Fisioterapia em reumatologia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A fisioterapia em reumatologia é uma área de atuação que busca promover a qualidade de vida e a promoção da saúde em indivíduos com doenças reumáticas.

As doenças reumáticas caracterizam-se por manifestações crônicas e degenerativas que geram limitações das atividades de vida diária. Dores, redução dos movimentos articulares, recrutamento neuromuscular inadequado, perda do condicionamento cardiovascular e respiratório, alterações do trofismo da pele, além de transtornos em outros sistemas, fazem parte do conjunto de incapacidades apresentadas por estes indivíduos[1].

Para algumas condições, como lombalgia aguda e crônica, osteoartrite e ombro doloroso, tais modalidades terapêuticas são direcionadas à aplicação de recursos fisioterapêuticos anti-inflamatórios e analgésicos que, na maioria das vezes, não são destinados a programas estruturados para a recuperação de movimentação funcional[2]. Em outras condições reumáticas, são encontradas, na literatura, iniciativas de utilização do exercício físico com finalidades educativas e terapêuticas[3].

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) pessoas que são fisicamente ativas são mais saudáveis e vivem por mais tempo, quando comparadas àquelas inativas e que algumas modalidades de exercícios poderiam ser seguramente realizados por portadores de doenças reumáticas[4].

As condições reumáticas somam hoje mais de 200 variedades, que são definidas em grupos patológicos por artropatias, doenças inflamatórias e hereditárias do tecido conjuntivo, e distúrbios da coluna vertebral, dentre outras[5].

Doenças reumáticas[editar | editar código-fonte]

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia[6], as doenças reumáticas são:

Tratamento[editar | editar código-fonte]

O tratamento medicamentoso é aquele prescrito pelo médico. Já o não medicamentoso é conduzido por outros profissionais, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, nutricionistas, odontologistas, entre outros. Em muitos casos a formação de uma equipe multiprofissional é de grande utilidade e pode minimizar o impacto da doença e do tratamento medicamentoso.[7]

O tratamento tende a começar com a educação do paciente sobre a doença, com informações como o risco das lesões articulares, bem como sobre os riscos e benefícios das modalidades de tratamentos existentes. Durante os tratamentos, a abordagem multidisciplinar é muito importante, incluindo o profissional fisioterapeuta. [8] A fisioterapia atua em todas as fases da doença, diminuindo a dor, mantendo ou recuperando a mobilidade e prevenindo as atrofias musculares e as deformidades articulares. [9]

Exercícios físicos[editar | editar código-fonte]

Dentre as estratégias não farmacológicas para doenças reumáticas, os exercícios físicos abordam o desenvolvimento da amplitude de movimento, funcionalidade, capacidade cardiovascular e resistência muscular.[10] Pessoas que são fisicamente ativas, são mais saudáveis e vivem por mais tempo, quando comparadas àquelas inativas[10].

A hidroterapia é um dos recursos mais antigos da fisioterapia, sendo definida como o uso externo da água com propósitos terapêuticos. É um recurso muito utilizado no processo de reabilitação especialmente em pacientes reumáticos, por possuir algumas vantagens devido às propriedades físicas e efeitos fisiológicos propiciados pelo meio aquático[11].

É frequentemente recomendada para pacientes com artrite, pois proporciona uma gama de benefícios incluindo redução de edema, dor e da sobrecarga sobre as articulações já lesionadas.[11] No entanto, existem poucas pesquisas que abordam os tipos de exercícios físicos e a melhor forma de execução.

A artrite reumatoide é uma das maiores causas de limitação da exercício físico e, a inatividade pode piorar a doença, criando um círculo vicioso, que vai complicando cada vez mais o quadro, dificultando a melhora. Muitas pessoas que têm artrite estão “fora de forma”, são mais “fracas”, com menos flexibilidade, sentindo mais dor que o necessário, devido principalmente às “complicações” da inatividade[12].

Dor, rigidez, fadiga e o medo de piorar, podem fazer com que o paciente reaja contra o exercício. No entanto, para o reumático, um programa de exercício apropriado é extremamente importante e saudável. [12] Exercícios físicos leves, como caminhadas representam um fator positivo na qualidade de vida de mulheres com fibromialgia.[13]

Impacto das doenças reumáticas na qualidade de vida e os benefícios da fisioterapia[editar | editar código-fonte]

Indivíduos com doenças reumáticas podem apresentar prejuízos em sua qualidade de vida, visto que estas enfermidades podem desencadear desde pequenas deformidades até incapacidade funcional. A qualidade de vida é indicativa de morbidade e mortalidade e apresenta um papel importante nas decisões referentes à destinação de recursos, ao desenvolvimento de intervenções e ao tratamento de indivíduos com doenças reumáticas[14].

Indivíduos com doenças reumáticas apresentam restrições em atividades cotidianas, tornando-se fisicamente inativos, fato que provoca uma perda gradual da qualidade de vida[14].

Em uma entrevista com a fisioterapeuta Lia Mara Wibelinger, ela relata que na reabilitação destes indivíduos, é importante notar que a reabilitação é um processo diário, que não termina simplesmente com um número pequeno de sessões de ­fisioterapia, e necessário envolver intervenção diária e passar por ­diversas etapas, por isto a importância da educação destes indivíduos no sentido de que aprendam a ter autocontrole e a se educarem dentro das limitações impostas pela condição clínica é fundamental[15].

Educação do paciente e autocuidado[editar | editar código-fonte]

As escolhas dos indivíduos com doenças reumáticas são decisivas para a definição dos impactos que a doença pode causar em sua vida, bem como de suas capacidades e limitações funcionais futuras. O tratamento deve envolver, além das medidas farmacológicas, estratégias que possibilitem a educação do mesmo[4].

Nesse sentido, ação educativa deve facilitar a adoção voluntária de comportamentos ou crenças favoráveis à saúde. Programas de educação ao paciente têm sido adotados em diversos serviços de reumatologia como um recurso coadjuvante no tratamento dessas doenças[16].

Esses programas têm como objetivo permitir que o paciente participe efetivamente do seu próprio tratamento, desenvolvendo a capacidade de lidar com os problemas, fazendo escolhas conscientes sobre seu tratamento e pensando nas consequências de suas atitudes[4].

Além disso, o conhecimento sobre a doença e os medicamentos, orientações em relação a proteção articular e sobre a própria postura do indivíduo, proporcionados no trabalho em grupo com os pacientes com doenças reumáticas, fazem com que os indivíduos assumam um papel mais ativo, na medida em que mobilizam a participação e controle diante dos sintomas da doença, atuando, assim, diretamente no incremento da qualidade de vida[17][4].

Outras informações[editar | editar código-fonte]

Atualmente, os fisioterapeutas que estudam as doenças reumáticas contam com uma abordagem baseada em evidências em sua tomada de decisão clínica, que inclui seu próprio julgamento clínico, preferência do paciente e evidências derivadas de resultados de pesquisa científica. Os estudos tem aumentado sobre o assunto e são úteis para dar o suporte nas tomadas de decisões clínicas[18].

A European League Against Rheumatism (abreviado EULAR ) é uma organização não governamental europeia que representa as pessoas com artrite/reumatismo, profissionais de saúde e sociedades científicas de reumatologia de todas as nações europeias. Os objetivos do EULAR são reduzir o fardo das doenças reumáticas no indivíduo e na sociedade e melhorar o tratamento, a prevenção e a reabilitação das doenças músculo-esqueléticas. O EULAR promove a tradução dos avanços da pesquisa em cuidados diários e luta pelo reconhecimento das necessidades das pessoas com doenças reumáticas pelos órgãos governamentais na Europa[19].

As revistas científicas de reumatologia têm um bom potencial de divulgação científica de estudos de qualidade e a maioria podem ser acessados gratuitamente[20], além disso, a prática baseada em evidências é uma abordagem de solução de problemas para a tomada de decisão que incorpora a busca da melhor e mais recente evidência, competência clínica do profissional e os valores e preferências do paciente dentro do contexto do cuidado[21].

Futuro da fisioterapia em reumatologia[editar | editar código-fonte]

A área de estudo e de atuação dos fisioterapeutas em reumatologia é promissora[15]. De acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO)[22] ainda não existe a especialidade de fisioterapia em reumatologia. O CREFITO-8, que é responsável pelos fisioterapeutas do Paraná, por meio de seu grupo de trabalho de fisioterapia em reumatologia, encaminhou em junho de 2017 proposta ao COFFITO de reconhecimento e normatização da especialidade profissional de fisioterapia em reumatologia. 

Referências

  1. Martins, Alexandra Daniela Marion; Martins, Emerson Fachin (2008). «Atividade física e esporte adaptado nas condições reumatológicas». Consultado em 1 de Julho de 2019 
  2. Medeiros, Marta M. C.; Ferraz, Marcos Bosi; Vilar, Maria José Pereira; Santiago, Mittermayer Barreto; Xavier, Ricardo Machado; Levy, Roger Abramino; Ciconelli, Rozana Mesquita; Kowalski, Sérgio Candido (2006). «Condutas usuais entre os reumatologistas brasileiros: levantamento nacional». Revista Brasileira de Reumatologia. 46 (2): 82–92. ISSN 0482-5004. doi:10.1590/s0482-50042006000200002 
  3. Turesson, Carl; Matteson, Eric L. (2006). «Is atherosclerosis in rheumatoid arthritis related to disease severity and extraarticular manifestations? Comment on the article by Chung et al». Arthritis & Rheumatism. 54 (4): 1353–1353. ISSN 0004-3591. doi:10.1002/art.21777 
  4. a b c d Sampaio-Barros, Percival Degrava (2003). «Novas recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia: uma nova estratégia». Revista Brasileira de Reumatologia. 53 (3): 225–226. ISSN 0482-5004. doi:10.1590/s0482-50042013000300001. Consultado em 1 de Julho de 2019 
  5. Andrade, Maria Elisabeth Moreira Carvalho. «Contabilização dos contratos de concessões» 
  6. «Doenças reumáticas». Sociedade Brasileira de Reumatologia. Consultado em 1 de julho de 2019 
  7. «Tratamento Não Medicamentoso em Reumatologia Pediátrica». Sociedade Brasileira de Reumatologia. 31 de janeiro de 2016. Consultado em 1 de julho de 2019 
  8. Araújo, Felipe Gustavo Schaefer de; Martins, Tamiris Beppler; Sinhorim, Larissa Milani Borgnoli; Conceição, Josilene Souza (31 de março de 2015). «ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE PACIENTES COM ARTRITE REUMATOIDE: REVISÃO DE LITERATURA». Arquivos de Ciências da Saúde. 22 (1): 14–20. ISSN 2318-3691. doi:10.17696/2318-3691.22.1.2015.20 
  9. Wibelinger, Lia Mara; Zanin, Caroline; Ribeiro, Dafne dos Santos; Bolzan, Leticia Aparecida; Bresolin, Fernanda Lorenzet; Jorge, Matheus Santos Gomes; Knob, Bruna (25 de agosto de 2017). «Reabilitação cinesioterapêutica em um homem com artrite reumatoide». Saúde em Revista. 17 (46): 35–45. ISSN 2238-1244. doi:10.15600/2238-1244/sr.v17n46p35-45 
  10. a b de Santana, Frederico Santos; da Cunha Nascimento, Dahan; de Freitas, João Paulo Marques; Miranda, Raphaela Franco; Muniz, Luciana Feitosa; Santos Neto, Leopoldo; da Mota, Licia Maria Henrique; Balsamo, Sandor (1 de setembro de 2014). «Avaliação da capacidade funcional em pacientes com artrite reumatoide: implicações para a recomendação de exercícios físicos». Revista Brasileira de Reumatologia. 54 (5): 378–385. ISSN 0482-5004. doi:10.1016/j.rbr.2014.03.021 
  11. a b Mesquita-Ferrari, Raquel Agnelli; Oliveira, Jussara de; Pestana, Paulo Roberto; Ferreira, Luis Roberto Fernandes (1 de janeiro de 2008). «Efeitos da reabilitação aquática na sintomatologia e qualidade de vida de portadoras de artrite reumatóide». Fisioterapia e Pesquisa. 15 (2): 136–141. ISSN 2316-9117. doi:10.1590/S1809-29502008000200005 
  12. a b «Exercícios e Reumatismo». Sociedade Brasileira de Reumatologia. 27 de outubro de 2017. Consultado em 1 de julho de 2019 
  13. «751375139467». docs.google.com. Consultado em 1 de julho de 2019 
  14. a b Sousa, Milena Nunes Alves de; Souza, Waerson José de; Nogueira, Tiago Bezerra de Sá de Sousa; Rodrigues, Wállane Pinheiro; Rodrigues, Andreza Pinheiro (10 de fevereiro de 2019). «Qualidade de vida em pacientes portadores de doenças reumáticas». Revista Brasileira de Educação e Saúde. 9 (1): 6–13. ISSN 2358-2391. doi:10.18378/rebes.v9i1.6331 
  15. a b «FISIOTERAPIA NAS DOENÇAS REUMÁTICAS». Revista do Fisioterapeuta. 15 de dezembro de 2014. Consultado em 1 de julho de 2019 
  16. Miyamoto, Samira Tatiyama; Coutinho, Gilma Correa; Gomes, Crystian Moraes Silva (2013). «EFEITOS DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM PACIENTES COM ARTRITE REUMATOIDE DO SERVIÇO DE REUMATOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO ANTÔNIO DE MORAES (HUCAM) - PROJETO PILOTO». Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. 24 (3): 250–258. ISSN 2238-6149. doi:10.11606/issn.2238-6149.v24i3p250-258 
  17. Cisneros, Ligia de Loiola; Torquetti, Aline; Silva, Maria Cristina de Oliveira; Noordhoek, Johanna (1 de abril de 2009). «Relato de experiência da atuação da terapia ocupacional em grupo de indivíduos reumáticos». Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. 20 (1): 13–19. ISSN 2238-6149. doi:10.11606/issn.2238-6149.v20i1p13-19 
  18. Kelley, George A.; Kelley, Kristi S. (17 de maio de 2019). «Systematic reviews and meta-analysis in rheumatology: a gentle introduction for clinicians». Clinical Rheumatology (em inglês). ISSN 1434-9949. doi:10.1007/s10067-019-04590-6 
  19. «EULAR | Welcome». www.eular.org. Consultado em 1 de julho de 2019 
  20. Pineda, Carlos; Pérez-Neri, Iván; Sandoval, Hugo (1 de junho de 2019). «Challenges for social media editors in rheumatology journals: an outlook». Clinical Rheumatology (em inglês). 38 (6): 1785–1789. ISSN 1434-9949. doi:10.1007/s10067-019-04586-2 
  21. Almeida, Marcos Rogério Madeiro de; Vasconcelos, Skarllet da Silva (26 de fevereiro de 2019). «PRÁTICA BASEADA EM EVIDENCIA NA FISIOTERAPIA EM TRAUMATO ORTOPEDIA E REUMATOLOGIA: PESQUISA, ENSINO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL». Encontro de Extensão, Docência e Iniciação Científica (EEDIC). 4 (1). ISSN 2446-6042 
  22. «Especialidades». www.coffito.gov.br. Consultado em 1 de julho de 2019