Quatro Negros

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Quatro Negros [1][2] é uma novela escrita e publicada pelo professor, ensaísta e crítico literário Luís Augusto Fischer [3] no ano de 2005. A obra recebeu, naquele ano, o prêmio de melhor novela da Associação Paulista de Críticos de Artes [4] Embora já tivesse publicado dois livros de contos, O edifício ao lado da sombra (1996) e Rua Desconhecida (2002), Quatro Negros representou a primeira incursão do autor no campo da narrativa mais longa, a novela. Fischer repetiu a experiência em 2008 com a publicação de sua segunda novela, Duas Águas.

Síntese narrativa[editar | editar código-fonte]

Dividida em cinco capítulos, a novela Quatro Negros conta a história da família de Janéti [5], uma merendeira que o narrador conheceu durante a realização de uma feira do livro em uma escola na região metropolitana de Porto Alegre. Além de Janéti e dos seus irmãos Airton/Jorge e Rosa/Rosi, a narrativa é completada por seu Sinhô. A infância de Janéti foi passada na região interiorana de uma cidade na metade sul do estado do Rio Grande do Sul, onde seus pais viviam, casaram e tiveram os filhos, até decidirem tentar a vida na cidade grande. A narrativa tem certo tom de oralidade, guiada por um narrador personagem que se apresenta desde o capítulo inicial, apontando que contará a história de Janéti, considerando-a a grande obra de sua vida. Esse narrador evoca os velhos contadores de casos (ou causos, corruptela muito frequente no linguajar gauchesco), mas ainda que a sua visão sobre o meio em que Janéti emergiu seja bastante negativa, isso, sob certo aspecto ressalta a coragem e a determinação da protagonista, que é capaz de romper com o que lhe fora traçado.[6][7]

A obra, de um modo geral, dialoga com a tradição literária do Rio Grande do Sul [8][9], quer seja pela sua forma, quer seja pela temática adotada [10][11]. O próprio narrador personagem ou foco narrativo, a estruturação sintática, o linguajar podem remeter a Blau Nunes [12], por exemplo. Por outro lado, não deixa de se contrapor ao chamado romance de 30[13], ou Neorealismo.

Cabe observar que a narrativa traz personagens negras [14][15] para o centro da discussão, em particular, dá relevo para Janéti, uma mulher, em um estado da federação em que o patriarcalismo, segundo os críticos, esteve bastante arraigado. Janéti constitui, dessa maneira, uma forma de superação do modelo centrado no gaúcho [16][17], o macho viril, peão nos tempos de paz e soldado quando chamado pela guerra.[18]

Referências

  1. FOLHA ILUSTRADA. “Fischer sonda a natureza do gaúcho”. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3112200519.htm 25 de janeiro de 2019.
  2. LEITURAS COMPARTILHADAS. “Quatro Negros, de Luis Augusto Fischer. http://leituras-compartilhadas.blogspot.com/2015/12/quatro-negros-de-luis-augusto-fischer.html 25 de janeiro de 2019.
  3. «L&PM Editores». www.lpm.com.br. Consultado em 26 de janeiro de 2019 
  4. JORNAL VS. “Encontro para estimular a leitura e conhecer o processo de criação dos livros”. Disponível em https://www.jornalvs.com.br/_conteudo/2017/07/noticias/regiao/2139409-encontro-para-estimular-a-leitura-e-conhecer-o-processo-de-criacao-dos-livros.html 25 de janeiro de 2019.
  5. SOUZA, Lícia Soares (org). Dicionário de personagens afrobrasileiros. Salvador: Quarteto, 2009.
  6. GUERRA, Guilherme Bizzi. “Quatro negros: uma história de esperança”. Revista Ideias. Disponível em http://w3.ufsm.br/revistaideias/arquivos%20pdf%20revista%2027/quatro%20negros%20e%20uma%20historia%20de%20esperanca.pdf 25 de janeiro de 2019.
  7. “Ecos de Simões Lopes Neto em Quatro negros, de Luis Augusto Fischer”. 2016. Monografia. Disponível em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/156941/001017592.pdf?sequence=1 25 de janeiro de 2019
  8. CORSO, Mario; CORSO, Diana. “O causo dos Quatro negros”. 2006. ZERO HORA. Disponível em http://www.marioedianacorso.com/o-causo-dos-quatro-negros
  9. ZILBERMAN, Regina. "A literatura no Rio Grande do Sul." 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992.
  10. Barbosa, Leandro; Trichez, Raquel; Bona, Cristhfory Dalla; Santos, Luana Alexandra Silva (17 de junho de 2015). «Panorama da literatura gauchesca: o papel da literatura no movimento tradicionalista gaúcho». Mostra IFTec em Resumos. 1 (1). ISSN 2446-8568 
  11. «Literatura e Autoritarismo - Cinema, Música e História». w3.ufsm.br. Consultado em 26 de janeiro de 2019 
  12. BISCAINO, Karine Zucolotto. “, o vaqueano de [[Contos Gauchescos], de [João Simões Lopes Neto]]
  13. DACANAL, José Hildebrando. "O romance de 30". Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
  14. SALAINI, Cristian Jobi. "Nossos heróis não morreram: um estudo antropológico sobre as formas de ser negro e ser gaúcho no estado do Rio Grande do Sul." Disponível em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7636/000549991.pdf?sequence=1&isAllowed=y 25 de janeiro de 2019.
  15. «Por que não conhecemos as escritoras negras gaúchas?». Nonada. 6 de março de 2017. Consultado em 26 de janeiro de 2019 
  16. CHAVES, Flávio Loureiro. História e literatura. 2.ed. Porto Alegre : Ed. da UFRGS, 1991.
  17. ZILBERMAN, Regina. Literatura gaúcha: temas e figuras da ficção e poesia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : L&PM, 1985.
  18. SANTOS, Elaine dos. “Literatura e sociedade: rompendo paradigmas - a resistência da mulher negra em uma sociedade branca, urbana e machista”. 2009. Revista Terra Roxa. Disponível em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/terraroxa/article/view/25010 25 de janeiro de 2019.