Povoado fortificado do Cerro das Alminhas

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Povoado fortificado do Cerro das Alminhas
Construção Idade do Ferro
Geografia
País Portugal Portugal
Região Alentejo
Coordenadas 37° 33' 44.6" N 8° 20' 40.4" O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

O Povoado fortificado do Cerro das Alminhas é um sítio arqueológico da Idade do Bronze, situado na freguesia de São Martinho das Amoreiras, no concelho de Odemira, na região do Alentejo, em Portugal. Destaca-se principalmente por ser um dos poucos exemplos em território nacional de muralhas com veios de material vitrificado, o que é prova de que os construtores originais tentaram fundir os blocos para os unir, um método complicado que exigia altas temperaturas.[1]

Mapa de localização do Cerro das Alminhas, estando igualmente demarcados os sítios do Cerro das Alminhas 2 e de Alcaria.

Descrição e história[editar | editar código-fonte]

O sítio arqueológico corresponde a um castro dos finais da Idade do Bronze,[2] situado numa colina perto da albufeira da Barragem de Santa Clara, no Rio Mira.[1] A Norte da colina passa a Estrada Municipal 503, que cruza o rio numa ponte.[1] Originalmente a colina tinha um maior impacto na paisagem por se situar a cerca de 90 m de altitude em relação ao vale do Rio Mira, tendo o nível das águas subido cerca de 30 m devido à construção da barragem.[1] Este cerro apresentava boas condições naturais de defesa, formando um esporão a grande altitude sobre o vale, e parcialmente fechado por córregos profundos, deixando apenas um estreito corredor como acesso.[1] Desta forma, segue a tipologia comum dos povoados de altura proto-históricos, que eram normalmente implementados em locais isolados e de fácil defesa.[1]

No local foram identificados os vestígios de um lanço de muralha, nas vertentes ocidental e Norte, e de uma plataforma de ocupação em forma aproximada de L.[2] Este terraço tem uma planta semicircular, com cerca de 500 m², e está construído sobre um talude artificial.[1] A construção dos terraços artificiais está principalmente associada aos povoados de altura durante a Idade do Bronze, tendo sido encontrado um outro exemplo no concelho de Odemira, no Cerro do Castelo de Vale de Feixe.[1] Este tipo de estruturas serviam para criar plataformas de ocupação nas vertentes, e podiam também funcionar como defesas, servindo por exemplo como bastiões que complementavam as muralhas.[1] Com efeito, no caso do Cerro das Alminhas teria provavelmente um função defensiva, devido à sua localização estratégica, no único ponto de acesso fácil ao cerro, além que permitiria aumentar o desnível natural da vertente.[1] Porém, não encerra completamente esta entrada, embora o terraço poderá ter sido originalmente de maiores dimensões.[1] Uma das particularidades deste terraço artificial é a existência de veios de pedras vetrificadas, o que é o resultado de um processo deliberado de fusão das argilas e dos blocos de pedra, de forma a cimentá-los juntos.[1] Este método consistia na aplicação de toros ou traves em combustão nas estruturas de pedra, num ambiente redutor sem oxigénio, gerando temperaturas acima de 800 a 900° C, que poderiam ter atingido os 1200° C através de reacções químicas, como a exalação e a combustão de álcool e hidrogénio.[1] Este método de construção das muralhas é muito raro em Portugal, tendo sido encontrados apenas alguns exemplos, no Povoado dos Castelos de Monte Novo, situado no concelho de Évora, no Passo Alto, em Vila Verde de Ficalho, e no Castelo Velho de Safara, em Moura.[3]

Destaca-se igualmente a presença de várias pedras-pomes, que também resultam da intensa aplicação de calor, e que devido à sua utilidade terão sido ao longo da história recolhidos pelos habitantes das redondezas, contribuindo para a desmontagem das antigas estruturas.[1] No topo da plataforma artificial foram encontrados alinhamentos de lajes fixadas, possivelmente bases para as paredes das cabanas.[1] Na vertente Sudeste também foi encontrado um corte no afloramento rochoso, que poderia ter estado ligado à povoação fortificada.[2] Uma vez que não foram encontrados indícios de estruturas defensivas rodeando completamente o antigo recinto, o sítio arqueológico não pode ser integrado na tipologia comum dos povoados fortificados, embora o resto das muralhas possam ter sido originalmente compostas por materiais perecíveis, como uma paliçada em madeira.[1]

Além dos vestígios de estruturas, foi descoberto um conjunto de espólio na vertente Sul da colina, e que inclui mós, seixos, clastos em quartzo e quartzito, e algumas peças de cerâmica.[1] Estas mós foram fabricadas com sienito da Serra de Monchique, o que pode provar a existência de uma rede de abastecimento, que operava a nível regional.[1] Quanto à cerâmica, esta era muito simples e primitiva, sem elementos decorativos, e fabricada localmente.[1] As formas e os métodos de fabrico das peças de cerâmica são semelhantes a outros materiais encontrados no Sudoeste da Península Ibérica em sítios dos finais da Idade do Bronze pré-colonial, correspondendo a uma época entre 1200 e 900 a.C., pelo que a povoação poderá ser uma das mais antigas na Península Ibérica onde se constata a presença da vitrificação como método de construção.[1] O local foi alvo de trabalhos arqueológicos em 1998, 2001 e 2004.[2]

Na margem oposta do Rio Mira, no concelho de Ourique, foram identificados outros dois pontos de interesse arqueológico, incluindo um possível povoado da Idade do Bronze,[4] e um conjunto de fragmentos de cerâmica no topo de uma colina de período indeterminado, embora uma das peças poderá datar da época neo-calcolítica.[5] A cerca de cinco quilómetros de distância encontra-se um outro importante sítio arqueológico, o Castro da Cola.[1]

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre o Povoado fortificado do Cerro das Alminhas

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u VILHENA, Jorge. «Cerro das Alminhas». Atlas do Sudoeste Português. Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral. Consultado em 1 de Agosto de 2022 
  2. a b c d «Cerro das Alminhas». Portal do Arqueólogo. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 1 de Agosto de 2022 
  3. SOARES, António M. Monge (2007). «Cavalos-de-frisa e muralhas vitrificadas no bronze final do Sudoeste. Paralelos europeus». Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras. Consultado em 8 de Agosto de 2022 
  4. «Cerro das Alminhas 2». Portal do Arqueólogo. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 1 de Agosto de 2022 
  5. «Alcaria». Portal do Arqueólogo. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 1 de Agosto de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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