Gisèle Cossard

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Gisèle Cossard
Gisèle Cossard
Nome completo Gisèle Cossard Binon, Omindarewa
Nascimento 31 de maio de 1923 (100 anos)
Tanger, Marrocos
Morte 21 de janeiro de 2016
Rio de Janeiro
Nacionalidade franco-brasileira
Ocupação Ialorixá (líder religiosa), Escritora, Antropóloga, Adida Cultural
Página oficial
http://www.omindarewa.com

Gisèle Cossard Binon (Tanger, 31 de maio de 1923 – Duque de Caxias, 21 de janeiro de 2016) foi uma antropóloga, escritora e ialorixá franco-brasileira. Também conhecida por Omindareuá e Mãe Gisèle de Iemanjá, foi filha de santo de Joãozinho da Gomeia e iniciada para a orixá Iemanjá.

Infância[editar | editar código-fonte]

Gisèle Cossard nasceu em 1923 em Tanger, no Marrocos, onde seu pai atuava como militar. Sua família a criou na fé católica, sendo que eram de classe média alta, republicanos e cultos. Seu pai era professor primário e a mãe, professora de música e pianista do Conservatório de Paris.

Tendo sido enviado para aquela ponta extrema da África, que era na época um protetorado francês, durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), seu pai acabou fascinado pelo país e permaneceu por lá até 1925 - quando retornou à França com a mulher e a filha. Gisèle diz não guardar lembranças daquele período, mas, segundo o pesquisador Michel Dion, autor da biografia Omindarewá - Uma Francesa no Candomblé (Editora Pallas), a suntuosa coleção de objetos de arte que seus pais trouxeram daquele país africano, bem como suas histórias fantásticas, constituíram para ela "uma interminável fonte de deslumbramento".[1]

Durante a II Guerra Mundial e o pós-guerra[editar | editar código-fonte]

Em 1939, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, seu pai foi preso e deportado para a Alemanha, quando Gisèle e demais familiares tiveram de abandonar a casa para fugir do exército de Hitler. Gisèle entrou para a resistência francesa, onde atuou como espiã: com sua bicicleta, atravessava as linhas do front ao sul de Paris e fornecia aos militares franceses informações sobre as posições alemãs. Ela se lembra de ter passado muita fome nesse período. No fim da guerra, em 1945, pesava apenas 42 quilos. Foi nesse ano que seu pai voltou da prisão, a família restabeleceu-se e ela casou-se com Jean Binon. Em 1949, Gisèle partiu com o marido para uma estadia de oito anos pela África. Percorreu o interior da República dos Camarões e descobriu uma iguaria impensável: peixe defumado no azeite de dendê. Na travessia de um rio, viu africanos atirando moedas na água em sinal de oferenda e achou tudo muito exótico.[2]

Tornando-se "brasileira"[editar | editar código-fonte]

Em 1956 retornaram à França onde, porém, permaneceram por pouco tempo, já que o marido foi nomeado para a Embaixada da França no Brasil, cuja capital ainda era o Rio de Janeiro. Gisèle comemorou, pois sempre sentira uma atração muito forte pelo Brasil e pela cultura brasileira.

Assim que chegou, aprendeu rapidamente o português e fez vários amigos. Começou a ler Jorge Amado e passou a compreender a permanência da África no Brasil, os vários vínculos que nos uniam àquele continente. Sentiu, com muita força, a presença dos orixás no Brasil.Quanto mais se inseria na vida brasileira, mais sentia nela a presença africana. "As cestas trazidas da feira em cima da cabeça; a música que está sempre presente em todos os lugares, nas ruas, nas lojas, na praia, ritmada por tambores (…). E também porque todo mundo está sempre dançando"[2]

Como ela, seus filhos se adaptaram rapidamente ao Rio de Janeiro, fizeram muitos amigos e passaram até a jogar futebol na rua. Estranhamente, seu marido sentia uma aversão muito grande pelo Brasil, pelos brasileiros e pela cultura afro-brasileira; esta dicotomia não tardou em gerar problemas ao seu casamento.

Joãozinho da Gomeia e Kilondira

Foi em 5 de dezembro de 1959, na casa de Joãozinho da Gomeia, que Gisèle "bolou no Santo", ou seja, recebeu pela primeira vez a orixá. Houve um período inicial de hesitação, logo superado porém e, após 21 dias de recolhimento Giselle Cossard Binon se tornou Omindarewa, que quer dizer "água límpida".

Vida acadêmica e volta ao Brasil[editar | editar código-fonte]

Em 1963, já iniciada, separou-se do marido e partiu para a França para defender uma tese sobre candomblé na Sorbonne. Lá conheceu Pierre Verger, de quem se tornou amiga.

Tendo se tornado professora universitária, tentou levar uma "vida normal" na França mas, em 1972, não suportando a saudade de sua "pátria do coração", o lugar onde criou os filhos e onde se tornou Mãe de Santo, voltou ao Brasil e foi trabalhar como conselheira pedagógica no Serviço Cultural Francês.

Giselle explica esta saudade como sendo uma nostalgia profunda, quase uma dor física, que maltrata a alma e oprime os sentidos, e que os escravos denominavam banzo.[3]

No dia de dezembro de 1973, Gisèle sofreu um grave acidente de carro. Dada a gravidade de seu estado, acabou desenganada pelos médicos e sendo levada por Pierre Verger à casa de Balbino Daniel de Paula - Balbino de Xangô - Obaraim, iniciado no Opô Afonjá, terreiro de Joãozinho da Gomeia - que se propôs então a ajudá-la.

É ela mesma quem conta:"Onze dias depois do acidente, era o meu aniversário de iniciação e ele fez questão de preparar as oferendas para Iemanjá. Mesmo estando eu gravemente acidentada, sem poder me mexer, sem poder andar, meu orixá veio, dançou em meu corpo e Balbino encantou-se com ele. Nossa ligação se estreitou e ele acabou sendo meu segundo babalorixá".[2]

Mãe Gisèle de Iemanjá[editar | editar código-fonte]

Ibejis e Iemanjá, século XIX, Museu Afro Brasil, São Paulo

Sua casa Ilê Axé Atará Mabá está localizada em Santa Cruz da Serra, na cidade do Duque de Caxias e, até sua morte em 21 de Janeiro de 2016, Mãe Gisèle contava com mais de 400 filhos de Santo. Até sua morte, Mãe Giséle esteve à frente do Ilê Axé, tornando a cada dia a religião dos orixás uma das mais respeitadas e importantes no cultivo das tradições Africanas no Brasil.

"Em 30 anos, a mãe-de-santo viu sua pátria adotiva se transformar. Depois de sofrer dois assaltos à mão armada no terreiro — em um dos quais seu filho Claude, que estava de visita, levou uma coronhada e teve o tímpano perfurado —, concluiu que a violência é hoje o grande demônio brasileiro. "Eu vi tudo piorar", diz ela. "Era tão bonito antes, tão agradável…" E o futuro, infelizmente, não está nos búzios de Omindarewa."[4]

Livros de sua autoria[editar | editar código-fonte]

  • Contribution à l’Étude des Candomblés du Brésil. Le Rite Angola. (3eme cycle), 1970
  • A Filha de Santo, In: Carlos Eugênio Marcondes de Moura (org.). Olóòrisà: Escritos sobre a Religião dos Orixás. São Paulo, Ágora, 1981.
  • A Antropóloga Diz, In: Hubert Fichte. Etnopoesia: Antropologia Poética das Religiões Afro-Brasileiras: 39-91. São Paulo, Brasiliense, 1987.
  • AWÔ, O Mistério dos Orixás. Ed. Pallas, 2007.[1]

Falecimento[editar | editar código-fonte]

Faleceu no dia 21 de Janeiro de 2016, às 15:40. Segundo informações da Folha de S.Paulo, o axexê (rito funerário) ocorreu durante 7 dias, em seu terreiro, o Ilê Axé Iá Atará Mabá, situado em Duque de Caxias-RJ, começando a partir do dia 29 de Fevereiro. Gisele deixou dois filhos biológicos e mais de 400 filhos de santo.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Revista Brasileiros - Mãe de Santo à francesa.». Consultado em 14 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 2 de janeiro de 2010 
  2. a b c op. cit.
  3. BANZO, SUICÍDIO PELO (SAUDADE DA ÁFRICA) - nostalgia mortal dos negros da África que sentem saudade da pátria; esta nostalgia pode ser considerada um suicídio forçado tendo o banzo dizimado os negros pela inanição, fastio ou apatia.
  4. Mãe branca de Iemanjá

Filmografia[editar | editar código-fonte]

  • A cidade das mulheres, documentário - direção de Lázaro Faria, Brasil, 2005.
  • Gisèle Omindarewa, direção de Clarice Ehlers Peixoto, Brasil, 2009.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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