Usuário(a):Thayse Benigna Dutra/Aconselhamento familiar na deficiência auditiva

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Aconselhamento Familiar na Deficiência Auditiva

Introdução[editar | editar código-fonte]

Através da família acontece a inserção da criança no mundo social através da promoção da aprendizagem de elementos culturais como: linguagem, hábitos, usos, costumes, valores, normas, padrões de comportamento e atitudes. A descoberta de uma perda auditiva tem um efeito significativo nesse processo em seus diversos aspectos, visto que esta perda da audição interfere na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral.

É essencial que os pais e/ou responsáveis pela criança, sejam conscientizados acerca da surdez, de suas consequências na comunicação oral e na inserção da criança na sociedade. O profissional que atua no processo de habilitação e reabilitação auditiva da criança com distúrbios da comunicação resultantes de perdas auditivas precisa estar ciente de seu real papel como agente de apoio para família e para criança, este profissional é o fonoaudiólogo.

No aconselhamento, o profissional da Fonoaudiologia deve ter consciência de seu papel, não ultrapassar os limites profissionais do campo: resolução de problemas, processo de tomada de decisões, confronto com crises pessoais, promoção de autoconhecimento e melhorias das relações interpessoais. Portanto, o trabalho de aconselhamento aos pais é decisivo para o sucesso da proposta terapêutica.

Acolhimento[editar | editar código-fonte]

O Acolhimento por parte dos profissionais da saúde envolvidos no processo diagnóstico e reabilitação auditiva é fundamental para apoio da família e do indivíduo em especial no momento do diagnóstico audiológico é quando as famílias se sentem mais desamparadas devido ao sentimento da perda do filho idealizado e a impotência perante a situação.

Durante o acolhimento, é importante que haja orientações e informações suficientes à família quanto ao sistema de saúde e seus trâmites para o tratamento, já que é comum que os pais se sintam perdidos em relação aos serviços de saúde auditiva.

O profissional Fonoaudiólogo deve estar habilitado a acolher a família em um momento de crise, tendo uma escuta ativa e consciente de que esta está passando por um processo de luto e como agir em cada situação, buscando melhorar a participação da família no processo terapêutico, transformando-a em uma família funcional, propiciando o diálogo com exposição dos sentimentos, tomada de decisões, ajustes dos papéis de cada membro da família no processo terapêutico.

Uma dinâmica familiar funcional é importante para o desenvolvimento da criança deficiente auditiva e sua independência nos meios sociais, assim como na qualidade da sua comunicação para com os outros. Os pais são os primeiros professores da criança, sendo imprescindível o cuidado, natural e lúdico, para aquisição e desenvolvimento da linguagem.

Implicações Afetivas e Emocionais[editar | editar código-fonte]

Os estados emocionais pelos quais a família passa desde a momento do diagnóstico audiológico são amplamente reconhecidos e estudados por profissionais de diferentes áreas. Sendo que cada membro da família experiencia de forma diferente o processo de reabilitação:

A mãe é o centro de prazer e atenção para a criança, através dos cuidados diários que dispõem a ela, se preocupam mais com a saúde e segurança pelo fato de ter contato diário.

As mães de crianças com deficiência tendem a se sentirem responsáveis pela existência da deficiência, o que gera uma lacuna na relação maternal e por consequência faz com que ela tenha sentimentos de frustração e de incompetência. Ela não percebe um relacionamento recíproco, pois não sente os efeitos da sua interação com o bebê.

O pai geralmente tem um contato mais distante dos filhos, estando menos adaptado ao manejo das situações diárias, tendo menor conhecimento dos cuidados com a deficiência auditiva, estando, em muitas vezes mais capacitado para disciplinar os filhos, já que o relacionamento é menos focado na deficiência.

Os irmãos podem se sentir afetados de diferentes formas: na maioria das vezes são negligenciados por causa da criança com deficiência, os pais frequentemente colocam maior pressão para que tenham sucesso na vida, muitas vezes se sentem constrangidos pela presença do irmão com deficiência.

Desenvolvem demasiada responsabilidade nos cuidados ao irmão, adotando as atitudes dos pais com a criança.

Os avós são os mediadores entre pais e filhos, são importantes e presentes fisicamente ou não, são as pessoas que dão suporte carinho e afeto. A dor dos avós com o diagnóstico da deficiência auditiva é dupla.

Os seus sentimentos são paralelos aos dos pais, de pesar, raiva, culpa,ansiedade e confusão. O reconhecimento desses sentimentos para determinar as reais condições de assimilação das informações que o profissional forneceu a família é muito importante, uma vez que podem acrescentar sentimentos de confusão e culpa e os pais podem não estar em condições de assimilar nenhum tipo de informação no momento do diagnóstico. Portanto é necessário que o profissional e a família tenham uma boa interação no processo de reabilitação terapêutica, pois dessa forma o profissional conseguirá saber os sentimentos que a família está enfrentando. Pois são muitas questões, dúvidas e sentimentos que fazem parte da vida da família e continuarão durante todo o processo terapêutico da criança surda, e estes sentimentos estarão intimamente relacionados à terapia fonoaudiológica. Quando o profissional sabe sobre esses sentimentos, fica mais fácil para ele ajudar, tirar as dúvidas e aconselhá-los. Por esse motivo é tão importante que o Fonoaudiólogo elabore o plano terapêutico da criança com deficiência auditiva visando primeiro a parceria com a família. Pois dessa forma a equipe de profissionais e a família estabelecem objetivos e expectativas reais há respeito da criança, podendo tomar medidas de intervenção que promova sucesso no desenvolvimento da criança como um todo.

Modelos de Orientação[editar | editar código-fonte]

Esse modelo aborda e reconhece a importância da família como cliente do cuidado, assegurando a participação de todos no planejamento das ações, identificando as questões importantes para a família, integrando os valores e preferências do cliente/família.

O profissional deve oferecer respostas às dúvidas da família em relação ao desenvolvimento do filho, auxiliar paciente e família a enfrentar os problemas e os sentimentos decorrentes das consequências advindas das dificuldades. A família necessita de programas de apoio apropriados para potencializar ao máximo suas próprias capacidades, com ações preventivas e terapêuticas que proporcionem o incentivo da melhoria da qualidade de vida familiar.

Portanto, nesse modelo o profissional deve passar apoio incondicional, respeito, confiança, paciente e família deve estar informada sobre objetivos, tarefas, duração e eficácia do tratamento.

Nela o profissional empodera o paciente, auxilia-o a ganhar controle sob a sua condição. Para isso, é preciso fazer com que ele tenha iniciativa, resolva problemas e tome decisões. Está estruturado em seis componentes, que são complementares entre si, o profissional deve ser capaz de saber o momento certo de lançar mão de um ou outro componente, de acordo com o fluir da sua interação com a pessoa que procura atendimento.

São elas: exploração da doença e a experiência da pessoa com a doença: avaliação da história clínica, exames e dimensão da doença; entendendo a pessoa como um todo indivisível: aspectos pessoais e de desenvolvimento, família, trabalho, suporte social, contexto distante, sua comunidade, cultura e ecossistema; elaboração de um projeto comum de manejo: avaliando problemas e prioridades, estabelecendo objetivos do tratamento e manejo, avaliando e estabelecendo papéis do paciente e profissional; incorporação da prevenção e promoção de saúde: desencadear reflexões críticas por meio do diálogo para conscientizar a pessoa sobre seu potencial para saúde, evitar ou reduzir sobre ameaças à saúde; fortalecimento do relacionamento entre pessoa e profissional, exercer empatia, promover o autoconhecimento; ser realista: saber momento correto para abordar determinada questão,possíveis resistências, estágio da mudança e trabalho em equipe.

Relata sobre os estágios de mudança, maneira de pensar e sentir que ajudam a passar pelos estágios iniciais com a estimulação da auto-eficácia que envolve a confiança que o indivíduo tem em si mesmo para superar situações de desafios em sua mudança comportamental e a habilidade de enfrentar as tentações contrárias a esta mudança

Estágios de mudança:

  • Pré contemplação: em que o paciente não está preparado para mudança. O profissional não deve confrontá-lo fortemente, evitando gerar ansiedade ou conflito, mas sim aumentar consciência, preocupação, esperança, confiança.

  • Na contemplação: o paciente pensa sobre a mudança , analisa dos riscos e benefícios e decisão estável de mudança.

  • Preparação: o paciente busca de informações sobre as consequências, o profissional deve criar um plano aceitável e efetivo.

  • Ação: paciente fala sobre a mudança, procura por reconhecimento e valorização, o profissional deve implementar o plano e revisões necessárias.

  • Manutenção: paciente: sente-se bem-sucedido, às vezes pode ficar triste ao pensar nos conflitos e por que deixou velhos hábitos, integração ao estilo de vida.

  • Recaída: paciente sente-se um fracasso e que é fraco, está com raiva e irritado com si mesmo, mas está motivado para novas tentativas em relação a mudança de hábitos novamente.

  • Término: paciente sente-se seguro e confortável com o novo comportamento e Integra totalmente os novos hábitos ao seu estilo de vida.

Portanto, nos modelos é importante o profissional auxiliar nos processos de mudanças comportamentais, trabalhar a resolução da ambivalência, auxiliar a pessoa e a família a fazer algo a respeito de seus problemas presentes ou potenciais, compreender os sentimentos e as perspectivas do paciente sem julgar ou culpar, estimular a autoeficácia: crença de uma pessoa e família em sua capacidade de realizar e ter sucesso em tarefa específica, reconhecer que a família é fundamental nas decisões e realizações das ações para o desenvolvimento da paciente.

Referências

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