de Coelho Neto, Editora Global, 2013.
  7. Opinião pessoal do autor do verbete.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]