Usuário:Contoaberto/O Meio é a Mensagem

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A expressão "o meio é a mensagem", criada pelo sociólogo canadense Marshall McLuhan, surgiu a partir do momento em que ele se propôs a analisar e explicar os fenômenos dos meios de comunicação e sua relação com a sociedade.

McLuhan, em sua obra Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem, preocupou-se em mostrar que o meio é um elemento importante da comunicação e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão. Este foi o ponto que gerou maior controvérsia em sua obra, pois até então era comum se estudar o efeito do meio quanto ao conteúdo, sem que se atentasse para as diferenças evidenciadas por cada suporte midiático (jornal, rádio, televisão, cinema, etc.). Cada meio de difusão tem as suas características próprias, e, consequentemente, os seus efeitos específicos. Qualquer transformação do meio é mais determinante do que uma alteração no conteúdo[1]. Para McLuhan, portanto, o mais importante não é o conteúdo da mensagem, mas sim o veículo através do qual a mensagem é transmitida, ou seja, o meio.


A internet é um meio que atua dentro de outro meio (computador) e causa transformações na sociedade

Contexto[editar | editar código-fonte]

Herbert Marshall McLuhan (Edmonton, 21 de julho de 1911 — Toronto, 31 de dezembro de 1980) foi um filósofo e educador canadense e obteve os títulos de mestre e doutor em Filosofia pela Universidade de Cambridge. Seu trabalho é visto como um dos pilares do estudo da teoria da mídia, além de ter aplicações práticas nas indústrias de publicidade e televisão. Publicou aproximadamente 15 obras, dentre as quais: O meio é a massagem, Guerra e Paz na Aldeia Global, A galáxia de Gutemberg e Os meios de comunicação como extensões do homem, seu primeiro livro de notoriedade[2].

Em uma tentativa de analisar e explicar os fenômenos dos meios de comunicação e o seu papel na sociedade, Marshall McLuhan, em uma das suas principais obras, Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem[3], criou a expressão "o meio é a mensagem", como metáfora para a sociedade contemporânea. Ele defendia que "a mensagem é o próprio meio", e o conteúdo que ela carrega são as mudanças comportamentais e sociais que provocam nos indivíduos. O seu foco de estudo eram os veículos de comunicação, qual o meio utilizado para difundir determinada mensagem, qual a capacidade de disseminação desses meios e qual o efeito gerado na vida das pessoas. O principal objeto de estudo de McLuhan para a teoria foi a mídia televisão, devido ao grande espaço que ela vinha ocupando na sociedade em sua época.

Teoria[editar | editar código-fonte]

O tema inicial da obra seria o problema do controle dos meios de comunicação pelo homem, porém se converte na questão do controle dos homens pelos meios. McLuhan insiste no caráter subliminar dos efeitos dos meios de comunicação e tenta se posicionar com a ideia de que os consumidores das mensagens podem dominar os efeitos dos meios, controlando as mensagens por eles veiculadas. Segundo McLuhan, para contrabalançar os efeitos da exposição à imagem de televisão, seria necessário recorrer a outro meio: por exemplo, a palavra impressa. Porém, logo transparece que essa possibilidade é pequena para McLuhan. Prevalece, então, o pensamento de que somente quem controla os meios de comunicação pode ter domínio de seus efeitos, estabelecendo a relação de inseparabilidade entre efeitos de um meio e o próprio meio[4]. Estamos aqui nos referindo, contudo, às consequências psicológicas e sociais dos meios, na medida em que ampliam ou aceleram os processos já existentes. Pois a "mensagem" de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas, humanas[3].

Tomemos como exemplo a estrada de ferro que, segundo o pesquisador, foi responsável por mudanças significativas na vida das pessoas e nas comunidades localizadas ao seu redor: a ferrovia não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos. Para McLuhan, o conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre outro meio ou veículo, assim como a internet que atua dentro de outro meio, o computador. Ele afirma ainda que independentemente do "conteúdo" que os meios veiculam, a preocupação deve ser com as suas conseqüências, já que esses conteúdos vem para somar ao que já somos e pensamos. Para o autor, o conteúdo da mensagem não é relevante porque os meios apenas dão ao público o que eles querem. Assim, os meios é que carregam a própria mensagem e isso é o que deve ser analisado, não a "mensagem" por eles veiculadas[3].

Determinismo tecnológico[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Determinismo tecnológico

Conceito[editar | editar código-fonte]

O conceito de determinismo tecnológico foi criado pelo sociólogo americano Thorstein Veblen (1857-1929) e aperfeiçoado por Robert Ezra Park, da Universidade de Chicago. Em 1940, Park declarou que os dispositivos tecnológicos estavam modificando a estrutura e as funções da sociedade, noção que serviu como ponto de partida para uma corrente teórica[5].

Atualmente, determinismo tecnológico é a corrente mais popular entre aquelas que procuram explicar as relações entre a tecnologia e a sociedade. Ele tenta explicar fenômenos sociais e históricos de acordo com um fator principal, que neste caso é a tecnologia[5].

De acordo com deterministas tecnológicos como Marshall McLuhan, Harold Innis, Neil Postman, Jacques Ellul, Sigfried Giedion, Lynn White Jr e Alvin Toffler, as tecnologias são consideradas como a causa principal das mudanças na sociedade. Eles interpretam a tecnologia, como sendo a base da sociedade no passado, no presente e até mesmo no futuro. Defendem ainda, que novas tecnologias transformam a sociedade em todos os níveis, inclusive institucional, social e individualmente[6].

Harold Innis, historiador e economista canadense, foi um dos pioneiros nesta corrente e influenciou profundamente a obra de McLuhan[7].

Expressão do determinismo tecnológico em o meio é a mensagem[editar | editar código-fonte]

Seguidor das ideias de Innis, McLuhan diz que "Os efeitos das máquinas tecnológicas foi reestruturar o trabalho humano e associação pela técnica da fragmentação." McLuhan chama ainda de "sonâmbulos" os que dizem que é o uso que se faz das tecnologias que determina seu valor. Para ele, o poder transformador da mídia é a própria mídia. "A mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ritmo ou padrão que introduz na vida humana."[3].

Portanto, para Marshall McLuhan, a evolução das culturas seria ditada pelos meios de comunicação sob a forma de novas tecnologias; isto é, seriam eles (os meios) os principais responsáveis pelas transformações que nossa sociedade passa. Sendo assim, a tecnologia seria a determinante em nossa sociedade, o que nos move e o que nos impulsiona para a mudança[3].

Marshall McLuhan afirma que o meio influencia significativamente a mensagem que iremos receber, sendo assim, uma mesma mensagem é percebida por um mesmo indivíduo de formas diferentes caso ele as receba em diferentes meios[6].

A expressão “o meio é a mensagem” quer dizer que nós recebemos mensagens de formas diferentes dependendo de como elas nos são apresentadas, pois somos nós que influenciamos esse meio e a forma com que a mensagem será transmitida para um determinado receptor. Nós que determinamos o meio em que a mensagem será transmitida, é a sociedade que é responsável tanto pela transmissão como a recepção de mensagens. A tecnologia não determina, mas sim, proporciona mais uma forma de nos expressarmos. Se hoje a tecnologia está cada vez mais presente na forma como lidamos com nossas inter-relações é porque a sociedade foi se transformando durante anos até evoluir para esse período[8].

A capacidade cognitiva humana[editar | editar código-fonte]

Em seu livro Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem[3], McLuhan descreve um dispositivo conhecido como audiac, que foi adaptado à Odontologia. Ao estimular o paciente com um barulho que aumenta gradativamente, este deixa de sentir dor de forma semelhante à vitima de bombas, granadas ou qualquer barulho violento, entram em um estado descrito como choque de guerra.

As novas tecnologias se constituem como extensões dos sentidos do homem. Elas se projetam como próteses em nosso organismo, suprindo determinadas necessidades, e terminam por se constituir, em maior ou menor intensidade, como uma espécie de auto-amputação, uma vez que nos condicionam à sua existência. Esta condição de auto-amputação, descrita por McLuhan, nada mais é do que o entorpecimento do sistema nervoso central como uma forma de manter o equilíbrio ao aliviar imediatamente as pressões de hiperestímulos exercidos sobre o mesmo. Este mesmo princípio é interpolado aos meios de comunicação desde a fala até o computador[3].

Quando um determinado conteúdo é passado através somente da escrita, é adicionado informações quanto à caligrafia (se é esmerada ou desleixada) e quanto à formalidade verbal. Se este conteúdo for passado por um meio radiofônico, são adicionadas informações quanto ao tom de voz e se, ainda, for por um meio de comunicação oral, também é adicionada a informação quanto a postura corporal e detrimento do menor foco quanto ao tom de voz e quanto ao conteúdo. Por isso McLuhan afirma que o meio de comunicação é a própria mensagem, e é percebida e interpretada de um modo diferente para cada meio de comunicação mesmo que a ideia inicial a ser transmitida seja a mesma[4].

O meio é a "massagem"[editar | editar código-fonte]

Muitos se perguntam o motivo de um dos livros mais conhecidos de Marshall McLuhan, “The Medium Is The Massage” (O meio é a massagem), possuir esse título ao invés de “The Medium Is The Message” (O meio é a mensagem). O filho mais velho de McLuhan, Eric McLuhan, conta que na verdade o nome foi um erro tipográfico e que quando McLuhan viu o erro, exclamou: "Deixe como está! É ótimo e bem no alvo!"[9].

O que McLuhan quis mostrar é como o meio ou o canal em que a mensagem é transmitida interfere muito mais no impacto dela do que o próprio conteúdo, conforme ele mesmo havia teorizado. Pois, com a mudança desta última palavra, o título agora teria quatro leituras possíveis: message (mensagem), mess age (era da bagunça), massage (massagem) e mass age (era da massa)[9].

Outros conceitos do mesmo autor[editar | editar código-fonte]

Além da expressão "O meio é a mensagem", Marshall McLuhan conceituou outros aspectos importantes da mídia que tiveram grande repercussão no estudo dos meios de comunicação e seus impactos na sociedade.

Tribalização, destribalização e retribalização[editar | editar código-fonte]

De acordo com as formulações de McLuhan, a Evolução cultural da humanidade é dividida em três fases: tribalização, destribalização e retribalização[10].

O primeiro estágio se inicia a partir do momento em que o ser humano adquire a linguagem através do gregarismo e cooperação, se tornando ferramenta fundamental para a comunicação e para a sobrevivência social. Desta forma, o homem começa a ser organizar e a estabelecer padrões culturais que serão acumulados e transmitidos às outras gerações através da comunicação oral.

O surgimento da escrita caracteriza a fase seguinte, a destribalização, no qual o indivíduo rompe os laços tribais e liberta-se da dependência direta dos ancestrais, tendo então acesso aos bens culturais da comunidade. O conhecimento começa a ser acessível a todos a partir da consagração da mídia impressa, fazendo com que as pessoas passem a adquirir conhecimento individualmente, não necessitando mais que encontros fossem realizados. Esta é a época da modernidade, a era da individualidade.

A fase de retribalização começa com o surgimento de novos instrumentos capazes de romper as barreiras geográficas, linguísticas e culturais. É o período no qual o homem retoma à consciência coletiva e rompe as barreiras do isolamento e do individualismo, tudo isso graças aos meios de comunicação, que até hoje contribuem para a rapidez e eficiência da comunicação entre pessoas de diferentes localidades[11].

Meios quentes e meios frios[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Meios quentes e Meios Frios

McLuhan classifica os meios de comunicação como quentes ou frios de acordo com o grau de participação exigido do público. Os quentes são os meios que possuem alta saturação de dados (“alta definição”) e baixo grau de participação das pessoas, isso ocorre porque não há espaço a ser preenchido, já que a informação chega completa. É necessário o uso de apenas um sentido, como ocorre com o rádio em que se utiliza a audição e com a fotografia, onde a visão se faz necessária. Já os meios frios requerem um maior engajamento do espectador, fazendo-o usar vários sentidos simultaneamente. Menos informação é disponibilizada (“baixa saturação”) e é necessário a intervenção dos demais sentidos para preencher os vazios deixados pelo meio, como ocorre com o telefone e a televisão[3].

Tem-se ainda que não são apenas os meios que distinguem-se como "quentes" e "frios". Essa qualificação de caráter metafórico foi transferida para o plano dos seus efeitos sobre os receptores das mensagens veiculadas. Tem-se, então, que a exposição a meios "frios" também "esfria" os indivíduos e grupos sociais, ao passo que o efeito dos meios "quentes" gera um aquecimento. Essa análise pode ser considerada como parte mais vulnerável da obra de McLuhan, porém revela uma nova atribuição de seu estudo: a técnica de controle social[4].

Os meios de comunicação como extensões do ser humano[editar | editar código-fonte]

O autor defende a ideia de que todos os meios são extensões dos sentidos humanos, ou seja, o homem passa a depender da tecnologia dos mieos, de modo que faz uso dela como se fosse parte de seu próprio corpo (conceito definido pelo autor como "prótese técnica"). Meio é definido por McLuhan como toda forma de interação social e as formas pelas quais se estabelecem relações de poder, ora por dependência, ora por cooperação e ora por dominação. Essas formas de extensões são simbióticas e nos explicam a transformação da sociedade frente às novas tecnologias que mudou nossa percepção de espaço e de tempo[3].

O papel e a caneta são extensões do sentido da memória (que hoje já evoluíram para os palmtops[6]),o livro seria a extensão da visão[4], a roda seria extensão dos nossos pés modificando e ampliando a habilidade de locomoção e o telefone seria a ampliação da nossa fala[3].

Aldeia global[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Aldeia Global

Este espaço nada mais seria que um espaço de convergência, em que toda a evolução tecnológica estivesse caminhando no sentido de formar uma aldeia, em que a qualquer distância seja possível a comunicação direta. As formas de comunicação da aldeia são essencialmente bidirecionais e entre dois indivíduos, que se conectam. Somente com a invenção do telemóvel e da internet é que o conceito se começa a concretizar. O princípio que preside a este conceito é o de um mundo interligado, com estreitas relações econômicas, políticas e sociais. A ideia de global é verdadeiramente ampla, uma notícia em determinado lugar do mundo pode repercutir para todos os países e ter influências econômicas, culturais e sociais[3].

Por esse conceito, as tecnologias da comunicação, em especial a televisão, estariam transformando o mundo em uma aldeia, que através da conexão com o próximo, fazia do homem um ser mais solidário devido a possibilidade de participação na vida do outro pelas diversas mídias . Entretanto, com o advento da internet, podemos dizer que o isolamento das pessoas no mundo globalizado é cada vez maior, pois por meio dela temos a sensação de estarmos nos relacionando com o mundo (pessoas, informações, consumo, etc.) mas na verdade estamos no ambiente isolado e individualizado de nossas residências.[8].

Referências

  1. Olga Pombo. «O meio é a mensagem» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2013 
  2. Terrence Gordon. «Who was Marshall McLuhan?». Consultado em 27 de novembro de 2013 
  3. a b c d e f g h i j k McLuhan, Marshall (1969). O meio é a Mensagem. In: Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix 
  4. a b c d Cohn, Gabriel (1977). O meio é a mensagem: análise de McLuhan. São Paulo: Nacional 
  5. a b Karina Medeiros de Lima. «Determinismo Tecnológico» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2013 
  6. a b c Renata Prado. «Marshall McLuhan: Obras e Principais Conceitos». Consultado em 27 de novembro de 2013 
  7. Karina Medeiros de Lima. «Determinismo Tecnológico» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2013 
  8. a b Vinícius Andrade Pereira. «Marshall McLuhan, o conceito de determinismo tecnológico e os estudos dos meios de comunicação contemporâneos» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2013 
  9. a b Eric McLuhan. «Commonly Asked Questions about McLuhan». Consultado em 25 de dezembro de 2013 
  10. McLuhan, Marshall (1967). A Galáxia de Gutenberg. São Paulo: Cultrix 
  11. «Tribalização». Consultado em 25 de dezembro de 2013 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]