Janviéristes

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Os Janviéristes,[1][2] por vezes designados « Décideurs »,[3] foram os generais do exército argelino que decidiram, em 11 de janeiro de 1992, interromper o segundo turno eleitoral[4][5][6][7] programado para 16 de janeiro. Este segundo turno teria permitido uma vitória esmagadora para o partido islamista, a Frente Islâmica de Salvação (FIS). Este partido conquistou 188 cadeiras no primeiro turno das eleições legislativas de 26 de dezembro de 1991.[5][8] Uma decisão importante que será seguida por uma longa década sombria marcada pela violência armada dos islamistas que, frustrados de sua vitória, empreenderiam ações armadas com a formação de maquis.

Composição[editar | editar código-fonte]

Essa paralisação do processo eleitoral foi realizada por uma estrutura não oficial, o “conclave do exército”.[5] Reuniu-se secretamente no quartel-general das forças terrestres em Aïn Naâdja, todos os oficiais generais e superiores do Exército Nacional Popular (Armée nationale populaire, ANP). Em torno do Ministro da Defesa, estavam reunidas cerca de cinquenta pessoas, entre elas o Chefe do Estado Maior, o Diretor do Departamento de Inteligência e Segurança (Département du Renseignement et de la Sécurité, DRS), o diretor da contraespionagem, os diretores centrais do ministério bem como os chefes do seis regiões militares.[5]

Dentre eles:[5][6][7][9]

  • Mohamed Mediène, conhecido como “Toufik”: general e chefe do DRS durante a interrupção do processo eleitoral, no cargo até setembro de 2015;[10]
  • Khaled Nezzar: major-general e Ministro da Defesa, ingressou no Alto Conselho de Estado (Haut Comité d'État, HCE) em janeiro de 1992. Sua retirada da cena política remonta a 1994;
  • Larbi Belkheir: major-general reformado e ministro do Interior em 1992, tornou-se diretor de gabinete do presidente Bouteflika. Faleceu em janeiro de 2010;
  • Abdelmalek Guenaizia: general e Chefe do Estado-Maior, esteve na vanguarda;
  • Mohamed Lamari: comandante-geral das forças terrestres em janeiro de 1992, foi promovido a major-general e nomeado chefe do Estado-Maior em 1993, em seguida, general do corpo do exército. Renunciou em 2004 e faleceu em fevereiro de 2012;
  • Mohammed Touati: foi diretor do Ministério da Defesa e depois membro da Comissão de Diálogo Nacional. Major-general reformado, também foi conselheiro de Bouteflika para assuntos de segurança;
  • Banabbès Gheziel: comandante da Gendarmerie, depois conselheiro militar de Bouteflika;
  • Hacen Aït Abdesslam: major-general encarregado do Departamento de Fabricação Militar;
  • Também o General Ahmed Bousteila.[10]

Ações[editar | editar código-fonte]

Os chefes das forças armadas instaram firmemente os participantes a assinar um texto exigindo a renúncia do presidente da República Chadli Bendjedid "que busca por meio de sua política de compromisso com os islamistas enviar os oficiais do ANP para a aposentadoria" e justificaram o golpe com os seguintes argumentos:[11]

  1. A Frente Islâmica de Salvação (FIS) quer tomar o poder pela força;
  2. Se a FIS chegasse ao poder, não respeitaria nem a constituição nem as leis e arruinaria o país política e economicamente;
  3. É necessário garantir a ordem e restaurar a autoridade do Estado;
  4. É urgente promover a decolagem econômica e lutar contra o desemprego.

O exército é apoiado em sua ação por partidos políticos seculares e democráticos. Os "janviéristes" adquiriram uma "nova legitimidade" ao se proclamarem "salvadores da Argélia", posando em nome da "defesa da democracia" como fiadores do "laicismo" contra a ameaça do "integralismo”. Aos olhos da sociedade e da opinião internacional, tornaram-se o “baluarte contra o fanatismo”. A paralisação do processo eleitoral tomou a forma de um verdadeiro golpe de Estado: dissolução da Assembleia Nacional; renúncia forçada do presidente Chadli Bendjedid em 12 de janeiro de 1992, prova da fragilidade de sua função (o exército o conduziu ao topo em 1979); prisão de todos os principais líderes islamistas e dissolução da Frente Islâmica de Salvação (FIS).[12][13] As forças armadas apelam com urgência para Mohamed Boudiaf liderar o país, com a criação de um Alto Comitê de Estado presidido por Boudiaf (que será assassinado pouco mais de cinco meses após sua posse). Um longo período de terrorismo, em seguida, deverá abater-se sobre a Argélia e o estado de emergência será declarado em 9 de fevereiro de 1992. As forças armadas e o DRS, a partir de agora, tomariam as rédeas da situação.[7]

Reação[editar | editar código-fonte]

O golpe militar e o terrorismo do grupos armados islamistas abrem a mais grave crise da Argélia independente, que levará o país a uma violência indiscriminada conhecida como « décennie noire » (década negra) e que causou quase duzentos mil mortos, milhares de desaparecidos, um milhão de deslocados, dezenas de milhares de exilados e mais de vinte bilhões de dólares em danos.[14][15]

Referências

  1. Grandeur et décadence des « janviéristes », El Watan, 11 de janeiro de 2012.
  2. Janviéristes : Autoridades político-militares que decidiram interromper o processo eleitoral (favorável aos islamistas da FIS) em janeiro de 1992, conforme definição do livro, página 367: Le français en Algérie: Lexique et dynamique des langues. Éditions Duculot, Bruxelles, 2002
  3. Algérie : le crépuscule de la génération de l'indépendance
  4. L'armée remet les compteurs à zéro en Algérie, in La Libre Belgique, 13 de janeiro de 1992.
  5. a b c d e Algérie : voyage au cœur de l'armée. Jeune Afrique, 2 de fevereiro de 2012
  6. a b Lyes Laribi : L'Algérie des Généraux, pp : 110, Max Milo. collection Essais documents, Paris, 2007.
  7. a b c Mohamed Sifaoui : Histoire secrète de l'Algérie indépendante - L’État DRS, Nouveau monde éditions, 2012 ISBN 2-84736-642-3
  8. 1992-1998: la guerre civile des généraux « janviéristes », page 295. La lutte des clans et la victoire des « janviéristes », page 298, in Histoire secrètes du pétrole algérien, de Hocine Malti. La Découverte, Paris, 2010
  9. Farid Alilat, « Algérie : le cercle des généraux disparus (sous Bouteflika) », Jeune Afrique, 20 de outubro de 2015
  10. a b Amir Akef, « Algérie : Abdelaziz Bouteflika limoge le puissant chef du renseignement », Le Monde, AFP, Reuters, 13 de setembro de 2015
  11. Mohamed Sifaoui : Histoire secrète de l'Algérie indépendante - L’État DRS, pp : 288. Nouveau Monde éditions, 2012 ISBN 2-84736-642-3
  12. Mohamed Sifaoui : Histoire secrète de l'Algérie indépendante - L’État DRS, pp : 300. Nouveau Monde éditions, 2012, ISBN 2-84736-642-3
  13. Algérie : Que veulent les militaires, in Courrier international, pp : 32, Nº. 556, de 28 de junho a 4 de julho de 2001
  14. Le Monde - Dossiers & documents, sous le titre : Algérie embourbée face à l'islamisme. Nº. 307, março de 2002, page : 1.
  15. Martínez, Luis (1998). La guerre civile en Algérie, 1990-1998. Col: Recherches Internationales. (em francês). Paris: Éditions Karthala. ISBN 2-865-37832-2. OCLC 1225236064 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]