Usuário:AureoB/Seleção Artificial

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Cenouras selecionadas artificialmente.

Seleção artificial é o processo conduzido pelo ser humano de cruzamentos seletivos com o objetivo de selecionar características desejáveis em animais, plantas e outros seres vivos. Estas características podem ser, por exemplo, um aumento da produção de carne, leite, , seda ou frutas. Para esse fim foram, e são, produzidas diversas raças domésticas, como cães, gatos, pombos, bovinos, peixes e plantas ornamentais. É uma seleção em que a luta pela vida, ou seleção natural, foi substituída pela escolha humana dos indivíduos que melhor atendem aos seus objetivos.

O processo de seleção artificial ajudou na criação de um modelo que pudesse explicar a variação natural dos seres vivos, a seleção natural.

Processos[editar | editar código-fonte]

A seleção darwiniana, se impulsionada artificialmente com a maior intensidade possível, pode impedir a mudança evolutiva a uma taxa muito mais elevada do que jamais se viu na natureza. Para visualizarmos isso, beneficiamo-nos do afortunado fato de que nossos antepassados, não importa se compreendessem ou não plenamente o que estavam fazendo, promoveram durante séculos a reprodução seletiva de animais domésticos e plantas.

Os processos de seleção artificial são o endocruzamento e formação de híbridos. Através do endocruzamento o homem promove uma seleção direcional escolhendo os indivíduos portadores das características que pretende selecionar e promove o cruzamento entre os indivíduos selecionados; nas gerações seguintes faz o mesmo tipo de seleção. Desta forma, os genes responsáveis pelas características escolhidas têm aumentado sua freqüência e tendem a entrar em homozigose. A população selecionada tem a variabilidade genética reduzida através da semelhança cada vez maior entre os indivíduos que a compõem. É desta maneira que são produzidas linhagens puro-sangue de cavalos, cães etc. Ao mesmo tempo, o criador evita a reprodução de indivíduos que não possuam as qualidades desejadas. Desse modo, a seleção feita por criadores apresenta aspectos positivos e negativos.

A seleção e seus problemas[editar | editar código-fonte]

O melhoramento de plantas através da seleção artificial, por exemplo, tenta explorar a variabilidade genética existente dentro de cada espécie, mas tem apresentado limitações por causa do rápido aparecimento de patógenos e seus mutantes. Recursos genéticos adicionais têm sido requeridos para preencher as necessidades de geração de variabilidade, imprescindível no combate a doenças que estão ressurgindo. A exploração de espécies afins de plantas cultivadas é uma das maneiras de introduzir genes adicionais em variedades cultivadas, pois o processo de domesticação e a seleção artificial impostos pelo homem têm contribuído para a perda da biodiversidade, fenômeno denominado erosão genética.

Como exemplo, destaca-se o trigo de panificação, no qual, seja considerado uma espécie de ampla base genética, contendo três genomas distintos, a pressão de seleção exercida pelos melhoristas tem contribuído para crescente redução na variabilidade genética. Além disso, genes localizados em genomas distintos têm o poder de neutralizar a expressão e a manifestação de outros genes, dificultando o ganho genético através de seleção. A erosão genética está ocorrendo em virtude de substituições das variedades crioulas por cultivares mais produtivas e de maior grau de uniformidade genética e, também em razão do uso recorrente de poucos genes, como aqueles que conferem resistência a doenças, genes de nanismo e de insensibilidade ao fotoperíodo.

Importância da variabilidade genética[editar | editar código-fonte]

A existência de variabilidade genética é a condição essencial para o melhorista poder exercer pressão de seleção artificial, sobre qualquer população. A seleção de genitores e a caracterização da variabilidade genética existente são decisivas. Uma das principais necessidades do melhorista é a identificação de plantas que possuam genes superiores em uma progênie segregante. O processo genético mediante da seleção em populações segregantes é diretamente proporcional à variabilidade genética disponível e à freqüência de genótipos superiores existentes nas populações. O estreito relacionamento genético entre variedades cultivadas, como trigo, aveia e cevada, assim como a dificuldade de se efetuar grande número de cruzamentos, especialmente em espécies autógamas, sugere a necessidade de cruzar genótipos que apresentam divergência genética. Desse modo, a classificação de genitores em grupos heteróticos e a realização de cruzamento entre tipos geneticamente distintos podem contribuir para a ampliação da variância genética em populações segregantes.

Portanto, no processo evolutivo das espécies utilizadas pelo homem para a produção agrícola ou obtenção de características desejadas de cavalos, cães e pombos, a variabilidade genética é fundamental para a obtenção de êxitos na seleção e no ajuste genético de genótipos às condições de ambiente. Sem variabilidade genética e sua interação com o ambiente é impossível a obtenção de genótipos superiores através de melhoramento genético. Assim, animais domesticados podem ser mais vantajosamente selecionados por cruzamentos misturados, inter-específicos, para maior versatilidade e vigor. É o que acontece também com sementes híbridas, de interesse agronômico exatamente por terem aquelas qualidades.

Exemplos da Seleção Artificial[editar | editar código-fonte]

A pelagem com manchas pretas e brancas é um efeito da Seleção Artificial através da domesticação.

As alterações fenotípicas provocadas pela Seleção Artificial foram comprovadas em estudo desenvolvido por Trust et al.(2004), onde o autor realiza experimentos com raposas que sofreram o processo de domesticação. A transformação genética de comportamento que ocorre em raposas durante seleção foi acompanhado pelo aparecimento de alterações morfológicas em diferentes frequências (10-1 e 10-4). A característica mais apresentada é a alteração de cor. O aparecimento de manchas amarelo-castanho e despigmentação de regiões específicas, tornando os pelos com padrão assimétrico de manchas preto e brancas é a alteração mais frequente observada neste trabalho. [1]

De acordo com os dados históricos, as mesmas mudanças de cor foram observados durante o início da história do cão (HERRE, 1959[2]; HAMMER, 1990[3] e CLUTTON-BROCK, 1997[4]). Isso pode indicar o envolvimento dos genes comuns na regulação aparentemente de tais diferenças biológicas como o comportamento específico e pigmentação de pele . A julgar pelas mudanças na cor do pelo em animais domésticos, a seleção para essas características específicas de domesticação envolve os loci Agouti e Extinction, bem como o loci para a despigmentação. Os locis Agouti e Extinction são conhecidos por estarem envolvidos na fisiologia neuroendócrina. [5]

Buscando obter raposas mais dóceis D.K Belyaev e seus colegas capturaram raposas prateadas, Vulpes vulpes, e passaram a cruzá-las sistematicamente, com o objetivo de obter animais mais mansos. O êxito foi impressionante. Fazendo os cruzamentos de indivíduos mais mansos de cada geração, Belyaev obteve, em vinte anos, raposas que se comportavam como cães de raça border collie, que procuravam a campanhia humana e abanavam a cauda para quem se aproximava. Menos esperados foram os subprodutos da seleção voltada para docilidade. Essas raposas geneticamente amansadas não só se comportavam como os collies, mas também se pareciam com eles.[6]

Em adição a alterações na cor do revestimento padrão, raposas domesticadas exibiram outros desvios morfológicos, como a presença de orelhas caídas e flexível, cauda enrolada e manchas brancas na cabeça. Essas alterações são semelhantes a características morfológicas dos cães domésticos. Nas fases posteriores, algumas alterações fenotípicas apareceram também na população não selecionada para o comportamento. Note-se que tais populações, que são reproduzidas por seres humanos há cerca de um século, também estão sujeitas à seleção (natural e artificial) para o comportamento.[7]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. TRUT, L.N.; PLYUSNINA, I.Z.; OSKINA, I.N. (2004). «An experiment on fox domestication and debatable issues of evolution of the dog» (PDF). MAIK “Nauka/Interperiodica”. Russian Journal of Genetics (em inglês). 40 (6): 644–655. ISSN 1022-7954/04/4006-0644 Verifique |issn= (ajuda) 
  2. HERRE, W.K. (1959). «Der heutige stand der domesticationsforschung». 12: 87–94  Parâmetro desconhecido |= ignorado (ajuda)
  3. HAMMER, H. (1990). «Domestication: The decline of environmental appreciation». Cambridge: Cambridge Univ. Press 
  4. CLUTTON-BROCK, J. (1997). «Origins of the Dog: Domestication and Early History. In: SERPELL, J. (Ed), Domestic Dog: Its Evolution, Behavior and Interactions with People». Cambridge: Cambridge Univ. Press: 2–19 
  5. TRUT, L.N.; PLYUSNINA, I.Z.; OSKINA, I.N. (2004). «An experiment on fox domestication and debatable issues of evolution of the dog» (PDF). MAIK “Nauka/Interperiodica”. Russian Journal of Genetics (em inglês). 40 (6): 644–655. ISSN 1022-7954/04/4006-0644 Verifique |issn= (ajuda) 
  6. DAWKINS, R. (2009). «A grande história da evolução: na trilha dos nossos ancestrais». Companhia das Letras. 759 páginas 
  7. TRUT, L.N.; PLYUSNINA, I.Z.; OSKINA, I.N. (2004). «An experiment on fox domestication and debatable issues of evolution of the dog» (PDF). MAIK “Nauka/Interperiodica”. Russian Journal of Genetics (em inglês). 40 (6): 644–655. ISSN 1022-7954/04/4006-0644 Verifique |issn= (ajuda)