Termogravimetria: diferenças entre revisões

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== Aplicações ==
== Aplicações ==

=== Em nanotecnologia ===
=== Caracterização de Materiais ===
A técnica termogravimétrica pode ser utilizada para a caracterização dos mais diversos materiais. A análise fornece informações importantes sobre cada patamar de degradação dos materiais. Recentemente, esta técnica foi utilizada para caracterização de [[Pellet de madeira|pellets]] produzidos com diferentes tipos de resíduos florestais e agrícolas<ref>{{Citar periódico|ultimo=Brand|primeiro=Martha Andreia|ultimo2=Barnasky|primeiro2=Ricardo Ritter de Souza|ultimo3=Carvalho|primeiro3=Carolina Alves|ultimo4=Buss|primeiro4=Rodrigo|ultimo5=Waltrick|primeiro5=Deyvis Borges|ultimo6=Jacinto|primeiro6=Rodolfo Cardoso|ultimo7=Brand|primeiro7=Martha Andreia|ultimo8=Barnasky|primeiro8=Ricardo Ritter de Souza|ultimo9=Carvalho|primeiro9=Carolina Alves|data=00/2018|titulo=Thermogravimetric analysis for characterization of the pellets produced with different forest and agricultural residues|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-84782018001100300&lng=en&nrm=iso&tlng=en|jornal=Ciência Rural|volume=48|numero=11|doi=10.1590/0103-8478cr20180271|issn=0103-8478}}</ref>.

==== Em nanotecnologia ====
Essa técnica também é bastante usada para caracterização de materiais nanoestruturados, como [[filme fino|filmes finos]], [[micela]]s, [[cerâmico]]s porosos e principalmente em [[nanopartícula]]s e materiais de carbono como [[fulereno]], [[grafeno]] e [[nanotubos de carbono]]. Em atmosfera inerte pode-se identificar defeitos estruturais, ligantes e grau de funcionalização, enquanto em atmosfera oxidante pode-se avaliar pureza, reatividade à atmosfera ambiente, massa residual de catalisadores e, em um exemplo mais específico, a disperção de diâmetro e número de paredes em nanotubos ''multiwall''. Como pode-se observar nesse último exemplo, também é possível obter informações específicas para cada material indiretamente através de sua estabilidade térmica.
Essa técnica também é bastante usada para caracterização de materiais nanoestruturados, como [[filme fino|filmes finos]], [[micela]]s, [[cerâmico]]s porosos e principalmente em [[nanopartícula]]s e materiais de carbono como [[fulereno]], [[grafeno]] e [[nanotubos de carbono]]. Em atmosfera inerte pode-se identificar defeitos estruturais, ligantes e grau de funcionalização, enquanto em atmosfera oxidante pode-se avaliar pureza, reatividade à atmosfera ambiente, massa residual de catalisadores e, em um exemplo mais específico, a disperção de diâmetro e número de paredes em nanotubos ''multiwall''. Como pode-se observar nesse último exemplo, também é possível obter informações específicas para cada material indiretamente através de sua estabilidade térmica.



Revisão das 18h02min de 18 de novembro de 2018

Típico aparelho de TGA
Típico aparelho de TGA

Termogravimetria ou análise termogravimétrica (TGA - do inglês Thermogravimetric analysis) é uma técnica destrutiva no ramo de análises térmicas, na qual se monitora a variação da massa de uma amostra em função da temperatura ou do tempo em um ambiente de temperatura e atmosfera controladas. Seu princípio de funcionamento é simples: analisar a perda ou a agregação de massa à amostra em temperaturas variadas.[1] Em geral os métodos térmicos encontram ampla aplicação tanto no controle de qualidade quanto na pesquisa de produtos industriais (a exemplo de polímeros, fármacos, argilas, minerais e ligas metálicas.[2]

Introdução

Um aparelho de TGA apresenta como peças principais: uma balança de precisão, cadinhos feitos de material inerte, forno, termopares e um sistema de passagem de gás (comumente chamado de purga). A amostra em questão é inserida em um cadinho e levada ao forno em um suporte ligado à balança. A temperatura é programada para variar no tempo segundo critérios pré-definidos, enquanto a balança fornece os dados da massa da amostra em função do tempo. O sistema de controle atmosférico é de grande importância, pois os gases presentes no momento da análise podem ou não reagir com a amostra, tendo efeitos diretos nas variações de massa. Veja o exemplo abaixo da decomposição de CaCO3 em atmosfera inerte:

CaCO3(s) + calor → CaO(s) + CO2(g)

Nessa reação um dos produtos é liberado na forma gasosa. Durante a análise termogravimétrica, mais desse produto é gerado com o aumento da temperatura e retirado do ambiente com o sistema de passagem de gás, sem deixar a reação atingir equilíbrio químico. Desse modo, essa etapa será registrada como uma perda de massa, no gráfico de massa por temperatura, característico das medidas de TG.[3] A temperatura nesse ponto é chamada temperatura de eliminação.

Os resultados finais de TGA são mostrados na forma de um gráfico cuja abscissa é referente à temperatura(T) e a ordenada, massa(M), sendo muitas vezes difícil estimar o ponto no qual houve a temperatura de eliminação, tendo em vista que a perda de massa não é sempre abrupta, mas sim, suave em muitos casos. Uma prática de saída encontrada é a sobreposição da curva de DTG (do inglês derivative thermogravimetry) no mesmo gráfico, que representa a derivada da primeira curva, ou seja, dM/dT por T, sendo considerada a temperatura de eliminação o pico (mínimo para perda de massa e máximo para agregação de massa) desse gráfico. Desse modo, por exemplo, a seguintes reações endotérmicas serão marcadas por três mínimos na curva de DTG[3]:

Ca(COO)2·H2O → Ca(COO)2 + H2O
Ca(COO)2 → CaCO3 + CO
CaCO3 → CaO + CO2

A perda de massa da primeira reação é devido à vaporização da água, à medida em que ela é produzida, pois essas etapas ocorrem a centenas de graus Celsius. Na segunda e terceira reação CO e CO2 são gasosos e saem naturalmente da amostra. Em materiais orgânicos, a técnica é igualmente efetiva, podendo detectar grupos funcionais à medida que tem suas ligações quebradas termicamente. No caso de uma medida em paralelo com técnicas de espectroscopia, usadas para identificação de compostos, pode-se obter tanto a estrutura do ligante eliminado quanto sua massa, portanto reconstruindo toda a estrutura da molécula, como no exemplo abaixo:

Observa-se que a decomposição térmica do material ocorre em etapas, cada uma relacionada à saida de um grupo funcional e indicada por uma perda de massa. A reconstrução desses grupamentos e da própria molécula pode ser inteiramente feita ao acoplar métodos espectroscópicos.[4]

Análises Térmicas Simultâneas e Acoplamentos

DTA e DSC

A análise térmica diferencial (DTA - do inglês "Differencial thermal analysis") e DSC são as análises térmicas mais usadas em conjunto com TGA (porém há progressiva substituição do DTA por DSC desde a invenção deste método, sendo muito mais difundido atualmente). Seu princípio básico é o mesmo que o do TGA: obter informação através da mudança de temperatura. Ambos fazem uso de dois sensores sendo um a referência, no qual o sinal depende da diferença entre a resposta dos dois (origem do nome "diferencial" das duas técnicas). DTA e DSC diferem do TGA por não dependerem da variação de massa. Tais técnicas desempenham um importante papel em análises simultâneas com a de TGA, pois são capazes de identificar transições de fase sem variação de massa.

A principal função do acoplamento TGA-DTA é prover maior resolução em temperaturas específicas nas quais a variação de massa é pequena e sucessiva a outras perdas de massa deixando a visualização apenas pelo gráfico de massa por temperatura, típico de TGA, muito difícil de ser interpretado.

A contribuição do DSC é sua medida de fluxo de calor podendo identificar com muita propriedade mudanças de fase sem que haja variação de massa que passariam despercebidas puramente por TGA, como mudanças estruturais, reações e transições sólido-sólido, cristalização, fusão, polimerização e reações catalíticas.[3]

Técnicas acopladas: FTIR e MS

A técnica de Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourrier (FTIR) e Espectrometria de Massas (MS) são de enorme importância para a caracterização dos gases eliminados, pois indicam a composição e estrutura destes à medida que vão sendo eliminados do material no processo termogravimétrico. Esses gases são direcionados pelos dutos de passagem de gás, responsáveis por manter a atmosfera controlada, e levados a seus devidos aparatos de FTIR e/ou MS, onde são analisados. Esse tipo de acoplamento permite a análise em tempo real dos componentes do material original, levando a análise termogravimétrica a outro nível, podendo até remontar toda a molécula inicial. O FTIR desempenha o papel de identificar estruturas específicas nas moléculas de gás eliminadas, dando dicas de sua forma. Em paralelo, o MS fornece informação exata da quantidade de certo elemento presente nesses gases. Tanto a informação estrutural do FTIR quanto a quantificação dos elementos químicos presentes nos gases oriunda do MS, são amplamente usadas em laboratório como complemento ao TGA.[3]

Aplicações

Caracterização de Materiais

A técnica termogravimétrica pode ser utilizada para a caracterização dos mais diversos materiais. A análise fornece informações importantes sobre cada patamar de degradação dos materiais. Recentemente, esta técnica foi utilizada para caracterização de pellets produzidos com diferentes tipos de resíduos florestais e agrícolas[5].

Em nanotecnologia

Essa técnica também é bastante usada para caracterização de materiais nanoestruturados, como filmes finos, micelas, cerâmicos porosos e principalmente em nanopartículas e materiais de carbono como fulereno, grafeno e nanotubos de carbono. Em atmosfera inerte pode-se identificar defeitos estruturais, ligantes e grau de funcionalização, enquanto em atmosfera oxidante pode-se avaliar pureza, reatividade à atmosfera ambiente, massa residual de catalisadores e, em um exemplo mais específico, a disperção de diâmetro e número de paredes em nanotubos multiwall. Como pode-se observar nesse último exemplo, também é possível obter informações específicas para cada material indiretamente através de sua estabilidade térmica.

Nanotubos

Dentre muitos possíveis usos da técnica em nanotubos, podemos citar: a análise da estabilidade térmica de nanotubos de carbono funcionalizados, na qual os grupos funcionais representam a primeira perda significativa de massa na região entre 200-400ºC, seguida da perda do esqueleto de carbono do nanotubo na região de 400-600°C, tendo a temperaturas maiores apenas a presença de possíveis metais usados na catálise;[6] outra tendência para no ramo de nanotubos é a funcionalização com polímeros ligados covalentemente ao esqueleto de carbono, podendo-se atribuir-lhe a quantificação de massa de polímero ligada covalentemente, uma vez que as cadeias poliméricas serão eliminadas a uma temperatura que depende da força da ligação ao esqueleto, que por sua vez a técnica também vai confirmar tal tipo de ligação;[7] ainda no campo de resistência témica, técnicas termogravimétricas podem ser utilizadas em compósitos biodegradáveis para checar a interação entre o material estudado e diversos agentes inorgânicos, uma vez que a liberação desses ligantes está diretamente relacionada com a sua temperatura de eliminação ou mesmo de transição vítrea. Nesse último caso, é comum o uso conjunto de DSC para verificar as etapas de transição de fases.[8]

Nanopartículas

A análise termica de nanopartículas vem se tornando mais comum à medida em que a manipulação de sua superfície se expande e novas idéias para seu aproveitamento são difundidas. A síntese das nanopartículas e seu recobrimento com outros materiais, tal como seu uso em catálise representa grande parte dos artigos científicos relacionados a este material. Nesse sentido, os métodos térmicos desempenham um papel significativo na sua caracterização, sendo possível, além das medidas clássicas de temperaturas de eliminação, verificar a reatividade da superfície com a atmosfera escolhida. Nesse caso, pode-se escolher vários gases como atmosfera e verificar o ganho de massa quando a atmosfera for reativa à nanopartícula ou à espécie química adsorvida.[9] Ainda no ramo da catálise, é possível identificar o tipo de ligação entre a nanopartícula e as moléculas em questão, portanto diferenciar entre moléculas adsorvidas fisica ou quimicamente de acordo com o pico de perda de massa, que depende da força de ligação.[10]

Outros materiais nanoestruturados

Em outros sistemas como superfícies nanoestruturadas, pode-se obter informação sobre o grau de hidratação do material, tal como a sua resistência térmica à desidratação, que ocorre primariamente com as moléculas de água adsorvidas e, em seguinte, com a possível desidratação química do material.[11] Nos estudos de filmes finos, sua estabilidade térmica está ligada à formação de vários intermediários antes da última etapa de eliminação. Nesses casos o cálculo teórico de diferença de entalpia e entropia da formação dos intermediários em paralelo com os resultados mostrados pelo TGA representam importante informação a cerca da cinética e dos mecanismos da reação, pois pode-se observar claramente a mudança de massa em cada etapa.[12]


Referências

  1. Perkinelmer , "Thermogravimetric Analysis (TGA): A Beginer's Guide",perkinelmer.com - TGABeginnersGuide.pdf visitado em 25/02/2013
  2. SKOOG, Douglas A.; HOLLER, F. James; NIEMAN, Timothy A. (2002). Princípios de Análise Instrumental. [S.l.]: Bookman. ISBN 85-7307-976-2 
  3. a b c d Haines, P. J. (1992). Principles of Thermal Analysis And Calorimetry. Cambridge,UK: Lynx Edicions. ISBN 0-85404-610-0 
  4. «Thermal and thermooxidative degradation of poly(hydroxy ether of bisphenolA) studied by TGA/FTIR and TGA/MS». Journal of Analytical and Applied Pyrolysis. 92: 407–416. 2011 
  5. Brand, Martha Andreia; Barnasky, Ricardo Ritter de Souza; Carvalho, Carolina Alves; Buss, Rodrigo; Waltrick, Deyvis Borges; Jacinto, Rodolfo Cardoso; Brand, Martha Andreia; Barnasky, Ricardo Ritter de Souza; Carvalho, Carolina Alves (00/2018). «Thermogravimetric analysis for characterization of the pellets produced with different forest and agricultural residues». Ciência Rural. 48 (11). ISSN 0103-8478. doi:10.1590/0103-8478cr20180271  Verifique data em: |data= (ajuda)
  6. Yi Lin, Apparao M. Rao, Bindu Sadanadan, Edward A. Kenik, and Ya-Ping Sun (2002). «Functionalizing Multiple-Walled Carbon Nanotubes with Aminopolymers». J. Phys. Chem. B. 106: 1294-1298. doi:10.1021/jp013501v 
  7. HUANG,H. -M.; LIU, I C.; CHANG, C. -Y.; TSAI, H. C.; HSU, C. -H.; TSIANG, R. C. -C. (2004). «Preparing a Polystyrene-Functionalized Multiple-Walled Carbon Nanotubes via Covalently Linking Acyl Chloride Functionalities with Living Polystyryllithium». Wiley InterScience (www.interscience.wiley.com). doi:10.1002/pola.20424 
  8. C.-S. Wu, H.-T. Liao (2004). «Study on the preparation and characterization of biodegradable polylactide/multi-walled carbon nanotubes nanocomposites». ScienceDirect (www.interscience.wiley.com). doi:10.1016/j.polymer.2007.06.004 
  9. P. Roonasi, A. Holmgren (2009). «A Fourier transform infrared (FTIR) and thermogravimetric analysis (TGA) study of oleate adsorbed on magnetite nano-particle surface». Applied Surface Science. 255: 5891–5895. doi:10.1016/j.apsusc.2009.01.031 
  10. M. Rudolph; et al. (2012). «A TGA–FTIR perspective of fatty acid adsorbed on magnetitenanoparticles–Decomposition steps and magnetite reduction». Colloids and Surfaces A: Physicochem. Eng. Aspects. 397: 16– 23. doi:10.1016/j.colsurfa.2012.01.020 
  11. Davood Habibi, Ali Reza Faraji, M. Arshadi, J.L.G. (2013). «Characterization and catalytic activity of a novel Fe nano-catalyst as efficient heterogeneous catalyst for selective oxidation of ethylbenzene, cyclohexene, and benzylalcohol». Journal of Molecular Catalysis A: Chemical. doi:10.1016/j.molcata.2013.02.014 
  12. S.M.S. Haggag; et al. (2011). «Synthesis, characterization and optical–electrical properties of the thin film deposited nano-Co(II)-8-hydroxy-5-nitrosoquinolate complex via the layer-by-layer chemical deposition technique». Polyhedron. doi:10.1016/j.poly.2011.03.022