Usuária:Fernanda Zucki/Emissões Otoacústicas

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Uma emissão otoacústica (EOA) é um som gerado a partir do orelha interna. Tendo sido prevista por Thomas Gold em 1948, sua existência foi comprovada experimentalmente por David Kemp em 1978 [1] e, desde então, as emissões otoacústicas tem demonstrado surgir por meio de diferentes atividades celulares e mecânicas na orelha interna. [2] [3] Estudos apontam que as EOA desaparecem após a orelha interna ser danificada; portanto, as EOAs são frequentemente usadas no laboratório e na clínica como uma medida da saúde da orelha interna.

De um modo geral, existem dois tipos de emissões otoacústicas: emissões otoacústicas espontâneas (EOAEs), que podem ocorrer sem estímulo externo e emissões otoacústicas evocadas (EOEs), que requerem estímulo evocativo.

Mecanismo de ocorrência[editar | editar código-fonte]

Os EOAs são relacionadas à função de amplificação da cóclea. Na ausência de estimulação externa, a atividade do amplificador coclear aumenta, levando à produção de um som. Várias linhas de evidência sugerem que, em mamíferos, as células ciliadas externas são os elementos que aumentam a sensibilidade coclear e a seletividade de frequência e, portanto, agem como fontes de energia para amplificação. Uma teoria é que eles agem para aumentar a discriminabilidade das variações de sinal no ruído contínuo, diminuindo o efeito de mascaramento de sua amplificação coclear. [4]

Tipos[editar | editar código-fonte]

Espontânea[editar | editar código-fonte]

As emissões otoacústicas espontâneas são sons emitidos pelo ouvido sem estimulação externa e mensuráveis com microfones sensíveis no meato acústico externo. As emissões otoacústicas espontâneas podem ser detectadas em aproximadamente 35 - 50% da população. Os sons são estáveis em frequência entre 500 Hz e 4500 Hz para ter volumes instáveis entre -30 dB NPS e +10 dB NPS. A maioria das pessoas não tem conhecimento de suas emissões otoacústicas espontâneas; porções de 1 - 9%, no entanto, a percebem como um zumbido irritante.[5]

Evocada[editar | editar código-fonte]

Atualmente, as emissões otoacústicas evocadas (EOE)são evocadas usando três metodologias diferentes.

  • As EOAs de frequência de estímulo são medidas durante a aplicação de um estímulo de tom puro e são detectadas pela diferença vetorial entre a forma de onda do estímulo e a forma de onda registrada (que consiste na soma do estímulo e das EOA).
  • As EOAs evocados transientes (EOET) são evocadas usando um estímulo clique (ampla faixa de frequência) ou tone burst (tom puro de curta duração). A resposta evocada de um clique cobre a faixa de frequência de até 4 kHz, enquanto um tone burst provocará uma resposta da região com a mesma frequência que o tom puro.
  • As EOAs produto de distorção (EOEPD) são evocadas usando um par de tons primários e com intensidade particular (geralmente 65 - 55 dB NPS ou 65 para ambos) e proporção ( )


Importância clínica[editar | editar código-fonte]

As emissões otoacústicas são clinicamente importantes porque são a base de um teste simples e não invasivo detecção de perda auditiva coclear em bebês recém-nascidos e em crianças ou adultos que não conseguem ou não desejam cooperar durante os testes auditivos convencionais. Muitos países ocidentais agora têm programas nacionais para a triagem auditiva universal de bebês recém-nascidos. A realização da triagem auditiva neonatal é preconizada pelo Brasil antes da alta da maternidade. O programa periódico de exames auditivos na primeira infância também utiliza a tecnologia EOA. Um excelente exemplo foi demonstrado pela Iniciativa de Extensão na Audição na Primeira Infância, do Centro Nacional de Avaliação e Gerenciamento Auditivo (NCHAM) da Universidade Estadual de Utah (EUA), que ajudou centenas de programas detecção precoce nos Estados Unidos a implementar a triagem e acompanhamento de EOA em ambientes educacionais da primeira infância. [6] [7] [8] A ferramenta de triagem primária é um teste para a presença de uma EOA evocada por clique. As emissões otoacústicas também auxiliam no diagnóstico diferencial de perdas auditivas cocleares e de nível superior (por exemplo, neuropatia auditiva).

As relações entre emissões otoacústicas e zumbido foram exploradas. Vários estudos sugerem que em cerca de 6% a 12% das pessoas com audição normal com zumbido e emissões otoacústicas evocadas espontâneas, as emissões seriam pelo menos parcialmente responsáveis pelo zumbido. [9] Estudos descobriram que alguns indivíduos com zumbido exibem emissões espontâneas oscilantes ou vibrantes e, nesses casos, é hipotético que as emissões oscilantes e o zumbido estejam relacionados a uma patologia subjacente comum, em vez de as emissões serem a fonte do zumbido.

Em conjunto com o teste audiométrico, o teste de EOA pode ser complementar para determinar as alterações nas respostas. Estudos descobriram que a exposição a ruído pode causar um declínio nas respostas das EOA. As EOAs são uma medida da atividade das células ciliadas externas na cóclea, e a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) ocorre como resultado de danos às células ciliadas externas na cóclea. [10] [11] Portanto, o dano ou a perda de algumas células ciliadas externas provavelmente aparecerão nas EOAs antes de aparecer no audiograma. Estudos demonstraram que, para alguns indivíduos com audição normal que foram expostos a níveis sonoros excessivos, apresentaram menores, reduzidas ou ausentes EOAs. Em um estudo, um grupo de indivíduos com exposição a ruído foi comparado a um grupo de indivíduos com audiogramas normais e com histórico de exposição ao ruído, bem como a um grupo de recrutas militares sem histórico de exposição a ruído e audiograma normal. [12] Eles descobriram que um aumento na severidade da PAIR resultou em EOAs com uma faixa menor de emissões e amplitude reduzida. Verificou-se que a perda de emissões devido à exposição a ruído ocorreu principalmente nas altas frequências, sendo mais proeminente nos grupos que apresentaram exposição a ruído em comparação ao grupo não exposto. Verificou-se que as EOAs eram mais sensíveis à identificação de dano coclear induzido por ruído do que a audiometria tonal liminar. Em conclusão, o estudo identificou as EOAs como um método para ajudar na detecção do início precoce da PAIR.

Tem sido demonstrado que as emissões otoacústicas produto de distorção (EOEPD) fornecem o máximo de informações para a detecção de perda auditiva em altas frequências, quando comparadas às emissões otoacústicas evocadas transientes (EOET). [13] Isso é uma indicação de que as EOEPD podem ajudar na detecção precoce de PAIR. Um estudo que mediu limiares audiométricos e EOEPDs entre indivíduos nas forças armadas mostrou que houve uma diminuição nos EOEPDs após a exposição a ruído, mas não mostrou uma alteração no limiar audiométrico. Isso suporta as EOAs como preditora de sinais precoces de danos causados pelo ruído. [14]

Importância biométrica[editar | editar código-fonte]

Em 2009, Stephen Beeby, da Universidade de Southampton, liderou pesquisas sobre a utilização de emissões otoacústicas para identificação biométrica. Os dispositivos equipados com um microfone podem detectar essas emissões subsônicas e potencialmente identificar um indivíduo, fornecendo acesso ao dispositivo, sem a necessidade de uma senha tradicional. [15] Especula-se, no entanto, que resfriados, medicamentos, aparar os pelos da orelha ou gravar e reproduzir um sinal no microfone podem subverter o processo de identificação. [16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Stimulated acoustic emissions from within the human auditory system». The Journal of the Acoustical Society of America. 64. Bibcode:1978ASAJ...64.1386K. doi:10.1121/1.382104 
  2. «Time-varying alterations in the f2-f1 DPOAE response to continuous primary stimulation. II. Influence of local calcium-dependent mechanisms.». Hearing Research. 97. PMID 8844195. doi:10.1016/s0378-5955(96)80016-5 
  3. «Efferently mediated changes in the quadratic distortion product (f2−f1)». The Journal of the Acoustical Society of America. 102. Bibcode:1997ASAJ..102.1719C. doi:10.1121/1.420082 
  4. «Reflex control of the human inner ear: a half-octave offset in medial efferent feedback that is consistent with an efferent role in the control of masking.». Journal of Neurophysiology. 101. PMC 2666406Acessível livremente. PMID 19118109. doi:10.1152/jn.90925.2008 
  5. «An estimate of the prevalence of tinnitus caused by spontaneous otoacoustic emissions». Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 116. PMID 2317322. doi:10.1001/archotol.1990.01870040040010 
  6. Eiserman, W., & Shisler, L. (2010). Identifying Hearing Loss in Young Children: Technology Replaces the Bell. Zero to Three Journal, 30, No.5, 24-28.
  7. «Using otoacoustic emissions to screen for hearing loss in early childhood care settings». International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology. 72. PMID 18276019. doi:10.1016/j.ijporl.2007.12.006 
  8. Eiserman, W., Shisler, L., & Foust, T. (2008). Hearing screening in Early Childcare Settings. The ASHA Leader. November 4, 2008.
  9. Norton, SJ; et al. (1990), «Tinnitus and otoacoustic emissions: is there a link?», Ear Hear, 11 (2): 159–166, PMID 2340968, doi:10.1097/00003446-199004000-00011. 
  10. Robinette, Martin; Glattke, Theodore (2007). Otoacoustic Emissions: Clinical Applications. [S.l.: s.n.] ISBN 1-58890-411-3 
  11. Hall, III, James (2000). Handbook of Otoacoustic Emissions. [S.l.: s.n.] ISBN 1-56593-873-9 
  12. Henderson, Don; Prasher, Deepak; Kopke, Richard; Salvi, Richard; Hamernik, Roger (2001). Noise Induced Hearing Loss: Basic Mechanisms, Prevention and Control. [S.l.: s.n.] ISBN 1-901747-01-8 
  13. «Otoacoustic emissions, their origin in cochlear function, and use». British Medical Bulletin. 63. ISSN 0007-1420. doi:10.1093/bmb/63.1.223 
  14. «Detecting incipient inner-ear damage from impulse noise with otoacoustic emissions». The Journal of the Acoustical Society of America. 125. Bibcode:2009ASAJ..125..995M. ISSN 0001-4966. PMID 19206875. doi:10.1121/1.3050304 
  15. Telegraph.co.uk, April 25, 2009, "Ear noise can be used as identification"
  16. IEEE Spectrum Online, April 29, 2009, "Your Ear Noise as Computer Password"

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • MS Robinette e TJ Glattke (orgs., 2007). Emissões Otoacústicas: Aplicações Clínicas, terceira edição (Thieme).
  • GA Manley, RR Fay e AN Popper (eds., 2008). Processos ativos e emissões otoacústicas (Springer Handbook of Auditory Research, vol. 30).
  • S. Dhar e JW Hall, III (2011). Emissões Otoacústicas: Princípios, Procedimentos e Protocolos (Publicação Plural).

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