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Minderico

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O minderico ou piação dos charales do Ninhou (língua dos habitantes de Minde, Código ISO 639-3 DRC[1]), é a variante linguística[2] falada em Minde desde o século XVIII. Inicialmente esta variante funcionava como código conhecido apenas pelos fabricantes e comerciantes das mantas de Minde.[3] Como era utilizada apenas por um grupo restrito, era até então um sociolecto. Está ameaçado de extinção e tem duas variantes regionais: a de Minde e a de Mira de Aire[4] (este último, menos comum, é por vezes designado calão mirense).

Fruto de uma comunidade isolada, localizada numa depressão fechada entre os Planaltos de Santo António e de São Mamede, em pleno Maciço Calcário Estremenho, o minderico, inicialmente na qualidade de língua secreta, era semelhante a variantes que encontramos noutros grupos e comunidades étnicas específicas espalhadas pelo mundo que usam "termos e expressões de defesa", isto é, palavras e expressões que permitem aos membros dessa comunidade falar entre si sem darem a conhecer o significado dessa comunicação a outros. Porém, o minderico ultrapassou as barreiras do secretismo e alargou-se não só as todos os grupos sociais da comunidade minderica como passou a ser usado em todos os contextos sociais (não só para o negócio). Esta evolução - de língua secreta a língua do quotidiano - não é exclusiva do minderico, tendo-se registado já noutras comunidades em diferentes partes do mundo.

Em muitos dos lexemas mindericos é notória a sua origem em imagens do quotidiano, que passam de forma figurativa para a linguagem, mas também, embora em menor quantidade, através de alterações do português (idioma) vernáculo, não esquecendo também os desenvolvimentos propriamente mindericos. Nomes de pessoas da terra deram origem a expressões que designam profissões ou atributos humanos. O minderico é ainda hoje conhecido pela maioria da população adulta, embora por influência da alteração dos costumes, haja uma acentuada tendência para o seu desuso e esquecimento entre os mais jovens.

Existem cinco edições de um glossário minderico, onde se encontram as palavras traduzidas de português para minderico e minderico para português. A edição de 2004, a mais completa e actual, está disponível no Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro. O Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social (CIDLeS), um centro de investigação que se dedica ao estudo e documentação de línguas ameaçadas na Europa e ao desenvolvimento de tecnologias da linguagem para línguas menos usadas, é a instituição que tem trabalhado na documentação linguística e divulgação do minderico, bem como na sua revitalização, isto em colaboração directa com a comunidade de falantes.

Medidas de defesa

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Actualmente o minderico está a ser alvo de alguns projectos como forma de revitalização,de forma a que não caia no esquecimento.[5][6] Como exemplo temos:

  • Aulas de minderico no Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro para as várias faixas etárias.
  • Criação do primeiro dicionário bilingue (com base nos glossários existentes) com explicações fonéticas, semânticas, morfosintácticas, pragmáticas e etimológicas, acompanhado de uma versão multimédia.
  • Utilização do minderico em festas, celebrações de Minde e nos meios de comunicação social.
  • Tradução das placas toponímicas de Minde, das ementas dos restaurantes e dos cafés.
  • Projecto de documentação, sediado na Universidade de Regensburg e inserido no Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas (DoBeS),com o apoio financeiro da Fundação Volkswagen.[3].
  • Criação de um software para a aprendizagem do léxico minderico (WordByWord) já em utilização na Escola E.B. 2/3 de Minde.
  • Mapa interactivo de Minde com descrições das particularidades da vila em minderico

Palavras em minderico

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abobrar - descansar;
alexandrinas - fotografias;
ambrosiar - pensar, cismar, achar;
albertinas - bolachas;
babosas - cervejas;
badelo - língua;
bodelha - mentira;
borboleta - luz;
brancano – leite;
bruxo - computador;
Casal Médio - Santarém;
cabaneira - vaca;
campinos - melões;
carranchano - amigo;
fusca - noite;
gargantear – cantar;
jordar – fazer, gastar, despejar, desperdiçar;
latina - missa;
Casal Grande - Lisboa; Segundo Casal Grande - Porto;
mioleira – testa;
mirantar – ver, observar;
Ninhou - Minde;
nazaré - banho;
neto - dinheiro;
mané fezes - cigarro;
patarraz da ladina - genro;
perneiras - peúgas;
piação - conversa;
pirota - motorizada;
quadrazal - mês;
remexido - negócio;
renhomnhom - gaita de foles ;
rinchão - comboio;
rodilha - sogra;
ronquinho - surdo;
senhor antónio - marido atraiçoado pela esposa, corno;
sesta - semana
soletra - livro;
tarrantar - dormir;
tece-tece - Internet;
terraizinho - criança;
Terraizinho Judaico - Menino Jesus;
tosadeira - boca;
toupeira do ferreiro - charrua;
videira - mãe;
videiro - pai;
vista-baixa - porco;
Zé Pedro/Rodapé - bigode

Notas e referências

  1. Código ISO 639-3 para o minderico em SIL International
  2. O minderico é por vezes considerado calão, linguajar e erradamente dialecto, quando na verdade o que temos é uma língua (veja-se Minderico como língua individual e viva), embora sem reconhecimento oficial.
  3. a b Vicente, Manuel Fernandes (17 de agosto de 2009). «Minderico renasce com apoio da Volkswagen a línguas ameaçadas». PÚBLICO. Consultado em 16 de janeiro de 2010 
  4. Oliveira, Sara R. (14 de dezembro de 2009). «Minderico em ementas e placas da escola». Educare.pt. Consultado em 16 de janeiro de 2010 
  5. Minderico renasce com apoio da Volkswagen a línguas ameaçadas, Público
  6. Minderico é Piação na Memória do Mundo da UNESCO, RTP Ensina
  • Carvalho, José António de (1969). Alguns Vocábulos do Calão Minderico. Minde: Casa do Povo de Minde.
  • Endruschat, Annette / Ferreira, Vera (2006). "Das Minderico", Lusorama 65-66, 206-229.
  • Endruschat, Annette / Ferreira, Vera (2007). "Minderico: a diversidade linguística na homogeneidade portuguesa". In Glauco Vaz Feijó & Jacqueline Fiuza da Silva Regis (Hrsg.), Festival de Colores: Dialoge über die portugiesischsprachige Welt, Tübingen: Calepinus Verlag, 379-390.
  • Ferreira, Vera (2009). "Moinho da fonte ancho da piação dos charales do Ninhou – uma do badalo a escadeirar na Terruja do Camões". Jornal de Minde nº 610, 8.
  • Ferreira, Vera (2011). "De código secreto por língua do quotidiano a língua ameaçada. O CIDLeS e a revitalização do minderico". Desafios, 36-37.
  • Ferreira, Vera (2011). "Eine dokumentationslinguistische Beschreibung des Minderico". In Annette Endruschat & Vera Ferreira (Hrsg.), Sprachdokumentation und Korpuslinguistik – Forschungsstand und Anwendung. München: Martin Meidenbauer, 143-170.
  • Ferreira, Vera & Peter Bouda. 2009. Minderico: an endangered language in Portugal. In Peter K. Austin, Oliver Bond, Monik Charette, David Nathan & Peter Sells (eds.), Proceedings of Conference on Language Documentation and Linguistic Theory 2. London: SOAS. [1]
  • Frazão, Francisco Santos Serra (1939). "Calão minderico — Alguns termos do «calão» que usam os cardadores e negociantes de Minde, concelho de Alcanena". In: Revista Lusitana, vol. XXXVII. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 101-143.
  • Martins, Abílio Madeira et al. (1993). Piação dos Charales do Ninhou. Minde: Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro.
  • Martins, Abílio Madeira et al. (2004). Piação dos Charales do Ninhou. Minde: Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro.
  • Martins, Abílio Madeira / Nogueira, Agostinho (2002). Minde. História e Monografia. Minde: Grafiminde.
  • Matos, Alfredo 1966. “Mancheia de anotações a ‘Alguns vocábulos do calão Minderico’”. Jornal de Minde nº 137, 4.
  • Reis, Miguel Coelho dos 1983. Vocabulário do Calão de Minde. Mira de Aire: Tipografia Capaz.
  • Cardoso, Augusto Porfírio, 1964. O Calão Minderico. Santarém: Edição do autor.

Ligações externas

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