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Descolonização da saúde é o conjunto de ações que busca libertar os conceitos de bem-estar físico, psíquico e social da dependência de epistemologias ocidentais que se impuseram com base na força e no apagamento de saberes não reconhecidos pelas oficialidades.
O saber colonial colocou o conhecimento científico acima de outros saberes tradicionais, aqueles vindos de povos africanos, afrodescendentes e indígenas, e o predomínio desse pensamento colaborou para o distanciamento epistêmico dessas práticas.[4]
“A visão naturalista em que assenta a medicina ocidental moderna foi introduzida na maioria das sociedades pelos mesmos canais que trouxeram o colonialismo, trazendo em sua esteira um rastro de desqualificação, supressão, invisibilização ou apropriação de outros conhecimentos e práticas, chegando mesmo à eliminação física daqueles e daquelas que protagonizavam esses saberes e experiências.”[1]
Aimé Césaire, poeta e pensador martinicano, definiu a colonização como sendo a humanidade reduzida ao monólogo.[2] Se tomamos esta ideia como desenho das sociedades ocidentais e sua forma de produção de conhecimento, evidencia-se que muito conhecimento constituído em relações e dinâmicas pré-coloniais que encerram lições úteis estão fora do radar de estudantes, pesquisadores e instituições. Assim, em todas as áreas têm surgido, com cada vez mais relevância, esforços para uma descolonização da ciência e também, é claro, das ciências da saúde.
Nesta direção, a perspectiva de descolonização da saúde se constitui como uma linha de investigação que se fortalece no campo da Saúde Coletiva, no Brasil e em toda América Latina, procurando “encontros entre diferentes conhecimentos por meio de abordagens participativas e não extrativistas que abrem caminho para ecologias de saberes apoiadas nos conhecimentos e práticas originadas em experiências e lutas”[1].
Essa linha de investigação perpassa todas as áreas da saúde, com especial desenvolvimento no Brasil no subcampo da Saúde Mental, influenciada pelo pensamento do também martinicano Franz Fanon e sua discussão do racismo estrutural, propiciando inclusive a integração da arte e da cultura popular em processos terapêuticos que acolhem a participação da comunidade e abrem espaço para a autonomia dos indivíduos em tratamento, propondo o fortalecimento da autonomia do sujeito nos processos terapêuticos[3].
Terminologia polêmica
[editar | editar código-fonte]Decolonial ou descolonial? Qual a forma mais apropriada?
Decolonial, descolonial, pós-colonial são todas terminologias presentes em um mesmo campo amplo de pesquisa. A descolonialidade é muito presente nas obras do peruano sociólogo Anibal Quijano. Está ligada às lutas anticoloniais que marcaram as independências das antigas colônias e pode ser definida como um processo de superação do colonialismo e das relações de opressão que ele causou.
Por outro lado, a ideia decolonial é central na obra da norte-americana Catherine Walsh e outros autores que a utilizam fazendo referência a um projeto de transgressão histórica da colonialidade, a partir da noção de que não seria possível desfazer ou reverter a estrutura de poder colonial. O objetivo seria o de encontrar caminhos para desafiá-la continuamente.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Nunes, João Arriscado; Louvison, Marília (2020). «Epistemologias do Sul e descolonização da saúde: por uma ecologia de cuidados na saúde coletiva». Associação Paulista de Saúde Pública. Saúde e Sociedade. 29 (3). Consultado em 14 de outubro de 2022
- ↑ Césaire, Aimé (2020). Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta
- ↑ Sevalho, Gil; Dias, João Vinícius dos Santos (2022). «Frantz Fanon, descolonização e o saber em saúde mental: contribuições para a saúde coletiva brasileira». Ciência & Saúde Coletiva [online]. pp. 937–946