Usuário(a):Miremiremi/Terminador (genética)

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Em genética, um terminador de transcrição é uma sequência de nucleotídeos que marca o final de um gene ou operon no DNA genômico durante a transcrição . Este tipo de sequência desencadeia processos que liberam o RNA recém-transcrito do complexo transcricional. Os processos incluem a interação direta da estrutura secundária do mRNA com o complexo e/ou atividades indiretas dos fatores de terminação que resultam na dissociação do complexo transcricional. Assim, a RNA polimerase e a maquinária transcricional restante são liberados para iniciar a transcrição de novos mRNAs.

Em procariotas[editar | editar código-fonte]

Esquemas simplificados dos mecanismos de terminação da transcrição procariótica. Na terminação independente de Rho, um grampo de terminação se forma no mRNA nascente interagindo com a proteína NusA para estimular a liberação do transcrito do complexo de transcrição (topo). Na terminação dependente de Rho, a proteína Rho se liga no sitio rut e é translocada para baixo no mRNA, interagindo com o complexo de transcrição para estimular a liberação do transcrito.

Em genomas procarióticos foram identificadas duas classes de terminadores de transcrição: os dependentes de Rho e os independentes de Rho.

Terminadores dependentes de Rho[editar | editar código-fonte]

No caso dos terminadores de transcrição dependentes de Rho, a terminação requere a presença de uma grande proteína chamada fator Rho, que apresenta atividade de RNA helicase para interromper o complexo transcricional, composto por mRNA, DNA e RNA polimerase. Terminadores Rho-dependentes são encontrados em bactérias e fagos. A sequência terminadora dependente de Rho se encontra "upstream" (a montante) dos códons de terminação da tradução e consiste em uma sequência rica em citosina no mRNA, conhecida como um sítio de utilização de Rho (rut, do inglês), e em um ponto de parada da transcrição (tsp, do inglês), que se encontra "downstream" (a jusante) do sítio rut.[1] O sítio rut serve como um local de carregamento de mRNA e como um ativador para o fator Rho. A ativação do mesmo permite que ele se transloque o mRNA enquanto mantém contato com o sítio tsp. Essa translocação envolve a hidrólise de ATP. O fator Rho chega até a RNA polimerase, que é paralisada nos sítios tsp em posição "downstrem" (a jusante). Existem várias sequências que podem funcionar como um sítio tsp. O mecanismo de dissociação do complexo transcricional envolve efeitos alostéricos de Rho na RNA polimerase.[2] [3]

Terminadores independentes de Rho[editar | editar código-fonte]

Os terminadores independentes do fator Rho também são chamados de terminadores intrínsecos. Eles requerem a formação de uma estrutura "hairpin" (grampo de cabelo) no transcrito que está sendo formado, que estimula a dissociação do complexo de transcrição formado por mRNA, DNA e RNA polimerase. Este tipo de sequência terminadora contém uma região de 20 pares de bases rica em GC (guanina e citosina), que apresenta uma simetria díade, ou seja repetições invertidas. Também apresenta uma região "poly-A" (sequência de adeninas) de 7 a 9 nucleotídeos de comprimento, que vai formar uma cauda de uracil no fim do transcrito. A estrutura "hairpin" causa a estagnação e desestabilização da RNA polimerase, o qual leva a uma maior probabilidade de ocorrer a dissociação do complexo de transcrição nesse local.[4][5]

Além disso, o fator de elongação protéica NusA interage com a RNA polimerase e com a estrutura "hairpin" para estimular a terminação transcripcional.[6]

Em eucariotas[editar | editar código-fonte]

Em eucariotas, a terminação da transcrição de mRNAs é sinalizada na sequência e esses sinais são reconhecidos por fatores protéicos associados à RNA polimerase II, os quais estimulam o processo de terminação. Um sinal de terminação do mRNA eucariótico é a cauda poli-A. Assim que este sinal é transcrito, duas proteínas são transferidas do terminal carboxila até a cauda poli-A. Estas são chamadas de fator CPSF e fator CstF. Elas estimulam outras proteínas a chegarem até o local para cortar o transcrito, liberando o mRNA do complexo de transcrição. Além de cortar o mRNA as proteínas recrutadas adicionam uma cauda de umas 200 repetições de adenosina no extremo 3' do transcrito, em um processo chamado poliadenilação. Ao longo desse processo de terminação da transcrição, a RNA polimerase continua transcrevendo centenas até alguns milhares de bases, até que eventualmente se dissocia do DNA e do transcrito "downstream" (a jusante). O mecanismo de dissociação da RNA polimerase ainda não foi completamente elucidado. Existem dois modelos básicos para explicar este processo conhecidos como o modelo torpedo e o modelo alostérico.[7]Erro de citação: Elemento de abertura <ref> está mal formado ou tem um nome inválido

Modelo torpedo[editar | editar código-fonte]

Depois que o mRNA foi cortado na sequência poli-A e liberado do complexo de transcrição, do outro lado do corte a fita de RNA segue ligada ao DNA e à unidade da RNA polimerase II, que continua com a transcrição. Após o corte uma enzima chamada exonuclease se liga à fita residual de RNA e remove um por um nucleotídeos os recém-transcritos. Enquanto a exonuclease degrada assim o RNA, ela vai se aproximando à RNA polimerase ||. Em humanos esta exonuclease é chamada de XRN2 (5'-3' Exoribonuclease 2). O modelo torpedo propõe que a exonuclease avança ao longo do RNA até que "empurra" a unidade da RNA polimerase ||. Dessa forma a RNA polimerase || é dissociada do DNA e o RNA residual é removido.

De forma semelhante à terminação dependente de Rho, a exonuclease provoca a dissociação da RNA polimerase ||, deslocando ela do DNA ou deslocando o DNA dela.[8] O mecanismo exato ainda não foi elucidado e provávelmente não seja a única causa da dissociação.[9]

Modelo alostérico[editar | editar código-fonte]

O modelo alostérico propõe que a dissociação da unidade da RNA polimerase ocorre devido à ligação ou a dissociação de algumas das proteínas associadas a ela, o qual provocaria a separação da enzima e o DNA.[10] Esse processo seria desencadeado pela transcrição do sinal poli-A.

Após transcrever a sequência poli-A, a RNA polimerase perde as duas proteínas associadas do terminal carboxila, mencionadas acima, que induz uma mudança na conformação dela. Esta mudança conformacional reduz a processividade da enzima, fazendo ela mais propensa a de dissociar do substrato DNA-RNA. Neste caso, a terminação não é completada pela degradação do mRNA, e sim pela diminuição da eficiência em elongar o RNA, aumentando a probabilidade de se dissociar.[7]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

 

  1. Richardson, Lislott V.; Richardson, John P. (agosto de 1996). «Rho-dependent Termination of Transcription Is Governed Primarily by the Upstream Rho Utilization (rut) Sequences of a Terminator». Journal of Biological Chemistry (em English) (35): 21597–21603. ISSN 0021-9258. doi:10.1074/jbc.271.35.21597. Consultado em 8 de julho de 2021 
  2. Ciampi, M. Sofia (1 de setembro de 2006). «Rho-dependent terminators and transcription termination». Microbiology (em inglês) (9). ISSN 1350-0872. doi:10.1099/mic.0.28982-0#tab2. Consultado em 8 de julho de 2021 
  3. Epshtein, V; Dutta, D; Wade, J; Nudler, E (Jan 14, 2010). «An allosteric mechanism of Rho-dependent transcription termination.». Nature. 463: 245–9. PMC 2929367Acessível livremente. PMID 20075920. doi:10.1038/nature08669 
  4. Hippel, P. V. (1998). «An Integrated Model of the Transcription Complex in Elongation, Termination, and Editing». doi:10.1126/SCIENCE.281.5377.660. Consultado em 8 de julho de 2021 
  5. Gusarov, Ivan; Nudler, Evgeny (abril de 1999). «The Mechanism of Intrinsic Transcription Termination». Molecular Cell (4): 495–504. ISSN 1097-2765. doi:10.1016/s1097-2765(00)80477-3. Consultado em 8 de julho de 2021 
  6. Santangelo, Thomas J.; Artsimovitch, Irina (11 de abril de 2011). «Termination and antitermination: RNA polymerase runs a stop sign». Nature Reviews Microbiology (5): 319–329. ISSN 1740-1526. doi:10.1038/nrmicro2560. Consultado em 8 de julho de 2021 
  7. a b Watson, J. (2008). Molecular Biology of the Gene. [S.l.]: Cold Spring Harbor Laboratory Press. pp. 410–411. ISBN 978-0-8053-9592-1 
  8. Luo, Weifei; Bentley, David (29 de dezembro de 2004). «A Ribonucleolytic Rat Torpedoes RNA Polymerase II». Cell (em English) (7): 911–914. ISSN 0092-8674. PMID 15620350. doi:10.1016/j.cell.2004.11.041. Consultado em 8 de julho de 2021 
  9. Luo, Weifei; Johnson, Arlen W.; Bentley, David L. (15 de abril de 2006). «The role of Rat1 in coupling mRNA 3′-end processing to transcription termination: implications for a unified allosteric–torpedo model». Genes & Development (em inglês). 20 (8): 954–965. ISSN 0890-9369. PMC 1472303Acessível livremente. PMID 16598041. doi:10.1101/gad.1409106 
  10. Rosonina, E. (1 de maio de 2006). «Terminating the transcript: breaking up is hard to do». Genes & Development (em inglês) (9): 1050–1056. ISSN 0890-9369. doi:10.1101/gad.1431606. Consultado em 8 de julho de 2021 

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