O Pescador e o Gênio

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O Pescador e o Gênio[1] é um conto da coletânea As Mil e uma Noites. Compõe-se de duas sub-histórias, "O rei Yunan e o médico Duhan" e "O rei das ilhas negras e sua esposa", sendo que a primeira sub-história compõe-se de duas outras.

O Pescador e o Gênio[editar | editar código-fonte]

Um pescador num dia azarado em que já tinha “pescado” com sua rede um burro morto e um jarro cheio de areia e lodo, na terceira tentativa recolhe do mar um vaso de cobre e, ao abrir o lacre de chumbo, sai de dentro um ifrite (gênio) que havia se rebelado contra o rei Salomão. O gênio teve de aguardar tantos séculos preso no vaso que, de raiva, jurou matar quem o libertasse. Mas o pescador, mediante um estratagema semelhante ao usado por Wotan e Loge contra o Nibelungo Alberich na ópera O Ouro do Reno de Richard Wagner,[2] induz o gênio a retornar ao vaso e rapidamente volta a lacrá-lo. Quando o gênio implora para ser de novo libertado, o pescador, a fim de ilustrar a ingratidão que o gênio queria cometer, conta a história do rei Yunan e o médico Duban.

História do Rei Yunan e o Médico Duban[editar | editar código-fonte]

O rei Yunan, acometido de uma lepra, é curado pelo médico Duban. Mas o vizir invejoso insinua que o médico, com a mesma facilidade com que curou o rei, poderia agora matá-lo. Assim, o rei ordena que o médico seja decapitado, mas perde a vida ao folhear um livro envenenado que o médico entregou.

Moral da história (palavras do pescador ao gênio): “Caso o rei tivesse mantido a vida do sábio, Deus também teria mantido a sua vida. No entanto, ele rechaçou outra atitude que não fosse matá-lo, e então Deus altíssimo o matou. Também você, ó ifrit, se no início tivesse aceitado manter a minha vida, eu igualmente manteria a sua. Entretanto, você rechaçou outra atitude que não fosse matar-me, de modo que eu o matarei mantendo-o preso nesse vaso e atirando-o no fundo do mar.”[3]

A história do rei e o médico contém duas sub-histórias. A primeira, contada pelo rei ao vizir, versa sobre o arrependimento quando se comete um ato injusto. No ramo sírio, é a história do marido ciumento que mata injustamente um papagaio que presenciou e denunciou o adultério de sua mulher (“O mercador e o papagaio”) e no ramo egípcio é a história do rei que mata injustamente seu falcão de caça que tentava protegê-lo do veneno de uma serpente. A segunda sub-história (“O filho do rei e a ogra”), esta contada pelo vizir, é a do filho de um rei que, seguindo a orientação do vizir maldoso, perde-se no deserto e quase é morto por uma ogra. O rei manda executar o vizir. O vizir conta esta história para ilustrar o fato de que, se sua desconfiança em relação ao médico se mostrar infundada, o rei poderá perfeitamente castigá-lo.

Continuação da História do Pescador e o Gênio[editar | editar código-fonte]

Mas depois de obter o juramento de que o gênio não o mataria, o pescador enfim volta a libertá-lo, e é conduzido pelo gênio até um lago no meio de quatro montanhas onde pesca quatro peixes coloridos: um vermelho, outro branco, outro azul e outro amarelo. Por recomendação do gênio, o pescador os leva ao sultão da cidade. Quando a cozinheira do sultão tenta fritar os peixes, a parede se abre e fatos estranhos ocorrem. O sultão pede ao pescador que o conduza ao lago onde os pescou, e acaba descobrindo um palácio de pedra negra, onde um jovem, metade humano, metade pedra negra, conta sua história.

História do Rei das Ilhas Negras e Sua Esposa[editar | editar código-fonte]

Esposa traindo o rei das Ilhas Negras com um escravo na história "O Pescador e o Gênio". Ilustração de Aldemir Martins para a edição de As Mil e Uma Noites da Editora Saraiva de 1961.

O jovem com a metade inferior do corpo transformada em pedra conta que era um rei casado com uma prima que o traía com um “negro escravo bexiguento” (conforme o texto original traduzido). Ao descobrir o adultério, tenta matar o amante, mas só consegue deixá-lo inválido. A prima, quando descobre que foi ele quem atentou contra o escravo, por meio da magia transforma o rei em metade homem e metade pedra, e transforma o povo em peixes: os brancos eram os muçulmanos, os vermelhos, os zoroástricos, os azuis, os cristãos e os amarelos, os judeus. O sultão, por meio de um estratagema, induz a prima feiticeira a desfazer os feitiços e depois a mata. O pescador é regiamente recompensado, suas duas filhas casando-se, respectivamente, com o sultão e o rei que havia sido enfeitiçado.[4]

Referências

  1. Na tradução de Mamede Mustafa Jarouche. Na tradução de Alberto Diniz a partir do texto francês de Antoine Galland, "A História do Pescador" e na edição ilustrada de capa dura da Editora Saraiva de 1961, "História do Pescador e do Ifrit".
  2. Ver vídeo "O ANEL DO NIBELUNGO - PARTE I: O OURO DO RENO" no YouTube.
  3. Livro das Mil e uma Noites, volume 1 - ramo sírio, Editora Globo, tradução do árabe por Mamede Mustafa Jarouche.
  4. Resumo elaborado pelo autor deste verbete com base na tradução da história por Mamede Mustafa Jarouche, na obra já citada.