Viroses emergentes e reemergentes

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O conceito de doenças emergentes e reemergentes surgiu frente as limitações da teoria da transição epidemiológica em elucidar a complexidade das novas tendências de mortalidade e morbidade.[1] O centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) define doenças infecciosas emergentes como: “aquelas que a incidência em humanos tem aumentado nas últimas duas décadas ou ameaçam aumentar em um futuro próximo”.[2] Algumas doenças emergentes como HIV/AIDS persistem por anos, enquanto outras, após seu aparecimento, duram pequenos períodos,[3] segundo Morens e Fauci (2013), citados por Ellwanger[4] elas também são consideradas ameaças a estabilidade global. Em contrapartida, as doenças reemergentes são “velhas conhecidas” que estão novamente se tornando problema de saúde para uma população,[5] apesar de no passado terem sido controladas, como a febre amarela e o sarampo no Brasil.[1] Ainda que esses dois conceitos tenham começado a ser utilizados a partir de 1990, tais doenças fazem parte da história da humanidade, já que epidemias poderiam ser consideradas doenças emergentes na época,[4] e até ocasionarem profundas rupturas no sistema social, como no caso das pandemias de peste e influenza.[6]

Os avanços das tecnologias e desenvolvimento econômico e social, trouxeram otimismo em relação a erradicação das doenças infecciosas, mas o surgimento da AIDS[7][8] e de uma série de surtos e epidemias de doenças emergentes e reemergentes no início do século XXI, fizeram esse otimismo diminuir.[9] Hoje vemos que a globalização também globalizou os agentes infecciosos,[10] um exemplo é a SARS, primeira pandemia pós-moderna, que veio nos mostrar que a doença está globalizada, mas a saúde ainda não,[7] fato reafirmado pela Covid-19, doença causada por um novo tipo de coronavírus (Sars-CoV-2).[11] As doenças transmissíveis continuam sendo um desafio de saúde pública para o Brasil,[12][13] país que apresenta complexa situação epidemiológica,[14] pois apesar de haver uma grande redução das causas de morte por doenças infecciosas, a mesma tendência não é vista quando dados de morbidade são analisados,[1] essa complexidade é própria a situações de intensa desigualdade.[15] E entre as doenças infecciosas de importância em saúde pública 60% são de origem viral, segundo a OMS.[9]

Mudanças nos ambientes urbanos e rurais favorecem o surgimento e reintrodução de doenças infecciosas (ex. hantavirose e dengue),[13] no Brasil esse desenvolvimento também fez com que essas doenças se intensificassem.[11] Portanto os mesmos fatores relacionados ao progresso podem propiciar o surgimento e a disseminação de novas e velhas doenças infecciosas,[1] favorecidas pelas condições socioeconômicas, ambientais e ecológicas.[3] Nos últimos 10 anos observamos a emergência de algumas doenças transmitidas por mosquitos vetores, em especial arboviroses, como chikungunya, West Nile e Zika, em diferentes países das Américas;[16] e em janeiro de 2020 o Brasil teve o segundo caso relatado de febre hemorrágica por Arenavírus (acontecimento considerado um grave evento de saúde pública),[17] pois possui as condições ecológicas, ambientais e sociais ideais para a emergência de diferentes patógenos.[4] No ano de 2018 a OMS divulgou uma lista de doenças e patógenos prioritários para a pesquisa e desenvolvimento, que continha: síndrome respiratória por coronavírus do Oriente Médio (MERS), síndrome respiratória aguda grave (SARS), vírus zika e “doença X”, essa última representa a possibilidade de um novo agente infeccioso surgir e causar epidemias.[18]

As principais doenças emergentes e reemergentes de origem viral no Brasil são: Zika, Chikungunya, AIDS, Influenza, Hepatite C, COVID-19, Rotavírus, Sarampo, Dengue, Hantavirose e febre amarela[16][7][19][1]

Referências

  1. a b c d e Luna, Expedito J. A. (dezembro de 2002). «A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e reemergentes no Brasil». Revista Brasileira de Epidemiologia (3): 229–243. ISSN 1415-790X. doi:10.1590/s1415-790x2002000300003. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  2. «Emerging Infectious Diseases | NIOSH | CDC». www.cdc.gov (em inglês). 14 de julho de 2021. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  3. a b Hortal, María (abr 2016). «Enfermedades infecciosas emergentes y reemergentes: información actualizada». Revista Médica del Uruguay: 52-58. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  4. a b c Ellwanger, Joel (Março de 2019). «Fatores imunogenéticos e ambientais envolvidos no estabelecimento de doenças virais emergentes, reemergentes e negligenciadas no Brasil – Um enfoque na perspectiva One Health» (PDF). UFRGS - LUME: Repositório digital. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  5. Health (US), National Institutes of; Study, Biological Sciences Curriculum (2007). Understanding Emerging and Re-emerging Infectious Diseases (em inglês). [S.l.]: National Institutes of Health (US) 
  6. Grisotti, Marcia (2020). «Pandemia de Covid-19: agenda de pesquisas em contextos de incertezas e contribuições das ciências sociais». Physis: Revista de Saúde Coletiva (2). ISSN 1809-4481. doi:10.1590/s0103-73312020300202. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  7. a b c Silva, Luiz; Angerami, Rodrigo (2008). Viroses emergentes no Brasil (PDF). Rio de Janeiro: Fiocruz. 136 páginas 
  8. Grisotti, Márcia (junho de 2010). «Doenças infecciosas emergentes e a emergência das doenças: uma revisão conceitual e novas questões». Ciência & Saúde Coletiva (suppl 1): 1095–1104. ISSN 1413-8123. doi:10.1590/s1413-81232010000700017. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  9. a b Santos, Norma; Romanos, Maria; Wigg, Marcia (2015). Virologia Humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. p. 3-26, 350, 374-382. 606 páginas 
  10. Ujvari, Stefan (2003). A história e suas epidemias: a convivência do homem com os microorganismos. São Paulo: Senac. 328 páginas 
  11. a b «Ciência, saúde e doenças emergentes: uma história sem fim». coc.fiocruz.br. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  12. Teixeira, Maria Glória; Costa, Maria da Conceição Nascimento; Paixão, Enny Santos da; Carmo, Eduardo Hage; Barreto, Florisneide Rodrigues; Penna, Gerson Oliveira (junho de 2018). «Conquistas do SUS no enfrentamento das doenças transmissíveis». Ciência & Saúde Coletiva (6): 1819–1828. ISSN 1678-4561. doi:10.1590/1413-81232018236.08402018. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  13. a b Barreto, Maurício; Teixeira, Maria; Bastos, Francisco; Ximenes, Ricardo; Barata, Rita (9 de maio de 2011). «Sucessos e fracassos no controle de doenças infecciosas no Brasil: o contexto social e ambiental, políticas, intervenções e necessidades de pesquisa» (PDF). The Lancet. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  14. Arroyo, Luiz Henrique; Ramos, Antônio Carlos Vieira; Yamamura, Mellina; Weiller, Teresinha Heck; Crispim, Juliane de Almeida; Cartagena-Ramos, Denisse; Fuentealba-Torres, Miguel; Santos, Danielle Talita dos; Palha, Pedro Fredemir (2020). «Áreas com queda da cobertura vacinal para BCG, poliomielite e tríplice viral no Brasil (2006-2016): mapas da heterogeneidade regional». Cadernos de Saúde Pública (4). ISSN 1678-4464. doi:10.1590/0102-311x00015619. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  15. Czeresnia, Dina; Freitas, Carlos (2009). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz. p. 11-17 
  16. a b Lima-Camara, Tamara (março de 2016). «Arboviroses emergentes e novos desafios para a saúde pública no Brasil». Revista de Saúde Pública. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  17. Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde (janeiro de 2020). «Boletim epidemiológico: Identificação de um caso de febre hemorrágica brasileira no estado de São Paulo». Governo Federal - Ministério da Saúde. Consultado em 30 set 2021 
  18. «OMS divulga lista de doenças prioritárias para pesquisa e desenvolvimento em 2018». www.unasus.gov.br. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  19. Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde (2010). Doenças Infecciosas e parasitárias: guia de bolso (PDF). Brasília: Ministério da Saúde. p. 17-24; 43-71; 75-89; 129-142; 217-221; 355-362