Discussão:John Searle

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Searle. R. Jonh. Os Actos de Fala .[editar código-fonte]

Capitulo 3 - Estrutura dos actos elocucionais

A discussão do presente capítulo centra-se no conceito de promessa. Pois, para Searle, ela é como acto ilocucional, razoavelmente formal e bem articulada. Aqui ,irá perguntar pelas condições necessárias e suficientes para que o acto de prometer seja bem sucedido, o que o conduz a definir as suas condições e os seus possíveis defeitos. Posto isto, faz sobressair a noção de defeito e o seu relacionamento com a noção de «insucesso» de Austin e, simultaneamente, apetrecha-se de um método utilizado que é análogo ao dos capítulos anteriores. E toda a discussão sobre a promessa apresenta-se sob um duplo propósito . Nesta circunstância, Searle, não esquece a contribuição da filosofia da linguagem. O que o levara de seguida a analisar o conceito de prometer e afirmar que uma abordagem destas pode trazer consequências que poderão produzir contra-exemplos. Aqui , Searle, encontra a primeira dificuldade . A análise restringe-se a: promessas completas, claramente explícitas apenas com pronomes categóricos ignorando os hipotéticos, i. é, com um caso simples e idealizado. O método, de construir modelos idealizados, é análogo ao tipo de construção da teoria que funciona em muitas ciências, por ex., na construção de modelos económicos. Searle apresenta uma segunda dificuldade, que é o desejo de afirmar as condições sem certas formas de circularidade, isto é, ele pretende fornecer uma lista de condições para oferecer um modelo que explique os actos ilocucionais em geral, não tentando reduzir factos institucionais a factos brutos.

Na apresentação das condições considera em primeiro, uma promessa sincera e só depois irá mostrar como modificar as condições para dar conta das insinceras. Logo após, irá referir a promessa como um acto complexo , chamando às condições 2 e 3 condições de conteúdo proposicional e na condição 4, diferencia promessa de ameaça e de convite, não esquecendo os diferentes graus de promessa defeituosa e ainda mais defeituosa. Realça que a promessa requer uma ocasião ou uma situação. Pois, um traço essencial, parece ser que o interlocutor quer que algo seja feito e aquele que promete está ciente desse querer. Searle, declara que esta dupla função é necessária para evitar os contra–exemplos, e aparentes contra-exemplos. Na condição 5, irá incidir sobre diferentes tipos de actos ilocucionais e estabelece que todo o acto deve ter um objecto. Assegura-nos, também, que esta condição é um exemplo de fenómeno da Lei de Zip . Chama às condições 4 e 5 preparatórias, porque são uma promessa feliz. À condição 6, chama-a de sinceridade, porque o falante acredita que seja possível para ela fazer o acto. À regra 7, chama-a de essencial devido ao facto de supor uma obrigação. Na 8 retoma a versão revista de Grice, que examina o que é para um falante dizer alguma coisa, atribuindo-lhe um valor de uma promessa. A 9 só será correcta se as condições 1 e 8 estiverem satisfeitas. A condição 9 juntamente com a 8 elimina os contra-exemplos. Nas promessas insinceras, que são promessas, mostra como modificar as condições para as explicar. Para dar conta de uma promessa insincera, tem apenas que rever a condição 6. Das condições 1-8 irá extrair um conjunto de regras do indicador de força ilocucional. Referindo que as condições 1-8 e9 se aplicam geralmente a todos os tipos de actos ilocucionais normais, e não são casos particulares de promessa. As regras para o indicador de força ilocucional da promessa correspondem às condições 2-7. Searle apresenta assim 5 regras semânticas para o emprego de qualquer indicador de força. Sendo a regra 1 do conteúdo proposicional. Regras 2 e 3 preparatórias e são derivadas das condições preparatórias 4 e 5. À regra 4 chama-lhe sinceridade e deriva da condição 6 de sinceridade. À regra 5 chama-lhe de essencial. Regras 2 e 5, aplicam-se se a regra 1 for satisfeita. A regra 5 aplica-se se as regras 2 e 3 forem satisfeitas. Apresenta as regras como factores. As regras 4 e5 têm forma quase imperativa e a regra 5 pertence ao tipo próprio de regras constitutivas. Searle irá fazer uma extensão da análise, formulando e testando certas hipóteses, sobre actos ilocucionais, remetendo-nos para uma tabela.

Capítulo 4 - A referência como acto de fala

Neste capítulo estuda a proposição para examinar os actos proposicionais de referência e de predicação. Restringe o estudo à referência definida singular e daí ser uma teoria incompleta da referência. Sendo os nomes próprios os casos mais óbvios de expressões de referência. No seu uso e menção, afirma que toda a ocorrência de expressão referencial é uma ocorrência referencial, alerta –nos também para o facto de existirem algumas expressões que podem ocorrer no discurso fora do seu uso normal, por ex., Sócrates era um filósofo e ‘ Sócrates’ tem oito letras. Ao fazer-nos esta comparação diz-nos que é comum ter-se uma explicação confusa sobre a distinção ente uso e menção dos nomes. O que o leva a criticar os filósofos e os lógicos sobre o exemplo atrás referido.

Sustenta a tese, que o facto de desfrutarmos de uma instituição dos nomes próprios é porque precisamos de um processo cómodo para referenciar identificadores. Mas um nome próprio pode ser usado numa descrição definida para referir uma palavra. Afirma que não existe nenhuma convenção fundamental, porque certos fragmentos podem facilmente ocorrer no objecto do discurso. Assevera que a referência, diferentemente, dos actos de fala, tem uma longa história, principalmente a partir de Frege. Searle desperta-nos, também, atenção para a existência de dois axiomas que são geralmente reconhecidos e que dizem respeito à referência e a expressões referenciais, podendo ser os dois interpretados de maneira a se tornarem tautológicos. Consequentemente, estes dois axiomas dão-nos margem para paradoxos, por ex., ‘a montanha dourada não existe’, tendo mais tarde Russell desfeito este paradoxo. Searle, diz que as referências a entidades ficcionais não são contra-exemplos, isto é, pode-se fazer referência a elas como personagens da ficção , porque elas existem de facto na ficção. Distingue a fala normal sobre o mundo real das formas parasitárias do discurso, tais como a ficção, peças de teatro, etc. Mostra que o axioma de existência se mantém no quadro de fala sobre o mundo e na fala ficcional, e aqui faz a distinção entre convenções verticais e tácitas.

Quanto ao axioma de identidade diz que não é uma tautologia, mas uma falsidade tornando-se assim problemático. Ao contrário o axioma da identificação é tautológico, já que serve para articular a noção de experiência (singular e definida). Apresenta também três maneiras pelas quais um falante pode garantir que um dado facto é comunicado. Nesta situação afirma que a tautologia não é evidente. Pois , não é mais do que um princípio de Frege, segundo o qual, qualquer expressão referencial tem forçosamente um sentido. Searle , diz que há diferentes tipos de expressões referenciais definidas e que gramaticalmente se dividem em quatro categorias: 1- nomes próprios; 2- sintagmas nominais complexos no singular;3- pronomes;4- títulos. Nas condições necessárias ao acto de referência, questiona sobre qual é o objecto de uma referência definida, qual a função que o acto proposicional de referência tem no interior dum acto ilocucional. A este respeito, faz a distinção entre: referência completa e efectiva. Para que o locutor realize uma referência definida completa vai reformular o axioma de existência e o axioma da identificação .Aqui Searle cita Russell, em que o artigo definido é usado « estritamente para implicar unicidade». Faz também a distinção entre a função do artigo definido e a função do descritor. No que concerne ao princípio de identificação, faz uma nova formulação do axioma e exige que o ouvinte seja capaz de identificar o objecto a partir da enunciação da expressão do falante. Clarifica o que entende por identificação e passará a chamar a qualquer expressão uma descrição identificadora. Menciona que o axioma de identificação é o corolário do axioma da existência ( na sua reformulação revista), reforçando a tese que: o princípio de identificação é um caso especial do princípio da expressibilidade, mas também, uma reformulação superficial do princípio de identificação. Seguidamente, apresenta cinco restrições ao princípio de identificação, porque este princípio realça a conexão entre referência definida e a capacidade do emissor para fornecer uma descrição identificadora do objecto. Aduz oito consequências do princípio de identificação e sete regras de referência com o objectivo de construir uma análise do acto proposicional de referência e as regras semânticas para que o uso de qualquer expressão constitua uma referência singular definida.

Comentário

Os capítulos 3 e 4, dos Actos de Fala, atrás resumidos, remetem-nos para uma relação que existe entre a consciência e a sua intencionalidade e, por sua vez, para capacidades, aptidões e conhecimentos práticos que permitem os nossos estado mentais funcionar, segundo Searle, sob um Plano de Fundo, isto é,”os fenómenos intencionais, como significados, compreensões, interpretações, crenças, desejos e experiências funcionam apenas no interior de Plano de Fundo que não são, elas próprias intencionais.” Isto porque, na sua “ giría técnica, os fenómenos intencionais só determinam condições de satisfação relativamente a um conjunto de capacidades que não são ,elas próprias, intencionais.” Assim sendo, Searle, apresenta-nos uma distinção entre, Plano de Fundo e Estrutura, porque para se ter uma crença ou um desejo, tem de ter toda uma outra estrutura de crenças e desejos. Subsequentemente, toda a Estrutura tem a necessidade de um Plano de Fundo, porque os elementos da Estrutura não se interpretam a si mesmos, ou seja, os estados intencionais não funcionam de maneira autónoma. Logo, a estrutura só funciona relativamente a um Plano de Fundo de capacidades.

Porque é quê Searle, assume esta defesa? A razão está no facto de que o mesmo conteúdo intencional pode determinar diferentes condições de satisfação(como condições de verdade) relativamente a diferentes Planos de Fundo, e, no que concerne a alguns Planos de Fundo, não determinar quaisquer condições.

Nesta sequência, Searle, apresenta alguns argumentos a favor desta hipótese do Plano de Fundo, e, entre vários, um deles é o seguinte: nas línguas naturais do nosso quotidiano existem frases correntes que são impensáveis na sua interpretação, ou seja, compreendemos o significado de todas as palavras, mas não compreendemos a frase, por exemplo , « Sally corta a montanha», « Bill corta o sol», « Sam corta o prédio». Ora, estas frases só podem querer dizer-nos, confusão. Mas segundo Searle, seria fácil inventar uma prática de Plano de Fundo que fixasse uma interpretação literal de cada uma destas frases, mas sem essa prática, não sabemos como aplicar o significado literal da frase.

Para Searle, é óbvio que a linguística actual, reconhece, em certa medida, os problemas do Plano de Fundo, mas só abordam a superfície do problema. Porque para Searle, “ um passo essencial para compreender o Plano de Fundo é observar que pode perfeitamente estar comprometido com a verdade de uma proposição sem ter o mínimo estado intencional que tenha essa proposição como conteúdo.” E, Searle, continua a alertar-nos para o facto de ser “ importante verificar que o Plano de Fundo se refere, não apenas a problemas relativamente sofisticados, como interpretações de frases, mas também a traços fundamentais, como os constituem a base formal de toda a linguagem.” Verificando-se esta atitude, em defesa do Plano de Fundo, por parte de Searle, defende que a Estrutura está inerente a este Plano de Fundo, isto é, a Estrutura é de intencionalidade, ela consiste em estados intencionais e não num conjunto de capacidades. E esta razão deve-se ao facto de o Plano de Fundo, ter como capacidade, causar intencionalidades conscientes. E dentro destas capacidades, há algumas que são adquiridas sobre a forma de regras conscientemente aprendidas de factos. Por exemplo, as regras do basebol.

Assim sendo, para Searle, os estados intencionais não funcionam de maneira autónoma, ou seja, não determinam as suas condições de satisfação independentemente. Mas também aponta alguns erros correntes sobre o Plano de Fundo. E um erro comum consiste no facto de se supor que toda a compreensão deve assentar num acto de interpretação.

Inferimos assim então que segundo esta posição, as regras apresentadas, em Actos de Fala, são sempre aplicadas segundo as capacidades de um Plano de Fundo, ou seja, as regras não se interpretam a si mesmas, não explicam nada por si só. Elas têm a necessidade, para funcionarem, de um Plano de Fundo.

Conceitos essenciais

Promessa Defeitos Método Exemplo Contra Modelo Idealização Acto Convite Ocasião Situação Sincera Insincera Regras Força Ilocucional Conteúdo Proposicional Asseverar Pedir Agradecer Referência Acto Fala Predicação Uso Menção Axioma Convenção Intenção Intencionalidade Identidade Identificação Existência Tautologia Condição Efectiva Completa Reformulação Artigo Definido Descritor Princípio Expressibilidade Emissor Enunciado Objecto Receptor Ouvinte Contexto Singular Estrutura Plano Fundo Autonomia

Bibliografia

  1. Aristóteles, Categorias,3ªed.,Trad. Silvestre Pinheiro Ferreira, Col.«Filosofia& Ensaios», Guimarães Editores, Lisboa, 1994.
  2. Fidalgo, António, Semiótica Geral,1999, disponível em http ://www.bocc.ubi.pt
  3. Fidalgo, António, Semiótica: A Lógica da Comunicação, Série – estudos em Comunicação, UBI, Covilhã,1998.
  4. Sagal T. Paul, Mente, Homem e Máquina, 1ªed., Trad. Desidério Murcho, Col.«Filosofia Aberta»,gradiva, Lisboa,1996.
  5. Searle, Jonh R., A Redescoberta da Mente, s.e., Trad. Ana André, Col. Epigénese e Desenvolvimento, Instituto Piaget - Divisão Editorial, Lisboa, 1998
  6. Searle. R. Jonh. Os Actos de Fala. Trad. de, Carlos Vogt, Ana Maleronka, Balthazar Filho, Maria Gonçalves, Adail Sobral, Col. « Colecção Nova Almedina», Livraria Almedina, Coimbra,1984
  7. Trabant, Jurgen, Elementos de Semiótica, Trad. Maria Cary, «Biblioteca Universal», Editorial Presença, Lisboa,1980.

CGERcomentário não assinado de Cger (discussão • contrib) 17h36min de 7 de julho de 2007 (UTC)[responder]

Filosofia da linguagem de John Searle[editar código-fonte]

O objetivo da criação do artigo principal Filosofia da linguagem de John Searle, a partir de uma seção deste artigo, não seria reduzir o tamanho do mesmo ? Não entendi porque isso não foi feito. Não há razão para se criar um AP, a não se essa.
PauloMSimoes (discussão) 23h05min de 10 de março de 2015 (UTC)[responder]