Antigo Hospital de Lagos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Antigo Hospital de Lagos
Antigo Hospital de Lagos
Rua do Castelo dos Governadores em 2014, vendo-se à direita o edifício do hospital. Ao fundo situa-se a Igreja de Santa Maria.
Nomes alternativos Hospital da Misericórdia de Lagos
Inauguração Século XV
Geografia
País Portugal Portugal
Coordenadas 37° 5' 59.03" N 8° 40' 12.41" O
Mapa
Localização do edifício em mapa dinâmico

O Antigo Hospital de Lagos, originalmente conhecido como Hospital da Misericórdia de Lagos, e também como Hospital Distrital de Lagos,[1] é um edifício histórico situado na cidade de Lagos, na região do Algarve, em Portugal. Foi construído nos finais do século XV,[2] e ampliado após o Sismo de 1755, ocupando o interior do antigo Castelo dos Governadores.[3] Na década de 2000, o hospital começou a sofrer de várias deficiências no atendimento, motivadas principalmente pela concentração dos serviços noutras unidades de saúde na região, pelo que foi proposta a sua substituição por um novo hospital, enquanto que o antigo edifício seria adaptado a outras utilizações, como uma pousada.[4] Em 2022 os serviços de saúde foram transferidos para o Hospital de São Gonçalo.[5]

História[editar | editar código-fonte]

Construção[editar | editar código-fonte]

O Hospital da Misericórdia de Lagos foi construído em 1496,[5] no mesmo período do que a Igreja de Santa Maria, que lhe estava anexa, e cujas obras tiveram início em 1498.[6] A própria instituição da Santa Casa da Misericórdia foi fundada em 2 de Julho desse ano.[7]

Séculos XIX e XX[editar | editar código-fonte]

Na obra Memoria sobre a decadencia, e ruina a que se acha reduzida a Cidade de Lagos, e meio de arremediar, escrita em 1821 por Domingos de Mello e copiada pelo investigador Joaquim Negrão, foi proposta a transferência do hospital e da igreja da Misericórdia para as antigas instalações do Convento de Nossa Senhora do Carmo, então em processo de encerramento: Em attencçaõ a que, o Convento das Religiosas Carmelitas da Cidade de Lagos vai ficar inhabitado [...] Subdevidir o Convento em partes proporcionadas: 1. Para Hospital Regimental ou militar: 2 Para Hospital da Misericordia; e 3. Para huma Casa d'Instruçaõ e Educaçaõ publica. A Igreja das Religiosas póde ficar servindo de Misericordia, em lugar da que fica subsistindo em Freguesia. Seria occioso o tempo, que eu gastasse em descrever as vantagens que destas mudanças, resultaõ ao bem publico. Saõ taõ claras e palpavéis que todos os habitantes daquella Cidade o conhecem; podendo tudo isto effectuar-se com bem pouco dispendio pela repartiçaõ das Obras Militares.».[8] Domingos de Mello fez esta proposta devido à falta de condições nas duas unidades de saúde de Lagos, o Hospital da Misericórdia e o Hospital Militar: «Nesta consideraçaõ naõ posso passar em silencio, que achando-se Edificados na Cidade de Lagos, os dois Hospitaes que existem; Regimental ou Militar, e o da Misericordia, junto á margem do Rio, e na baixa da Cidade; saõ prejudiciaes ao milhoramento dos doentes, e á saude publica dos habitantes daquella Cidade.».[8]

Uma carta de lei de 7 de Maio de 1850 concedeu a parte relativa ao Palácio dos Capitães Generais e dos Governadores à Misericórdia de Lagos, de forma a que esta pudesse ampliar as enfermarias do hospital.[9] Este palácio tinha sido muito danificado pelo Sismo de 1755, e em meados do século XIX ainda estava em ruínas.[3]

Em 1983 a unidade de saúde foi nacionalizada, passando a denominar-se de Hospital Distrital de Lagos.[10]

Jardim da Constituição, em 2016. O hospital está instalado no interior da antiga fortaleza, e no edifício à direita.

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Na década de 2000, o edifício do hospital de Lagos, já com vários séculos de idade, não apresentava condições suficientes para o seu funcionamento, sofrendo da falta de profissionais e de equipamentos de saúde,[4] que tinham sido encaminhados para outras unidades hospitalares.[11] Em 2004 a administração do hospital foi incorporada no Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, e nesse ano foi encerrado o bloco operatório.[4] Posteriormente também foi encerrada a maternidade.[11] Esta situação era considerada muito grave, uma vez que a cidade de Lagos era um grande centro de turismo nacional e internacional, e devido à vasta área de influência do hospital de Lagos, que era procurado igualmente pelos habitantes dos concelhos de Vila do Bispo e de Aljezur.[11] Uma vez que era impossível expandir as instalações do hospital devido ao exíguo espaço em que se encontrava, dentro da malha urbana e anexado ao antigo castelo, a única hipótese de resolver os problemas de saúde em Lagos e nos concelhos vizinhos seria através da construção de uma nova unidade hospitalar, para a qual seriam transferidas as funções do antigo hospital.[12] Desta forma, desde os inícios da década de 2000,[12] que a construção do novo hospital começou a ser reclamada, tanto pelas populações como pelas autarquias de Lagos, Aljezur e Vila do Bispo.[11] Em 2005 foi inaugurada uma unidade de saúde privada em Lagos, conhecida como Hospital de São Gonçalo.[5]

Em 2008, o presidente da Câmara Municipal de Lagos, Júlio Barroso, afirmou que caso este processo avançasse, já existiam vários planos para converter o antigo hospital numa pousada, num hotel ou albergaria, uma vez que o edifício apresenta uma localização excelente para esta função, estando situado no centro histórico da cidade, e perto do Castelo dos Governadores e da Frente Ribeirinha.[carece de fontes?] Neste período, o hospital ainda estava na posse da Misericórdia de Lagos, à qual o governo pagava uma renda pela utilização do espaço.[5] que estava interessada em aplicar uma solução que tivesse rentabilidade, de forma a financiar os planos próprios da instituição.[carece de fontes?]

A construção do novo hospital de Lagos esteve oficialmente prevista desde os finais de 2009, tendo sido apoiada pela autarquia com a cedência de um terreno, então conhecido como Tecnópolis.[4] O Ministério da Saúde chegou a apresentar o empreendimento para a nova unidade, que teria um custo aproximado de 27 milhões de Euros, mas os planos foram suspensos devido à crise financeira.[4] Em 2013, a administração das unidades de saúde de Lagos, Portimão e Faro foi fundida no Centro Hospitalar do Algarve.[4] Esta decisão foi criticada numa moção da Assembleia Municipal de Lagos, uma vez que levou à perda de valências na unidade de Lagos, que eram consideradas indispensáveis para os habitantes da cidade, acentuando a progressiva degradação do serviço no hospital.[4] A progressiva degradação do serviço no Hospital de Lagos foi considerada como um reflexo dos graves problemas de saúde pública no Algarve, tendo uma sondagem feita pela Sociedade Independente de Comunicação e pelo jornal Expresso em Fevereiro de 2020 revelado uma grande falta de especialistas, o encerramento total ou parcial de várias extensões de saúde, a existência de grandes filas de espera e a transferência de utentes para Lisboa, entre outras situações, que faziam com que o Algarve fosse a região em Portugal onde havia mais mortos nos hospitais.[11] O Hospital de Lagos ficou apenas com serviços básicos de urgência, consultas externas e medicina, com poucas camas disponíveis para internamento, e um laboratório de análises.[12] Posteriormente, a situação de saúde no concelho foi melhorada com a instalação de duas unidades de saúde familiares no Centro de Saúde de Lagos, que permitiu uma redução no número de utentes sem médico de família no concelho.[13] Em 2018, a Assembleia Municipal de Lagos organizou uma petição pública à Assembleia da República, de forma a que a construção do novo hospital fosse debatida naquele órgão, e ao mesmo tempo promover a sua inclusão no orçamento de estado.[13]

Em Abril de 2020, o Hospital privado de São Gonçalo, igualmente situado em Lagos, cedeu parte dos seus serviços ao Serviço Nacional de Saúde, durante a Epidemia de Covid-19, que aumentou a procura aos cuidados de saúde públicos.[14] Em 28 de Maio de 2020, o Parlamento aprovou uma resolução do Partido Pessoas-Animais-Natureza, que recomendava a construção da nova unidade hospitalar de Lagos.[11] Em Janeiro de 2021, o Hospital de São Gonçalo voltou a colaborar com o Serviço Nacional de Saúde.[14] Em Março de 2021, o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve informou a tutela que estava interessado em transferir as funções do antigo hospital de Lagos para o estabelecimento de São Gonçalo, que era propriedade do grupo HPA Saúde.[15] Em Dezembro desse ano, o Hospital de Sâo Gonçalo foi adquirido pelo conglomerado francês Icade Santé, em conjunto com outras unidades do grupo português, e em 25 de Janeiro de 2022 o Centro Hospitalar e o grupo HPA assinaram um acordo para a prestação de serviços exclusivos do Serviço Nacional de Saúde no hospital privado.[5][14] Desta forma, passou a fazer parte da organização do Centro Hospitalar, prevendo-se que iria ter 44 camas, um bloco operatório, serviços de consultas e imagiologia, um laboratório, e um serviço de urgência básico, medida que que iria possibilitar a «ampliação da qualidade de cuidados de saúde, em segurança, pela imagem da região».[15] Este processo foi criticado pelo Partido Social Democrata, que acusou o governo de pagar «43.000 euros todos os meses aos privados para garantir apenas 23 camas», tendo classificado o convénio como «mais um acordo à socialista, uma TAP à moda do Algarve que nada mais é do que uma tentativa de salvar um grupo privado de saúde de um negócio pouco viável: um grupo privado que depois da compra do edifício do Hospital de São Gonçalo de Lagos por um grupo francês, vem agora, menos de um mês depois, ceder a sua posição ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve».[16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Património Arquitetónico - SCM Lagos». www.scmlagos.com. Consultado em 26 de novembro de 2023 
  2. COUTO, Nuno (24 de Julho de 2013). «Lagos contra a morte do velho hospital». Jornal do Algarve. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  3. a b «Castelo dos Governadores». Câmara Municipal de Lagos. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  4. a b c d e f g COUTO, Nuno (10 de Janeiro de 2017). «"O hospital de Portimão deixou de ser um recurso confiável"». Jornal do Algarve. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  5. a b c d e RODRIGUES, Elizabete (25 de Janeiro de 2022). «Hospital público de Lagos muda-se para novas instalações em unidade até agora privada». Sul Informação. Consultado em 22 de Novembro de 2022 
  6. PAULA, 1992:286-287
  7. «522º aniversário da Santa Casa da Misericórdia de Lagos». Santa Casa da Misericórdia de Lagos. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  8. a b NEGRÃO, Joaquim (7 de Maio de 1938). «Lagos em 1821: Memoria sobre a decadencia, e ruina a que se acha reduzida a Cidade de Lagos, e meio de arremediar» (PDF). Jornal de Lagos. Ano XIII (523). Lagos. p. 2. Consultado em 30 de Outubro de 2020 – via Hemeroteca Digital do Algarve 
  9. FORMOSINHO, José (Maio de 1936). «Efemérides» (PDF). Costa de Oiro (17). Lagos: Tipografia Ferreira. p. 9. Consultado em 31 de Outubro de 2020 – via Hemeroteca Digital do Algarve 
  10. «Constituição do Centro Hospitalar do Algarve». Relatório de Gestão e Contas 2014. Centro Hospitalar Universitário do Algarve. 30 de Abril de 2015. p. 20. Consultado em 31 de Agosto de 2023 – via Issuu 
  11. a b c d e f «Parlamento aprova projeto de resolução do PAN que recomenda construção do novo Hospital de Lagos». Sul Informação. 28 de Maio de 2020. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  12. a b c «Aprovado projeto de resolução do Bloco que propõe a construção do novo Hospital de Lagos». Sul Informação. 3 de Junho de 2020. Consultado em 18 de Outubro de 2020 
  13. a b «Petição pela construção do novo hospital». Revista Municipal de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. Agosto de 2018. p. 12. Consultado em 18 de Outubro de 2020 – via Issuu 
  14. a b c CURVELO, Pedro (25 de Janeiro de 2022). «SNS passa a ter senhorio francês em Lagos». Jornal de Negócios 
  15. a b «CHUA com mais uma unidade hospitalar». Serviço Nacional de Saúde. 26 de Janeiro de 2022. Consultado em 26 de Fevereiro de 2022 
  16. «PSD lamenta que Hospital São Gonçalo de Lagos tenha sido integrado no SNS». Sul Informação. 27 de Janeiro de 2022. Consultado em 26 de Fevereiro de 2022 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre o Hospital de Lagos

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • PAULA, Rui Mendes (1992). Lagos: Evolução Urbana e Património. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 392 páginas. ISBN 9789729567629 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]